sexta-feira, 27 de agosto de 2021

João Luís - A liberdade de viajar

As viagens em duas rodas há muito que fazem parte da vida do motociclista João Fernandes Luís, um intrépido aventureiro de 52 anos do Vimeiro (Alcobaça). Nascido nas Caldas da Rainha mas um verdadeiro cidadão do Mundo, João Luís já efectuou muitos milhares de quilómetros por países como o Dubai ou a Geórgia, Egipto e Turquia, Grécia ou Líbano, Israel e Jordânia, Síria e Paquistão, Rússia ou Índia. Mas também pela Finlândia, Suécia, Noruega, Estónia, Letónia ou Lituânia, ou ainda do Sudão, Quénia, Tanzânia, Moçambique, Zimbabué, África do Sul, Namíbia ou Angola entre tantos outros.
 
No deserto do Sahara (Mauritânia) com a BMW GS1200. Via
 
João Luís teve a sua primeira motorizada aos 16 anos, uma Casal Troia 50cc de 2 vel., com a qual efectuava pequenas deslocações perto de casa e um pouco mais além. No final dos anos 80, já maior de idade e com moto, começam as saídas de Portugal para umas voltas até ao país vizinho. Ao longo da década de 1990 e princípio de 2000, foi adquirindo outras motos (das quais só se desfaz se tiverem acidentes e não poderem ser recuperadas) que lhe permitiram alargar os horizontes e viajar por diversos países do centro da Europa. Em 2001 e como curiosidade, João Luís estava na cidade catalã de Girona (em viagem) quando aconteceram os atentados terroristas do 11 de Setembro.
 
Em Andorra com a Kawasaki Z1300. Via 
 
Com a Honda CBR900RR Fireblade. Via
 
Até que em 2007, com 38 anos, João Luís decide sair da velha Europa e partir para uma grande aventura. Uma viagem de ida e volta de Portugal a Petra (passando por diversos países da Europa, Turquia, Síria, Jordânia e Israel) com a duração aproximada de 1 mês, onde percorreu cerca de 15.000 km. E foram muitas as peripécias por que passou, incluindo os três dias que demorou para entrar em Israel pela fronteira do Vale do Jordão, onde foi sujeito a um interrogatório pouco agradável por parte da polícia e dos serviços secretos (Mossad). Felizmente que tudo acabou bem.
 
Em Amã com a Honda CBR1100XX Super Blackbird. Via
 
Munido de um diário onde regista todas as peripécias das viagens, João Luís refere que o seu grande objectivo é o de conhecer e falar com pessoas, trocar ideias, provar as comidas, fazer amigos e, não menos importante, promover a paz, o entendimento e o convívio entre os diferentes povos. E não importa se são cristãos, judeus ou muçulmanos, porque no fundo são todos filhos do mesmo Deus (como acredita) e que, bem vistas as coisas, acabam por ter mais em comum do que aquilo que muitas vezes os separa.
 

Depois de realizar outra viagem pelo Médio Oriente em 2009 (ainda com a Honda CBR1100XX Super Blackbird), João Luís embarca naquela que seria a sua maior aventura por África, em Maio de 2010 (41 anos), com a sua nova BMW R1200GS. A viagem foi-lhe proposta e inicialmente planeada para levar 16 motociclistas a assistir ao mundial de futebol na África do Sul (uma boa desculpa para ir ver a bola) mas, como muitas vezes acontece, o grupo foi ficando cada vez mais reduzido, até que João Luís acabou por ir sozinho... até Luanda. E que viagem.
 
Trajecto da viagem até Luanda pelo Leste de África, com a BMW R1200GS. Via 
 
Esta mediática aventura de ida e volta de Lisboa a Luanda pelo Leste de África (reportagem publicada na extinta revista Motociclismo n.º 291 de Julho 2015), foi realizada em 52 dias e passou por um total de 21 países. Neste trajecto de cerca de 25.000 km em forma de ‘J’ (de João), o motociclista português passou por Espanha, França, Itália, Eslovénia, Croácia, Sérvia, Bulgária, Turquia, Síria, Jordânia, desvio para Israel e volta, Egipto, Sudão, Etiópia, Quénia, Tanzânia, Moçambique, África do Sul, Namíbia e Angola.
 
No Cabo da Boa Esperança (África do Sul) com a BMW R1200GS. Via  
 
Nove dias depois de ter saído de Lisboa, João Luís chegou a Jerusalém onde se encontrou com o jornalista Henrique Cymerman (que reside em Tel Aviv), de quem tinha ficado amigo quando foi a Israel em 2007, para uma reportagem.
 

Nos anos seguintes e sem perder o ritmo das viagens, em 2012 vai até ao Leste da Europa (Rússia e Ucrânia) e em 2013 até ao Norte de África (Marrocos e Mauritânia), sempre aos comandos da BMW R1200GS. Até que em Junho desse mesmo ano de 2013, o azar bateu-lhe à porta e foi vítima de um grave acidente perto de casa, do qual não teve responsabilidade, mas que o deixou bastante maltratado. O resultado foram uns longos e sofridos 19 meses de baixa (17 deles de fisioterapia).
 
Depois do médico lhe ter dito que dificilmente voltaria a andar de mota, João Luís não desistiu e voltou a pegar na moto 9 meses depois, voltou a sair de Portugal de moto 15 meses depois (foi até aos Pirenéus) e voltou a partir para uma grande aventura em Agosto de 2015, a viagem com que sempre sonhou desde criança: O Caminho de Mota para a Índia.
 
Trajecto da longa viagem até à Índia. Via   
 
Aos 46 anos embarcou então numa longa viagem de cerca de 40.000 km, com a duração de 5 meses (uma semana de férias por cada mês que esteve de baixa), que o levou à Índia e às ex-colónias portuguesas de Goa, Damão e Diu (reportagem publicada nas revistas Motociclismo n.º 309 de Janeiro 2017 – 1.ª parte, Motociclismo n.º 310 de Fevereiro 2017 – 2.ª parte e Motociclismo n.º 311 de Março 2017 – 3.ª parte). Entrou em Mumbai (antiga Bombaim) e foi até ao Norte, Himalaias, desceu o território até Cochim e voltou a subir até Mumbai, onde colocou a moto num avião e voltou para o Dubai.
 
Para além da Europa, passou pela Turquia, Geórgia, Arménia, Irão, Dubai, Jordânia, Israel, deserto do Sinai e Egipto. A estadia no Irão foi fértil em peripécias, desde ficar quase sem dinheiro (acabou por pedir emprestado ao treinador de futebol do Tractor em Tabriz, o português Toni Oliveira, e posteriormente à funcionária Indirá Camotim da embaixada de Portugal em Teerão) até às festas loucas na capital Teerão. No Egipto teve o momento mais perigoso de toda a viagem, onde ficou retido durante um mês por suspeita de terrorismo e acabou por ser sujeito a um agressivo interrogatório por parte dos serviços de segurança.
 
Em Tabriz (Azerbaijão Oriental, Irão) com o treinador de futebol Toni Oliveira. Via  
 
A caminho do Karni Mata Temple em Deshnoke (Rajastão, Índia) com a BMW R1200GS. Via
 
No mês de Março de 2016 e após o (breve) regresso a Portugal, João Luís voltou ao Médio Oriente e a Israel para ir buscar a bagagem que lá tinha deixado antes de ter ido “dar um salto” ao Egipto. Em Yafo (Tel Aviv, Israel) teve um novo encontro com o jornalista Henrique Cymerman para mais uma reportagem. Em Maio e já em solo nacional, foi convidado do programa Agora Nós da RTP, onde partilhou algumas das histórias que viveu nesta aventura.
 

 
Uma das últimas iniciativas de João Luís foi A Maior Aventura. O objectivo foi ligar Portugal ao Senegal (Dakar), numa viagem de 12 dias por paisagens deslumbrantes desde o Atlas ao Sahara, em contacto permanente com a fauna e flora Africana. Contrariamente ao que é habitual nas suas viagens, esta aventura foi pensada para ser realizada em grupo, com gente que gosta e sabe andar de moto, mas que tem pouco tempo disponível para preparar toda a logística necessária. Assim e em Fevereiro de 2020, uma caravana de 5 motociclistas partiu em direcção ao que foi, certamente para a maioria, a maior aventura, contada aqui por um dos participantes.
 
‘A Maior Aventura’ de 5 motociclistas entre Lisboa e Dakar (ida e volta). Via 
 
A caravana atravessou Portugal, o Sul de Espanha, Marrocos, a sempre tensa “terra de ninguém” no Sahara Ocidental, a Mauritânia e por fim chegou a Dakar, no Senegal. Um das experiências marcantes desta expedição foi certamente a pernoita na aldeia de Joal (a sul de Saly, no Senegal) dos pais do Padre François Mbagnick Diouf, pároco do Vimeiro, no meio de palhotas e dos animais domésticos. O padre, de etnia ‘Serer’, é o único católico da família (os restantes elementos são muçulmanos), num país onde 90% da população é muçulmana e somente 5% é cristã, sobretudo católica.
 

Poucos meses depois, em Setembro de 2020, o infortúnio bateu de novo à sua porta. Desta vez foi um acidente em Omiš (a cerca 30 km de Split), na Croácia, do qual não teve mais uma vez responsabilidade e cujo resultado foram mais uns meses “no estaleiro” sem conseguir andar de moto. Até porque a sua fiel BMW R1200GS também não saiu ilesa desta situação.
 
Um contratempo (mais um) que certamente não será suficiente para impedir que João Luís continue a acumular muitos milhares de quilómetros por esse mundo fora, a solo ou na companhia de outros aventureiros. E pelos vistos projectos não faltam, já que adquiriu um Mercedes-Benz 190 para fazer expedições de Lisboa a Bamako (Portugal, Espanha, Marrocos, Mauritânia, Senegal, Mali).
 
Verdadeiramente inspirador para qualquer pessoa que goste de viajar... de moto e não só.
 

6 comentários:

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  3. Grande aventureiro!
    Joao Luis, que recupere de novo para andar de moto.
    Também já viajei muito pelo mundo, ainda este ano vou à Suíça de novo, mas África, não me convidem mais. Também já estive lá retido e nunca vi um Africano aqui retido por passear.
    Abraço

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    1. Já sem falar da polícia que nos manda parar apenas para nós extorquir.
      O branco em África se não tiver cuidado está tramado.

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