Um dos grandes projectos do Estado Novo era a criação de uma estrada para ligar o país de lés-a-lés pelo centro. A partir de 1930 começaram a ser alcatroados os troços de pedra e de terra e construídas as ligações necessárias, até que a 11 de Maio de 1945 é publicado o Decreto-Lei 34:593, que estabelece as normas para a classificação das estradas nacionais, municipais, caminhos públicos e fixa as respectivas características técnicas, consagrando assim a Estrada Nacional 2.
A nossa “estrada mãe” (por analogia com a famosa Route 66 nos EUA, também conhecida como Mother Road) tornou-se assim na via de maior extensão do país, ligando a cidade transmontana de Chaves à capital algarvia Faro, num total de 739,260 km. Verdadeira espinha dorsal da rede rodoviária nacional, a N2 atravessa 8 províncias, 11 distritos, 34 concelhos, 4 serras e 11 rios de Portugal Continental.
O primeiro marco, que assinala o quilómetro 0 da N2, está colocado no centro da rotunda flaviense que interliga a Rua Cândido Sotto Mayor com a Av. Eng.º Duarte Pacheco/N103 e a Av. D. João I/N103. O último, que marca o quilómetro 738, situa-se em Faro, no antigo cruzamento com a Avenida Calouste Gulbenkian, recentemente transformado numa rotunda. Apesar do itinerário só terminar formalmente cerca de 1.260 m mais adiante, dentro da cidade, é neste local que os entusiastas da N2 habitualmente terminam, com a foto da praxe, a sua longa jornada.
Percorrer toda a Estrada Nacional 2 é uma experiência bastante enriquecedora que, em meu entender, deveria ser realizada pelo penos uma vez por todos os motociclistas. Uma intensa e fascinante descoberta de um país extremamente belo mas que, por vezes, é pouco valorizado e até esquecido.
A minha primeira viagem pela N2 decorreu em Setembro de 2015 e foi percorrida no sentido “normal”, ou seja, desde o início em Chaves até ao seu término em Faro (preparação, dia 1 e dia 2). Três anos depois, em Outubro de 2018, foi a vez de ficar com uma nova perspectiva da N2 ao percorrê-la “ao contrário”, atravessando o país de sul para norte (dia 1 e dia 2).
Um magnífico passeio turístico que nos leva pelo interior de Portugal, para conhecer e apreciar a grande diversidade dos locais, da cultura e também das gentes das terras por onde se passa. E que bom seria ter toda a N2 classificada como Estrada-Património, tal como acontece com o troço de cerca de 60 km que liga Almodôvar a São Brás de Alportel, classificado em 2003, com enquadramento na sua vertente panorâmica (beleza natural envolvente), de interesse histórico (um marco na história da comunicação, permitindo a ligação de Chaves a Faro), e, por último, constituindo-se como uma rota turístico-patrimonial.
