quarta-feira, 10 de maio de 2023

Marroco Xperience Tour 2022 #1/10

Após dois longos anos de espera devido às contingências impostas pela pandemia de COVID-19, em Setembro do ano passado foi finalmente para a estrada o Marroco Xperience Tour 2022, um evento mototurístico de aventura por terras marroquinas organizado pela empresa ADV Adventure Tours (Jorge Gameiro e Rui Baltazar), no qual tive o prazer de participar.
 

Considerando que uma viagem ao Reino de Marrocos sempre fez parte da minha bucket list (lista de tarefas a cumprir antes de “bater a bota”, ou em inglês kick the bucket), a espectativa era grande para este tour de 10 dias / 9 noites (3.400 km aprox.), que decorreu de 23 de Setembro a 2 de Outubro, pelo Marrocos profundo à descoberta das aldeias perdidas e dos oásis esquecidos, das suas gentes e costumes, da gastronomia e tradições.
 
Preparação e cuidados a ter
 
Para qualquer viagem por um país fora da Europa e do espaço Schengen, é importante ter em atenção que, para além dos documentos pessoais habituais, muito provavelmente haverá outra documentação que necessite de uma preparação atempada.
 
Assim e para Marrocos, o passaporte tem que ter, no mínimo, 3 meses de validade (não é necessário visto para portugueses em estadias de turismo até 90 dias). O registo da moto tem que estar em nome do condutor (caso seja de outra pessoa é preciso uma autorização / licença / registo escrita e carimbada pela embaixada / consulado marroquino). O seguro de danos contra terceiros tem que englobar o território marroquino (se a apólice não englobar, há que pedir a sua extensão, certificando que inclui o repatriamento do veículo e seus ocupantes para o país de origem).
 
Relativamente às condições sanitárias de entrada em Marrocos, à data foi necessário ter o Certificado de Vacinação (Covid-19) completo, ou seja, com todas as doses da vacina administradas de acordo com o esquema vacinal (em alternativa podia ser apresentado um teste PCR de deteção da infeção por Covid-19, efetuado menos de 72 horas antes da entrada, com resultado negativo). Foi também necessário levar a Fiche Sanitaire du Passager devidamente preenchida, para entregar às autoridades aduaneiras dentro do ferry.
 
Apesar de esta viagem decorrer no continente africano, para além das vacinas normais que se deve ter sempre em dia (tétano, hepatites, etc.), não são necessários cuidados de saúde especiais para viajar em Marrocos. Ainda assim é aconselhável levar alguma medicação adicional (anti-inflamatório, analgésico, anti-pirético, anti-histamínico, desinfectante para feridas, descongestionante para os olhos, etc.), juntamente com o imprescindível anti-diarreico para problemas gastro-intestinais, não vá o Diabo tecê-las... Regra de ouro: nunca beber água sem ser engarrafada (excepto se for fervida, com por exemplo no chá ou café).
 
No Marroco Xperience Tour, tal como a maioria dos tours organizados pela ADV Adventure Tours, o grupo de participantes segue em formato caravana, com um tour leader na frente, seguido, neste caso, de uma viatura de apoio logístico. Apesar de ser fornecido aos participantes o track de GPS com os percursos diários, indicação dos pontos de encontro e dos pontos de paragem para fotos, almoço, etc., é aconselhável levar também um mapa em papel, pois nunca se sabe quando é que os gadgets tecnológicos nos pregam uma partida e deixam de funcionar... logo no pior momento possível (a famosa Lei de Murphy).
 
Preparação para a viagem.
     
Embora seja um povo conservador, os marroquinos são por norma bastante afáveis e tolerantes para com os turistas e os seus hábitos. Mas para o dia-a-dia em Marrocos, é importante conhecer algumas das particularidades deste país, especialmente no que diz respeito à língua, à moeda e alguns costumes. Resumidamente:
 
Para além do Árabe e dos dialectos Berberes, o francês é bastante falado (genericamente usado) assim como o espanhol (maioritariamente no norte). Já o inglês é pouco utilizado.
 
A moeda oficial é o Dirham (Dh ou MAD), que vale aproximadamente 0,10 € (1 € é +- 10 Dh). Existem várias casas de câmbio para trocar dinheiro nas principais localidades e os bancos são sempre uma boa opção. Os cartões Electron funcionam perfeitamente para levantar dinheiro nas caixas automáticas (sujeito a taxa), mas são poucos os locais onde se podem utilizar para efectuar pagamentos. É sempre preferível pagar em dinheiro.
 
À semelhança da Europa, a distribuição de energia elétrica em baixa tensão em Marrocos é de 220 V / 50 Hz. As tomadas de energia são do tipo C e E (pinos redondos). Relativamente às telecomunicações, o indicativo internacional de Marrocos é o +212. As redes de telemóvel portuguesas têm roaming automático, mas pode ser mais vantajoso adquirir um cartão com um serviço de uma operadora local para usar no telemóvel pessoal (que naturalmente terá que estar desbloqueado). Nos hotéis e restaurantes é usual oferecerem Wi-Fi gratuito aos clientes.
 
Há ainda algumas regras que convém respeitar, nomeadamente evitar falar de assuntos relacionados com o Rei ou comentar a situação da região do Sahara Ocidental, vestir de forma mais “conservadora” quando visitar locais de culto (especialmente as mulheres) e não consumir álcool em público. Em caso de dúvida, a máxima ‘em Roma, sê romano’ é sempre um bom conselho.
 
Dia 1: Espanha (Badajoz – Sevilha – Tarifa) / Marrocos (Tânger – Arzila)      
 
Com o staff da organização aquartelado no Hotel Mercure Rio Badajoz, foi aqui definido o Ponto de Encontro 1 do Marroco Xperience Tour 2022. A partida ficou agendada para as 08:30 da manhã (hora local). Como não fiquei alojado nesta unidade hoteleira, a primeira parte da minha viagem foi uma madrugadora ligação de casa até Badajoz, numa tirada por autoestrada sem grande história. Já em Espanha e antes de chegar ao ponto de encontro, aproveitei para abastecer e assim ficar com a moto pronta para prosseguir a viagem.
 
Dia 1 – 485 km.
 
No estacionamento junto ao hotel foram dadas as boas vindas por parte dos organizadores e fizeram-se as apresentações entre os presentes (outros juntar-se-iam mais tarde ao grupo nos Pontos de Encontro 2 e 3). Enquanto decorria a logística associada à arrumação das bagagens, foi necessário assistir uma das motos que apresentava um furo no pneu traseiro, o qual foi devidamente reparado com a colocação de um taco. Seria um mau augúrio para o tour?
 
Ouvidas as indicações sobre o percurso e as recomendações para o dia, nomeadamente sobre a necessidade de disciplina nos horários e tempos de paragem para conseguir chegar ao Porto de Tarifa a tempo de apanhar o ferry das 16:00 (hora local), a caravana fez-se então à estrada rumo a sul e ao Ponto de Encontro 2, já depois de Sevilha.
 
No Ponto de Encontro 1 (Hotel Mercure Rio Badajoz), onde foi necessário reparar um furo antes do início da viagem.

Com o trajecto a ser efectuado maioritariamente por autoestrada, o grupo seguiu a bom ritmo pelo sul da Estremadura espanhola. Ainda antes de entrar na região da Andaluzia, foi efectuada uma pequena pausa na Área de Serviço junto a Monesterio para tomar um café. Retomada a estrada, cerca de uma hora depois veio então a paragem programada no Ponto de Encontro 2 (Área de Serviço Los Palácios) prevista para as 12:00 (hora local), onde aproveitei para abastecer a moto e comer qualquer coisa. Aqui juntaram-se ao grupo outros companheiros de viagem que optaram por este local para iniciar o tour.
 
Pequena pausa para um café na Área de Serviço junto a Monesterio (Espanha).
  
Aos poucos a caravana ia assumindo a sua configuração definitiva, mas ainda faltavam alguns elementos que se juntariam aos demais no derradeiro Ponto de Encontro 3 (Tarifa), com chegada prevista para as 14:30 (hora local). Sem perder o foco na necessidade de estar no porto de embarque 90 minutos antes da hora de partida do ferry, o resto do percurso decorreu igualmente sem sobressaltos, com as motos a rolarem em “velocidade de cruzeiro”.
 
A aguardar pela emissão dos bilhetes no Porto de Tarifa (Ponto de Encontro 3).
  
Chegados ao Porto de Tarifa e finalmente com o grupo completo (total de 27 participantes em 20 motos, mais organização), os responsáveis da ADV Adventure Tours trataram dos necessários formalismos para a emissão dos bilhetes para o ferry, bem como da restante burocracia exigida para a entrada em Marrocos, neste caso feita através da travessia marítima pelo Estreito de Gibraltar.
 
Prontos para embarcar no ferry com destino a Tanger Ville (Porto de Tarifa).
  
Já dentro do ferry e com as motos estacionadas, enquanto nos acomodávamos nas cadeiras foi distribuída uma Fiche d’Entrée a cada passageiro para, depois de preenchida, entregar às respectivas autoridades presentes no navio, juntamente com a restante documentação (Fiche Sanitaire du Passager e passaporte). Depois de cumpridas todas as formalidades e já com o respetivo carimbo de entrada no passaporte, ainda houve tempo para uma ida ao bar para enganar o estômago.
 
Após a travessia, para sair do Porto de Tanger Ville é necessário ter nova dose de paciência junto das autoridades locais para ultrapassar a burocracia e a apertada segurança sem atritos (não é permitido fotografar nem filmar neste local). Apesar de um pequeno problema com a documentação de uma das motos, no final tudo acabou por correr bem e lá entrámos em Tânger... para pararmos logo de seguida, numa prolongada visita a uma casa de câmbio para trocar dinheiro e comprar um cartão de uma operadora local de telecomunicações para usar no telemóvel (cartão + 5 Gb de dados por 100 Dh, 10 € aprox.).
 
O grupo tinha agora todas as condições para iniciar o desejado tour em solo marroquino. Estávamos em África! E o primeiro contacto com o quase caótico trânsito dos centros urbanos deu-se logo com a travessia da cidade de Tânger ao final da tarde. Com uma interpretação muito própria e descontraída das regras de trânsito, o melhor a fazer é seguir os demais (go with the flow), sem esquecer que os traços contínuos e as passadeiras são meras linhas brancas pintadas no asfalto, onde parar e dar prioridade não são propriamente obrigações a cumprir.
 
Cerca de uma hora depois chegávamos a Arzila, cidade costeira situada a cerca de 45 quilómetros a sul de Tânger. Esta estância balnear é muito popular principalmente para marroquinos, mas também atrai muitos turistas devido ao seu urbanismo tradicional, aos eventos culturais de verão e às suas fortificações originalmente construídas pelos portugueses, que a ocuparam entre 1471-1550 e entre 1577-1589.
 
Pôr-do-sol em Arzila.
     
Ficámos alojados no Hotel Al Khaima, logo à entrada da cidade, curiosamente perto de um posto de controlo de tráfego instalado pelas autoridades de trânsito. Esta é uma prática comum à entrada das vilas e cidades, com apertados controlos de velocidade por radares nas principais vias de acesso aos centros urbanos, como viríamos a constatar nos dias seguintes em muitos outros locais do país.
 
‘Hotel Al Khaima’ (Arzila).
  
O jantar de boas vindas decorreu no restaurante Casa Garcia, onde variados pratos de peixe serviram como transição culinária entre os sabores da cozinha ibérica e da condimentada gastronomia marroquina. No final, a organização efetuou o primeiro briefing deste Marroco Xperience Tour, ao qual se seguiu um pequeno passeio nocturno pelo emaranhado de ruas da zona antiga de Arzila, antes de regressar ao hotel.
 
Marginal de Arzila.
  
Continua...

Sem comentários:

Enviar um comentário