Sonhador,
romântico e viajante compulsivo, António Miguel Rosado
é um dos grandes aventureiros portugueses em duas rodas. Dono de uma grande
humildade, este alentejano de 58 anos, nascido e
criado em Moura, já percorreu largos milhares de quilómetros por vários países
e continentes, aos comandos de uma BMW R850GS amarela de 1999 equipada a rigor,
que o acompanha desde há muito por todo o tipo de estradas e caminhos.
De
Portugal a Timor, a Austrália, e do Alasca a Ushuaia, são algumas das viagens
vividas por este engenheiro zootécnico de formação. Segundo António Rosado,
existe uma enorme diferença entre um turista e um viajante. Se o primeiro vai
ver as coisas que os outros já viram, o segundo quando está na estrada está a
viver, sem grandes planos e de espírito aberto, preparado para todas as
alterações que ao longo dos dias venham a suceder, quer seja uma viagem de
milhares de quilómetros ou de apenas algumas centenas.
As aventuras fazem parte da vida de António Rosado praticamente desde que
se lembra. “(...) tinha eu uns 8 anos
quando a minha tia Luciana me ofereceu uma tenda de campismo; imediatamente fiz
questão de a montar no sótão, por lá ficou durante anos, onde diariamente
rumava para sonhar..., lembro-me de todas as tardes ao fim das aulas ir fazer
aventuras para as ruinas do castelo de Moura, tinha uma fisga, uma lanterna e
uma faca de mato; subia paredes e muros com mais de dez metros de altura nessas
ruínas, arriscando a partir-me todo, como veio a acontecer, tinha eu 13 anos
aterrando de boca num muro, partindo os dois maxilares e muitas peças do corpo
bem mal tratadas”, refere.
Aos 14 anos teve a primeira máquina de duas rodas, uma motorizada Casal
50cc, que logo tratou de a modificar com uma cremalheira grande, pinhão de
ataque pequeno, guarda-lamas, banco e guiador “à cross”. Seguiram-se algumas provas
locais de Motocross, utilizando como vestuário de protecção... umas botas
caneleiras, umas calças de ganga e um casaco de cabedal! Durante anos andou com
esta motorizada, que “(...) acho a ter
empurrado mais, do que andado propiamente a "cavalo" nela.” Mais
tarde apareceram as motos, uma Yamaha DT125LC, uma Suzuki DR350, uma Honda XR250
e uma Honda XR600, com as quais fez vários raides e provas “pirata”.
Influenciado, entre outros, por homens
como Emilio Scotto, Thierry Sabine, José Megre ou Pedro
Vilas-Boas, estes dois últimos com quem privou no início do Clube Todo-o-Terreno
(anos ‘80) fazendo vários passeios por este país com o seu amigo aventureiro
Fernando Garcia, bebendo avidamente as estórias que noite adentro os
enfeitiçavam, em acampamentos que organizavam nesses eventos e onde ouviu pela
primeira vez falar em Merzouga (Marrocos).
Não então
é de estranhar que a sua primeira grande viagem tenha sido precisamente uma ida
Marrocos, no ano de 1991.
Uns anos mais tarde, em 2017, e apesar da distância, a saudade falou
mais alto e António Rosado decide ir dar um beijo à sua namorada que se
encontrava em Timor-Leste. Estava criado o mote para, juntando o útil ao
agradável, embarcar naquela que seria uma viagem fabulosa mas extremamente
desafiante. Partiu de Avis a 3 de Setembro, na 10.ª edição do Traveler’s Event
(vídeo),
e chegou a Baucau a 18 de Outubro. O regresso a Moura foi a 1 de Novembro, após
cerca de 16.000 km percorridos e passagem por 20 países.
Das inúmeras peripécias por que passou ficaram certamente as emoções vividas
aos comandos da R800GS, umas mais agradáveis que outras, naturalmente, bem como
dos países por onde passou e das gentes com quem partilhou experiências e
momentos únicos. Refere que para um ocidental, viajar e viver em Timor-Leste
tem que se lhe diga. Das comidas aos hábitos, dos objectos aos horários, tudo é
diferente, com um ritmo muito próprio e curiosidades engraçadas como o “tem! mas não há!”.
A reportagem da viagem foi publicada nas revistas Trevl
#14 (1.ª Parte) e Trevl
#15 (2.ª Parte).
Junto à Escola Primária
Pública N.º 1 de Baucau onde lhe foi recusada a entrada, mas que acabou por conseguir
contactar com as crianças e falar-lhes sobre as suas aventuras e os sonhos
realizados (Moura–Baucau 2017). Via
Com a “amarelinha” BMW R800GS temporariamente parada em Díli, no ano
seguinte António Rosado resolveu ir até ao fim da estrada... na Escócia. A
viagem teve início a 8 de Junho de 2018 e a chegada a John O’Groats foi no dia 14.
A rota passou por Portugal, Espanha, França e Reino Unido, desta vez aos
comandos de uma mais moderna BMW R1200GS.
Portugal–Scotland 2018. Via
John O’Groats, Escócia (Portugal–Scotland
2018). Via
Nos lagos escoceses (Portugal–Scotland
2018). Via
Ainda em 2018 e para não perder a embalagem, voa para Díli em Setembro com
o objectivo de substituir a bomba de gasolina da sua fiel R800GS e conseguir
“resgatá-la” para a Austrália.
O “resgate” da fiel BMW
R800GS, Timor-Leste 2018. Via
Depois de um longo e minucioso processo de desmontagem, reparação e
limpeza, com mais de 70 horas de trabalho no Entreposto (concessionário Ford em
Timor-Leste) para conseguir passar no “teste do algodão” australiano, a R800GS
ficou pronta para embarcar num contentor juntamente com outras motos rumo a
Darwin, onde chegou em Outubro. Já em terras australianas e após as necessárias
inspecções aduaneira e sanitária (vulgo quarentena), começou uma nova aventura
de cerca de 10.000 km pelo Outback, o
coração da Austrália, passando ainda por Moura (Queensland) claro, com regresso
a casa em Janeiro de 2019.
A reportagem saiu na revista Trevl
#18.
Austrália 2018/2019. Via
Trópico de Capricórnio,
Território do Norte (Austrália 2018/2019). Via
Apenas sete meses depois e sem perder muito tempo a planear o roteiro
(para além de alguns locais por onde gostaria de passar), em Agosto de 2019 António
rosado iniciou aquela que seria a sua mais longa viagem de moto, atravessando
todo o continente americano desde o Alasca até à Patagónia (Terra do Fogo), numa
aventura de quase seis meses e 55.000 km.
Empreendeu esta viagem rumando a Paris, onde despachou a moto para
Calgary (Canadá). Daqui seguiu para o Alasca, acabando por não chegar a
Deadhorse (Prudhoe Bay) como tinha planeado. Mas foi até Anchorage, e dali mais
ou menos em zig-zag, a descer até ao “fim do mundo” (Baía Lapataia, EN3), por estradas
e lugares como o caminho dos Yungas, também conhecida como estrada da Morte,
Salar de Uyuni, Cañon del Pato, Punta Olimpica, Deserto do Atacama, Ruta 40,
Carretera Austral, Serra do Rio do Rastro, Pantanal, Missões várias por toda a
América do Sul, inúmeros parques, praias, montanhas, desertos cidades
lugarejos, gentes, tribos, etc.
Esta grandiosa aventura foi apresentada na 14.ª
edição do Traveler’s Event.
Fronteira entre o Yukon
(Canadá) e o Alaska (Estados Unidos), Historic Alaska Highway (Alaska–Terra do
Fogo 2019/2020). Via
Estrada bloqueada por uma
derrocada no Peru. A solução foi aguardar até ficar desimpedida (Alaska–Terra
do Fogo 2019/2020). Via
Bahia Lapataia (Ruta Nac.
N.º 3), Argentina (Alaska–Terra do Fogo 2019/2020). Via
António Rosado confessa que o seu maior sonho é dar a volta ao mundo de
moto. Mas em 2020 instalou-se a pandemia de COVID-19
e as malfadadas quarentenas em diversos países, o que acabou por lhe trocar as
voltas e prolongar a angústia de não poder fazer grandes viagens durante largos
meses. Entretanto e para ocupar o tempo, criou um canal no YouTube onde começou a partilhar uma série de vídeos com
dicas e conselhos úteis baseados na sua vasta experiência.
Melhores
dias virão, certamente, para voltar a transformar sonhos em realidade através
das suas viagens. E “(...) não interessa
a distância percorrida, nem tão pouco o tempo gasto. Interessa sim, a emoção, a
experiencia resultante dessa viagem, essa aventura onde nos descobrimos, onde
enfrentamos Adamastores e que fazem de nós para sempre, aquilo que só nós
sabemos. É algo do mais intimo que há e até, por muito que se diga, difícil de
explicar. Uma coisa sei e repete-se sempre que se acaba uma viagem: queremos
mais e mais até ao último suspiro enquanto andarmos por este Mundo.”
“Valeu!
Oh se Valeu!”
Fontes: O
Moto Turista e TREVL
Magazine #28
Excelente, obrigado pela referencia ao "O Mototurista! boas curvas
ResponderEliminarAs referências quando são interessantes são sempre boas referências.
ResponderEliminarObrigado. Boas curvas.