sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Velocidade Verde

Olhando para o futuro dos transportes, existem inúmeras alternativas interessantes relativamente ao tradicional motor de combustão interna. Os motores a ar comprimido estão entre as ideias mais obscuras, mas quão rápida seria uma mota propulsionada por um motor deste tipo? Esta é uma questão sobre a qual uma turma de uma faculdade australiana trabalhou, projectando a Green Speed.



Edwin Yi Yuan, um estudante de 23 anos do RMIT (Royal Melbourne Institute of Technology), trabalhou no projecto de grupo do curso de design industrial. O professor Simon Curlis teve a ideia deste projecto um ano depois de ter tido um acidente de moto. Querendo voltar às duas rodas, o seu objectivo era estabelecer um recorde de velocidade em terra no Lago Gairdner, um lago seco no sul da Austrália. Ele queria que a sua nova mota fosse amiga do ambiente, mas foram rejeitadas as típicas soluções ecológicas de bio-combustível ou electricidade. Em vez disso, a equipa decidiu aproveitar um motor a ar comprimido.


Edwin Yi Yuan e a equipa do RMIT

Tendo por base a ciclística de uma Suzuki GP100 (quadro, suspensões e rodas), a equipa começou a “partir pedra”, com um total de 16 alunos a trabalhar no projecto durante um período de 12 semanas. Edwin, que cresceu em Xangai, na China, antes de frequentar a escola na Austrália, focalizou-se no design da carroçaria. Enquanto a equipa não conseguiu ter uma mota pronta e a funcionar dentro do prazo estabelecido, o trabalho de design foi concluído com um protótipo tosco.


A base do trabalho: uma Suzuki GP100 “despida”


Protótipo da Green Speed

Um motor rotativo a ar comprimido do Engenheiro de Melbourne Angelo Di Pietro propulsionará a Green Speed. O motor obtém sua energia do ar comprimido armazenado num par de tanques de alta pressão, localizados sob a trave do quadro. O interior do motor é composto por uma série de câmaras, e como o ar comprimido é forçado a passar por elas, é criada a força de rotação. O binário do motor é transferido para a roda traseira através de uma única engrenagem, com uma roda dentada montada directamente no motor e uma transmissão final por corrente (com planos para a tentativa de estabelecer um recorde de velocidade em terra, a equipa deverá adaptá-la de forma mais agressiva potenciar a velocidade máxima).



Segundo Edwin, o objectivo para o recorde de velocidade será atingir a marca das 100 mph (160 km/h). Ainda em desenvolvimento, o motor deverá conseguir subir até às 3.000 rpm, e a equipa calcula que possa ter uma velocidade máxima superior às 112 mph (180 km/h).

Projectada para estabelecer um recorde de velocidade em terra, a Green Speed não possui farol, luz de stop, nem piscas (contém apenas três pequenas câmaras). Devido às características do motor a ar, também não existe caixa de velocidades nem sistema de escape. Yi Yuan estima que o seu design minimalista pese cerca de 220 lb (100 kg), mas espera que o pesado quadro de aço e os reservatórios de ar comprimido possam ser substituídos por materiais mais leves no modelo final (a equipa conseguiu encontrar reservatórios em carbono, mas a preços proibitivos para um modesto projecto experimental de uma faculdade).



Quais são os prós e os contras de uma mota movida a ar comprimido? Yi Yuan responde: “As vantagens são óbvias, o ar comprimido é totalmente zero-emissões. O que sai do escape é o mesmo que nós respiramos. Uma das desvantagens é que o ar é comprimido, o que o torna potencialmente explosivo em caso de acidente (todos nós sabemos que os motociclistas têm acidentes com maior frequência). Outra desvantagem é que o ar comprimido tem menor quilometragem do que a gasolina, ou seja, para percorrer a mesma distância, é necessário um maior volume de ar comprimido face à gasolina. Isto significa que teremos que ir mais vezes ao posto de abastecimento, ou teremos que ter um grande e pesado depósito na mota, o que a tornará muito pesada. Mesmo em termos de volume, um perigoso depósito cheio de ar a alta pressão não se pode comparar à gasolina como combustível.”



No entanto, os problemas que se antevêem não abalam a crença de Yi Yuan no potencial do transporte a ar comprimido: “Penso que o futuro oferece muitas oportunidades. Podemos conduzir as nossas motas a ar, carregando os reservatórios de ar comprimido em casa ou no escritório através de um pequeno compressor (deverá demorar menos tempo que o carregamento de uma bateria). Melhor ainda, poderá existir a possibilidade de incluir um compressor na própria mota, bastando ligá-lo a uma tomada. Ou poderemos ir a um posto de abastecimento, mas ao invés de abastecermos com gasolina, basta pegar na mangueira de ar comprimido com que normalmente enchemos os pneus e atestar os depósitos de ar. Claro que, no futuro, esse mesmo ar comprimido poderá deixar de ser gratuito. Os postos de abastecimento não comercializarão gasolina mas sim ar.”



Quanto ao futuro da Green Speed, apesar da grande maioria dos estudantes envolvidos já ter abandonado o projecto, Yi Yuan e Curlis ainda estão “em jogo” para a ambicionada deslocação ao Lago Gairdner, mas admitem que para uma tentativa séria de estabelecer o recorde de velocidade necessitarão de um novo quadro para a mota (já para não falar na necessária componente monetária para fazer evoluir o projecto).

Apesar de tudo, Edwin mantém o entusiasmo na Green Speed como um divertido projecto de pós-graduação: “Se funcionar no Lago Gairdner, gostaríamos também de ir a Bonneville para estabelecer um recorde de velocidade em terra”, admite Yi Yuan. “Próximo passo? Quero montar uma fábrica para produzir motas a ar.”

Fonte: Motorcycle USA

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