Dia 6 (20
de Junho) – O regresso via Serra de Aracena
E pronto, esta viagem pela região quente de Espanha estava
(infelizmente) a chegar ao fim. O percurso escolhido para o regresso a terras
lusitanas levar-me-ia em direcção a Sevilha, a histórica capital da Andaluzia
que visitei há uns anos, e daqui até à fronteira de Rosal de la Frontera/Vila
Verde de Ficalho, pela bonita paisagem da Serra de Aracena.
O caminho de regresso.
Deixei o Hotel Posada de Ronda pela fresca da manhã para evitar atravessar
Sevilha na hora de maior calor, seguindo pela A-374, a bordejar o Parque
Natural da Serra Grazalema, até entroncar com a A-384 perto de Algonodales,
onde um pouco mais à frente efectuei a primeira paragem
do dia para abastecer a VFR800 e tomar um café.
Estas estradas localizam-se na região dos Pueblos Blancos, um conjunto
de pequenos vilarejos de casas brancas que fazem parte da denominada Rota das Aldeias
Brancas (Ruta de los Pueblos Blancos), uma rota turística que compreende
grande parte dos povoados da Andaluzia, na comarca da Serra e alguns na comarca
da Janda da província de Cádiz e na serrania de Ronda, na província de Málaga. Já
por aqui andei em 2004, mais precisamente em Arcos de la Frontera,
aproveitando uma ida ao Circuito de Jerez de la Frontera para ver o GP Espanha
do mundial de motociclismo.
Arcos de la Frontera
(2004).
De volta ao asfalto, a A-384 leva-nos até ao Restaurante Venta de Cuatro
Mojones, onde apanhei a A-375 em direcção a Puerto Serrano e daqui até Utrera,
transformando-se depois em A-376 até Sevilla. Aqui chegado, é necessário ter bem
presente qual a direcção a tomar para não ser “engolido” pelo emaranhado de vias
rápidas que circunda a cidade. Neste caso bastou seguir as placas com a
indicação de A-66 (Autovía Ruta de la Plata), passando pela Puente del
Centenario e pela Puente Reina Sofía sobre o Rio Guadalquivir.
A saída 782 chega cerca de 35 km depois, local onde começa a estrada
N-433 que segue em direcção a Portugal, atravessando o Parque
natural de Sierra de Aracena y Picos de Aroche. Esta é uma região de
elevado valor paisagístico, visto estarmos perante uma área onde persiste a
tradição do montado
alentejano e da dehesa
na parte da Andaluzia, que faz com que a criação do porco preto esteja
particularmente desenvolvida, para além das indústrias agro-alimentares
derivadas.
É por esta altura que surge no horizonte uma emblemática silhueta
associada às estradas do país vizinho, o famoso Touro de Osborne, que
com o passar dos anos se transformou num autêntico símbolo cultural de Espanha.
Este exemplar encontra-se perto da povoação de Las Cortecillas (37°44'59.8"N
6°22'07.6"W). Bom, na realidade esta não foi a primeira vez que passei por
um Touro de Osborne neste dia, já que na A-376 à saída de Utrera encontra-se outro
exemplar, embora este passe um pouco mais despercebido.
Touro de Osborne (Serra de
Aracena).
As últimas paragens em Espanha foram efectuadas perto da localidade de
Jabugo (para abastecer
a moto) e um pouco mais à frente numa superfície comercial junto a Cortegana
para comprar alguns produtos típicos da região, os afamados embutidos (enchidos), que acabaram por
deixar a topcase bem aromatizada.
Ao atravessar a localidade de Rosal de la Frontera, veio-me à memória a
reacção efusiva dos miúdos na beira da estrada à passagem das motos a caminho
do Circuito de Jerez de la Frontera, durante o fim-de-semana do GP Espanha do
mundial de motociclismo. Das três vezes que fui a Jerez, fiz este trajecto com
a VFR800 em duas delas, em 2003 e 2004, e aqui era sempre uma festa (a primeira
viagem foi em 1999, de noite e pela fronteira de Vila Real de Santo
António/Ayamonte, ainda com a CB500).
Outra das recordações que tenho deste local é da diferença entre o
estado da estrada espanhola (N-433) face ao da estrada portuguesa (N260). Esta
situação era particularmente notória na passagem pelo Barranco de la Raya, onde
inclusivamente era necessário abrandar a marcha para evitar perder algumas peças
da moto com a trepidação no lado português (é claro que estou a exagerar um
pouco, mas garanto que quem viesse distraído ficava imediatamente a saber que tinha
chegado a Portugal!). A boa notícia é que, felizmente, esta situação
já não se verifica.
Prosseguindo Alentejo adentro através do IP8/N260 e já um pouco para
além da hora normal de almoço, decidi parar em Beja, a capital do Baixo
Alentejo, para ver se encontrava um local para comer. Acabei por saborear umas
bifanas numa esplanada
junto ao Jardim da Av. Miguel Fernandes, depois de uma tentativa frustrada num
restaurante no Largo da Conceicao (é certo que já não era muito cedo, mas ser
recebido com um redondo ‘não’ e com uma cara de quem nada queria fazer para
satisfazer o cliente foi... digamos... desmotivador).
Pausa para almoço no Jardim
da Av. Miguel Fernandes (Beja).
Depois de devidamente restabelecido e com a temperatura ambiente a
manter-se em níveis elevados, deixei esta pouco movimentada e quase deserta
capital de distrito (pelo menos a esta hora do dia), retomando a estrada para a
fase final da viagem de regresso.
Em resumo
Seis dias de viagem pelo sudoeste de Espanha, atravessando as comunidades
autónomas da Estremadura, Castela-Mancha, Madrid e Andaluzia, por estradas com
bom piso e (em geral) pouco trânsito, numa condução tranquila e em velocidade
moderada, onde foi possível percorrer por diversas vezes mais de 350 km com
apenas um depósito de combustível (médias inferiores a 6 l/100 km), o que para
uma VFR com condutor, passageiro e bagagem é francamente bom.
Mapa da viagem.
Cinco curtas mas interessantes visitas de apenas um dia às cidades de Madrid,
Toledo, Córdova, Granada e Ronda, locais de grande importância histórica e relevância
cultural do país vizinho, acompanhadas de temperaturas algo elevadas a rondar os
40ºC.
Um museu de motos clássicas perto de Toledo (Museo de Motos Juan Antonio
García) com uma colecção diversificada e de grande qualidade de mais de 130
motos, especialmente espanholas, que merece uma atempada visita.
Dois locais de interesse que ficaram por conhecer nesta região, o
imponente complexo palaciano e fortaleza de la
Alhambra (Granada) e a cidade costeira de Málaga, que certamente não
deixarão de fazer parte de uma próxima viagem ao sul de Espanha, pela costa mediterrânica
até Barcelona ou um pouco mais além, quem sabe, até aos Pirenéus.
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