segunda-feira, 30 de agosto de 2010

GP La Bañeza 2010: Escaldante!

Mas que ambiente fantástico aquele que se vive nas ruas de La bañeza durante este fim-de-semana!


“Afición” espanhola.

Sob um sol abrasador e seguramente com mais de 35 mil (!) entusiastas das duas rodas nas ruas desta pacata localidade espanhola, decorreu mais uma edição, a 51ª, do Grande Prémio de Velocidade de motas clássicas em circuito urbano, a maior prova do género em toda a Península Ibérica.

A viagem



Ainda num ambiente de férias e para aproveitar bem a viagem, resolvi atravessar Trás-os-Montes e entrar em Espanha sempre por estradas secundárias, neste caso seguindo por Vimioso até Avelanoso (EM546), continuando depois da fronteira por Alcañices, San Vitero, Mahide, Villardeciervos, Rionegro del Puente, Molezuelas de la Carballeda, Cubo de Benavente, Nogarejas, Herreros de Jamuz e finalmente La Bañeza.


Por terras de espanholas a caminho de La Bañeza, na companhia de outros motociclistas.

Este é sem dúvida um trajecto muito agradável, com pouco trânsito, bom piso e uma paisagem interessante, especialmente a passagem pela zona a Sueste de Sanabria, entre as localidades de Villardeciervos e Rionegro del Puente, com a passagem pelo Rio Tera (um afluente do Rio Esla, que por sua vez é um afluente do Rio Douro) a jusante da Barragem de Valparaíso.


Uma das pontes sobre o Rio Tera.

O local

Ao entrar em La Bañeza (depois de passar a linha férrea) deparei-me desde logo com um bom local para deixar a mota, em frente à pizzaria “El Argentino”, especialmente porque ainda existia bastante espaço para estacionar e também porque para chegar às ruas onde se encontrava implantado o traçado do circuito bastava percorrer os cerca de 160 m da Calle de Lope de Vega.


Local de estacionamento.

Para quem quisesse pernoitar na povoação, a organização tinha à disposição uma zona de acampamento no Polidesportivo Municipal (sem necessitar de inscrição), com wc, duches e vigilância privada. Como animação paralela e para além dos stands de venda de T-shirts, comida e afins, havia ainda uma pequena feira de motas relacionada com as clássicas, pois claro, onde se podia adquirir modelos completos ou simplesmente algumas peças para completar um qualquer restauro em curso.


Um dos belos ciclomotores Moto Guzzi Hispania presentes na feira de motas.

As ruas do circuito encontravam-se delimitadas pelos característicos fardos de palha para absorver os possíveis impactos das quedas dos pilotos e das motas, com todas as zonas perigosas bem assinaladas e sem público nestes locais, que, mesmo com toda a euforia própria destes acontecimentos, teve um comportamento exemplar ao longo de todo o evento.


Onde estão as motas?

As corridas

Este ano a organização convidou o veterano piloto espanhol Joan Garriga, vice campeão mundial de 250cc em 1988, para ser o “Padrino de Honor” do evento. A sua participação na corrida da nova categoria das clássicas 2T bicilíndricas com uma Honda 250cc (nº 11) acabou por trazer bastante emoção à prova face ao fraquíssimo número de motas em pista, tendo obtido a 2ª posição após uma intensa disputa pela vitória com o piloto Juan González (nº 17), terminando separados por menos de 1 décimo de segundo!


Juan Gonzalez (17) vs Joan Garriga (11) nas clássicas 2T bicilíndricas.

Apesar de não ter conseguido a vitória, Garriga mostrou-se contente com a sua segunda posição, declarando após terminar a corrida: “É um traçado incrível mas visto de dentro ainda é mais impressionante”.


“Burn out” de Joan Garriga no final da corrida.

Mais tarde presenteou a assistência com algumas voltas de exibição aos comandos de uma Yamaha 500cc, nem mais nem menos que a mesma mota com que disputou o Mundial de Velocidade nos primeiros anos da década de 90 do século passado e com a qual obteve um 3º lugar no GP Britânico de 1992 em Donington Park (melhor resultado). Segundo o próprio: “Não pude meter a 2ª, é um circuito muito complicado”...


Joan Garriga na sua Yamaha 500cc.

A corrida das clássicas 2T foi a mais participativa das quatro com cerca de 40 inscritos (o que obrigou a organização a efectuar dois grupos nas rondas de classificação de Sábado), numa enorme legião de motas espanholas que incluía as Bultaco Metralla, as Montesa Impala e as chamativas Ossa com as suas cores branco e verde.


Partida das clássicas 2T.

O desfecho desta corrida ficou definido pouco depois da partida, com o piloto da Bultaco nº 19 José Espinosa a efectuar uma boa largada e a assumir a 1ª posição na qual se manteve até ao final, terminando inclusive com mais de 10 segundos de vantagem sobre o segundo classificado, o piloto Manuel Pons da Ossa nº 49.


Consagração de José Espinosa nas clássicas 2T.

A passagem das motas da categoria das clássicas 4T (a minha favorita) impõe desde logo respeito graças ao espectacular ronco dos seus motores a quatro tempos até 500cc, fazendo estremecer o espectador mais desatento devido à proximidade com que as motas passam das pessoas.


Partida das clássicas 4T.

Com um enorme batalhão de modelos da Ducati a lutar pela vitória na corrida, acabou por ser a Jawa nº 69 de Alberto Alonso a levar a melhor e a conquistar o lugar mais alto do pódio, igualmente numa chegada bastante apertada com o piloto Ricardo Oliveros (nº 64), que tinha a “pole position” mas que se debatia com alguns problemas no selector da caixa de velocidades da sua Ducati.


Os três primeiros classificados nas 4T.

Nas pequenas e manobráveis 125 GP, o piloto Daniel Tomás (nº 41), pela segunda vez em três anos, foi o piloto mais rápido do fim-de-semana, fixando o cronómetro de Sábado em 1:11.853, um segundo mais rápido que o principal rival, Alejandro Martinez, e quase dois segundos mais veloz que o terceiro, Aitor Cremades.


Saída da zona das boxes para a pista das 125 GP.

À corrida de Domingo das 1/8 de litro não faltou animação, com muita luta pela conquista de cada posição (apesar de Daniel Tomás ter dominado a prova), o que por vezes provocou algumas quedas que felizmente não tiveram consequências para os pilotos, como testemunham estas e ainda estas imagens.


Um dos despistes nas 125 GP.

Classificação final

Clássicas 2T:

1º - José Montañés Espinosa (nº 19) - 13:48.068 (melhor volta: 1:20.963)
2º - Manuel Hernández Pons (nº 49) - 13:58.426 (melhor volta: 1:22.394)
3º - Jorge S Cabanes Catala (nº 22) - 14:04.763 (melhor volta: 1:22.877)

Clássicas 2T bicilíndricas:

1º - Juan Miguel Calvo González (nº 77) - 14:17.041 (melhor volta: 1:21.105)
2º - Juan Garriga Vilaresaus (nº 11) - 14:17.130 (melhor volta: 1:21.822)
3º - Faustino Hernández Salgado (nº 79) - 14:59.668 (melhor volta: 1:27.804)

Clássicas 4T:

1º - Alberto Martínez Alonso (nº 69) - 14:19.976 (melhor volta: 1:24.140)
2º - Ricardo Escobar Oliveros (nº 64) - 14:20.197 (melhor volta: 1:24.131)
3º - Hugo Carlos Lacunza (nº 67) - 14:32.087 (melhor volta: 1:24.485)

GP 125cc:

1º - Daniel Sáez Tomás (nº 41) - 20:40.424 (melhor volta: 1:11.409)
2º - Jorge Belloso Castillo (nº 35) - 21:14.599 (melhor volta: 1:12.727)
3º - Antonio Jesús Castillejo Lorente (nº 46) - 21:16.476 (melhor volta: 1:13.274)


Na linha de meta, onde se encontra bem marcada a reivindicação do Motoclub Bañezano pela construção de um circuito permanente de velocidade.

Em resumo

Foi sem dúvida um grande fim-de-semana de corridas de estrada (“road races”) de motas clássicas, com toda aquela animação bem característica de “nuestros hermanos” e nem o estado em que ficou o pneu de trás da minha mota no final dos quase 1.400 km percorridos me tira a vontade de repetir a presença na edição do próximo ano.


Oops, foi mesmo até “ao osso”!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

51º GP de La Bañeza



Sendo um apreciador de motas clássicas, já há algum tempo que alimento a esperança de assistir ao vivo a uma “road race” à moda antiga, onde o carácter e a perícia dos pilotos são colocados verdadeiramente à prova, aos comandos de motas tão ou mais antigas do que eles próprios.



Este desejo está prestes a realizar-se já no próximo fim-de-semana, onde vou estar no Noroeste de Espanha, mais propriamente na localidade de La Bañeza (comunidade autónoma de Castilla y León), para a 51ª edição do Grande Prémio local. Este evento organizado pelo Moto Clube Bañezano é considerado por muitos como o IOM TT de Espanha (assistir ao TT da Ilha de Man é outro dos meus sonhos, embora este seja um pouco mais difícil de concretizar).



Um elevado número de espectadores ruma todos os anos a esta pacata povoação da província de León, cheios de entusiasmo e paixão pelas motas, para assistir a um fim-de-semana de corridas que inclui motas clássicas a 2 tempos, clássicas a 4 tempos, clássicas bicilíndricas e GP 125cc, proporcionando um ambiente de grande espectáculo.



Como tudo começou



O Moto Clube Bañezano nasce no dia 4 de Abril de 1954 com o nome de Peña Motorista Bañezana, fundado por um grupo de amigos motocioclistas que fazia pequenas corridas pelas povoações.

No ano seguinte à fundação surgiu um facto anedótico que seria o impulso para o início de um espectáculo que alcançaria com o tempo uma longevidade que ninguém poderia imaginar naquela altura.

Dois famosos pilotos madrilenos daqueles anos, os irmãos Del Val, tiveram uma avaria num local equidistante entre Madrid e La Coruña. Tinham acabado de disputar uma corrida na cidade galega e o seu veículo deteve-se caprichosamente em La Bañeza, uma pequena localidade que naquela época era conhecida pela habilidade comercial dos seus habitantes que pôs os Del Val de pé atrás.

Nada mais errado, os Del Val ficaram tão surpreendidos e agradecidos pelas as atenções e a hospitalidade recebidas dos bañezanos, que se ofereceram para voltar no ano seguinte e realizar uma exibição com os seus side-cars.

Aquilo foi o ponto de partida para as corridas de velocidade em La Bañeza. Em 1957 o ano em que nascia o campeonato do mundo em 500cc teve lugar a primeira prova no circuito citadino bañezano e que perdurou até aos nossos dias sempre no mês de Agosto coincidindo com as festas da povoação.

Ao fim de mais de meio século de existência, a lista de respeitados pilotos que já passaram por La Bañeza é vasta, encontrando-se entre eles o multi-campeão mundial Ángel Nieto que obteve nesta prova a sua primeira vitória para a Derbi.


Ángel Nieto aclamado pelo público após a vitória em La Bañeza

O circuito



Como é apanágio das corridas tipo TT (Tourist Trophy), o palco deste Grande Prémio é o circuito citadino que se desenvolve nas ruas de La Bañeza, onde não podem faltar os emblemáticos fardos de palha para (tentar) minimizar as consequências físicas das quedas dos pilotos.



As corridas

Alguns pilotos portugueses também costumam marcar presença neste Grande Prémio aos comandos das suas motas clássicas, ficando como curiosidade a foto do piloto Luís Sousa com a sua Ducati nº 33 (22º lugar em 2007 nas clássicas 4T) que serviu de tema para o cartaz da edição de 2008, o qual se encontrava espalhado um pouco por toda a Cidade.





Para os interessados, aqui fica o programa previsto para a edição de 2010:

Sábado 21 de Agosto

VERIFICAÇÕES ADMINISTRATIVAS E TÉCNICAS
15:00 – 16:50

TREINOS LIVRES/ CRONOMETRADOS
17:00 - 17:30 - Clássicas 2T (Grupo A)
17:45 - 18:15 - Clássicas 2T (Grupo B)
18:30 - 19:00 - Clássicas bicilíndricas
19:15 - 19:45 - Clássicas 4T
20:00 - 20:30 - GP 125cc

10 primeiros minutos livres / 20 minutos seguintes cronometrados

Domingo 22 de Agosto

WARM UP
10:00 - 10:15 - Clássicas bicilíndricas
10:25 - 10:40 - Clássicas 2T
10:50 - 11:05 - Clássicas 4T
11:15 - 11:30 - GP 125cc

CORRIDAS
12:00 - Clássicas 2T (10 voltas)
12:40 - Clássicas bicilíndricas (12 voltas)
13:20 - Clássicas 4T (10 voltas)
14:00 - GP 125cc (17 voltas)

Nota: Não esquecer que é a hora espanhola (GMT+1).

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Saudades da CB 500

“As saudades que eu já tinha
Da minha alegre ‘motinha’
Tão modesta quanto eu (...)”

(Letra adaptada da música ‘Minha casinha’ do grupo ‘Xutos & Pontapés’)



Ao contrário da grande maioria dos entusiastas das motas, a minha paixão pelas 2 rodas apenas se revelou já quase na 3ª década de existência, em meados dos anos 90.

Como as paixões normalmente falam mais alto que as razões, no final ano de 1997 decidi inscrever-me numa escola de condução para tirar a carta de mota e em 1998 já estava em condições de partir à descoberta de novas sensações.



É verdade que despertei tarde para o motociclismo (ou por outras palavras um “late born biker”), mas assim também evitei aqueles excessos tão próprios da juventude que por vezes, infelizmente, deixam marcas para toda a vida.

Como primeira mota, a minha opção foi naturalmente para o segmento das “naked” utilitárias e recaiu numa Honda CB 500 de 1996 (modelo com travão traseiro de tambor), em segunda mão, com cerca de 10.500 km, que adquiri em Agosto de 1998.



Depois de equipada com um pneu 140 atrás para maior aderência, um écran para maior conforto e com um “top-case” também em segunda mão para acomodar a bagagem, esta bicilindrica foi uma verdadeira escola e uma companheira para todo o tipo de viagens, desde algumas deslocações à Concentração Invernal ‘Lobos da Neve’ no Aeródromo da Covilhã ou à Concentração de Faro, incluindo Jerez de la Frontera para assistir ao GP de Espanha de motociclismo (sem esquecer a louca noite de Sábado em El Puerto de Santa Maria) e outras.



Vêm-me há memória os bons momentos que passei aos seus comandos ao longo de 2 anos, sem manifestar o mínimo problema, tendo ficado o mês Setembro de 2000 marcado pela despedida desta fiel montada e a altura de partir para outros voos, procurando materializar um sonho de longa data... a magnífica VFR (neste caso a Honda VFR 800 Fi, também conhecida por RC46).

Mas como tudo na vida tem um fim, eis que chegou a hora da CB 500 (transformada em CBF 500 a partir de 2004). Aqui fica um pequeno resumo da sua história publicado na revista Motociclismo nº 232 (Agosto 2010):

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Festival Intercéltico Sendim 2010

Fugindo um pouco ao tema das motas, um dos destinos destas férias foi o Nordeste Transmontano, mais precisamente a Vila de Sendim, para assistir à 11ª edição do seu Festival Intercéltico que se realizou nos dias 30 e 31 de Julho.



Organizado pelo ‘Centro de Música Tradicional Sons da Terra’ desde 2000, este festival internacional de música folk (e afins) reúne todos os anos milhares de entusiastas das culturas tradicionais, com a forte presença do Mirandês, a 2ª língua oficial de Portugal, que é falado por cerca de 15 mil pessoas.

Relativamente aos concertos, o 2º dia da edição de 2010 contou com a presença de 3 bandas no Parque das Eiras oriundas de outros tantos países, cabendo ao grupo português ‘Uxu Kalhus’ abrir a noite com a sua juventude e irreverência, conseguindo uma magnífica actuação com as músicas de fusão (trad-folk-rock) do seu último álbum ‘Transumâncias Groove’ onde se destaca o tema ‘A saia da Carolina’, que deixaram o público quente, diria mesmo ao rubro, para as actuações seguintes. Muito bom.


‘Uxu Kalhus’ (Portugal)

Seguiu-se o grupo britânico ‘Oysterband’ que apesar de ser composto por músicos mais maduros (já tinham participado na 1ª edição do festival em 2000) não quiseram deixar os seus créditos por mãos alheias e conquistaram o público, especialmente depois de dois dos seus elementos terem literalmente saltado do palco para o meio dos espectadores, cantando e dançando entre a multidão.


‘Oysterband’ (Inglaterra)

A noite terminou com os sons do grupo ‘Garma’ vindo da zona espanhola da Cantábria, que depois das duas fortes actuações anteriores e na minha opinião, não conseguiu “agarrar” o público com a sua música mais tradicional mas igualmente dançante.


‘Garma’ (Cantábria)

Uma palavra ainda para as outras actividades que decorreram durante os dias do evento, nomeadamente o curso de iniciação à Língua Mirandesa, a oficina de danças tradicionais, a homenagem ao gaiteiro da Póvoa Delfim Domingues, a animação de rua a cargo dos Gaiteiricos Mirandeses, o passeio pedestre ‘La Ruta de ls Celtas’, a exposição de pintura e o lançamento de livros e discos.

Que benga la próssima eidiçon...