Quando era já um dos maiores importadores de motores Zündapp da Europa e pressionado pelo governo da altura (Direcção Geral da Indústria) para passar a fabricar os motores em Portugal, João Casal cria a empresa Veículos Casal, com instalações na zona industrial de Taboeira, Esgueira (Aveiro), com o objectivo de ser o principal retalhista nacional dos motores e motorizadas produzidas pela Metalurgia Casal (fábrica que nascia em 1964, graças a um alvará conseguido por João Casal para construir motores de combustão, motociclos e ciclomotores).
Apesar do pouco entusiasmo demonstrado pela Zündapp, foi graças ao empenho e know-how do Eng.º Robert Erich Zipprich, interlocutor do projecto e (recém reformado) director técnico da fábrica da Zündapp em Munique, que João Casal consegue fabricar os primeiros motores completos para venda, em Junho de 1966.
No final desse mesmo ano de 1966, a primeira motorizada completa a sair das instalações da Metalurgia Casal seria... uma scooter, a Casal S170 (motor Casal M153 de 50cc de turbina a 2T e 4 velocidades), fortemente inspirada na alemã Zündapp R50, o que não é de estranhar já que Zipprich tinha estado directamente envolvido no projecto e fabrico da R50.
Por sugestão das funcionárias da fábrica, o nome Carina (Querida) foi carinhosamente adoptado para o modelo, que passou então a designar-se oficialmente por Casal S170 Carina, o primeiro veículo motorizado de duas rodas integralmente fabricado (incluindo o motor) por uma marca portuguesa.
Poucos anos depois, em 1969, a Junta da Acção Social produz o documentário Scooter Sinfonia, um filme da série Indústrias de Portugal com cerca de 11 min. de duração sobre o fabrico da Casal S170 Carina. A realização é de António Ruano, com fotografia de Abel Escoto. A voz-off ficou a cargo do conhecido locutor de rádio, apresentador de televisão e actor Henrique Mendes.
Filmado nas instalações da Metalúrgica Casal, em Aveiro, a acção de Scooter Sinfonia é centrada nas diversas fases de produção da scooter nacional, desde os desenhos e esquemas do projecto aos testes finais da Carina, passando pela preparação do trabalho, pelo processo de fabrico das peças para o motor, quadro, carroçaria e vários componentes da ciclística, pela pintura e pela montagem (cada scooter levava cerca de 3.000 minutos – 50 horas – a ficar pronta).
Lembro-me de ter visto este documentário pela primeira vez na exposição Lá vai Ela, Formosa e Segura – Scooters da colecção de João Seixas – 1945 a 1970, que decorreu de Julho a Outubro de 2010 nas instalações do MUDE (Museu do Design e da Moda) em Lisboa, e de ter ficado impressionado com o nível de empenho e profissionalismo demonstrado pelos trabalhadores da fábrica (chegou a ter cerca de um milhar de funcionários e uma escola de formação profissional).
Apesar da fraca qualidade das imagens e do som deste vídeo (filmado directamente de um ecrã de televisão), não deixa de ser interessante ver este documento histórico e representativo do auge da indústria das motorizadas em Portugal.
Fontes: DaMoto Clássica n.º 5, SóClássicas n.º 73 e Horta das Vespas
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