Na bela e agreste região do Nordeste
Transmontano, local de fortes tradições culturais e gastronómicas, os
diversos povos que ao longo da história habitaram estas terras, tais como os
Celtas, os Romanos ou os Árabes, deixaram a sua marca sob as mais variadas
formas, entre as quais também se encontram naturalmente as artes.
O isolamento a que esta zona do país foi votada durante bastante tempo e
a proximidade com Espanha ajudou a preservar os costumes e uma identidade muito
particular, que levou inclusive ao desenvolvimento de um idioma próprio, o Mirandês, oficialmente
reconhecida como a segunda língua de Portugal.
É neste cenário único do Planalto Mirandês, em pleno Parque
Natural do Douro Internacional, que está inserida a Vila de
Sendim (Miranda do Douro), onde anualmente tem lugar o Festival
Intercéltico de Sendim (FIS), festival internacional de música folk de inspiração celta que habitualmente
se realiza durante o primeiro fim-de-semana do mês de Agosto.
Para além
da música fortemente marcada pelo som característico das gaitas-de-foles, a
organização do FIS (Centro
de Música Tradicional Sons da Terra) promove também a cultura e as danças tradicionais
locais, onde se destacam os tradicionais Pauliteiros de
Miranda.
Igreja Matriz de Sendim.
A XV edição do FIS decorreu durante os dias 31 de Julho a 3 de
Agosto, este ano com a novidade da abertura do festival ter sido efectuada na Cidade
de Miranda do Douro, sede do concelho, com um concerto gratuito no Largo D.
João III.
Depois
das apresentações a cargo de Mário Correia (o principal rosto da organização e
o grande dinamizador do FIS), a música começou com a melodiosa sonoridade celta
da dupla escocesa Calum Stewart & Heikki Bourgault
(que voltariam a actuar na noite seguinte em Sendim), num agradável
espectáculo que contou ainda com a presença de Antón Davila da banda ‘Celtas
Cortos’ como convidado em alguns temas.
Boa actuação dos escoceses ‘Calum
Stewart & Heikki Bourgault’.
O mesmo já não se pode dizer da actuação dos conimbricenses Ginga,
numa noite para esquecer onde tudo, ou quase, correu mal.
Com um sistema de som que teimava em não funcionar
convenientemente e após uma longa espera para a tentativa de resolução do
problema, o grupo lá iniciou a sua actuação com um animado som de fusão folk/rock... até que a concertina de Arménio
Santa decidiu também não colaborar, resultando em mais um momento de vazio
sonoro até se resolver o seu problema mecânico. Enfim, um azar nunca vem só.
Actuação azarada dos
conimbricenses ‘Ginga’.
As celebrações sendintercélticas prosseguiram nos dias seguintes e já no
ambiente habitual da Vila de Sendim, com animação de rua a cargo dos gaiteiros
mirandeses (Lenga-Lenga: Gaiteiros de Sendim e
Grupo
de Gaiteiros da Lérias – Palaçoulo)
e mogadourenses (Lua Nova –
Gaiteiros de Mogadouro e Os Roleses: Gaiteiros de Urrós),
assim como dos Pauliteiros
de Sendim.
Na noite de Sábado (dia 2 de Agosto), a espectativa era grande
face ao cartaz anunciado pela organização (apesar de este ano actuarem apenas
duas bandas em cada noite... sinais da crise?), onde se destacava o famoso grupo
‘Celtas Cortos’ de Valladolid (Castilla y León).
Mas os
primeiros a subir ao Palco das Eiras seriam os cantábricos Cahórnega,
numa actuação de bom nível a entusiasmar o público presente no recinto.
Actuação de bom nível dos
cantábricos ‘Cahórnega’.
A surpresa surgiu de seguida com a subida ao palco do pequeno
conimbricense Fernandito Meireles de sete anos de idade, acompanhado do seu
violino e pelo bandolim tocado pelo seu pai Fernando Meireles (músico,
investigador e construtor de instrumentos – o único no país a fazer sanfonas),
numa demonstração de virtuosismo e alegria que contagiou tudo e todos.
Virtuosismo e alegria contagiante
do pequeno Fernandito Meireles.
Sem desprimor para os ‘Cahórnega’
(e para o Fernandito), a grande actuação da noite seria precisamente dos
veteranos e aclamados Celtas Cortos
que, liderados pelo carismático vocalista Jesús Cifuentes e num registo rock/celta
de grande qualidade, levaram ao rubro uma plateia conhecedora e participativa,
graças a uma presença em palco verdadeiramente empolgante.
Espectacular performance
dos ‘Celtas Cortos’ (Valladolid, Castilla y León).
Consagração final para todos
os elementos dos ‘Celtas Cortos’.
As celebrações prosseguiram noite dentro, em saudável convívio na
indomável Taberna dos Celtas e com
a animação espalhada um pouco por toda a Vila.
Festival
Intercéltico de Sendim... porque a folk merece um festival assim!
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