Dia 5 (19
de Junho) – Granada e Ronda
Foi com as oportunas indicações da funcionária do B&B Hotel Granada sobre
a forma mais expedita de chegar de moto a Granada (e onde estacioná-la) que
segui em direcção ao centro da cidade, pela A-44 até à saída 129. Seria
igualmente por aqui que no final da tarde sairia em direcção a Ronda, o último
local de visita desta viagem por terras espanholas.
Granada – Ronda.
Granada é um importante centro de turismo da Andaluzia, uma cidade rica em
culturas e influências arquitetónicas, situada na proximidade da estância de esqui
da Sierra Nevada,
o maciço montanhoso de maior altitude da Península Ibérica, onde fica o ponto
mais alto (o pico de Mulhacén) com quase 3.500 metros.
Nos principais pontos turísticos da cidade pode observar-se a forte marca
que a cultura árabe deixou neste local, com destaque para la
Alhambra (palavra de origem árabe que significa “a vermelha”), um grande
complexo de palácios, fortificações e jardins, classificado como Património da
Humanidade pela UNESCO em 1984 juntamente com os vizinhos jardim do Generalife
e o bairro de Albaicín.
Por estranho que possa parecer, a visita ao Alhambra não foi fez parte
do programa desta minha primeira passagem por Granada. E isto porquê? Essencialmente
porque num roteiro de um dia temos que fazer opções e a visita ao Alhambra é
coisa para demorar uma manhã ou uma tarde inteira, com a agravante de para este
dia já só haver bilhetes disponíveis para o final da tarde (os bilhetes deverão
ser comprados antecipadamente). Bom, pelo menos assim sempre tenho um pretexto
para uma nova viagem a Granada ;).
Deixando então o Alhambra e o jardim do Generalife para outra
oportunidade, acabei por estacionar a VFR num parque para motos perto da Puerta
de Elvira, a principal entrada da cidade de Granada durante o período
muçulmano. O seu nome deve-se a Medina Elvira, a capital regional até início do
século XI, quando os ziridas mudaram a capital do seu reino recém-criado para
Granada, então chamada Medina Garnata. A porta foi construída no século XI
pelos reis ziridas, integrada na muralha que a unia pelo leste à Porta Monaita
e por sudoeste com a Porta do Sulfeto de Antimónio (Bab al-Kubl), conhecida
popularmente por Arco das Tinajillas (arco das jarrinhas).
Puerta de Elvira.
Já em pleno bairro de Albaicín, um dos mais típicos da cidade, as
estreitas e labirínticas ruas levam-nos à descoberta de detalhes, decorações e
construções árabes, fruto da grande influência moura na época dos Nasridas, a
ultima dinastia muçulmana a viver na Península Ibérica. Aqui não faltam as
lojas de souvenirs com diversos tipos
de artesanato, bem como as famosas Teterías (casas de chá) marroquinas, sempre
acompanhadas do não menos famoso narguilé.
Lojas de souvenirs com
diversos tipos de artesanato.
Lojas de souvenirs com
diversos tipos de artesanato.
Restaurante Teteria Marrakech.
Tal como em Toledo,
passear por Albaicín implica alguma destreza física para superar as íngremes subidas,
uma vez que o bairro fica igualmente situado no alto de uma colina. A situação agrava-se
um pouco quando a temperatura ambiente caminha a passos largos para valores na
ordem dos 40ºC. Mas o esforço despendido acaba por compensar quando chegamos ao
Mirador
San Nicolás e nos deparamos com a mais bela vista da cidade sobre la Alhambra,
com a imponente Sierra Nevada em fundo. Um momento para apreciar, ao som da
música ritmada dos artistas de rua que habitualmente se encontram por estas
paragens.
Vista de la Alhambra a
partir do Mirador San Nicolás.
E como tudo o que sobe tem, mais cedo ou mais tarde, forçosamente que
descer, o passeio prosseguiu encosta abaixo, atravessando o Arco
de las Pesas (um dos pontos de acesso da Muralha Zirí, que separa Albaicín
do Barrio de la Alcazaba Vieja), passando pela Plaza
Larga (com o seu característico mercado de frutas e legumes)...
Heladería junto à Plaza
Larga.
... pela Plaza
del Salvador (onde se situa a Iglesia de El Salvador, de estilo mudéjar,
que foi edificada sobre a antiga Mezquita Mayor de Granada), pelo Palacio
de los Córdova (edificado de fachada renascentista rodeado de belos jardins
e átrio interior feito com elementos góticos e tetos de estilo mudéjar. Actualmente
alberga o Arquivo Municipal), pela margem do Rio Darro, afluente do rio Genil,
que por sua vez desagua no rio Guadalquivir, até à pequena Puente
de Cabrera (do séc. XVII que juntamente com a Puente de Espinosa liga a Carrera
del Darro com o Barrio de la Churra)...
Puente de Cabrera sobre o
Rio Darro.
... pela Iglesia
de San Gil y Santa Ana junto à Plaza Nueva (foi erigida no ano de 1537,
como sede da paróquia com o mesmo nome, segundo o projecto de Diego de Siloé,
com a torre construída entre 1561 e 1563 por Juan Castellar)...
Iglesia de San Gil y Santa
Ana.
... pelo Barrio del Realejo até ao Museo
Sefaradi (o museu “da judiaria”, de iniciativa privada, onde é recriada a
cultura, a história, as personagens e as tradições dos judeus espanhóis em Granata
al-Yahud) e daqui até à Calle Sta. Escolástica, onde aproveitei para efectuar
uma pausa e comer num dos restaurantes da zona. Desta vez a eleita foi a comida
vegetariana, servida num espaço
acolhedor e bem decorado. Escolha acertada.
De volta às calles, o percurso
prosseguiu pela Plaza
Isabel la Católica (onde se encontra a estátua da Rainha Isabel a conceder
a Colombo a permissão para rumar para o continente que haveria de ser conhecido
pelas “Américas”)...
Plaza Isabel la Católica.
... a caminho do mercado de Alcaiceria
(um conjunto de ruelas estreitas repletas de artefactos do Norte de África, num
verdadeiro portal para o mundo árabe onde se pode aproveitar para comprar
artesanato e alguns souvenirs)...
Mercado árabe de
Alcaiceria.
... de volta ao mundo cristão e ao esplendor renascentista, que surgiu
depois da Reconquista Cristã, na forma da Catedral
de Granada (considerada a primeira igreja renascentista espanhola, foi
desenhada para ser gótica mas cinco anos após o início da sua construção, em
1523, mudou para um estilo renascentista. É aqui que estão sepultados os Reis
Católicos)...
Catedral de Granada.
... até regressar à Plaza
del Triunfo onde tinha ficado estacionada a moto. Estava então na altura de
prosseguir viagem em direcção à cidade de Ronda, capital do município com o
mesmo nome, inserido na província de Málaga. São cerca de 100 km pela autovía
A-92 até à saída 146 (em Los Llanos de Antequera), acrescidos de 25 km pela
A-384 até Campillos, de 15 km pela A-357 até ao Embalse de Guadalteba (junto ao
antigo município de Peñarrubia) e de 40 km pela A-367 até Ronda, perfazendo um
total de 180 km em pouco mais de duas horas de condução descontraída e pouco
exigente, que acaba por se tornar mais interessante a partir de Campillos.
A chegada a Ronda fez-se num final de tarde bastante solarengo e ainda com
temperatura elevada, condições ideais para um pequeno passeio pelas suas zonas
mais turísticas. A cidade situa-se a mais de setecentos metros acima do nível
do mar, rodeada por serras e inserida no conjunto de Parques Naturais da Serra
das Neves, Grazalema e Alcornocales.
Com a moto estacionada numa rua relativamente perto da praça de touros, iniciei
o tour precisamente pela Plaza
de Toros de la Real Maestranza de Caballería de Ronda (com capacidade para
cerca de 5 mil pessoas, esta arena de tourada do século XVIII – oficialmente
inaugurada em 1785 – tem 66 metros de diâmetro e dupla galeria de arcadas sustentadas por 136 colunas e 68 arcos. Pertence à Real Maestranza de Caballería de Ronda, que tem
a seu cargo a gestão de um importante legado histórico que inclui a praça de touros
e a escola de equitação)...
Plaza de Toros de la Real
Maestranza de Caballería de Ronda, monumento ao touro de lide e charretes para
passeios turísticos.
... seguindo-se uma espreitadela ao Mirador
de Ronda (com uma vista privilegiada sobre a escarpa onde a cidade se
encontra)...
Vista do Mirador de Ronda.
... passando pela Plaza
España (uma das principais praças do município que oferece boas opções de
bares e restaurantes) para chegar ao local mais conhecido e fotografado de
Ronda, a Puente
Nuevo sobre o Tajo de
Ronda (construída entre os anos de 1751 e 1793, a ponte interliga zona
antiga à zona nova da cidade sobre um desfiladeiro formado pelo Rio Guadalevín,
afluente do Guadiaro, com cerca de 100 metros de profundidade, 500 metros de
comprimento, 50 metros de largura. Até à construção desta ponte, a travessia
era efectuada mais a Leste, pela Puente
Viejo, edificada no séc. XVI).
Puente Nuevo.
Puente Nuevo.
Puente Viejo.
E foi com estas belas paisagens, devidamente enquadradas com um
pôr-do-sol a condizer, que me despedi de Ronda, num dia que já ia longo mas
repleto de boas sensações. Ainda houve tempo para uma refrescante paragem para
saborear um gelado numa esplanada em plena Plaza España, seguindo depois pela Plaza
del Socorro (uma praça pedonal com importantes edifícios, restaurantes e
esplanadas, com destaque para a Iglesia del
Socorro e o Casino,
adornada com estátuas e a Fuente
de Hércules ao centro) até ao local onde estava estacionada a VFR.
Iglesia del Socorro e
Fuente de Hércules (Plaza del Socorro).
Os últimos 10 km do dia foram efectuados pela A-374 até ao Hotel
Posada de Ronda (antigo Hotel Don Benito), a 2 km do parque natural
suburbano Dehesa del Mercadillo, para a última estadia desta minha viagem por
Espanha.
Hotel Posada de Ronda.
O check-in decorreu uma vez
mais sem surpresas (reserva), num espaço de grande sossego e tranquilidade,
onde se nota a forte presença da cultura andaluz, seja pela decoração
tradicional do hotel, com abundante utilização de materiais típicos da região
(os ferros forjados e a madeira, entre outros), ou pelos sabores de uma
gastronomia local de qualidade mas com um toque de modernidade.
Continua...
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