sexta-feira, 23 de novembro de 2018

EN2 “ao contrário” #1/2

Depois de em 2015 ter percorrido toda a Estrada Nacional 2 (EN2) no sentido “normal”, ou seja, desde o início em Chaves até ao seu término em Faro, chegava agora a vez de ficar com uma nova perspectiva ao percorrê-la “ao contrário”, atravessando o país de sul para norte.

O percurso da Estrada Nacional 2. Via 

Para efectuar esta viagem que tem aproximadamente 740 km e tirar algum partido das diferentes paisagens e locais que vão sendo atravessados pela EN2, a opção passou novamente por cumprir o percurso em dois dias, com uma paragem sensivelmente a meio para pernoitar, aproveitando o fim-de-semana grande de Outubro que este ano incluiu a sexta-feira do feriado do dia 5. 

A EN2 já não era uma novidade absoluta para a maioria dos participantes no passeio, pelo que desta vez o objectivo foi programar uma rota que fosse mais aproximada ao traçado original, para assim ficar com uma experiência mais de acordo com o que era percorrer esta estrada na altura em que foi criada (1944).

Com o trabalho de casa feito, a chegada a Faro foi efectuada no final da tarde de quinta-feira, dia 4, na companhia de duas BMW R1200GS (como curiosidade, durante o caminho a minha Honda VFR800Fi atingiu a marca dos 75.000 km). A estadia ficou assegurada no Hotel Ibis Faro e o final do dia foi passado na sede do MC Faro (que eu não conhecia), com a companhia de outros companheiros de estrada onde se incluíam alguns estrangeiros de visita a Portugal. E foi neste bom ambiente que acabámos por jantar um saboroso bitoque de vaca, depois de termos comprado uma t-shirt alusiva à EN2 e de nos terem oferecido um porta-chaves e um autocolante com a forma de um marco de pedra da EN2. Valeu!

Chegada a Faro (Hotel Ibis).

Sede do MC Faro.

T-shirt, porta-chaves e autocolante, alusivos à EN2.

Um saboroso bitoque de vaca servido na sede do MC Faro. 

1.º Dia (5 de Outubro, sexta-feira)

O local de encontro para o arranque da viagem estava marcado para as 09h00, junto ao marco do quilómetro 738, no cruzamento com a Avenida Calouste Gulbenkian. Uns minutos antes tínhamos passado pela Praça Dom Francisco Gomes, supostamente o ponto mais a sul da EN2 (739,260 km), onde reparámos que já não há vestígios do pendão criado pela Associação de Municípios da Rota da Estrada Nacional 2 - AMREN2 com o logotipo da Rota da EN2, uma situação que, infelizmente, viríamos a constatar mais vezes ao longo do caminho.

O dia amanheceu solarengo e com uma temperatura agradável, com valores máximos previstos para perto dos 30ºC. Ao grupo inicial de 3 motos juntavam-se mais 4, uma Yamaha Tracer900, uma Honda Deauville700 e mais duas BMW R1200GS (uma delas Adventure).

O arranque “ao contrário” para a EN2. 

Com todo o grupo reunido, saímos da capital do Algarve rumo a São Brás de Alportel, onde tem início o troço até Almodôvar que foi classificado em 2003 como Estrada Património. Pouco tempo depois já estávamos a arredondar os pneus das motos em plena Serra do Caldeirão, negociando com afinco as suas 365 curvas, uma por cada dia do ano. Sensivelmente a meio da serra, perto do quilómetro 700, surgia o Miradouro do Caldeirão onde efectuámos uma pequena paragem para apreciar a vista. 

Miradouro do Caldeirão (Serra do Caldeirão). 

Retomado o asfalto, com a travessia da Ribeira do Vascão deixámos para trás o distrito de Faro e entrámos no distrito de Beja em direcção a Almodôvar, onde a partir daqui começam verdadeiramente as longas rectas pelos campos de semeadura da planície alentejana. 

A caravana rolava tranquilamente a bom ritmo através de uma zona de importante actividade mineira, passando pelas localidades de Castro Verde, Monte dos Poços, Aljustrel, Ervidel, Ferreira do Alentejo e Odivelas. O marco do quilómetro 600 já ficou para trás e daqui até Alcáçovas (a terra dos chocalhos, já no distrito de Évora) a EN2 passa pela freguesia do Torrão, a única do distrito de Setúbal que é atravessada por esta estrada.

Santiago do Escoural já não estava longe (local onde se situa a Gruta do Escoural, a única em solo nacional que contém gravuras e pinturas rupestres paleolíticas que visitei no passado mês de Junho) e daqui até Montemor-o-Novo foi um pulinho. Por esta altura já não eram só as motos que necessitavam de combustível e a solução passou por “despachar” umas suculentas bifanas numa esplanada junto à Av. Gago Coutinho/EN2.

As bifanas no almoço em Montemor-o-Novo. 

Com as motos e os condutores devidamente atestados, cerca de 20 km depois chegávamos à freguesia de Ciborro e ao marco que assinala o quilómetro 500 da EN2. Do outro lado da estrada fica o já designado por “café oficial da EN2”, um dos poucos locais (senão mesmo o único) onde se vê alguma dinamização no âmbito da Rota da EN2, mas que por azar se encontrava encerrado provavelmente devido ao feriado do 5 de Outubro.

Marco do quilómetro 500 (Ciborro). 

Prosseguimos a viagem em direcção a Mora (onde vale a pena uma visita ao seu Fluviário), com a EN2 a entrar brevemente no distrito de Santarém, junto à Anta do Vale do Beiró, para logo à frente continuar no distrito de Évora até quase à Barragem de Montargil. Daqui até Ponte de Sor o trajecto segue praticamente em linha recta já em pleno distrito de Portalegre, onde perto do Aeródromo Municipal de Ponde de Sor surge a uma placa que indica ao viajante que está a passar Cansado, como que a convidar a uma pausa para recuperar o fôlego e preparar-se para enfrentar o que falta da EN2.

Estávamos de volta ao distrito de Santarém e quase a atravessar o Rio Tejo pela Ponte Ferroviária de Abrantes. É a partir daqui que se dá a grande transição entre o sul e o norte do país, com o rio a marcar a verdadeira fronteira na paisagem, onde as grandes rectas dão lugar às curvas e os tons de amarelo a um verde predominante. É também por aqui que deveria estar o marco que assinala o quilómetro 400 da EN2 mas, talvez devido aos trabalhos de construção da A23, ele já não existe (pelo menos não o encontrámos).

Daqui até Vila de Rei seguimos pelo traçado antigo da EN2, com uma pequena paragem no Miradouro do Penedo Furado, já no distrito de Castelo Branco, um rochedo gigantesco com uma enorme abertura de feitio afunilado e que dá nome à Praia Fluvial do Penedo Furado, a estância balnear mais procurada do concelho de Vila de Rei. O meio da EN2 encontra-se um pouco mais à frente, no quilómetro 369 (39º39'28.1"N 8º07'49.9"W), antes da estrada velha passar por baixo da variante nova. 

Miradouro do Penedo Furado (Milreu).

Chegávamos então a Vila de Rei e ao centro geográfico do país, onde se encontra o Centro Geodésico de Portugal Continental, no alto da Serra da Melriça, assinalado através do Picoto da Melriça (um marco trigonométrico com cerca de 20 metros de altura). Seria ainda nesta localidade que iríamos passar a noite, mais precisamente no Hotel Vila de Rei, na companhia de outros grupos que também aproveitaram este fim-de-semana grande para percorrer a EN2 (cruzámo-nos com vários ao longo de toda a estrada). 

Picoto da Melriça (Centro Geodésico de Portugal Continental). 

Para o jantar recorremos à boa gastronomia da região, onde o maranho e o bucho recheado são “reis”, servidos num espaço agradável a pouco mais de 100 metros do hotel, mesmo junto à EN2.

O maranho e o bucho recheado foram os “reis” do jantar em Vila de Rei. 

Continua... 

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