quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Moto2 2017 - Miguel Oliveira em 3º

Miguel Oliveira fechou com chave de ouro o Campeonato do Mundo de Motociclismo de 2017 na classe Moto2. Aos comandos da competitiva WP-KTM da equipa Red Bull Ajo, o talentoso piloto de Almada conquistou o hat-trick de vitórias e um formidável 3.º lugar na geral, a apenas dois pontos do 2.º classificado.

Miguel Oliveira na WP-KTM da equipa Red Bull Ajo (Moto2 2017). Via 

Alinhando em todas as 18 corridas do campeonato e em ano de estreia do projecto Red Bull KTM Ajo em Moto2, Miguel Oliveira arrecadou 9 pódios, 2 pole positions e 3 vitórias, somando 241 pontos.

25 Junho - GP Holanda (Circuito TT Assen) – 5.º lugar.
2 Julho - GP Alemanha (Circuito Sachsenring) – 2.º lugar.

12 Novembro - GP Valência (Circuito Ricardo Tormo) – 1.º lugar.

Classificação final: 1.º Franco Morbidelli (EG 0,0 Marc VDS - Kalex), 308 pontos; 2.º Thomas Lüthi (CarXpert Interwetten - Kalex), 243; 3.º Miguel Oliveira (Red Bull KTM Ajo - KTM), 241; 4.º Alex Marquéz (EG 0,0 Marc VDS - Kalex), 201; 5.º Francesco Bagnaia (SKY Racing Team VR46 - Kalex), 174; etc.

Terminada a temporada de 2017, Mig44 começou de imediato a preparação para 2018. A afinação da KTM Moto2, moto (e equipa) que mantem para a próxima época, foi um dos pontos fulcrais dos testes efectuados, onde também foram testados um novo chassi, braço oscilante e suspensões, com conclusões muito positivas. “Tentamos sempre tirar conclusões para melhorar a moto durante as férias de Inverno. Conseguimos ser rápidos e senti-me muito confortável, embora haja sempre espaço para melhorias”, explica Oliveira, acrescentando que “(...) fizemos algumas alterações na afinação da moto e conseguimos também algumas melhorias na afinação das suspensões, tanto à frente como atrás. Fechamos com nota muito positiva estes testes pré-temporada 2018. Fomos bastante rápidos e constantes. O nosso objetivo agora será prepararmo-nos muito bem física e mentalmente para a temporada que aí vem, trabalhar ‘duro’ e esperar que cheguem os testes de 2018 para continuarmos o bom trabalho”. 

Força Miguel!

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

EN2 - Pelos caminhos de Portugal #3/3

Dia 2 (da Sertã a Faro)

A segunda parte do percurso. 

Depois de uma noite bem dormida e com o físico restabelecido, a terça-feira (dia 8 de Setembro) amanheceu um tanto ou quanto húmida mas solarenga, convidando ao regresso à estrada para a conclusão da travessia da EN2. Mas ainda antes de iniciar a marcha, era importante cuidar da máquina para evitar surpresas desagradáveis. Com a corrente lubrificada e a moto atestada, o começo da viagem não podia ter sido melhor, com um troço a subir de curvas largas e excelente piso, mesmo a pedir um andamento um pouco mais vivo e empenhado para a VFR poder “esticar as pernas”.

Ainda antes de chegar à localidade de Vila de Rei, a cerca de dois quilómetros a nordeste e em plena Serra da Melriça, encontra-se o Picoto da Melriça, um marco trigonométrico com perto de 20 metros de altura que assinala o Centro Geodésico de Portugal Continental (a 592 m de altitude). Um local privilegiado para se apreciar a magnífica paisagem circundante, numa vista plena de 360º. 

“Picoto da Melriça” – Centro Geodésico de Portugal Continental. 

O meio da EN2 é atingido não muito longe da saída de Vila de Rei, no km 368, um pouco antes da estrada velha passar por baixo da variante nova. Mas... estrada velha... estrada nova!? Sim, existem duas EN2 nesta zona, a mais antiga passa mais a ocidente (por Penedo Furado, onde o distrito de Castelo Branco dá lugar ao distrito de Santarém, e por Carvalhal) e a mais moderna passa mais a nascente (por Ribeira de Codes, final do distrito de Castelo Branco e início do distrito de Santarém, e mais próximo do Sardoal). Contas feitas, quando se juntarem mais à frente, em Abrantes, tudo bate certo.

E é precisamente em Abrantes, mais concretamente com a travessia do Rio Tejo pela Ponte Rodoviária que liga esta cidade do Médio Tejo à freguesia de Rossio ao Sul do Tejo, que se dá a grande transição entre o norte e o sul do país, com o rio a marcar a verdadeira fronteira na paisagem, onde as curvas dão lugar às grandes rectas e o verde predominante aos tons de amarelo. Chegamos também aqui à quarta centena de quilómetros percorridos na EN2, isto apesar de, tal como no km 200, já não existir o respectivo marco a assinalar o local. O mais perto que encontrei foi o marco do km 404, ainda antes de atravessar o Tejo (39º27'26.5"N 8°11'24.6"W). 

Km 404 (antes de atravessar a Ponte Rodoviária de Abrantes). 

Mesmo sem provar a famosa Palha de Abrantes, a viagem prosseguiu em direcção à cidade de Ponte de Sor onde, poucos quilómetros antes, se entra no distrito de Portalegre. A estrada torna-se bastante plana, sem relevo de monta, com mais rectas e menos curvas, o que a torna até algo monótona. É o Ribatejo. Mas aos poucos os sobreiros vão tomando conta da paisagem. A EN2 segue em direcção a Montargil, passando pela importante infraestrutura aeronáutica que o Aeródromo Municipal de Ponde de Sor representa para esta região (inclui escola de treino e formação de pilotos e técnicos, base para manutenção de helicópteros Kamov de luta contra incêndios, entre outras valências).

Com a água da albufeira por perto mas ainda antes de atravessar o paredão da Barragem de Montargil, sensivelmente a meio da ligação entre Domingão e Carvalhoso (praticamente uma longuíssima recta com 20 km de comprimento) surge uma placa que indica ao viajante que está a passar Cansado, como que a convidar a uma pausa quiçá para ganhar ânimo antes de enfrentar as menos estimulantes estradas alentejanas que terá pela frente.

Ao km 468 surge a placa que assinala a entrada do distrito de Évora, com a planície a dominar a paisagem, apesar de algumas elevações de pequena altitude. É também neste ponto que começa o concelho de Mora, onde vale a pena uma visita ao seu Fluviário inaugurado em 2007. A marca da quinta centena de quilómetros da EN2 já não está longe, fica na freguesia de Ciborro e a localização do respectivo marco é bastante original... empoleirado em cima de um muro à beira da estrada (38º47'59.8"N 8º13'41.3"W)!

Km 500 (Ciborro).

Cerca de seis quilómetros depois, numa zona com muitos monumentos megalíticos, surge a aldeia de São Geraldo. À saída da povoação fica o portão de acesso à Herdade da Comenda, onde se situa a Anta Grande que é monumento nacional.

Depois de passar o viaduto sobre a A6 chega-se a Montemor-o-Novo, com o marco do km 522 no interior desta cidade, que tem no seu castelo um ex-libris facilmente reconhecível (e que foi a sua génese).

A placa que indica a entrada na freguesia de Santiago do Escoural surge perto do km 533, ao que se segue a localidade do Escoural e as indicações do caminho para a Gruta do Escoural, conhecida pela arte rupestre paleolítica e classificada como monumento nacional desde 1963. Vale a pena conhecê-la, mas atenção que a gruta só pode ser visitada mediante marcação prévia no Centro Interpretativo local.

O marco do km 550 encontra-se à entrada de Alcáçovas, terra conhecida pelo Tratado de Alcáçovas de 1479 (o primeiro da história mundial a definir uma partilha do mundo entre duas potências) e que se tornou recentemente famosa devido à sua produção artesanal de chocalhos ter sido reconhecida pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade em 2015.

Uma longa recta com mais de oito quilómetros e algumas (poucas) curvas depois entra-se na freguesia do Torrão, concelho de Alcácer do Sal, distrito de Setúbal. As azinheiras e os sobreiros vão começando a rarear, aparecendo alguns pinheiros mansos e depois, cada vez mais, as oliveiras. Perto da travessia do Rio Xarrama (que alimenta a jusante a Barragem de Vale do Gaio e que desagua no Rio Sado) a EN2 “anima” um pouco, num encadeado de curvas até à vila do Torrão. Mas é “sol de pouca dura”, já que assim que se sai do Torrão, a caminho de Ferreira do Alentejo (via Odivelas) e do distrito de Beja, regressam as infindáveis rectas alentejanas.

Por esta altura, sensivelmente a meio caminho entre Ferreira do Alentejo e Ervidel, surge o marco com a indicação do km 600 (38º0'58.32"N 8º6'21.66"W). 

Km 600 (entre Ferreira do Alentejo e Ervidel). 

A partir daqui o olival acaba e surgem os campos de semeadura. Termina também o concelho de Ferreira do Alentejo e começa o de Aljustrel. De Ervidel a Aljustrel são aproximadamente 15 quilómetros (da estrada à Barragem do Roxo são cerca de 2 km), com a EN2 a subir ligeiramente e a serpentear até à vila de Aljustrel (km 618), terra de importante actividade mineira (zinco e cobre) que, em conjunto com a Mina de São Domingos, constituíam, nos finais do séc. XIX e princípios do séc. XX, os principais complexos mineiros de Portugal.

São pouco mais de duas dezenas de quilómetros para chegar a Castro Verde, novamente a desgastar maioritariamente a zona central dos pneus da VFR em mais uma “mão cheia” de rectas. Situada num território conhecido como Campo Branco, esta vila tem igualmente uma intensa actividade mineira (tem a maior mina de cobre e zinco da comunidade europeia). 

Logo a seguir ao km 650 tem início o concelho de Almodôvar, local onde, segundo alguns eruditos, surgiu a primeira escrita no território do que é hoje a Europa Ocidental, a singular Escrita do Sudoeste. Fantástico! Tal como o é o troço da EN2 que liga Almodôvar a São Brás de Alportel (cerca de 60 km), classificado em 2003 como Estrada Património (a primeira e única no país) graças ao riquíssimo património que a envolve. A placa que assinala o início deste lanço da estrada encontra-se logo à saída da vila (37°30'33.2"N 8°03'12.8"W).

Início da ‘Estrada Património’, o troço entre Almodôvar e S. Brás de Alportel. 

É já em plena Estrada Património que aparece o marco com o km 666, o número da besta para os mais supersticiosos ou simplesmente, como é para mim, apenas mais um número a caminho do último (e recente) marco do km 738. Ao atravessar a Ribeira do Vascão estamos finalmente a entrar no distrito de Faro. É também a partir daqui, depois do km 682 e tendo a Serra do Caldeirão como pano de fundo, que começa uma verdadeira “montanha russa” de curvas que, dizem, são 365, uma por cada dia do ano. 

Passando por Ameixial, por uma Casa de Cantoneiros (propriedade da antiga J.A.E.) e pelo Miradouro do Caldeirão, é em plena “orgia” de curvas e com os pneus da VFR já bem arredondados, que aparece o marco do km 700 (37º17'03.7"N 7º56'29.8"W), quase no final de Vale da Rosa e meio escondido pelos rails.

Km 700 (Serra do Caldeirão).

São Brás de Alportel (onde é difícil seguir o traçado da EN2) já não está longe, mas antes, ao km 718, atravessa-se Alportel, importante centro do negócio da cortiça. A serra algarvia ficou decididamente para trás. O concelho de Faro começa depois do km 725.

O final da viagem aproximava-se a passos largos. Com a travessia da A22 (Via do Infante) e da povoação de Chelote, chegava finalmente o marco que assinala o Km 737 (37º02'03.0"N 7º55'52.3"W), perto da antiga sede do Moto Clube de Faro. Uns metros mais à frente, uma placa indica a entrada no limite urbano da cidade.

Km 737 (à entrada de Faro) – O último marco conhecido até à recolocação do marco do km 738, em Maio de 2016. 

Estava assim cumprida a minha primeira travessia integral da Estrada Nacional 2, a maior do país, desde Chaves (Trás-os-Montes) até Faro (Algarve), durante dois dias de intensa descoberta e fascínio por um país extremamente belo mas, por vezes, pouco valorizado e até esquecido. Muita coisa ficou por conhecer, é certo, mas o objectivo também não era explorar exaustivamente tudo o que a EN2 tem para oferecer. E assim sempre tenho uma motivação acrescida para embarcar numa nova aventura por estes caminhos de Portugal.