A despedida do Hotel Abetos deu-se logo pela manhã e ficou a vontade de um dia voltar a estas paragens. Era então altura de partir à descoberta de Córdova, onde rapidamente se chega após meia dúzia de quilómetros percorridos.
A despedida do Hotel Abetos.
A viagem até à cidade de Granada seria efectuada no final da tarde pela estrada nacional 432, que num futuro próximo se tornará na autovía de Córdoba a Granada.
Córdova – Granada.
Localizada nas margens do Rio Guadalquivir, Córdova já esteve sob o domínio de Romanos, Visigodos e Muçulmanos, que, mesmo após terem sido expulsos pelos Cristãos no século XIII, deixaram as suas influências arquitectónicas em vários dos edifícios do centro histórico, Património Mundial da UNESCO e um lugar de visita obrigatória para quem está pela primeira vez na cidade.
Mapa da cidade.
Na parte mais ocidental da muralha que circunda o centro histórico, de origem romana e posteriormente reconstruida/ampliada pelos muçulmanos, situa-se a Puerta de la Luna. Foi por aqui que entrei em direcção ao Bairro Judeu, depois de ter deixado a moto à sombra junto aos Jardines del Vallellano.
Puerta de la Luna.
Nestas estreitas e labirínticas ruas encontram-se residências, hospedarias, lojas e restaurantes, situados em edifícios onde o branco se assume como cor dominante nas suas fachadas. Em muitos deles e como característica tipicamente muçulmana, para além das portas com entalhes rendilhados em estilo árabe e dos azulejos na entrada, pode ver-se um pátio interior bem ao estilo andaluz.
Restaurante El Patio Cordobés.
Mas o verdadeiro ex-líbris da cidade é sem dúvida a Mezquita-Catedral
de Córdoba, um grandioso monumento implantado numa área total de 23.400 m2
que apresenta vários estilos arquitectónicos, do islâmico ao barroco, passando
pelo gótico e pelo renascentista, fruto das diversas fases construtivas que vão
dos anos 780 até ao século XVI.
Na
fachada norte fica a Puerta del Perdón, junto à Torre
Campanario, principal acesso ao pátio interior – Patio
de los Naranjos – onde se situa um grande jardim e a bilheteria para venda
de ingressos. A entrada custa € 10,00. Mezquita-Catedral – Torre Campanario.
A evolução arquitectónica da Mesquita-Catedral passou por diversas fases. No local anteriormente ocupado pela Basílica de San Vicente (meados do séc. VI), surgiu a mesquita de Abderramán I (séc. VIII), a ampliação de Abderramán II (séc. IX), a ampliação de Alhakén II (séc. X), a intervenção de Abderramán III (séc. X), a ampliação de Almanzor (séc. X), a Capela-Mor e a Nave Gótica (séc. XIV), o Cruzeiro da Catedral, a Torre e o Patio de los Naranjos (séc. XVI até à actualidade).
Mezquita-Catedral – Patio de los Naranjos.
Mezquita-Catedral – Puerta de las Palmas.
O interior do edifício transmite uma sensação de imensidão difícil de descrever. Nela convivem em harmonia muitos dos elementos da cultura islâmica e cristã, noutro bom exemplo de fusão intercultural e, porque não referi-lo, de tolerância religiosa.
Mezquita-Catedral – Naves de Abderramán I.
Mezquita-Catedral – Mihrab.
Mezquita-Catedral – Coro da Capela-Mor.
A visita à Mesquita-Catedral é um pouco demorada. É normal (e desejável) que assim seja, já que o muito que tem para ver e o interesse que desperta merece que lhe dediquemos algum tempo. Mas Córdova tem outras coisas interessantes para conhecer e como tal havia que prosseguir o caminho.
A Puerta de Santa Catalina (a leste) foi o local de saída em direcção a outros pontos da cidade, que passaram pelo bonito local onde funciona a empresa Meryan, Cueros de Córdoba, um atelier de artesanato com magníficos trabalhos em couro fundado pelo artista Ángel López-Obrero e pela sua esposa Mercedes Miarons Feliu (a palavra Meryan vem dos nomes MERcedes Y ANgel), aberto ao público desde 1958...
Atelier da empresa Meryan, Cueros de Córdoba.
... pelo Convento de la Encarnación, um convento de clausura da Ordem de Cister criado em 1510 (séc. XVI) graças ao legado de Antón Ruiz de Morales (precentor e cónego da Catedral) que habitou neste local...
Convento de la Encarnación.
Convento de la Encarnación – Monja cisterciense.
... pelas estreitas e coloridas calles em redor da Mesquita/Catedral, onde predominam diversas lojas de souvenirs com artesanato, especiarias, chás, frutos secos e afins...
Lojas de artesanato, especiarias, chás, frutos secos e afins.
... pela Puerta de Almodóvar, que na sua maioria é uma obra cristã do séc. XIV, era conhecida nos tempos muçulmanos como a Bad al-Yawz. Este é o único acesso que resta dos nove construídos por Abderramán I (séc. VIII) e embora tenha sido restaurada em 1802, as ameias e as muralhas estão praticamente intactas. Em frente dela está a escultura de Séneca, famoso filósofo e dramaturgo do império romano que nasceu em Córdova...
Puerta de Almodóvar e a escultura de Séneca.
... pelo Zoco Municipal de la Artesanía (da palavra árabe suq que significa mercado), um espaço de exposição e venda directa que surgiu nos anos 50 como um projecto para recuperar o artesanato popular cordovês. Situa-se num dos pátios da Casa de las Bulas (Museo Taurino) do séc. XVI...
Zoco Municipal de la Artesanía.
... de regresso às ruas do Bairro Judeu, onde se pode ver o já conhecido logotipo da Rede de Judiarias de Espanha com a palavra hebraica Sefarad, num formato que representa a Península Ibérica...
Caminos de Sefarad – Red de Juderías de España.
... pela Estátua de Maimónides, uma escultura do pensador cordovês (1135-1204) erigida na Plaza de Tiberiades (junto à casa onde nasceu), da autoria de Amadeo Ruiz Olmos e inaugurada em 1964...
Estátua de Maimónides.
... pelo restaurante La Fragua, situado na Calleja del Salmorejo Cordobés (antiga Calleja del Arco) em cuja parede se pode consultar a receita do famoso Salmorejo Cordobés, uma sopa cremosa fria confeccionada com tomate, pão, azeite, alho e sal, decorada com clara de ovo cozido picada e pedaços de presunto...
Restaurante La fragua.
... até ao Alcázar de los Reyes Cristianos, que já não consegui visitar por se encontrar encerrado, assim como os Baños del Alcázar Califal. Por ver ficou também, entre outros, o Templo Romano e a Ponde Romana sobre o Rio Guadalquivir, juntamente com os dois monumentos situados nos extremos da ponte (o Arco do Triunfo e a Torre de la Calahora).
Por esta altura instalou-se um certo desconforto na zona abdominal, sintoma vulgarmente conhecido por fome :). Foi então que dei conta que já tinham passado algumas (muitas) horas desde o pequeno-almoço. A solução passou por aconchegar o estômago com uma refeição ligeira servida numa esplanada, no caminho de regresso ao local onde tinha ficado a moto.
Com o físico restabelecido iniciei a viagem em direcção a Granada. A distância entre estas duas cidades não é grande, bastando um par de horas (ou até menos) para percorrer cerca de 160 km na N-432 em ritmo moderado. Esta estrada transformar-se-á num dos três troços que formarão a A-81 entre Badajoz e Granada (Badajoz – Espiel, Espiel – Córdoba e Córdoba – Granada).
De um modo geral, as condições das estradas espanholas são boas. E esta N-432 não é excepção, ao que se junta um cenário interessante e curvas com alguma abundância. A parte mais aborrecida é a existência dos habituais controlos de velocidade das nacionais que condicionam o andamento, mesmo quando não há razão aparente para tal.
A N-432 termina na Autovía de Sierra Nevada-Costa Tropical (A-44), nos arredores de Granada, na qual segui em direcção a norte até à saída 123 a caminho do B&B Hotel Granada, em Pulianas.
A Sierra Nevada vista do B&B Hotel Granada (Pulianas).
Com o check-in efectuado (reserva) e a moto guardada no estacionamento coberto do hotel (uma maior valia sempre bem vinda), o dia terminou com uma ida ao Parque Comercial Kinépolis para esticar um pouco as pernas e cenar, enquadrado pelo magnífico cenário natural da Sierra Nevada.
Continua...
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