sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Made in Argentina

Com recursos naturais abundantes, um sector agrícola orientado para a exportação e uma base industrial relativamente diversificada, a Argentina, outrora a 10ª nação mais rica per capita do mundo, já teve a sua própria mota 100% fabricada no seu território. Chamava-se Tehuelche, foi apresentada ao público em Março de 1957 e produzida até meados de 1964.


Pormenor do motor da Tehuelche de Alberto Gomez (*) restaurada

A Tehuelche (designação de um grupo de tribos indígenas da Patagónia, os Tehuelches) foi um motivo de grande orgulho para os Argentinos, apesar de ter desaparecido da memória das gerações seguintes.



Criada, desenhada e construída por imigrantes italianos entusiasmados por motos, Juan Rafaldi e Roberto Fattorini, que se mudaram de Itália para a Argentina em 1949 juntamente com o seu amigo e colega Carlo Preda especificamente para este projecto, a mota tinha um design único e não copiava nenhuma outra. O motor foi desenvolvido em 1955 por Rafaldi e apresentava uma capacidade de 50cc, monocilíndrico a 4 tempos, SOHC, com arrefecimento a ar, sem bomba de óleo e totalmente construído em alumínio (algo muito pouco usado na altura em motos de estrada).


Publicidade da Tehuelche de 1957


Modelo Tehuelche de 1957

Durante o tempo em que foi produzida, a Tehuelche sofreu algumas modificações tanto ao nível estético como mecânico com vista à sua comercialização em larga escala (através de parcerias), surgindo com novos esquemas de cores, novos decalques e o aparecimento de um motor monocilíndrico igualmente arrefecido a ar com uma capacidade aumentada para os 75cc e 4,74 hp de potência.


Publicidade da Tehuelche de 1960


Modelo Tehuelche de 1960

Em 1062 eram fabricados dois modelos: a Sport e a Super Sport. Como resultado de uma das parcerias entretanto desenvolvidas, que detinha os direitos de importação das motas Italianas Legnano, foi introduzido um modelo da Tehuelche que foi designado de Legnano para aumentar o número de vendas, que vinha com um depósito de combustível diferente e um esquema de cores em vermelho e branco.


Tehuelche Super Sport de 1963


Tehuelche Legnano

As Tehuelche competiram em diversas provas locais com as outras motas “Argentinas” da época, que eram produzidas sob licença de diversas marcas Europeias com a Puma Primera e a Puma Segunda (da Guericke), a Zanella (da Ceccato) e a Gilera, entre outras, distinguindo-se não só pelo som característico do trem de engrenagens (distribuição SOHC), mas também pela excelente performance que apresentou durante a sua carreira desportiva.


(*) Tehuelche com Alberto Gomez (1964)

Ao fim de cerca de sete anos de produção, a enorme inflação registada na época, a instabilidade dos governos e outros problemas acabaram por levar a Tehuelche a fechar as suas portas. Cansados de lidar com todas estas condicionantes, Rafaldi e Fattorini decidem abandonar a sua parceria e estabelecem a sua própria oficina dedicada à preparação dos mesmos motores para motas de competição, para além de atenderem a clientela em geral. Nessa oficina fabricaram a “tapa 100”, uma cabeça para o cilindro de maiores dimensões relativamente ao que estava disponível, com melhor capacidade de refrigeração. Também incorporaram na mota uma bomba de óleo, distribuição por corrente para a árvore de cames e outros detalhes que melhoraram a performance da Tehuelche.




A primeira parceria estabelecida com o objectivo de comercializar a Tehuelche durou somente cerca de dois anos e saldou-se pela fabricação de pouco mais de 1.200 unidades. Uma nova parceria (com outros membros) deu seguimento à produção até meados de 1964, fabricando aproximadamente 3.500 motas, elevando o número total de Tehuelches produzidas para as quase 5.000 unidades. Deste total, não terão sobrevivido mais do que 100, das quais apenas cerca de 20 ainda funcionam, fazendo com que um exemplar em bom estado seja raro e altamente coleccionável, podendo valer quase € 10.000.

Fontes: Só Clássicas e Wikipedia

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