sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Espanha “caliente” #2/6

Dia 2 (16 de Junho) – Madrid, a grande capital 

Contrariamente ao que seria de esperar, a presença da Autovia de Toledo (A-42) mesmo ao lado do Hostal 82 não interferiu na tranquilidade com que foi passada a noite nesta unidade hoteleira, escolhida principalmente pela sua proximidade com as cidades de Toledo e Madrid.

Olías del Rey – Madrid – Olías del Rey. 

E foi precisamente para a capital espanhola que me dirigi logo pela manhã, cumprindo pouco mais de 60 km na já referida A-42 em direcção à Estação de Atocha (palco dos atentados terroristas de 11 de Março de 2004), onde estacionei a VFR num passeio bastante congestionado por dezenas de motos perto do memorial às vítimas do 11-M. 

Conhecer Madrid num só dia é algo extremamente difícil de se conseguir, senão mesmo impossível. No entanto conseguem-se seleccionar alguns dos principais e mais emblemáticos locais da cidade para uma breve visita, percorrendo “a pé firme” as movimentadas calles e plazas desta grande metrópole.

O átrio da Estação de Atocha transformado num jardim de palmeiras. 

Após uma breve passagem pela Estação de Atocha para admirar o seu imponente edifício erigido pelo arquitecto e engenheiro Alberto Palacio (com a ajuda de Gustave Eiffel), construído essencialmente em ferro e vidro, cujo átrio foi posteriormente transformado por Rafael Moneo num jardim com diversas palmeiras, a caminhada prosseguiu pelo Museu do Prado, local de importantes obras de arte de Velázquez, el Greco, Goya, Tiziano, Rubens e el Bosco, entre outros, numa vasta colecção desde o séc. XII ao séc. XIX... 

Estátua de Diego Velázquez junto ao Museu do Prado. 

... pela Igreja de San Jerónimo el Real, um dos mosteiros mais importantes de Madrid, regido originariamente pela Ordem de San Jerónimo, do qual subsistem a igreja (convertida na paróquia de San Jerónimo) e um claustro renascentista... 

Igreja de San Jerónimo el Real. 

... pela Praça de Cibeles, um dos mais simbólicos locais da cidade situada na intersecção da Calle de Alcalá (que a cruza de leste a oeste) com o Paseo de Recoletos (a norte) e o Paseo del Prado (a sul), dividindo os limites dos bairros Centro, Retiro e Salamanca. Em cada uma das quatro esquinas da praça estão edifícios emblemáticos construídos entre o final do século XVIII e o início do século XX. No centro encontra-se a famosa Fonte de Cibeles, esculpida no ano de 1782, a partir de um desenho de Ventura Rodríguez...

Fonte de Cibeles. 

... pelo emblemático Edifício Metrópolis, situado na esquina da Calle de Alcalá com a Calle Gran Vía, desenhado pelos arquitetos franceses Jules e Raymond Février para a companhia de seguros La Unión y el Fénix, foi concluído em 1910 e actualmente é propriedade da Metrópolis Seguros... 

Edifício Metrópolis. 

... pelo requintado café-restaurante La Pecera del Círculo de Bellas Artes, local de paragem obrigatória para os amantes da cultura e da gastronomia, num sofisticado espaço de arquitectura neoclássica (ano de 1926) e obra do mais representativo arquitecto da época, Antonio Palacios... 

Entrada do café-restaurante La Pecera del Círculo de Bellas Artes. 

... pelo edifício do Ministerio de Educación, Cultura y Deporte, concebido com base nos projectos dos arquitectos Ricardo Velázquez Bosco (1916) e Francisco Javier de Luque López (1923), que ostenta uma bonita fachada e um grande detalhe ao nível do piso térreo, em tons de cinzento, com três elaboradas portas rematadas por arcos de meio ponto... 

Entrada do Ministerio de Educación, Cultura y Deporte. 

... pela Igreja de las Calatravas, de tipologia conventual do barroco espanhol (século XVII) com fachada modificada para o estilo neo-renascentista no século XIX, é a única parte que subsiste do antigo Convento de la Concepción Real, das monjas comendadoras da Ordem de Calatrava...

Igreja de las Calatravas. 

... até à famosa Puerta del Sol, local de visita obrigatório da cidade onde se destaca a Casa de Correos com o seu relógio de torre (o edifício mais antigo da praça construído em finais do século XVIII), o denominado Kilómetro Cero (a origem das estradas radiais históricas do país N-1, N-2, N-3, N-4, N-5 e N-6), a Estatua Equestre de Carlos III (reprodução em bronze de Miguel Ángel Rodríguez, Eduardo Zancada e Tomás Bañuelos Ramón de um pequeno modelo de madeira e gesso de Juan Pascual de Mena conservado na Real Academia de Bellas Artes de San Fernando) e a Estatua del Oso Y El Madroño (escultura de Antonio Navarro Santafé que representa os principais símbolos heráldicos da cidade).

“Kilómetro Cero”.

Estatua del Oso Y El Madroño. 

Por esta altura do dia o sol já se encontrava bem alto, assim como a temperatura ambiente. Estava então na altura de fazer uma pausa e aproveitar para comer qualquer coisa num dos muitos cafés e restaurantes da zona. A opção acabou por ser uma refeição mais ligeira e económica, mas de sabor tipicamente espanhol.

Retemperadas as forças, a caminhada prosseguiu pela Plaza Mayor, uma grande praça rectangular completamente cercada por edifícios de três pisos, reconstruída em 1631, 1670 e 1790 após três incêndios sucessivos, com acesso através de diversos arcos (sendo o Arco de Cuchilleros o mais conhecido) e com a Estatua Equestre de Felipe III no seu centro (iniciada pelo escultor italiano Juan de Bolonia e concluída pelo seu discípulo Pietro Tacca em 1616, foi colocada no actual local em 1848 e é considerada bem de interesse cultural desde 2017)...

Plaza Mayor. 

... pelo Mercado de San Miguel, um mercado coberto construído por volta de 1916 que é propriedade da sociedade El Gastrónomo de San Miguel (um grupo de particulares com interesses arquitetónicos e gastronómicos, pertencentes a diferentes âmbitos culturais e sociais), com culinária local, iguarias e eventos num ambiente elegante...

Mercado de San Miguel. 

... pela Plaza de la Villa, onde se situam a Casa y Torre de los Lujanes (século XV), a Casa de Cisneros (século XVI), a Casa de la Villa (século XVII) e o Monumento a Bazán (estátua de bronze do escultor Mariano Benlliure, comemorativa do terceiro centenário da morte de Don Álvaro de Bazán)...

Plaza de la Villa. 

... pela imponente Catedral de Santa María la Real de la Almudena, sede episcopal da diocese de Madrid, com arquitectura de estilo neoclássico (exterior), neogótico (interior) e neoromânico (cripta). Foi construída no local de uma antiga mesquita (o nome Almudena deriva da palavra árabe “al-mudayna”, que significa “cidadela”) entre 1879 e 1993, com projecto dos arquitectos Francisco de Cubas e Enrique María Repullés y Vargas (cripta), Fernando Chueca Goitia e Carlos Sidro (igreja). A fachada principal dá para a Plaza de Armería, em frente ao Palácio Real de Madrid, a porta lateral é acessível através da Calle de Bailén e a cripta através da Calle Mayor... 

Catedral de Santa María la Real de la Almudena – Fachada principal.

Catedral de Santa María la Real de la Almudena – Porta em bronze da fachada de Beilén. 

... pelo Palácio Real de Madrid, também denominado de Palácio de Oriente, que é a residência oficial do Rei de Espanha, construído entre 1738 e 1764 no mesmo local onde se encontrava outro palácio, o Real Alcázar de Madrid (destruído por um incêndio que durou três dias). O seu arquitecto foi Giovanni Battista Sacchetti. Com uma área implantação de 135.000 m2 e 3418 quartos, é o maior palácio real da Europa Ocidental... 

Palácio Real de Madrid. 

... até à Plaza de España, um amplo espaço ajardinado de onde parte a Calle Gran Vía, uma das principais artérias da cidade. No centro encontra-se o Monumento a Miguel de Cervantes, da autoria do arquitecto Rafael Martínez Zapatero (com a colaboração do arquitecto Pedro Muguruza) e do escultor Lorenzo Coullaut Valera. Este conjunto arquitectónico foi construído em 1929 e dele fazem parte, para além de outras figuras, as estátuas em bronze de Don Quijote y Sancho Panza cavalgando respectivamente sobre Rocinante e seu jumento.

Monumento a Miguel de Cervantes. 

Depois de uma breve pausa para “arrefecer o motor” (por esta altura já fazia tudo, ou quase, para aproveitar ao máximo as sombras que encontrava pelo caminho, tentando fintar o sol e o calor), seguiu-se a descida da Calle Gran Vía (a Broadway de Madrid, como também é conhecida, devido aos teatros e cinemas aí existentes), com uma refrescante paragem para um saboroso gelado, até perto de um conjunto de coloridas figuras na Praça de Cibeles, da autoria do artista venezuelano Antonio Azzato, numa reinterpretação de ‘As meninas’ de Diego Velázquez (famosa pintura de 1656 reconhecida como uma das mais importantes na história da arte ocidental)... 

“As meninas” de Velázquez por Antonio Azzato. 

... passando pela magnífica cobertura envidraçada da denominada “Galería de Cristal” de Madrid (Palacio de Comunicaciones), colocada sobre a “Pasaje de Alarcón” (que interliga a Calle de Alcalá com a Calle de Montalbán) e o “Patio de Coches”...

"Galería de Cristal" de Madrid. 

... pela Puerta de Alcalá (Plaza de la Independencia), uma das cinco antigas portas reais que davam acesso à cidade. Monumento construído em 1778 pelo Rei Carlos III, é constituído por duas portas rectangulares que ladeiam três arcos. O projetista da obra foi Francisco Sabatini e as esculturas aí existentes são de autoria de Roberto Michel e Francisco Gutiérrez... 

Puerta de Alcalá. 

... pelo Parque de El Retiro,  um grandioso jardim histórico e parque público que alberga numerosos conjuntos arquitectónicos, escultóricos e paisagísticos dos séculos XVII a XXI, até regressar finalmente à Estação de Atocha onde tinha deixado a moto.

De novo aos comandos da VFR, o plano inicial passava por regressar a Olías del Rey via Aranjuez (pela A-4 e N-400), com uma breve paragem para conhecer o Palácio Real, mas como o cansaço já era considerável devido aos quilómetros acumulados nas pernas e ao muito calor que se fazia sentir, a decisão acabou por ser a de ir para o Hostal 82 pela mais directa A-42. 

Continua... 

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