segunda-feira, 3 de julho de 2023

Marroco Xperience Tour 2022 #5/10

Dia 5: Marrocos (Ouarzazate – Agadir)
 
Além das paisagens, outro dos grandes atrativos de Ouarzazate é a qualidade da luz, com um sol brilhante pelo menos durante 300 dias por ano. Ora foi com este autêntico boost de energia que deixámos a cidade do cinema, uma vez mais à hora habitual (08:30).
 
O 5.º dia do Marroco Xperience Tour 2022 levar-nos-ia um pouco para fora dos roteiros turísticos, prevalecendo o contacto com as gentes e disfrutando das magníficas paisagens do Anti-Atlas, terminando já no litoral junto à costa em Agadir.
 
Dia 5 – 360 km.
 
A lista de produções cinematográficas filmadas na zona de Ouarzazate é realmente bastante vasta, destacando-se alguns filmes e séries icónicas como Lawrence of Arabia (1962), The Jewel of the Nile (1985), The Living Daylights (1987), The Last Temptation of Christ (1988), Kundun (1997), The Mummy (1999), Gladiator (2000), Kingdom of Heaven (2005), Prince of Persia: The Sands of Time (2010), Game of Thrones (2011-2019), Prometheus (2012), entre muitas outras.
 
Mas a visita aos estúdios de cinema ‘Atlas Corporation’ e ‘CLA’ não estava prevista neste tour. No entanto e a cerca de 40 km de Ouarzazate, parámos no posto de combustível Gaz Haven para conhecer de perto este cenário criado para o thriller de terror The Hills Have Eyes (2006). Depois de saber que a narrativa do filme é sobre uma família viajante que é vítima de um grupo de canibais mutantes num deserto longe da civilização, ao percorrer o set quase fiquei com a sensação de que talvez não estejamos sozinhos e que as colinas realmente têm olhos. :)
 
Posto de combustível ‘Gaz Haven’, cenário do filme ‘The Hills Have Eyes’ (Ouarzazate).
 
Posto de combustível ‘Gaz Haven’, cenário do filme ‘The Hills Have Eyes’ (Ouarzazate).
 
A habitual pausa da manhã para beber o típico chá de menta foi efectuada na cidade de Taznakhte, um importante centro de tecelagem de tapetes berberes. O local escolhido foi um café ao lado da loja de tapetes Espace Zoukouni (cooperativa), loja esta que acabei por visitar e onde um dos elementos do grupo fechou negócio para a aquisição de um tapete.
 
Em conversa com o vendedor sobre a agressividade de alguns marroquinos na abordagem aos turistas, especialmente nos mercados das localidades mais conhecidas e visitadas, como é o caso de Marrakech, achei muito curioso o seu comentário: “à Marrakech ils ne sont pas berbères, ils sont barbares” (em Marrakech não são berberes, são bárbaros). Elucidativo.
 
Loja de tapetes berberes (Taznakhte).
   
Quase uma centena de quilómetros depois deu-se a passagem em Taliouine, localidade habitada principalmente por berberes Chleuhs e conhecida como a cidade do açafrão vermelho (a mais cara especiaria do mundo, utilizada na culinária, medicina, cosmética e como corante e pigmento).
 
A zona do cultivo de Crocus sativus (flor de cor lilás de onde é retirado o açafrão) distribui-se por duas áreas principais do sopé Sudeste e Oeste do Maciço de Siroua, um maciço vulcânico localizado na junção do Anti-Atlas e do Alto-Atlas. O célebre “ouro vermelho” de Taliouine é cultivado em zonas um pouco afastadas da cidade, principalmente entre as povoações de Tagouyamte e Aït Assine, tipicamente entre os 1.200 e os 2.400 metros acima do nível do mar.
 
Esta região do árido Planalto de Souktana é também bastante abundante em argânias, cujo fruto é uma valiosa fonte de óleo de argão (para uso medicinal, cosmético e culinário). Tradicionalmente, as cabras eram uma parte importante no negócio da produção de óleo, já que era necessário que comessem o fruto, porque a dura noz passa ilesa pelo sistema digestivo do animal. A excreção da cabra era então recolhida, e as sementes moídas para extrair o óleo. Essa prática é eficaz, mas demorada e não pode ser usada em grande escala, por isso atualmente são utilizados outros métodos.
 
As cabras trepam então às argânias, onde passam uma média de seis horas por dia a alimentar-se dos seus frutos (os frutos encontrados nas árvores não são comestíveis para os seres humanos, mas as cabras aparentemente adoram-nos). Depois de consumirem os frutos junto ao chão, as cabras começam a subir para alcançar os galhos mais altos das árvores.
 
Cabras a pastar empoleiradas nas argânias (Taliouine).
     
Entretanto e durante a pequena paragem à beira da estrada para fotografar as cabras empoleiradas nas argânias, reparei que uma das motos apresentava uma valente amolgadela na jante da frente. Fiquei depois a saber que esta infeliz situação foi a consequência de ter passado por cima de uma poça que afinal era buraco cheio de água, durante a chuvada que apanhámos a caminho de Agoudal no 3.º dia. É caso para dizer que uma desgraça nunca vem só!
 
Jante amolgada na roda dianteira de uma das motos.
  
Umas dezenas de quilómetros mais à frente, o Rio Asif Tifnout fez-nos depois companhia até à cidade de Taroudante, capital da província homónima e também conhecida como little Marrakech (pequena Marrakech), por fazer lembrar aquela cidade em ponto pequeno, sobretudo devido às suas muralhas e à animada Praça Assarag, uma espécie de Praça Jemaa El Fna em miniatura.
 
E foi precisamente para a Praça Assarag que toda a caravana se deslocou. Era então o momento de ir almoçar. A escolha recaiu no Café Restaurant Les Arcades, onde um couscous de frango e umas brochettes de bovino, com salada, pão tradicional e água, resultaram numa saborosa refeição para duas pessoas por cerca de 160 Dh (16,00 € aprox.).
 
À saída do restaurante e apercebendo-se da nossa presença na praça, um encantador de serpentes logo tratou de nos proporcionar um contacto (bem) próximo com estes répteis rastejantes, a troco de algum dinheiro, claro.
 
Encantador de serpentes na Praça Assarag (Taroudant).
    
A costa atlântica do sul de Marrocos já não estava longe. Por estas paragens o grande destaque vai naturalmente para a cidade de Agadir (antigamente designada Santa Cruz do Cabo de Gué – Cap Ghir), capital da região de Souss-Massa-Drâa e um dos destinos turísticos mais procurados de Marrocos.
 
Uma das principais atracções de Agadir é o Parque Nacional de Souss-Massa que abriga uma população de íbis-eremitas, espécie de ave em extinção. Agadir, também conhecida pelas suas praias, com areais que se estendem por dez quilómetros, tem um clima ameno, com sol durante quase todo o ano, fazendo lembrar o nosso Algarve (tem inclusive geminação com a cidade algarvia de Olhão).
 
Ficámos alojados no Anezi Tower Hotel, a cerca de 400 m da praia, com uma grandiosa vista para o mar e para o porto comercial da cidade.
 
Praia de Agadir.
    
Depois de um agradável passeio junto à água, ao longo de uma extensa zona pedonal (Corniche Tawada) com inúmeras esplanadas e restaurantes, o final da tarde proporcionou ainda um magnífico pôr-do-sol sobre as águas calmas do Atlântico.
 
Pôr-do-sol em Agadir.
  
O jantar foi servido no hotel, ao que se seguiu o habitual briefing por parte da organização com as indicações sempre úteis para o trajeto do dia seguinte. E para terminar o dia, ainda houve tempo para assistir a um pequeno espectáculo de música e dança berbere no bar do hotel que, para ser sincero, acabou por não me entusiasmar particularmente (típico espectáculo para turista).
 
Espectáculo de música e dança berbere no hotel (Agadir).
  
Continua...

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