quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Espanha “caliente” #5/6

Dia 5 (19 de Junho) – Granada e Ronda 

Foi com as oportunas indicações da funcionária do B&B Hotel Granada sobre a forma mais expedita de chegar de moto a Granada (e onde estacioná-la) que segui em direcção ao centro da cidade, pela A-44 até à saída 129. Seria igualmente por aqui que no final da tarde sairia em direcção a Ronda, o último local de visita desta viagem por terras espanholas.

Granada – Ronda. 

Granada é um importante centro de turismo da Andaluzia, uma cidade rica em culturas e influências arquitetónicas, situada na proximidade da estância de esqui da Sierra Nevada, o maciço montanhoso de maior altitude da Península Ibérica, onde fica o ponto mais alto (o pico de Mulhacén) com quase 3.500 metros. 

Nos principais pontos turísticos da cidade pode observar-se a forte marca que a cultura árabe deixou neste local, com destaque para la Alhambra (palavra de origem árabe que significa “a vermelha”), um grande complexo de palácios, fortificações e jardins, classificado como Património da Humanidade pela UNESCO em 1984 juntamente com os vizinhos jardim do Generalife e o bairro de Albaicín.

Por estranho que possa parecer, a visita ao Alhambra não foi fez parte do programa desta minha primeira passagem por Granada. E isto porquê? Essencialmente porque num roteiro de um dia temos que fazer opções e a visita ao Alhambra é coisa para demorar uma manhã ou uma tarde inteira, com a agravante de para este dia já só haver bilhetes disponíveis para o final da tarde (os bilhetes deverão ser comprados antecipadamente). Bom, pelo menos assim sempre tenho um pretexto para uma nova viagem a Granada ;).

Deixando então o Alhambra e o jardim do Generalife para outra oportunidade, acabei por estacionar a VFR num parque para motos perto da Puerta de Elvira, a principal entrada da cidade de Granada durante o período muçulmano. O seu nome deve-se a Medina Elvira, a capital regional até início do século XI, quando os ziridas mudaram a capital do seu reino recém-criado para Granada, então chamada Medina Garnata. A porta foi construída no século XI pelos reis ziridas, integrada na muralha que a unia pelo leste à Porta Monaita e por sudoeste com a Porta do Sulfeto de Antimónio (Bab al-Kubl), conhecida popularmente por Arco das Tinajillas (arco das jarrinhas). 

Puerta de Elvira. 

Já em pleno bairro de Albaicín, um dos mais típicos da cidade, as estreitas e labirínticas ruas levam-nos à descoberta de detalhes, decorações e construções árabes, fruto da grande influência moura na época dos Nasridas, a ultima dinastia muçulmana a viver na Península Ibérica. Aqui não faltam as lojas de souvenirs com diversos tipos de artesanato, bem como as famosas Teterías (casas de chá) marroquinas, sempre acompanhadas do não menos famoso narguilé. 

Lojas de souvenirs com diversos tipos de artesanato.

Lojas de souvenirs com diversos tipos de artesanato.

Restaurante Teteria Marrakech. 

Tal como em Toledo, passear por Albaicín implica alguma destreza física para superar as íngremes subidas, uma vez que o bairro fica igualmente situado no alto de uma colina. A situação agrava-se um pouco quando a temperatura ambiente caminha a passos largos para valores na ordem dos 40ºC. Mas o esforço despendido acaba por compensar quando chegamos ao Mirador San Nicolás e nos deparamos com a mais bela vista da cidade sobre la Alhambra, com a imponente Sierra Nevada em fundo. Um momento para apreciar, ao som da música ritmada dos artistas de rua que habitualmente se encontram por estas paragens.

Vista de la Alhambra a partir do Mirador San Nicolás. 

E como tudo o que sobe tem, mais cedo ou mais tarde, forçosamente que descer, o passeio prosseguiu encosta abaixo, atravessando o Arco de las Pesas (um dos pontos de acesso da Muralha Zirí, que separa Albaicín do Barrio de la Alcazaba Vieja), passando pela Plaza Larga (com o seu característico mercado de frutas e legumes)...

Heladería junto à Plaza Larga. 

... pela Plaza del Salvador (onde se situa a Iglesia de El Salvador, de estilo mudéjar, que foi edificada sobre a antiga Mezquita Mayor de Granada), pelo Palacio de los Córdova (edificado de fachada renascentista rodeado de belos jardins e átrio interior feito com elementos góticos e tetos de estilo mudéjar. Actualmente alberga o Arquivo Municipal), pela margem do Rio Darro, afluente do rio Genil, que por sua vez desagua no rio Guadalquivir, até à pequena Puente de Cabrera (do séc. XVII que juntamente com a Puente de Espinosa liga a Carrera del Darro com o Barrio de la Churra)...

Puente de Cabrera sobre o Rio Darro. 

... pela Iglesia de San Gil y Santa Ana junto à Plaza Nueva (foi erigida no ano de 1537, como sede da paróquia com o mesmo nome, segundo o projecto de Diego de Siloé, com a torre construída entre 1561 e 1563 por Juan Castellar)...

Iglesia de San Gil y Santa Ana. 

... pelo Barrio del Realejo até ao Museo Sefaradi (o museu “da judiaria”, de iniciativa privada, onde é recriada a cultura, a história, as personagens e as tradições dos judeus espanhóis em Granata al-Yahud) e daqui até à Calle Sta. Escolástica, onde aproveitei para efectuar uma pausa e comer num dos restaurantes da zona. Desta vez a eleita foi a comida vegetariana, servida num espaço acolhedor e bem decorado. Escolha acertada.

De volta às calles, o percurso prosseguiu pela Plaza Isabel la Católica (onde se encontra a estátua da Rainha Isabel a conceder a Colombo a permissão para rumar para o continente que haveria de ser conhecido pelas “Américas”)...

Plaza Isabel la Católica. 

... a caminho do mercado de Alcaiceria (um conjunto de ruelas estreitas repletas de artefactos do Norte de África, num verdadeiro portal para o mundo árabe onde se pode aproveitar para comprar artesanato e alguns souvenirs)... 

Mercado árabe de Alcaiceria. 

... de volta ao mundo cristão e ao esplendor renascentista, que surgiu depois da Reconquista Cristã, na forma da Catedral de Granada (considerada a primeira igreja renascentista espanhola, foi desenhada para ser gótica mas cinco anos após o início da sua construção, em 1523, mudou para um estilo renascentista. É aqui que estão sepultados os Reis Católicos)... 

Catedral de Granada. 

... até regressar à Plaza del Triunfo onde tinha ficado estacionada a moto. Estava então na altura de prosseguir viagem em direcção à cidade de Ronda, capital do município com o mesmo nome, inserido na província de Málaga. São cerca de 100 km pela autovía A-92 até à saída 146 (em Los Llanos de Antequera), acrescidos de 25 km pela A-384 até Campillos, de 15 km pela A-357 até ao Embalse de Guadalteba (junto ao antigo município de Peñarrubia) e de 40 km pela A-367 até Ronda, perfazendo um total de 180 km em pouco mais de duas horas de condução descontraída e pouco exigente, que acaba por se tornar mais interessante a partir de Campillos.

A chegada a Ronda fez-se num final de tarde bastante solarengo e ainda com temperatura elevada, condições ideais para um pequeno passeio pelas suas zonas mais turísticas. A cidade situa-se a mais de setecentos metros acima do nível do mar, rodeada por serras e inserida no conjunto de Parques Naturais da Serra das Neves, Grazalema e Alcornocales. 

Com a moto estacionada numa rua relativamente perto da praça de touros, iniciei o tour precisamente pela Plaza de Toros de la Real Maestranza de Caballería de Ronda (com capacidade para cerca de 5 mil pessoas, esta arena de tourada do século XVIII – oficialmente inaugurada em 1785 – tem 66 metros de diâmetro e dupla galeria de arcadas sustentadas por 136 colunas e 68 arcos. Pertence à Real Maestranza de Caballería de Ronda, que tem a seu cargo a gestão de um importante legado histórico que inclui a praça de touros e a escola de equitação)...

Plaza de Toros de la Real Maestranza de Caballería de Ronda, monumento ao touro de lide e charretes para passeios turísticos. 

... seguindo-se uma espreitadela ao Mirador de Ronda (com uma vista privilegiada sobre a escarpa onde a cidade se encontra)...

Vista do Mirador de Ronda.

... passando pela Plaza España (uma das principais praças do município que oferece boas opções de bares e restaurantes) para chegar ao local mais conhecido e fotografado de Ronda, a Puente Nuevo sobre o Tajo de Ronda (construída entre os anos de 1751 e 1793, a ponte interliga zona antiga à zona nova da cidade sobre um desfiladeiro formado pelo Rio Guadalevín, afluente do Guadiaro, com cerca de 100 metros de profundidade, 500 metros de comprimento, 50 metros de largura. Até à construção desta ponte, a travessia era efectuada mais a Leste, pela Puente Viejo, edificada no séc. XVI).

Puente Nuevo.

Puente Nuevo.

Puente Viejo. 

E foi com estas belas paisagens, devidamente enquadradas com um pôr-do-sol a condizer, que me despedi de Ronda, num dia que já ia longo mas repleto de boas sensações. Ainda houve tempo para uma refrescante paragem para saborear um gelado numa esplanada em plena Plaza España, seguindo depois pela Plaza del Socorro (uma praça pedonal com importantes edifícios, restaurantes e esplanadas, com destaque para a Iglesia del Socorro e o Casino, adornada com estátuas e a Fuente de Hércules ao centro) até ao local onde estava estacionada a VFR.

Iglesia del Socorro e Fuente de Hércules (Plaza del Socorro). 

Os últimos 10 km do dia foram efectuados pela A-374 até ao Hotel Posada de Ronda (antigo Hotel Don Benito), a 2 km do parque natural suburbano Dehesa del Mercadillo, para a última estadia desta minha viagem por Espanha. 

Hotel Posada de Ronda. 

O check-in decorreu uma vez mais sem surpresas (reserva), num espaço de grande sossego e tranquilidade, onde se nota a forte presença da cultura andaluz, seja pela decoração tradicional do hotel, com abundante utilização de materiais típicos da região (os ferros forjados e a madeira, entre outros), ou pelos sabores de uma gastronomia local de qualidade mas com um toque de modernidade. 

Continua... 

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