segunda-feira, 28 de outubro de 2019

FIM Sidecar (Estoril)

Juntamente com a derradeira prova do Campeonato Nacional de Velocidade (Estoril IV) e numa autêntica jornada de campeões, o Circuito do Estoril acolheu no terceiro fim‑de‑semana do mês de Outubro uma novidade absoluta em Portugal, o FIM Superside - Sidecar World Championship 1.

Cartaz. Via 

Apesar de pouco conhecido a nível nacional, o FIM Superside é um dos mais espectaculares e exigentes campeonatos tutelados pela Federação Internacional de Motociclismo. Disputa-se desde 1949, ano em foi criado o “mundial” de velocidade, e actualmente competem chassis equipados exclusivamente com motores a quatro tempos, 4 cilindros e 600cc de capacidade, homologados pela FIM para as classes Supersport/Superstock. Em vez der de serem conduzidos apenas por um piloto, cada máquina é pilotada por uma equipa de dois elementos, o piloto e o passageiro (“pendura” ou “macaco” como é vulgarmente designado), tendo este último um papel fundamental na estabilidade e rapidez de todo o conjunto, através de um equilíbrio dinâmico que permanentemente efectua em cima do sidecar.

A jornada do Estoril e de encerramento do FIM Superside de 2019 foi composta por duas corridas, a Sprint Race realizada no Sábado (10 Voltas, 41,8 km) e a Gold Race que decorreu no Domingo (17 voltas, 71,1 km). Após a primeira corrida, vencida por Tim Reeves / Mark Wilkes (Adolf RS Yamaha #77), seguidos de Ben Birchall / Thomas Birchall (LCR Yamaha #16) e de Kees Endeveld / Jeroen Remmé (Adolf RS Kawasaki #20), as contas do campeonato não ficaram definitivamente fechadas e os irmãos Birchall, Ben e Thomas, ainda podiam ultrapassar a dupla Tim Reeves / Mark Wilkes na luta pelo título de Campeão do Mundo. A decisão do campeonato ficava assim adiada para a corrida de Domingo, a última do ano.

Contrariamente ao que tinha sucedido de véspera, a Gold Race foi realizada com a pista completamente seca, o que permitiu a todos os pilotos alinharem com pneus slick para uma corrida que se adivinhava intensa. Ainda durante a formação da grelha de partida, o azar batia à porta da equipa dos irmãos Christie, Sam e Adam, que não conseguia colocar em funcionamento o seu LCR Yamaha #34 e acabou por ter que sair do final da linha das boxes após todos os pilotos terem arrancado para a volta de warm up, sendo depois obrigados a iniciar a corrida no final da grelha.

Grelha de partida para a Gold Race. 

No arranque, os homens da pole position Tim Reeves / Mark Wilkes garantiam o hole shot na primeira curva do circuito, seguidos de perto por Bennie Streuer / Kevin Rousseau (LCR Kawasaki #4), Ben Birchall / Thomas Birchall e Lukas Wyssen / Thomas Hofer (LCR Yamaha #41). Mas logo em seguida, perto da curva 3, um acidente com Bennie Streuer / Kevin Rousseau obrigava à paragem da corrida. O seu sidecar acabaria por capotar na gravilha e o piloto Bennie Streuer teve que ser transportado para o centro médico do circuito com uma contusão e suspeita de costelas partidas. O passageiro Kevin Rousseau saiu ileso.

Regresso às boxes após a interrupção da corrida.

O LCR Kawasaki #4 de Bennie Streuer / Kevin Rousseau no padock após o acidente. 

Após o novo arranque, já com os irmãos Christie no seu respectivo lugar na grelha, os protagonistas do campeonato retomavam a luta pela liderança da corrida, com Tim Reeves / Mark Wilkes à cabeça seguidos de perto por Ben Birchall / Thomas Birchall. Nas posições seguintes apareciam Lukas Wyssen / Thomas Hofer, Paul Leglise / Emmanuelle Clement (LCR Yamaha #33), Pekka Päivärinta / Jussi Veräväinen (LCR Yamaha #44) e Sam Christie / Adam Christie.

Demonstrando um andamento fortíssimo, os irmãos Birchall, Ben e Thomas, faziam o que lhes competia e conseguiam ultrapassar Tim Reeves / Mark Wilkes, aumentando gradualmente a sua vantagem, esperando por um qualquer problema que pudesse atrasar definitivamente a dupla do sidecar #77. Um pouco mais para atrás, Pekka Päivärinta / Jussi Veräväinen desembaraçavam-se dos seus adversários directos e rapidamente partiam em perseguição dos dois líderes britânicos.

Ben Birchall / Thomas Birchall (LCR Yamaha #16). 

Sam Christie / Adam Christie davam um pequeno toque em Lukas Wyssen / Thomas Hofer e faziam um peão, caindo da sexta para a última posição. Precisamente os suíços Lukas Wyssen / Thomas Hofer acabariam por abandonar a corrida à nona volta devido a um problema mecânico no seu LCR Yamaha #41.

O LCR Yamaha #41 de Lukas Wyssen / Thomas Hofer a chegar ao padock após o seu abandono. 

Pekka Päivärinta / Jussi Veräväinen encurtavam rapidamente a distância para Tim Reeves / Mark Wilkes, acabando por ultrapassar a dupla britânica e ascender à segunda posição na décima volta. Entretanto os eslovenos Janez Remše / Manfred Wechselberger debatiam-se com problemas na caixa de velocidades do seu Adolf RS Yamaha #55, conseguindo ainda assim terminar a corrida a uma volta do vencedor.

Luta pela segunda posição entre Tim Reeves / Mark Wilkes (Adolf RS Yamaha #77) e Pekka Päivärinta / Jussi Veräväinen (LCR Yamaha #44). 

O grande momento da corrida aconteceu na volta treze com o abandono de Ben Birchall / Thomas Birchall devido a um parafuso que se desapertou no motor por onde começou a saltar óleo, tornando impossível o trabalho do passageiro Thomas Birchall. Terminavam assim as hipóteses dos britânicos serem novamente os campeões do mundo, eles que tinham sido os únicos vencedores do campeonato na era 600cc. 

Com todas estas peripécias, Tim Reeves / Mark Wilkes ficavam com o caminho livre para a conquista do título, aproveitando assim da melhor maneira o desaire dos seus principais rivais. Na luta pela terceira posição, os irmãos Christie, Sam e Adam, conseguiam chegar-se à traseira do sidecar #33 de Paul Leglise / Emmanuelle Clement. O esforço acabaria por recompensar a equipa do sidecar #34, uma vez que acabaria por consumar a ultrapassagem e levando assim a melhor sobre os seus oponentes directos.

Luta pela terceira posição entre Sam Christie / Adam Christie (LCR Yamaha #34) e Paul Leglise / Emmanuelle Clement (LCR Yamaha #33). 

No final da corrida foi a dupla finlandesa Pekka Päivärinta / Jussi Veräväinen que viu a bandeira de xadrez ser agitada à sua passagem e assim sagrarem-se vencedores desta disputada Gold Race com um tempo total de 30:57.609 min. Na segunda posição ficaram os britânicos e líderes do campeonato Tim Reeves / Mark Wilkes com mais 4.389 s. O lugar mais baixo do pódio foi para a equipa britânica Sam Christie / Adam Christie com mais 29.224 s. 

Final da Gold Race.

Pódio da Gold Race: 1.º Pekka Päivärinta / Jussi Veräväinen (LCR Yamaha #44), 2.º Tim Reeves / Mark Wilkes (Adolf RS Yamaha #77), 3.º Sam Christie / Adam Christie (LCR Yamaha #34). 

Nas contas finais do campeonato, Tim Reeves / Mark Wilkes (Adolf RS Yamaha #77) sagraram-se Campeões do Mundo de FIM Superside, sendo esta a sua oitava conquista do “mundial” de sidecar. Com a vitória da Gold Race e o abandono dos irmãos Birchall, a dupla Pekka Päivärinta / Jussi Veräväinen (LCR Yamaha #44) foi das que mais lucrou no Estoril, conseguindo assim conquistar o vice-campeonato. Por seu lado, Ben Birchall / Thomas Birchall (LCR Yamaha #16) foram os grandes derrotados do fim-de-semana, uma vez que não só não conseguiram alcançar o almejado título de campeões do mundo como ainda perderam o segundo lugar do campeonato para a equipa finlandesa. 

Os campeões do FIM Superside - Sidecar World Championship de 2019. Da esquerda para a direita: Pekka Päivärinta / Jussi Veräväinen (LCR Yamaha #44), 2.º lugar; Tim Reeves / Mark Wilkes (Adolf RS Yamaha #77), 1.º lugar; Ben Birchall / Thomas Birchall (LCR Yamaha #16), 3.º lugar. Via 

Chegava assim ao fim a temporada de 2019 do FIM Sidecar World Championship. Em jeito de despedida, aqui fica o resumo em imagens da prova portuguesa: 



____________________

1 Apesar de ser a estreia em solo luso do campeonato do mundo, os sidecar não são no entanto desconhecidos do Estoril pois no dia da sua inauguração, em Junho de 1972, foram convidadas algumas equipas da especialidade para umas voltas de exibição no então novo palco do desporto motorizado nacional. Ainda no século passado, a Granja do Marquês (Base Aérea N.º1 em Sintra) recebeu o então existente campeonato europeu da especialidade. Fonte