quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Visto por aí #18

Ao passar em frente de uma loja de moda masculina numa rua da zona “chique” de Lisboa, algo fez despertar a minha atenção. E não, não foram as linhas clássicas e sofisticadas da roupa que me fizeram parar e ficar alguns minutos a contemplar a montra.
É que aqui estava exposta uma extraordinária Vincent Rapide 1.000 cc do início da década de 1950, modelo este que, à data, ostentava o “título” de moto de produção mais rápida a nível mundial.
 
Desconhecendo qual o seu (feliz) proprietário, este exemplar em particular parece ser a Vincent Rapide de 1953 da colecção de Frederico Valsassina. Será que é a mesma moto?
 
Vincent Rapide 1.000 cc do início dos anos 50, vista em Lisboa (Outubro de 2021).
 
Para qualquer apreciador de motas clássicas, a Vincent é sinónimo de qualidade, inovação, performance e desejo. Considerada por muitos como o expoente máximo da engenharia britânica nas duas rodas durante e após a 2.ª Guerra Mundial, a marca inglesa foi estabelecida por Philip Vincent em 1928, ano em que adquiriu a HRD à OK-Supreme (que por sua vez a tinha adquirido ao fundador Howard Raymond Davies), criando a Vincent HRD. Mais tarde abandonaria a sigla HRD, passando a designar-se apenas por Vincent.
 
A Vincent Rapide foi concebida por Phil Irving e produzida em Stevenage (Hertfordshire, Inglaterra). Foram construídas quatro versões principais, rotuladas de Série A a D (a designação Série D nunca foi oficialmente usada pela fábrica). A Rapide fez a sua aparição em 1936 e foi fabricada até 1939 (Série A). A produção foi retomada em 1946 e terminou em 1955 (Série B, C e D).
 
Um dos modelos mais desejados era a Rapide Série C (motor V-twin a 50º de 998 cc com 45 hp de potência e velocidade máxima superior a 170 km/h), em especial a famosa Vincent Black Shadow de 1948 com o motor (pintado de preto) com 55 hp, cuja velocidade máxima ultrapassava os 200 km/h.
 
Uma versão modificada de fábrica da Black Shadow deu origem à “ready to race” Vincent Black Lightning, com o V-twin a debitar 70 hp e uma velocidade máxima de 240 km/h. Esta configuração permitiu a Roland "Rollie" Free bater o recorde americano de velocidade nas Bonneville Salt Flats, onde atingiu 150.313 mph (241,905 km/h)... completamente deitado sobre a moto e praticamente sem roupa (!!!), originando uma das mais famosas fotos da historia do motociclismo, conhecida como bathing suit bike (moto do fato-de-banho).
 
Após a 2.ª Guerra Mundial, a quebra de vendas de motos mais caras foi-se acentuando. A Vincent sempre recusou comprometer a qualidade das suas motos, o que, infelizmente, fez com que mantivesse os preços elevados, acabando por ditar o seu encerramento em 1956 (a marca foi muitas vezes acusada de ter sido vítima de “over engineering”).