Dia 2 (16
de Junho) – Madrid, a grande capital
Contrariamente ao que seria de esperar, a presença da Autovia de Toledo
(A-42) mesmo ao lado do Hostal 82 não interferiu na tranquilidade com que foi
passada a noite nesta unidade hoteleira, escolhida principalmente pela sua
proximidade com as cidades de Toledo e Madrid.
Olías del Rey – Madrid – Olías
del Rey.
E foi precisamente para a capital espanhola que me dirigi logo pela
manhã, cumprindo pouco mais de 60 km na já referida A-42 em direcção à Estação
de Atocha (palco dos atentados terroristas de 11 de Março de 2004), onde estacionei
a VFR num passeio bastante congestionado por dezenas de motos perto do memorial
às vítimas do 11-M.
Conhecer Madrid num só dia é algo extremamente difícil de se conseguir,
senão mesmo impossível. No entanto conseguem-se seleccionar alguns dos
principais e mais emblemáticos locais da cidade para uma breve visita,
percorrendo “a pé firme” as movimentadas calles
e plazas desta grande metrópole.
O átrio da Estação de
Atocha transformado num jardim de palmeiras.
Após uma breve passagem pela Estação de Atocha para admirar o seu
imponente edifício erigido pelo arquitecto e engenheiro Alberto Palacio (com a
ajuda de Gustave Eiffel), construído essencialmente em ferro e vidro, cujo
átrio foi posteriormente transformado por Rafael Moneo num jardim com diversas
palmeiras, a caminhada prosseguiu pelo Museu
do Prado, local de importantes obras de arte de Velázquez, el Greco, Goya, Tiziano, Rubens e el Bosco, entre outros, numa vasta
colecção desde o séc. XII ao séc. XIX...
Estátua de Diego Velázquez
junto ao Museu do Prado.
... pela Igreja
de San Jerónimo el Real, um dos mosteiros mais importantes de Madrid,
regido originariamente pela Ordem de San Jerónimo, do qual subsistem a igreja (convertida
na paróquia de San Jerónimo) e um claustro renascentista...
Igreja de San Jerónimo el
Real.
... pela Praça
de Cibeles, um dos mais simbólicos locais da cidade situada na intersecção
da Calle de Alcalá (que a cruza de leste a oeste) com o Paseo de Recoletos (a
norte) e o Paseo del Prado (a sul), dividindo os limites dos bairros Centro,
Retiro e Salamanca. Em cada uma das quatro esquinas da praça estão edifícios
emblemáticos construídos entre o final do século XVIII e o início do século XX.
No centro encontra-se a famosa Fonte de Cibeles,
esculpida no ano de 1782, a partir de um desenho de Ventura Rodríguez...
Fonte de Cibeles.
... pelo emblemático Edifício
Metrópolis, situado na esquina da Calle de Alcalá com a Calle Gran Vía, desenhado
pelos arquitetos franceses Jules e Raymond Février para a companhia de seguros
La Unión y el Fénix, foi concluído em 1910 e actualmente é propriedade da
Metrópolis Seguros...
Edifício Metrópolis.
... pelo requintado café-restaurante La
Pecera del Círculo de Bellas Artes, local de paragem obrigatória para os
amantes da cultura e da gastronomia, num sofisticado espaço de arquitectura
neoclássica (ano de 1926) e obra do mais representativo arquitecto da época, Antonio Palacios...
Entrada do café-restaurante
La Pecera del Círculo de Bellas Artes.
... pelo edifício do Ministerio
de Educación, Cultura y Deporte, concebido com base nos projectos dos
arquitectos Ricardo Velázquez Bosco (1916) e Francisco Javier de Luque López
(1923), que ostenta uma bonita fachada e um grande detalhe ao nível do piso
térreo, em tons de cinzento, com três elaboradas portas rematadas por arcos de
meio ponto...
Entrada do Ministerio de
Educación, Cultura y Deporte.
... pela Igreja
de las Calatravas, de tipologia conventual do barroco espanhol (século XVII)
com fachada modificada para o estilo neo-renascentista no século XIX, é a única
parte que subsiste do antigo Convento de la Concepción Real, das monjas
comendadoras da Ordem de Calatrava...
Igreja de las Calatravas.
... até à famosa Puerta
del Sol, local de visita obrigatório da cidade onde se destaca a Casa de Correos
com o seu relógio de torre (o edifício mais antigo da praça construído em
finais do século XVIII), o denominado Kilómetro
Cero (a origem das estradas radiais históricas do país N-1, N-2, N-3, N-4,
N-5 e N-6), a Estatua Equestre
de Carlos III (reprodução em bronze de Miguel Ángel Rodríguez, Eduardo
Zancada e Tomás Bañuelos Ramón de um pequeno modelo de madeira e gesso de Juan
Pascual de Mena conservado na Real Academia de Bellas Artes de San Fernando) e
a Estatua
del Oso Y El Madroño (escultura de Antonio Navarro Santafé que representa
os principais símbolos heráldicos da cidade).
“Kilómetro Cero”.
Estatua del Oso Y El
Madroño.
Por esta altura do dia o sol já se encontrava bem alto, assim como a
temperatura ambiente. Estava então na altura de fazer uma pausa e aproveitar
para comer qualquer coisa num dos muitos cafés e restaurantes da zona. A opção acabou
por ser uma refeição mais ligeira
e económica, mas de sabor tipicamente espanhol.
Retemperadas as forças, a caminhada prosseguiu pela Plaza
Mayor, uma grande praça rectangular completamente cercada por edifícios de
três pisos, reconstruída em 1631, 1670 e 1790 após três incêndios sucessivos,
com acesso através de diversos arcos (sendo o Arco de Cuchilleros
o mais conhecido) e com a Estatua
Equestre de Felipe III no seu centro (iniciada pelo escultor italiano Juan
de Bolonia e concluída pelo seu discípulo Pietro Tacca em 1616, foi colocada no
actual local em 1848 e é considerada bem de interesse cultural desde 2017)...
Plaza Mayor.
... pelo Mercado
de San Miguel, um mercado coberto construído por volta de 1916 que é
propriedade da sociedade El Gastrónomo de San Miguel (um grupo de particulares
com interesses arquitetónicos e gastronómicos, pertencentes a diferentes
âmbitos culturais e sociais), com culinária local, iguarias e eventos num
ambiente elegante...
Mercado de San Miguel.
... pela Plaza
de la Villa, onde se situam a Casa y Torre de
los Lujanes (século XV), a Casa de Cisneros
(século XVI), a Casa de la Villa
(século XVII) e o Monumento
a Bazán (estátua de bronze do escultor Mariano Benlliure, comemorativa do
terceiro centenário da morte de Don Álvaro de Bazán)...
Plaza de la Villa.
... pela imponente Catedral
de Santa María la Real de la Almudena, sede episcopal da diocese de Madrid,
com arquitectura de estilo neoclássico (exterior), neogótico (interior) e neoromânico
(cripta). Foi construída no local de uma antiga mesquita (o nome Almudena deriva
da palavra árabe “al-mudayna”, que significa “cidadela”) entre 1879 e 1993, com
projecto dos arquitectos Francisco de Cubas e Enrique María Repullés y Vargas
(cripta), Fernando Chueca Goitia e Carlos Sidro (igreja). A fachada
principal dá para a Plaza de Armería, em frente ao Palácio Real de Madrid, a
porta
lateral é acessível através da Calle de Bailén e a cripta através da Calle
Mayor...
Catedral de Santa María la
Real de la Almudena – Fachada principal.
Catedral de Santa María la
Real de la Almudena – Porta em bronze da fachada de Beilén.
... pelo Palácio
Real de Madrid, também denominado de Palácio de Oriente, que é a residência
oficial do Rei de Espanha, construído entre 1738 e 1764 no mesmo local onde se
encontrava outro palácio, o Real Alcázar de
Madrid (destruído por um incêndio que durou três dias). O seu arquitecto
foi Giovanni Battista Sacchetti. Com uma área implantação de 135.000 m2
e 3418 quartos, é o maior palácio real da Europa Ocidental...
Palácio Real de Madrid.
... até à Plaza
de España, um amplo espaço ajardinado de onde parte a Calle Gran Vía, uma
das principais artérias da cidade. No centro encontra-se o Monumento
a Miguel de Cervantes, da autoria do arquitecto Rafael Martínez Zapatero (com
a colaboração do arquitecto Pedro Muguruza) e do escultor Lorenzo Coullaut
Valera. Este conjunto arquitectónico foi construído em 1929 e dele fazem parte,
para além de outras figuras, as estátuas em bronze de Don Quijote y Sancho
Panza cavalgando respectivamente sobre Rocinante e seu jumento.
Monumento a Miguel de
Cervantes.
Depois de uma breve pausa para “arrefecer o motor” (por esta altura já
fazia tudo, ou quase, para aproveitar ao máximo as sombras que encontrava pelo
caminho, tentando fintar o sol e o calor), seguiu-se a descida da Calle Gran Vía (a Broadway de Madrid, como também é
conhecida, devido aos teatros e cinemas aí existentes), com uma refrescante paragem
para um saboroso gelado, até perto de um conjunto de coloridas figuras na Praça
de Cibeles, da autoria do artista venezuelano Antonio Azzato, numa reinterpretação
de ‘As meninas’ de Diego
Velázquez (famosa pintura de 1656 reconhecida como uma das mais importantes na
história da arte ocidental)...
“As meninas” de Velázquez
por Antonio Azzato.
... passando pela magnífica cobertura envidraçada da denominada “Galería
de Cristal” de Madrid (Palacio
de Comunicaciones), colocada sobre a “Pasaje de Alarcón” (que interliga a Calle
de Alcalá com a Calle de Montalbán) e o “Patio de Coches”...
"Galería de
Cristal" de Madrid.
... pela Puerta
de Alcalá (Plaza de la Independencia), uma das cinco antigas portas reais
que davam acesso à cidade. Monumento construído em 1778 pelo Rei Carlos III, é constituído
por duas portas rectangulares que ladeiam três arcos. O projetista da obra foi
Francisco Sabatini e as esculturas aí existentes são de autoria de Roberto
Michel e Francisco Gutiérrez...
Puerta de Alcalá.
... pelo Parque
de El Retiro, um grandioso jardim
histórico e parque público que alberga numerosos conjuntos arquitectónicos,
escultóricos e paisagísticos dos séculos XVII a XXI, até regressar finalmente à
Estação de Atocha onde tinha deixado a moto.
De novo aos comandos da VFR, o plano inicial passava por regressar a Olías
del Rey via Aranjuez (pela A-4 e N-400), com uma breve paragem para conhecer o Palácio Real,
mas como o cansaço já era considerável devido aos quilómetros acumulados nas
pernas e ao muito calor que se fazia sentir, a decisão acabou por ser a de ir
para o Hostal 82 pela mais directa A-42.
Continua...
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