Dia 3 (17
de Junho) – Motos clássicas, Toledo medieval e chegada a Córdova
Este terceiro dia de viagem foi reservado para uma visita à cidade
medieval de Toledo (capital da comunidade autónoma de Castela-Mancha), terra
pacífica que abrigou em harmonia Judeus, Muçulmanos e Católicos, mantendo muitos
dos traços arquitectónicos do seu passado multi-religioso. Mais para o final da
tarde ficou o retomar da estrada, agora em direcção à cidade de Córdova (Andaluzia)
pela N-401 e N-420, via Cidade Real.
Olías del Rey – La Puebla
de Montalbán – Toledo – Córdova.
Mas antes de chegar a Toledo, as estradas CM-4006, CM-40 e CM-4000 levaram-me
em direcção à localidade de La Puebla de Montalbán, onde cheguei cerca de meia
hora depois e com pouco mais de 40 km percorridos. E o que me levou a ir até esta
pequena povoação? Bom, nela encontra-se o Museo
de Motos Juan Antonio García, que conta com uma colecção diversificada e de
grande qualidade, com mais de 130 motos (especialmente espanholas) restauradas
pelo próprio Juan Antonio, com exemplares de 1924 a 1982. A entrada custa €
5,00 e está aberto ao público aos domingos e feriados das 10:00 às 14:00 (de
terça a sábado só com marcação prévia). Vale a pena a visita!
Museo de Motos Juan Antonio
García (La Puebla de Montalbán).
Com a “barriga cheia” de motos antigas e clássicas, o caminho para
Toledo fez-se novamente pela bonita estrada CM-4000, com o Rio Tejo por perto a
partir de meio do trajecto até à entrada da cidade. O rio foi atravessado pela Puente
de la Cava (com vista para a medieval Puente
de San Martín) e a entada na zona histórica, demarcada por uma antiga
muralha, foi feita pela Puerta
de Bisagra (porta de origem medieval readaptada por Alonso de Covarrubias
no século XVI).
Puente de San Martín.
A moto ficou estacionada perto do imponente Alcázar
de Toledo, um palácio fortificado (onde funciona o Museu do Exército) situado
na parte mais alta de Toledo e de onde domina toda a cidade. Este foi o ponto
de partida para a minha descoberta da cidade que outrora abrigou o artista el
Greco, um dos grandes nomes da arte espanhola que aqui iniciou a sua carreira
de pintor retratista.
Mapa da cidade.
Caminhar pelas estreitas e labirínticas ruas de Toledo até às suas atracções
turísticas é uma experiência que tem tanto de culturalmente enriquecedor como
de físico, uma vez que o seu centro histórico está localizado numa colina com
cem metros de altura sobre a margem direita do Tejo. A coisa complica-se um
pouco mais com o equipamento para andar de moto “às costas” e uma temperatura
ambiente perto dos 40ºC...
Pelas ‘calles’ de Toledo.
Condicionantes à parte, depois do Alcázar e da Plaza
Zocodover (antiga Plaza Mayor e onde, através do Arco de la Sangre, se
pode aceder à estátua de Miguel de Cervantes) não há como não passar por outro
dos principais monumentos da cidade, neste caso a grandiosa Catedral
de Toledo (património da humanidade), uma das três catedrais góticas
espanholas do século XIII, construída de 1226 a 1493 e projectada a partir da
Catedral de Bourges...
Catedral de Toledo.
... pela Iglesia
de San Ildefonso, também conhecida como Igreja dos Jesuítas (edifício de
estilo barroco, construído entre 1629 e 1765, com a sua nave principal de cor
branca em forma de cruz latina), consagrada a San Ildefonso de Toledo, o
patrono da cidade. Do alto das suas torres pode ter-se uma das melhores vistas de
Toledo...
Iglesia de los Jesuitas
(San Ildefonso).
... pela Iglesia
de Santo Tomé (uma pequena igreja que guarda a obra prima do artista el
Greco, uma enorme tela chamada “El entierro
del conde de Orgaz”, pintada entre 1586 e 1588) até ao Monasterio
de San Juan de los Reyes (construído pelos Reis Católicos com a intenção de
transformá-lo em mausoléu real, este edifício pertence à ordem franciscana e é uma
das mais relevantes obras de arquitectura do estilo gótico isabelino em Espanha).
Monasterio de San Juan de
los Reyes.
Ao longo deste caminho encontram-se diversas lojas com artigos do
característico artesanato toledano, onde se destacam as jóias e bijuterias
concebidas com a técnica de Damasquinado
(palavra com origem no nome da cidade síria de Damasco, referindo-se ao
trabalho artesanal de fazer figuras e desenhos em relevo, embutindo finos fios
e folhas de ouro e prata em metais como aço e ferro), bem como as conhecidas espadas
e facas fabricadas com o famoso aço de Toledo (conhecido
por ser incrivelmente duro e tecnologicamente avançado na época, cuja indústria
chegou a ser considerada como a melhor da Europa entre os séculos XV e XVII).
Muitas e boas opções para regalos e souvenirs.
Entretanto chegava aquela altura do dia em que as forças começam a
faltar, sinal para uma pausa para repor energias. A típica paella foi o prato escolhido para a refeição, servido numa pequena esplanada perto das sinagogas e do
Bairro Judeu.
E foi precisamente pela Sinagoga
de Santa María La Blanca que prosseguiu a visita, um bom exemplo da multi-religiosidade
desta cidade. Este templo foi construído em 1180 como sinagoga e funcionou como
tal durante 211 anos, até ser expropriado e transformado em igreja como
consequência da revolta antijudaica de 1391. Actualmente funciona como museu e
local onde decorrem actividades culturais e educativas. A entrada custa € 2,80.
Sinagoga de Santa María La
Blanca.
Sinagoga de Santa María La
Blanca.
A Judería,
ou Bairro Judeu (onde também se encontra a Sinagoga
del Tránsito - Museu Sefardi), ocupa uma extensa área na zona oeste de
Toledo, junto à Puente de San Martín. Caminhar pelas suas ruas estreitas é como
efectuar uma viagem no tempo, descobrindo detalhes arquitetónicos e símbolos
associados à cultura e religião judaicas, como é o caso do logotipo da Rede de
Juderías Espanholas, cujo formato representa a Península Ibérica feita com uma
palavra hebraica que significa ‘Sefarad’, o nome que a comunidade de judeus deu
a esta terra que foi a sua morada durante quase 1.500 anos.
Pelas ruas da Judería.
Azulejo com o logotipo da
Rede de Juderías Espanholas.
É certo que muita coisa ficou por conhecer nesta histórica cidade de
Toledo, mas com o avançar da tarde era tempo de voltar à estrada para cumprir
os cerca de 310 km até ao próximo destino: Córdova. Para tentar fugir à mais
monótona Autovía del Sur (A-4), a escolha passou por seguir pelas estradas
N-401 e N-420, que apesar do bom piso e das longas rectas (com a linha de
comboio de alta velocidade por perto), acabaram por impor um andamento algo
lento devido ao limite de velocidade de 100 km/h.
A passagem pelo Parque
Natural Sierra de Cardeña y Montoro coincide com entrada na comunidade
autónoma da Andaluzia. Foi a partir daqui que os efeitos do calor mais se
fizeram sentir, com o ar quente a entranhar-se no corpo e a acentuar o
desconforto sentido, especialmente durante as paragens que inevitavelmente vão
surgindo ao longo do trajecto.
No final da N-420, na localidade de Montoro, surge a referida A-4
(Autovía del Sur) que me levou até Córdova e ao Hotel
Abetos, passados pouco mais de 45 km.
Hotel Abetos del Maestre
Escuela, Córdoba.
O check-in decorreu sem
problemas (reserva) nesta magnífica unidade hoteleira, onde a qualidade e o bom
gosto são omnipresentes. Junto à elegante Casa Colonial fica o Terraço das
Palmeiras, local privilegiado com uma grandiosa vista sobre a cidade, onde foi
servido o jantar cuja opção recaiu numa gostosa “Hamburguesa Maestre Escuela” (com
rúcula, aguacate y salsa de mostaza) e uma saborosa “Tarta de queso con frutos
rojos”. Um final de dia que dificilmente poderia ter sido melhor.
Continua...
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