Conduzir veículos motorizados a céu aberto, em especial os de duas
rodas como as motas ou as scooters, é uma experiência verdadeiramente única e
uma sensação de liberdade difícil de descrever a quem nunca experimentou.
O grande
problema coloca-se nos dias de chuva, onde a visibilidade diminui drasticamente,
dificultando a percepção do que vai surgindo à nossa frente.
Quando surgiram os capacetes para proteger
a cabeça contra ferimentos graves resultantes de quedas, que inicialmente não
passavam de simples “toucas” em pele (tipo aviador) e que depois evoluíram para
materiais mais rígidos como o plástico ou a fibra, a sua configuração aberta obrigava
à utilização de óculos para a protecção dos olhos. Mais tarde chegavam os
capacetes fechados (ou integrais) que passaram a dispor de uma prática viseira basculante.
Mas a principal
questão manteve-se... O que fazer para ver através da chuva?
“Spins
the rain away”
Ora na primeira metade da década de 1960, o piloto inglês Lance Macklin inventa o Turbo Visor que consiste numa
viseira universal, aplicável a qualquer tipo de capacete, que pode ser utilizada
tanto em desportos motorizados como em estrada por qualquer motociclista.
Via
Por mais estranho que pareça, o Turbo Visor tem tanto de esquisito
como de eficiente.
O “segredo”
está numa fixação ajustável ao capacete (tipo cinta) com um pino à frente, no
qual está fixado um disco côncavo de material plástico transparente, com cerca
de 20cm de diâmetro.
Sem ligações eléctricas de qualquer espécie, o seu funcionamento é
extremamente simples.
A face
convexa do disco possui pequenas aletas dispostas em intervalos regulares junto
ao bordo exterior, de tal forma que em andamento criam resistência aerodinâmica
suficiente para conferir um movimento de rotação no disco, numa acção
semelhante à dos moinhos de vento.
Revista ‘Motor Cycle’ (9 de
Abril de 1964). Via
A utilidade deste original acessório é então dada pela rotação do disco
que, girando sobre o seu eixo e devido à força centrífuga, faz com que a água
seja afastada pela face convexa e permita uma boa visibilidade na zona central.
A empresa londrina Cleaver-Hume
International assegurou a produção deste acessório, com o objectivo de que
os motociclistas tivessem os seus capacetes equipados com o Turbo Visor nas
suas deslocações em dias de chuva.
Para tal,
elaborou uma campanha publicitária que contou, entre outros, com a imagem e o
depoimento do hexacampeão mundial de motociclismo Jim Redman: “You really can see in the rain with Turbo
Visor” (Você realmente pode ver na chuva com o Turbo Visor).
Revista ‘Motor Cycle’ (8 de
Abril de 1965). Via
Apesar da alegada eficiência do sistema e salvo algumas excepções (como
foi o caso do piloto britânico Graham
Hill na corrida de F1 do Daily Mirror
Trophy de 1964), a sua utilização acabou por não ter grande aceitação por
parte dos motociclistas, principalmente devido ao desequilíbrio causado pelo
efeito de vela em que poderiam incorrer com o virar da cabeça durante a
condução.
Graham Hill no II Daily
Mirror Trophy (1964). Via
No entanto, não deixa de ser curioso que este estranho acessório tenha
sobrevivido à passagem do tempo, sendo actualmente comercializado pela
conhecida marca de equipamento para desportos motorizados Sparco e utilizado
essencialmente por alguns praticantes de karting.
Sparco Turbo Visor. Via
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