segunda-feira, 21 de julho de 2014

Museus e Colecções Particulares #7

Colecção de Henrique Sobral (Cantanhede Classic & Vintage Motorcycle Museum)

Para além do leitão e dos vinhos da região demarcada da Bairrada, Cantanhede é também conhecida por ser terra de motas. Foi lá que se estabeleceram importantes marcas portuguesas ligadas às duas rodas durante os anos 50 a 70 do século passado, como por exemplo a Masac e a Forvel.

É nesta Cidade do Distrito de Coimbra que se encontra sediado o Cantanhede Classic & Vintage Motorcycle Museum, i.e., a colecção particular de Henrique Sobral, uma das maiores a nível nacional, com largas dezenas de exemplares repartidos entre motas antigas e clássicas, com especial destaque para as inglesas e italianas.


Via 

Como tudo começou

Nascido precisamente em Cantanhede no ano de 1949, este empresário industrial de profissão foi desde sempre um grande entusiasta de motas, mas só após a terceira década de existência é que o “bichinho” das clássicas lhe entrou no corpo, quando a dada altura se deparou com a oportunidade de ter uma Matchless.

Autodidata nos tempos livres em restauro de motas, Henrique Sobral encara esta paixão como puro hobby, sem qualquer objectivo de lucro, dando-lhe enorme gozo transformar um “chaço” num reluzente objecto histórico de colecção. Para tal, conta entre outros e em especial com a preciosa ajuda do seu sobrinho José Manuel (Eng.º Mecânico) e do amigo Paulo Dinis para levar a bom porto o moroso e minucioso trabalho de dar “nova vida” às suas máquinas de época.

Depois da Matchless, seguiu-se uma BSA (cujo restauro demorou muito mais tempo que o inicialmente previsto) e muitos outros modelos de outras tantas marcas, como a Panther, Ariel, Norton, OK-Supreme, Royal Enfield, Triumph, Velocette, New Hudson, etc. A sua colecção foi assim aumentando, muito assente em motas inglesas dos anos 30 e 40.
Porém e há cerca de 20 anos atrás, Henrique Sobral começou também a interessar-se por outro tipo de motas, as inovadoras italianas dos anos 50 e 60.


Henrique Sobral e as suas máquinas. Via 

E a explicação para esta bipolarização é simples: “Nos anos 30 e 40, os ingleses faziam as melhores motos do mundo. Muitas inovações dessa altura, como a árvore de cames à cabeça, o avanço automático da distribuição, o comando das mudanças no pé, a suspensão de forquetas telescópicas, e outras, foi tudo desenvolvido pelos ingleses o que deu às motos britânicas dessa época uma áurea de prestígio única e um palmarés nas grandes corridas de motos da altura sem rival. Depois da segunda guerra, no entanto, as coisas foram mudando. As motos inglesas deixaram de evoluir e só os motores é que foram crescendo em cilindrada e em cavalagem. Em contrapartida, os italianos, cuja indústria tinha sido completamente destruída com os bombardeios da guerra e depois com as restrições dos aliados ao renascimento de tudo o que pudesse, de perto ou de longe, ser associado à indústria bélica, construíram verdadeiras criações geniais de motos, sobretudo nas pequenas e nas médias cilindradas.”

Marcas icónicas como a Mondial, MV Agusta, Ducati, Aermacchi/Harley-Davidson, Benelli, Bianchi, Gilera e Parilla fazem parte do seu espólio de transalpinas, onde se destacam alguns modelos especiais como a Mondial TV Sport 175cc a 4T (de facto, as “Fratelli Boselli” Mondial eram motas de grande qualidade construtiva e de excelente desempenho desportivo, o que se traduziu na conquista de cinco campeonatos mundiais de velocidade de 125cc e 250cc – segundo consta, a própria Honda ter-se-á inspirado numa Mondial quando começou a fabricar motas a 4T no pós-guerra. Verdade ou não, o certo é que logo à entrada do museu Honda no Japão, a primeira mota que aparece é precisamente uma Mondial e não uma Honda!).

Sempre muito atento e interessado, Henrique Sobral é uma voz bastante activa no panorama das clássicas em Portugal, seja como membro fundador da Associação Portuguesa do Motociclismo de Época, ou como participante em diversos eventos nacionais, como pude testemunhar no passeio de motas antigas do MC Sintra de 2011 e 2012:

Henrique Sobral com uma New Hudson 350 (1927) no passeio de motas antigas do MC Sintra de 2011 (melhor moto dos anos 20 e mota mais votada pelos participantes). 


Henrique Sobral com uma MV Agusta no passeio de motas antigas do MC Sintra de 2012 (2ª melhor moto dos anos 60). 

Graças ao seu empenho e dedicação, tem recebido inúmeros convites para expor as suas beldades em feiras e exposições sobre esta temática, tais como a grande exposição As Motos do Século, o Século das Motos realizada em 2000 na FIL (Parque das Nações, Lisboa), organizada por Pedro Pinto e ilustrada pelo magnífico livro com o mesmo nome editado pela Parque Expo 98.
Também estão incluídas várias motas suas no livro Motos Antigas em Portugal de Pedro Pinto, João Lopes Silva e João Seixas (edições Inapa – 1995).

A “Colecção de Motos de Época”

A colecção de Henrique Sobral tem a particularidade de não ser do tipo generalista, mas sim orientada para duas áreas muito específicas e separadas no tempo pela II Guerra Mundial: as motas inglesas da era pré-conflito e as motas italianas da era pós-conflito.

Todas elas são verdadeiros testemunhos vivos de engenharia e arte sobre duas rodas de outras épocas, e apesar das britânicas continuarem a merecer-lhe toda a atenção, ao ponto de na sala onde tem as suas motas (o “santuário”) figurarem em primeiro plano, as transalpinas ganham no entanto crescente relevância, especialmente através de uma marca em particular – a Ducati – da qual Henrique Sobral possui mais de uma dezena de exemplares, que incluem uma Cucciolo (com genuíno quadro estampado Ducati) e três Paso 750 (designação atribuída pelo seu criador Massimo Tamburini em homenagem ao piloto Renzo Pasolini, com carburadores Weber utilizados pela Ferrari e uma das primeiras motas a ter carenagem integral).

Também as desportivas italianas dos anos 80 e 90 começaram a despertar os sentidos de Henrique Sobral, depois de ter adquirido quatro exemplares da futurista Gilera CX 125 (uma mota criada por Frederico Martini – ex-Bimota e ex-Ducati – no final dos anos 80, com monobraço à frente e um design verdadeiramente inovador, com o qual foi distinguida em diversos concursos internacionais).
A estas juntam-se outros modelos da Gilera como a KK, MXR, SP01, SP02 e GFR, bem como a Cagiva Aletta d’oro e Mito Racing, e a Aprilia AF1 108 Sport-pro, formando uma verdadeira “armada italiana” de 125cc (quase) pronta para enfrentar a pista de um qualquer circuito de competição.


AJS M5 de 1929 (modelo de competição). Via 


OK-Supreme Road Knight de 1935. Via 


Velocette MAC 350 de 1935.


Ducati Elite 200/SS de 1959 no passeio de motas antigas do MC Sintra de 2012 (também vista no Salão Automóvel e Motociclo Antigo-Clássico-Sport de Aveiro de 2011). Via 


Parte da “armada italiana” de 125cc dos anos 80/90. Via 

Quase paredes meias com o “santuário”, Henrique Sobral tem outro espaço denominado de “antecâmara” onde guarda as suas recentes aquisições e onde tem uma área reservada para peças e acessórios. É também aqui que os exemplares são fotografados, catalogados, desmontados e por fim minuciosamente restaurados.

Na “antecâmara” à espera de nova vida. Via 


Na “antecâmara” à espera de nova vida. Via 


Na “antecâmara” à espera de nova vida. Via 


A oficina. Via 

Informações

Morada: Cantanhede
E-mail: cantanhedeclassicbike@gmail.com
Página Web: https://www.facebook.com/cantanhedeclassicevintagemotorcyclemuseum
Não se encontra aberto ao público.

Fontes: Revista “Da Moto Clássica” n.º 8 (30 Novembro 2008) e Revista “Topos & Clássicos” n.º 159 (Julho 2014)

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