Depois de em 2015 ter percorrido
toda a Estrada Nacional 2 (EN2) no sentido “normal”, ou seja, desde o início em
Chaves até ao seu término em Faro, chegava agora a vez de ficar com uma nova perspectiva
ao percorrê-la “ao contrário”, atravessando o país de sul para norte.
O percurso da Estrada
Nacional 2. Via
Para efectuar esta viagem que tem aproximadamente 740 km e tirar
algum partido das diferentes paisagens e locais que vão sendo atravessados pela
EN2, a opção passou novamente por cumprir o percurso em dois dias, com uma
paragem sensivelmente a meio para pernoitar, aproveitando o fim-de-semana grande
de Outubro que este ano incluiu a sexta-feira do feriado
do dia 5.
A EN2 já não era uma novidade absoluta para a maioria dos participantes
no passeio, pelo que desta vez o objectivo foi programar uma rota que fosse mais
aproximada ao traçado original, para assim ficar com uma experiência mais de
acordo com o que era percorrer esta estrada na altura em que foi criada (1944).
Com o trabalho de casa feito, a chegada a Faro foi efectuada no final da
tarde de quinta-feira, dia 4, na companhia de duas BMW R1200GS (como
curiosidade, durante o caminho a minha Honda VFR800Fi atingiu a marca dos
75.000 km). A estadia ficou assegurada no Hotel
Ibis Faro e o final do dia foi passado na sede do MC
Faro (que eu não conhecia), com a companhia de outros companheiros de estrada
onde se incluíam alguns estrangeiros de visita a Portugal. E foi neste bom
ambiente que acabámos por jantar um saboroso bitoque de vaca, depois de termos
comprado uma t-shirt alusiva à EN2 e de nos terem oferecido um porta-chaves e
um autocolante com a forma de um marco de pedra da EN2. Valeu!
Chegada a Faro (Hotel
Ibis).
Sede do MC Faro.
T-shirt, porta-chaves e
autocolante, alusivos à EN2.
Um saboroso bitoque de vaca
servido na sede do MC Faro.
1.º Dia
(5 de Outubro, sexta-feira)
O local de encontro para o arranque da viagem estava marcado para as
09h00, junto ao marco do quilómetro
738, no cruzamento com a Avenida Calouste Gulbenkian. Uns minutos antes tínhamos
passado pela Praça Dom Francisco Gomes, supostamente o ponto mais a sul da EN2
(739,260 km), onde reparámos que já não há vestígios do pendão
criado pela Associação de Municípios
da Rota da Estrada Nacional 2 - AMREN2 com o logotipo da Rota da EN2, uma
situação que, infelizmente, viríamos a constatar mais vezes ao longo do caminho.
O dia amanheceu solarengo e com uma temperatura agradável, com valores
máximos previstos para perto dos 30ºC. Ao grupo inicial de 3 motos juntavam-se mais
4, uma Yamaha Tracer900, uma Honda Deauville700 e mais duas BMW R1200GS (uma
delas Adventure).
O arranque “ao contrário”
para a EN2.
Com todo o grupo reunido, saímos da capital do Algarve rumo a São Brás de Alportel, onde
tem início o troço até Almodôvar que foi classificado
em 2003 como Estrada
Património. Pouco tempo depois já estávamos a arredondar os pneus das
motos em plena Serra do Caldeirão, negociando com
afinco as suas 365 curvas, uma por cada dia do ano.
Sensivelmente a meio da serra, perto do quilómetro 700, surgia o Miradouro
do Caldeirão onde efectuámos uma pequena paragem para apreciar a vista.
Miradouro do Caldeirão
(Serra do Caldeirão).
Retomado o asfalto, com a travessia da Ribeira do Vascão deixámos para
trás o distrito de Faro e entrámos no distrito de Beja em direcção a Almodôvar,
onde a partir daqui começam verdadeiramente as longas rectas pelos campos de
semeadura da planície alentejana.
A caravana rolava tranquilamente a bom ritmo através de uma zona de importante
actividade mineira, passando pelas localidades de Castro Verde, Monte dos
Poços, Aljustrel, Ervidel, Ferreira do Alentejo e Odivelas. O marco do quilómetro
600 já ficou para trás e daqui até Alcáçovas (a terra dos chocalhos,
já no distrito de Évora) a EN2 passa pela freguesia do Torrão, a única do
distrito de Setúbal que é atravessada por esta estrada.
Santiago do Escoural já não estava longe (local onde se situa a Gruta do Escoural, a
única em solo nacional que contém gravuras e pinturas rupestres paleolíticas que
visitei
no passado mês de Junho) e daqui até Montemor-o-Novo foi um pulinho. Por esta
altura já não eram só as motos que necessitavam de combustível e a solução
passou por “despachar” umas suculentas bifanas numa esplanada
junto à Av. Gago Coutinho/EN2.
As bifanas no almoço em Montemor-o-Novo.
Com as motos e os condutores devidamente atestados, cerca de 20 km
depois chegávamos à freguesia de Ciborro e ao marco que assinala o quilómetro
500 da EN2. Do outro lado da estrada fica o já designado por “café
oficial da EN2”, um dos poucos locais (senão mesmo o único) onde se vê alguma
dinamização no âmbito da Rota da EN2, mas que por azar se encontrava encerrado provavelmente
devido ao feriado do 5 de Outubro.
Marco do quilómetro 500
(Ciborro).
Prosseguimos a viagem em direcção a Mora (onde vale a pena uma visita ao
seu Fluviário), com a EN2 a entrar
brevemente no distrito de Santarém, junto à Anta
do Vale do Beiró, para logo à frente continuar no distrito de Évora até
quase à Barragem de Montargil. Daqui até Ponte de Sor o trajecto segue
praticamente em linha recta já em pleno distrito de Portalegre, onde perto do Aeródromo Municipal de Ponde de Sor
surge a uma placa que indica ao viajante que está a passar Cansado, como que a convidar a
uma pausa para recuperar o fôlego e preparar-se para enfrentar o que falta da EN2.
Estávamos de volta ao distrito de Santarém e quase a atravessar o Rio
Tejo pela Ponte Ferroviária de Abrantes. É a partir daqui que se dá a grande
transição entre o sul e o norte do país, com o rio a marcar a verdadeira
fronteira na paisagem, onde as grandes rectas dão lugar às curvas e os tons de
amarelo a um verde predominante. É também por aqui que deveria estar o marco
que assinala o quilómetro 400 da EN2 mas, talvez devido aos trabalhos de
construção da A23, ele já não existe (pelo menos não o encontrámos).
Daqui até Vila de Rei seguimos pelo traçado antigo da EN2, com uma
pequena paragem no Miradouro
do Penedo Furado, já no distrito de Castelo Branco, um rochedo gigantesco
com uma enorme abertura de feitio afunilado e que dá nome à Praia Fluvial do
Penedo Furado, a estância balnear mais procurada do concelho de Vila de Rei. O
meio da EN2 encontra-se um pouco mais à frente, no quilómetro 369 (39º39'28.1"N
8º07'49.9"W), antes da estrada velha passar por baixo da variante nova.
Miradouro do Penedo Furado
(Milreu).
Chegávamos então a Vila de Rei e ao centro geográfico do país, onde se
encontra o Centro Geodésico de Portugal Continental, no alto da Serra da
Melriça, assinalado através do Picoto
da Melriça (um marco trigonométrico com cerca de 20 metros de altura). Seria
ainda nesta localidade que iríamos passar a noite, mais precisamente no Hotel
Vila de Rei, na companhia de outros grupos que também aproveitaram este
fim-de-semana grande para percorrer a EN2 (cruzámo-nos com vários ao longo de
toda a estrada).
Picoto da Melriça (Centro
Geodésico de Portugal Continental).
Para o jantar recorremos à boa gastronomia da região, onde o maranho e o bucho recheado são
“reis”, servidos num espaço
agradável a pouco mais de 100 metros do hotel, mesmo junto à EN2.
O maranho e o bucho
recheado foram os “reis” do jantar em Vila de Rei.
Continua...
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