As
viagens em duas rodas há muito que fazem parte da vida do motociclista João Fernandes Luís, um intrépido
aventureiro de 52 anos do Vimeiro (Alcobaça). Nascido nas Caldas da Rainha mas
um verdadeiro cidadão do Mundo, João Luís já efectuou muitos milhares de
quilómetros por países como o Dubai ou a Geórgia, Egipto e Turquia, Grécia ou
Líbano, Israel e Jordânia, Síria e Paquistão, Rússia ou Índia. Mas também pela Finlândia,
Suécia, Noruega, Estónia, Letónia ou Lituânia, ou ainda do Sudão, Quénia,
Tanzânia, Moçambique, Zimbabué, África do Sul, Namíbia ou Angola entre tantos
outros.
No deserto do Sahara (Mauritânia)
com a BMW GS1200. Via
João Luís
teve a sua primeira motorizada aos 16 anos, uma Casal Troia 50cc de 2 vel., com
a qual efectuava pequenas deslocações perto de casa e um pouco mais além. No
final dos anos 80, já maior de idade e com moto, começam as saídas de Portugal
para umas voltas até ao país vizinho. Ao longo da década de 1990 e princípio de
2000, foi adquirindo outras motos (das quais só se desfaz se tiverem acidentes
e não poderem ser recuperadas) que lhe permitiram alargar os horizontes e
viajar por diversos países do centro da Europa. Em 2001 e como curiosidade,
João Luís estava na cidade catalã de Girona (em viagem) quando aconteceram os
atentados terroristas do 11 de
Setembro.
Em Andorra com a Kawasaki Z1300.
Via
Com a Honda CBR900RR
Fireblade. Via
Até que
em 2007, com 38 anos, João Luís decide sair da velha Europa e partir para uma grande
aventura. Uma viagem de ida e volta de Portugal a Petra (passando por diversos
países da Europa, Turquia, Síria, Jordânia e Israel) com a duração aproximada de
1 mês, onde percorreu cerca de 15.000 km. E foram muitas as peripécias por que
passou, incluindo os três dias que demorou para entrar em Israel pela fronteira
do Vale do Jordão, onde foi sujeito a um interrogatório pouco agradável por
parte da polícia e dos serviços secretos (Mossad). Felizmente que tudo acabou
bem.
Em Amã com a Honda
CBR1100XX Super Blackbird. Via
Munido de
um diário onde regista todas as peripécias das viagens, João Luís refere que o
seu grande objectivo é o de conhecer e falar com pessoas, trocar ideias, provar
as comidas, fazer amigos e, não menos importante, promover a paz, o
entendimento e o convívio entre os diferentes povos. E não importa se são
cristãos, judeus ou muçulmanos, porque no fundo são todos filhos do mesmo Deus
(como acredita) e que, bem vistas as coisas, acabam por ter mais em comum do
que aquilo que muitas vezes os separa.
Depois de
realizar outra viagem pelo Médio Oriente em 2009 (ainda com a Honda CBR1100XX
Super Blackbird), João Luís embarca naquela que seria a sua maior aventura por
África, em Maio de 2010 (41 anos), com a sua nova BMW R1200GS. A viagem foi-lhe
proposta e inicialmente planeada para levar 16 motociclistas a assistir ao mundial
de futebol na África do Sul (uma boa desculpa para ir ver a bola) mas, como
muitas vezes acontece, o grupo foi ficando cada vez mais reduzido, até que João
Luís acabou por ir sozinho... até Luanda. E que viagem.
Trajecto da viagem até
Luanda pelo Leste de África, com a BMW R1200GS. Via
Esta
mediática aventura de ida e volta de Lisboa a Luanda pelo Leste de África
(reportagem publicada na extinta revista Motociclismo
n.º 291 de Julho 2015), foi realizada em 52 dias e passou por um total de
21 países. Neste trajecto de cerca de 25.000 km em forma de ‘J’ (de João), o
motociclista português passou por Espanha, França, Itália, Eslovénia, Croácia, Sérvia,
Bulgária, Turquia, Síria, Jordânia, desvio para Israel e volta, Egipto, Sudão,
Etiópia, Quénia, Tanzânia, Moçambique, África do Sul, Namíbia e Angola.
No Cabo da Boa Esperança
(África do Sul) com a BMW R1200GS. Via
Nove dias
depois de ter saído de Lisboa, João Luís chegou a Jerusalém onde se encontrou
com o jornalista Henrique
Cymerman (que reside em Tel Aviv), de quem tinha ficado amigo quando foi a
Israel em 2007, para uma reportagem.
Nos anos
seguintes e sem perder o ritmo das viagens, em 2012 vai até ao Leste da Europa
(Rússia e Ucrânia) e em 2013 até ao Norte de África (Marrocos e Mauritânia),
sempre aos comandos da BMW R1200GS. Até que em Junho desse mesmo ano de 2013, o
azar bateu-lhe à porta e foi vítima de um grave acidente perto de casa, do qual
não teve responsabilidade, mas que o deixou bastante maltratado. O resultado
foram uns longos e sofridos 19 meses de baixa (17 deles de fisioterapia).
Depois do
médico lhe ter dito que dificilmente voltaria a andar de mota, João Luís não desistiu
e voltou a pegar na moto 9 meses depois, voltou a sair de Portugal de moto 15
meses depois (foi até aos Pirenéus) e voltou a partir para uma grande aventura
em Agosto de 2015, a viagem com que sempre sonhou desde criança: O
Caminho de Mota para a Índia.
Trajecto da longa viagem até
à Índia. Via
Aos 46
anos embarcou então numa longa viagem de cerca de 40.000 km, com a duração de 5
meses (uma semana de férias por cada mês que esteve de baixa), que o levou à
Índia e às ex-colónias portuguesas de Goa, Damão e Diu (reportagem publicada
nas revistas Motociclismo
n.º 309 de Janeiro 2017 – 1.ª parte, Motociclismo
n.º 310 de Fevereiro 2017 – 2.ª parte e Motociclismo n.º 311 de Março 2017 – 3.ª
parte). Entrou em Mumbai (antiga Bombaim) e foi até ao Norte, Himalaias,
desceu o território até Cochim e voltou a subir até Mumbai, onde colocou a moto
num avião e voltou para o Dubai.
Para além
da Europa, passou pela Turquia, Geórgia, Arménia, Irão, Dubai, Jordânia, Israel,
deserto do Sinai e Egipto. A estadia no Irão foi fértil em peripécias, desde ficar
quase sem dinheiro (acabou por pedir emprestado ao treinador de futebol do
Tractor em Tabriz, o português Toni
Oliveira, e posteriormente à funcionária Indirá Camotim
da embaixada de Portugal em Teerão) até às festas loucas na capital Teerão. No
Egipto teve o momento mais perigoso de toda a viagem, onde ficou retido durante
um mês por suspeita de terrorismo e acabou por ser sujeito a um agressivo
interrogatório por parte dos serviços de segurança.
Em Tabriz (Azerbaijão
Oriental, Irão) com o treinador de futebol Toni Oliveira. Via
A caminho do Karni Mata
Temple em Deshnoke (Rajastão, Índia) com a BMW R1200GS. Via
No mês de
Março de 2016 e após o (breve) regresso a Portugal, João Luís voltou ao Médio
Oriente e a Israel para ir buscar a bagagem que lá tinha deixado antes de ter
ido “dar um salto” ao Egipto. Em Yafo (Tel Aviv, Israel) teve um novo encontro
com o jornalista Henrique Cymerman para mais uma reportagem. Em Maio e já em
solo nacional, foi convidado do programa Agora Nós da RTP,
onde partilhou algumas das histórias que viveu nesta aventura.
Uma das últimas
iniciativas de João Luís foi A Maior
Aventura. O objectivo foi ligar Portugal ao Senegal (Dakar), numa viagem de
12 dias por paisagens deslumbrantes desde o Atlas ao Sahara, em contacto
permanente com a fauna e flora Africana. Contrariamente ao que é habitual nas
suas viagens, esta aventura foi pensada para ser realizada em grupo, com gente que
gosta e sabe andar de moto, mas que tem pouco tempo disponível para preparar
toda a logística necessária. Assim e em Fevereiro de 2020, uma caravana de 5
motociclistas partiu em direcção ao que foi, certamente para a maioria, a maior
aventura, contada aqui
por um dos participantes.
‘A Maior Aventura’ de 5
motociclistas entre Lisboa e Dakar (ida e volta). Via
A
caravana atravessou Portugal, o Sul de Espanha, Marrocos, a sempre tensa “terra
de ninguém” no Sahara Ocidental, a Mauritânia e por fim chegou a Dakar, no
Senegal. Um das experiências marcantes desta expedição foi certamente a pernoita
na aldeia de Joal (a sul de Saly, no Senegal) dos pais do Padre
François Mbagnick Diouf, pároco do Vimeiro, no meio de palhotas e dos animais
domésticos. O padre, de etnia ‘Serer’, é o único católico da família (os restantes
elementos são muçulmanos), num país onde 90% da população é muçulmana e somente
5% é cristã, sobretudo católica.
Poucos
meses depois, em Setembro de 2020, o infortúnio bateu de novo à sua porta.
Desta vez foi um acidente em Omiš (a cerca 30 km de Split), na Croácia, do qual
não teve mais uma vez responsabilidade e cujo resultado foram mais uns meses
“no estaleiro” sem conseguir andar de moto. Até porque a sua fiel BMW R1200GS também
não saiu ilesa desta situação.
Um
contratempo (mais um) que certamente não será suficiente para impedir que João
Luís continue a acumular muitos milhares de quilómetros por esse mundo fora, a solo
ou na companhia de outros aventureiros. E pelos vistos projectos não faltam, já
que adquiriu um Mercedes-Benz
190 para fazer expedições de Lisboa a Bamako (Portugal, Espanha, Marrocos,
Mauritânia, Senegal, Mali).
Verdadeiramente
inspirador para qualquer pessoa que goste de viajar... de moto e não só.
Fontes: Pedro Hipólito Podcast, Motoclube
do Porto e O Alcoa
Goa nunca foi colónia.
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ResponderEliminarGrande aventureiro!
ResponderEliminarJoao Luis, que recupere de novo para andar de moto.
Também já viajei muito pelo mundo, ainda este ano vou à Suíça de novo, mas África, não me convidem mais. Também já estive lá retido e nunca vi um Africano aqui retido por passear.
Abraço
Já sem falar da polícia que nos manda parar apenas para nós extorquir.
EliminarO branco em África se não tiver cuidado está tramado.
DM É VIDA, CRL!
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