segunda-feira, 5 de junho de 2023

Marroco Xperience Tour 2022 #3/10

Dia 3: Marrocos (Meknès – Agoudal)
 
Um amanhecer cinzento e húmido parecia confirmar as previsões de chuva para este 3.º dia do Marroco Xperience Tour 2022, que marcou o início de um outro Marrocos, mais profundo e genuíno. Começava o contacto com as montanhas e suas gentes, assim como com as aldeias berberes do Medio Atlas. O ponto alto do dia, literalmente, seria a chegada à localidade de Agoudal, situada a mais de 2.000 metros de altitude em pleno Alto Atlas.
 
Dia 3 – 350 km.
 
Com o pequeno-almoço tomado no hotel, fizemo-nos à estrada novamente à “hora que ninguém desconfia”, ou seja, por volta das 08:30. Desta vez o fato de chuva fez parte da indumentária, opção esta que mais tarde viria a revelar-se providencial.
 
Sempre com a ameaça da chuva a pairar no ar, a primeira paragem do dia foi na cidade de Azrou, nas montanhas do Médio Atlas, onde tomámos um chá de menta num café junto ao hotel Fath Annour e visitámos a floresta dos cedros e macacos selvagens (macaco-de-gibraltar, também conhecido por macaco-berbere). Estes curiosos e irrequietos primatas, habituados a pedir e roubar comida aos turistas, são uma das grandes atracções desta área.
 
Na floresta dos cedros (Azrou).
 
Macacos selvagens (Azrou).
 
Um pouco mais a sudoeste fica a localidade de Khénifra, capital histórica dos Berberes Zayanes. Ocupa um planalto que é atravessado pelo Rio Morbeia (Oum Errabiâ), que passa pela cidade, rodeada por quatro montanhas com mais de 2.000 metros de altura e que a isolam das regiões vizinhas. Foi com esta paisagem em fundo que nos sentámos à mesa para o almoço, no Restaurant Rania, para saborear as tagines e o frango assado da casa, acompanhados pelo habitual pão tradicional. Tudo bastante bom.
 
Almoço no ‘Restaurant Rania’ (Khénifra).
 
Foi depois já a caminho do majestoso Alto Atlas que o céu finalmente “desabou” sobre as nossas cabeças. E é quando as condições se tornam mais difíceis que a fragilidade, ou a menor confiança, de alguns acaba muitas vezes por se revelar. Foi o que aconteceu com um dos elementos do grupo, onde num gancho mais apertado e com o piso escorregadio acabou por cair. Felizmente que, para além do orgulho ferido, não houve consequências para o condutor e respectiva pendura.
 
A caminho do Alto Atlas com a chuva no horizonte.
  
O cenário não era o mais animador para uma viagem de moto por Marrocos, de facto, e passadas algumas horas de condução à chuva, parte da caravana mostrava-se um pouco apreensiva. Mas há que saber “dar a volta” à situação, até porque num país onde existem regiões e climas tão diferentes como montanhas, deserto e praias, este tipo de constrangimentos podem facilmente acontecer. Faz parte da aventura.
 
Os quilómetros foram passando e as condições mantinham-se pouco agradáveis. Já bastante molhados e desconfortáveis, efectuámos uma paragem para desanuviar e tomar uma bebida quente num café à entrada da aldeia de Aghbala, uma comuna rural situada a cerca de 1.700 metros de altitude.
 
Pausa molhada para tomar um café (Aghbala).
   
A viagem prosseguiu com cautela devido ao piso escorregadio e traiçoeiro que as estradas apresentavam. Já perto da vila e comuna rural de Imilchil, fomos uma vez mais surpreendidos por um grande ajuntamento de pessoas, numerosas tendas e veículos junto à estrada. Estava a ser desmantelado o moussem (festival dos noivados), que se realiza anualmente e durante três dias no final de Setembro. A data precisa depende da altura das colheitas, antes das primeiras neves deixarem muitas aldeias praticamente isoladas.
 
O moussem de Imilchil (Souk Aam ou Agdoud N'Oulmghenni ou Souk Aamor Agdoud N'Oulmghenni) é uma manifestação cultural de grande importância para a generalidade dos berberes de Marrocos, onde se misturam a mística e a arte, e onde não falta a música, dança, festas e roupa colorida. É o evento onde tradicionalmente os berberes de toda a região e arredores escolhem os futuros cônjuges e celebram os noivados no santuário de Sidi Ahmed El Mgheni (Sidi Ahmed Oulmghenni).
 
Passagem pelo moussem de Imilchil.
   
Pouco tempo depois avistávamos o Lac Tislit e o Lac Isli, dois lagos em altitude (acima dos 2.200 metros) no Alto Atlas onde as tribos berberes Aït Haddidou conduzem os seus rebanhos no verão. Acabámos por não parar, até porque o desconforto e a reduzida visibilidade nos impediam de apreciar a beleza deste local.
 
Seguimos então diretamente para o final etapa, na localidade de Agoudal, uma das aldeias de maior altitude em Marrocos, a mais de 2.300 metros acima do nível do mar. Localizada na cadeia montanhosa do Alto Atlas, Agoudal fica na junção das Gargantas do Dadès e do Todgha. O alojamento estava reservado para o Auberge Ibrahim, um conhecido local de pernoita de numerosos viajantes e expedições a Marrocos, que nos recebeu de forma calorosa.
 
Chegada ao alojamento no ‘Auberge Ibrahim’ (Agoudal).
   
O descanso da “guerreira” no ‘Auberge Ibrahim’ (Agoudal).
 
Depois de um merecido banho quente e com o equipamento da viagem a secar dentro do castiço quarto revestido a adobe, seguiu-se o jantar num ambiente familiar de convívio entre os presentes, que incluiu os restantes hospedes que aqui se encontravam alojados. A sensação que tive foi de estar num lugar especial, quase uma comunidade, gerido por uma equipa com genuína hospitalidade e calor humano.
 
Jantar animado no ‘Auberge Ibrahim’ (Agoudal).
  
As tagines e o pão marroquino foram as principais iguarias à mesa, servidas em ambiente tranquilo e de boa disposição. E nem mesmo uma ligação Wi-Fi de muito fraca qualidade impediu a alegria e o divertimento de todos, especialmente depois da grande animação que estava reservada para o final. Uma sessão improvisada de música tradicional berbere, acompanhada com instrumentos de precursão, surpreendeu o grupo pela sua proximidade e informalidade, terminando tudo numa grande festa. Muito bom!
 
Continua...

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