terça-feira, 17 de março de 2020

XXVI Concentração Invernal Lobos da Neve #2/2

Sábado, 29 de Fevereiro

Dada a sua localização, poder-se-á dizer que a cidade da Covilhã é a “porta da Serra da Estrela”, a mais alta cadeia montanhosa de Portugal continental. Situada na vertente sudeste da Serra, o seu núcleo urbano dista cerca de 20 km da Torre, o ponto mais elevado da Estrela com 1.993 m, sendo por isso a cidade portuguesa mais próxima deste emblemático local.

E era precisamente pelas íngremes e retorcidas estradas de acesso à Torre que passavam os nossos planos para um passeio matinal, com paragem junto ao Centro de Limpeza de Neve (Piornos, Penhas da Saúde) para recriar a foto tirada em 1999. Mas um amanhecer tempestuoso, com chuva e vento servidos em doses generosas, fez com que tivéssemos cancelado a volta e permanecendo no hotel durante a manhã.

Acesso à concentração pela Ponte Pedrinha (sobre o Rio Zêzere). 

Regressámos mais tarde à concentração e encontrámos um ambiente já mais composto, com inúmeras motos estacionadas junto à entrada e diversos grupos de amigos que iam chegando de vários pontos do país (e da Europa), todos em amena cavaqueira. Este ponto de encontro acabou por se tornar numa espécie de “sala de estar” para uma grande maioria dos motociclistas e visitantes. Por aqui também nos cruzámos com os Padrinhos da concentração, a viajante solitária Gracinda Ramos e o advogado e ex-Deputado do PSD Rodrigo Ribeiro, responsável pela chamada “Lei dos Rails”.

Em amena cavaqueira no estacionamento à entrada da concentração. Via 

Entretanto e dentro do recinto começava a formar-se uma fila junto à tenda das refeições. Estava na hora do almoço. Sem grandes atrasos, instalámo-nos numa das mesas corridas colocadas no interior da tenda para saborear o prato do dia, uma feijoada com arroz, juntamente com pão, fruta e bebida.

A feijoada foi o prato escolhido para o almoço. 

Enquanto fazíamos a digestão do almoço, fomos até à zona do Bike Show para ver as motos que estavam em exposição. Aqui a criatividade é quem manda. Na verdade, apesar de ter contado penas com cerca de uma dezena de exemplares a concurso, pode dizer-se que foram poucos mas bons, com trabalhos de muita qualidade. Gostei particularmente das motos da categoria Old School, uma das mais concorridas, nomeadamente da Yamaha Virago 250 de Pitta Designs e em especial da Suzuki GN 250 da Joe's Garage. 

Bike Show (Suzuki GN 250 - Joe's Garage e Yamaha Virago 250 - Pitta Designs). 

Mesmo ao lado, estava exposta a Yamaha Diversion 900 que pertenceu ao Padre José Fernando Lambelho, conhecido como ‘Padre Motard’ por conciliar o sacerdócio com a paixão pelas motos, juntando milhares de motociclistas nas suas missas para a bênção das motos e dos capacetes. O sacerdote natural do concelho do Fundão faleceu em 2013, vítima de doença oncológica aos 55 anos. Uma das frases que lhe era atribuída retracta o humor com que conciliava a religião e a velocidade sobre duas rodas: “Até 100, Deus protege; a partir de 100? Pode acolher-nos”. A organização prestar-lhe-ia uma homenagem no Domingo de manhã.

Estávamos sensivelmente a meio da tarde quando o público começou a juntar-se na rua adjacente ao Parque de Campismo. O programa determinava que estava prestes a começar mais um show acrobático freestyle, desta vez com Paulo Martinho, o pioneiro e um dos mais emblemáticos stunt riders nacionais. Um empolgante e aplaudido espectáculo, executado com profissionalismo e muita simpatia.

O show acrobático freestyle de Paulo Martinho. 

Com as emoções em alta e a garganta seca, estava na altura de repor o nível dos líquidos no corpo. Sim, porque como dizem os entendidos, a hidratação é importante e há que não descurá-la... :). Com excepção das actividades programadas, o local mais animado continuava a ser a zona de estacionamento das motos à entrada do recinto. Era por aqui que passava a movida dos motociclistas que, curiosamente, preferiam estar neste local em vez do recinto principal da concentração.

Por volta das 19:30 começou a servir-se o jantar, com nova fila junto à tenda das refeições. Desta vez o petisco foi um gostoso arroz de carnes (uma espécie de arroz à valenciana, mais simples e sem marisco) com salada de alface e mais uma vez acompanhado com pão, fruta e bebida.

Arroz de carnes com salada de alface para o jantar. 

Um dos pontos altos da noite foi o emblemático Passeio das Estrelas (uma versão moderna do passeio das tochas, em memoria dos motociclistas falecidos). Este passeio nocturno pelas principais artérias da cidade da Covilhã e arredores teve grande adesão por parte dos motociclistas, os da concentração e outros que se juntaram pelo caminho, despertando curiosidade e admiração nos populares e nos transeuntes por onde a caravana foi passando. No regresso à Ponte Pedrinha, os participantes foram ainda brindados com uma sessão de fogo-de-artifício. Um espectáculo dentro do espectáculo.

Passeio das Estrelas. Via 

A indesejada chuva voltou a aparecer ainda no decorrer do passeio. Foram apenas algumas gotas, é certo, mas não deixava de ser um mau augúrio para a actividade que se iria seguir, o segundo show acrobático freestyle de Paulo Martinho. Felizmente que a ameaça não foi suficiente para estragar a festa, que prosseguiu noite dentro já na tenda grande, primeiro com a entrega de prémios do Bike Show e depois com os concertos das bandas Red e Iris, incluindo a animação dos habituais shows alternativos... 

Concertos pela noite dentro.

Domingo, 1 de Março

A previsão meteorológica indicava tempo mais chuvoso para este primeiro dia de Março. Assim, decidimos prescindir do pequeno-almoço a que tínhamos direito na concentração, substituindo-o por um mais reconfortante tomado no hotel. A viagem de regresso iniciou-se então a meio da manhã e decorreu na companhia de outros dois elementos... a chuva e o vento! A intensidade dos mesmos foi variando ao longo do trajecto, mas acabaram por nos acompanhar até à chegada a casa. :(

A chuva e o vento foram companheiros (indesejados) na viagem de regresso. 

Em resumo, um fim-de-semana bem passado na companhia de amigos e companheiros de estrada, num regresso dos ‘Lobos da Neve’ ao calendário anual das concentrações nacionais que se saúda. E por aqui a tradição ainda é o que era. Lá estava a sopa na noite de sexta-feira para aconchegar o estômago, o frio que acabou até por não ser muito intenso, o vento desagradável e a chuva forte especialmente durante as manhãs. Só faltou a neve para fazer jus ao nome.

Vinte e um anos depois da primeira aventura nesta Concentração Invernal, três dos quatro protagonistas foram os mesmos, agora um pouco mais maduros e com máquinas diferentes, mas a paixão pelas motos e o espírito de aventura permanecem inalterados.

Segundo a organização, mais de 4.000 pessoas, entre inscritos e visitantes, estiveram presentes nesta XXVI Concentração Invernal Lobos da Neve 2020, ultrapassando assim as melhores expectativas. Parabéns ao Moto Clube da Covilhã e que os ‘Lobos da Neve’ continuem a uivar por muitos e bons anos!