sexta-feira, 14 de julho de 2023

Marroco Xperience Tour 2022 #6/10

Dia 6: Marrocos (Agadir – Essaouira)
 
O 6.º dia do Marroco Xperience Tour 2022 começou de uma forma menos agradável para o grupo. Infelizmente, a caravana deixava Agadir com menos um elemento na comitiva, o qual teve que regressar antecipadamente a Portugal devido ao agravamento do estado de saúde de um familiar. Por vezes, por mais que consigamos planear as coisas, o inesperado acaba mesmo por acontecer, originando situações que dificilmente conseguimos prever ou controlar.
 
Para todos os restantes, a viagem prosseguiu junto ao litoral, subindo em direcção a Essaouira (Mogador), uma importante cidade costeira onde o Património Português é bem vincado. Um curto trajecto com passagem no Tamri National Park, conhecido pelas árvores de Argana, antes de chegar a Essaouira para uma visita ao Forte Português que é património da Unesco.
 
Dia 6 – 175 km.
 
A região Sul da costa atlântica marroquina desfruta de um clima que banha o litoral com um sol ameno quase o ano todo. Esta é uma zona de veraneio por excelência, onde se encontra inserida a localidade de Taghazout, a meio caminho entre Agadir e o Cabo de Gué (Cap Ghir), uma estância balnear com belas e amplas praias que oferece uma grande diversidade natural e famosos spots de surf.
 
A estrada panorâmica levou-nos depois pelo Tamri National Park, uma reserva natural que se estende desde o Cap Ghir até junto à vila de Tamri. Durante o trajeto, de repente deparámo-nos com uma pequena cáfila de dromedários a pastar à beira da estrada. Foi naturalmente uma ocasião aproveitada para umas fotos, com direito a um contacto muito próximo com o pastor e estes seus animais, também conhecidos como camelos-árabe. Apesar de não termos visitado o deserto, ainda assim conseguíamos estar perto de alguns camelos.
 
Pequena cáfila de dromedários a pastar junto à estrada.
 
Na pequena localidade de Ourtoufellah fizemos a habitual pausa a meio da manhã para tomar um chá de menta e aproveitámos para visitar a Coopérative Argan Timgharine. Esta cooperativa de mulheres produz e comercializa óleo de argão orgânico e seus derivados. O método tradicional é respeitado e os visitantes podem assistir ao vivo à produção do óleo. Na loja é possível comprar desde o puro óleo de argão a diversos produtos cosméticos produzidos a partir dele, tais como sabonetes, cremes e o famoso Amlou, um doce creme de amêndoa com mel e óleo argão puro, que faz parte da cozinha tradicional marroquina.
 
Pausa para um chá de menta e visita à ‘Coopérative Argan Timgharine’ (Ourtoufellah).
 
Extracção do fruto pelo método tradicional para depois ser moído e extraído o óleo de argão (‘Coopérative Argan Timgharine’ – Ourtoufellah).
 
Menos de uma centena de quilómetros depois, por volta do meio-dia, chegávamos então ao destino final, a cidade de Essaouira (Mogador). E chegar assim tão cedo ao fim do trajeto não foi por acaso, já que a organização planeou uma experiência diferente para o almoço, aproveitando a disponibilidade de peixe fresco e marisco nos restaurantes locais, para variar um pouco relativamente aos sabores mais exóticos da comida marroquina. 
 
Efetuámos primeiro o check-in no carismático Hôtel des Îles (local onde ficou alojado o famoso ator, realizador, escritor e produtor norte-americano Orson Welles durante a produção do filme Othello), ao que se seguiu um almoço à beira-mar de peixe e camarão assados no carvão no Chez Khalid (Calvados N.º 14), junto ao Porto de Pesca (o preço da refeição completa para duas pessoas, com bebidas incluídas, foi acordado em 200 Dh – 20,00 € aprox.).
 
Motos parqueadas no Hôtel des Îles (Essaouira)
 
Hôtel des Îles (Essaouira).
 
Almoço no Chez Khalid (Calvados N.º 14), junto ao Porto de Essaouira.
 
Com a tarde livre e tendo apenas a hora de jantar como baliza temporal, partimos à descoberta da zona histórica de Essaouira, classificada como Património Mundial pela UNESCO. Esta cidade irmã de Cascais (acordo de geminação que visa incentivar intercâmbios culturais, sociais e económicos) é considerada por muitos como a estância de praia mais agradável de Marrocos. É conhecida pelos amantes do windsurf pelos seus ventos, o que está na origem do epíteto turístico “Wind City, Afrika”. 
 
Os portugueses sob o comando de Diogo de Azambuja construíram aqui um Forte, designado por Castelo Real de Mogador, em 1506. Em 12 de maio de 1510, o soberano nomeou Nicolau de Sousa comandante vitalício, mas logo a seguir a posição seria atacada pelos berberes. Em dezembro do mesmo ano, a praça teve de ser abandonada, sendo a guarnição transferida para Safim. Em 1525 este castelo foi ocupado pelos marroquinos. Até ao século XVIII era apenas em um pequeno porto. Nessa época o sultão de Marrocos escolheu a localidade para ser o porto exportador do país, passando a designar-se Essaouira. 
 
É uma daquelas cidades costeiras onde as coisas boas da vida e as actividades aquáticas se complementam. Caminha-se calmamente, à sombra das suas muralhas e baluartes, onde ainda podem ser apreciadas as antigas peças de artilharia portuguesas, assim como a primitiva igreja e as fortificações na pequena Ilha de Mogador, fronteira com o porto.
 
Squala do Porto (Essaouira).
 
Antigas peças de artilharia nas muralhas (Essaouira).
 
Antiga peça de artilharia portuguesa (Mogador – Essaouira).
 
Na sombra das paredes que rodeiam a cidade, talhadas com portões monumentais, obras de arte e de defesa, e ladeadas por duas cidadelas (Squala do Kasbah e Squala do Porto), a caminhada levou-nos até ao centro para descobrirmos a Medina. Aqui a cidade desenrola o entrelaçamento dos seus becos e vielas. Tal como o velho Mogador que se tornou Essaouira, ela mistura influências, tomando emprestado do Ocidente e do Oriente. Os riads turísticos e os quartos de hóspedes, os souks, as lojas tradicionais e o artesanato (móveis, objectos, arte) encontram-se espalhados pelas suas ruas estreitas.
 
Ruas estreitas...
 
... becos e vielas (Essaouira).
 
Ao virar numa esquina ou na curva de uma viela, podemos facilmente descobrir uma curiosidade ou um elemento da herança histórica e cultural da cidade. Foi o que acabou por suceder quando passámos por uma interessante fachada, cheia de símbolos e curiosos pormenores arquitectónicos. Estávamos no ‘Hammam Pabst’, um balneário público (banhos turcos) centenário (1336) utilizado por Orson Welles durante a produção da sua adaptação para o cinema da tragédia de Shakespeare “Othello: The Moor of Venice”, no início da década de 1950 (cenário para uma das cenas do filme).
 
‘Hammam Pabst’, balneário público centenário (Essaouira).
 
Esta obra, que ganhou o Grande Prémio do Festival de Cinema de Cannes em 1952, foi fruto de três anos de muito trabalho, durante os quais o realizador e actor enfrentou a falência da sua produtora e uma filmagem atribulada. Contra todas as probabilidades, sem nunca desistir do seu trabalho, acabou por completar as filmagens. Uma grande aventura artística entre Orson Welles, Mogador e os seus habitantes, a quem o filme muito deve.
 
Orson Welles amava Mogador e sua aura misteriosa. “O tempo que passei em Mogador foi um dos períodos mais felizes da minha vida, apesar das lutas...”, referiu. Para os propósitos do filme e para além do ‘Hammam Pabst’, a ‘Squala do Kasbah’ e suas salas abobadadas tornaram-se antigas prisões. O Mercado do Peixe, situado no centro da Medina, foi transformado em banho turco, cujos vapores não são mais que fumos de incenso trazido da Igreja de Essaouira. A magia do cinema...
 
Vendas de rua junto ao Mercado do Peixe (Essaouira).
   
As inúmeras ruas de comércio, cheias de lojas tradicionais, são os locais ideais para adquirir algumas peças do rico artesanato local. Longe da pressão quase avassaladora exercida pelos vendedores de outros locais turísticos de Marrocos, aproveitei então para comprar uns souvenirs, sem no entanto esquecer que estava de moto e com espaço de bagagem limitado.
 
Ruas de comércio cheias de lojas tradicionais e artesanato (Essaouira).
  
Confesso que fiquei agradavelmente surpreendido com o ambiente de calma e tranquilidade que senti ao percorrer as ruas da Medina de Essaouira. Mas entretanto, o sol ia caminhando rapidamente para a linha do horizonte. O dia começava a dar lugar à noite e era necessário regressar ao hotel para juntar todo o grupo e ir jantar.
 
Terminada a refeição e depois do habitual briefing da organização, ainda houve tempo para regressar às ruas estreitas da Medina para tomar um café e sentir o pulsar da vida nocturna da cidade. Valeu.
 
Continua...

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