O conceito
E se a tecnologia que temos hoje, tal como a conhecemos, tivesse tomado um caminho diferente?
Como seria se a tecnologia do vapor da era Vitoriana (1837-1901), tivesse continuado até aos nossos dias, oferecendo-nos os mesmos dispositivos que utilizamos mas com o metal, as engrenagens e as rodas existentes nessas primeiras máquinas?
Esta é a ideia por detrás do conceito steampunk, ou seja, tecnologia actual e/ou futurista mas com um look da era do vapor.
O género steampunk pode ser explicado de maneira muito simples, comparando-o a literatura que lhe deu origem.
Baseado num universo de ficção cientifica criado por autores consagrados como Júlio Verne no fim do século XIX, ele mostra uma realidade espaço-temporal na qual a tecnologia mecânica a vapor teria evoluído até níveis impossíveis (ou pelo menos improváveis), com automóveis, aviões e até mesmo robôs movidos a vapor já naquela época.
Devido ao crescente interesse pelo estilo steampunk, muito artistas têm criado ou modificado tudo, desde computadores a relógios de pulso, com uma aparência de ficção cientifica vintage e onde o limite é apenas a imaginação, pelo que podemos encontrar alguns bons exemplos desta aparência no trabalho “cryptozoológico científico” do artista Alex CF, no filme de culto Dune de David Lynch, no filme Rocketeer de Joe Johnston, no filme The League of Extraordinary Gentlemen de Stephen Norrington, no filme de animação Steamboy de Katsuhiro Ôtomo, nos concertos da digressão mundial de 2005 Völkerball da banda Rammstein, etc.
Googles
Alex CF
Guitarra
“Dune”, David Lynch (1984)
Computador
Flash Drive USB (“pen”)
Rato USB
WebCam
“The League of Extraordinary Gentlemen”, Alan Moore and Kevin O'Neill (1999) – Aventura gráfica
“Edison Bar”, Los Angeles
Relógio de pulso
“Rammstein”, Völkerball (2005)
Abrangendo diversas vertentes tais como “Neo-Victoriania”, “Retro-futurism”, “Gas Lamp Fantasy”, “Voyages Extraordinaire”, “Scientific Romance”, ente outras, a cultura steampunk tem inúmeros entusiastas em todo o mundo e pode ser seguida na sua forma mais “light” através do Brass Goggles.
Diversos projectos originais sobre o tema steampunk podem ser apreciados através do Steampunk Workshop.
As motas
Todas estas criações têm uma aparência bastante cuidada, embora não sejam vistas muitas motos que se poderiam enquadrar na categoria steampunk, apesar de algumas se aproximarem (talvez mais por acaso do que propositadamente).
Nestes últimos anos e graças aos cada vez mais mediáticos Campeonatos Europeu e Mundial de Construtores de Motas Custom, o estilo "old scool" é muito apreciado e tem cada vez mais adeptos, possibilitando a criação de alguns trabalhos verdadeiramente notáveis de diversos construtores, como por exemplo a SE Service, a Chicara Art, a Cook Customs, a Sapkamüvek, a AFT Customs, etc.
“Copperbird”, SE Service
“Esox Lucius”, SE Service
“Hulster 8 Valvule”, SE Service
“Liquid Chrome”, Chicara Art
“Time Machine”, Sapkamüvek
“Nickel Bike”, Cook Customs
“ER Hed”, AFT Customs
O trike Bobster da Zeel Design, participante no Campeonato Mundial de 2006, tem fortes indícios deste estilo, com o latão e o cobre como dois fortes componentes do seu design.
“Bobster”, Zeel Design
A bastante original Oomega da Chemical Chopper, também ela participante no Campeonato Mundial de 2006, não esconde a inspiração Vitoriana em muitos dos seus detalhes.
"Oomega", Chemical Chopper
Alguns apontam também como um bom exemplo a extraordinária e exclusiva Confederate B120 Wraith e realmente quando a observamos com maior cuidado, algo que é sempre um prazer, verificamos que este conceito também está presente.
“B120 Wraith”, Confederate
Outro exemplo poderá ser a Aero Bike concebida por Jesse James da West Coast Choppers, onde predomina o seu motor radial Rotec de avião com 7 cilindros (basicamente é uma versão reduzida de um Wright Cyclone da 2.ª Guerra Mundial) com 2800cc de cilindrada (400cc e duas válvulas por cada cilindro) que debita uma potência de 110 hp, para um peso de 100kg e uma largura de mais de 80cm.
“Aero Bike”, Jesse James (West Coast Choppers)
E o que dizer desta fantástica 1909 HD com sidecar Electrolux concebida pelo artista Michael Ulman do Roslindale Open Studios – The Ulmans? Uma verdadeira steampunk.
“1909 HD”, Michael Ulman (Roslindale Open Studios – The Ulmans)
Não são conhecidos muito modelos de duas rodas propulsionados por um motor a vapor, como esta Steam Powered Bicyle de 1896 propriedade de Robert “Buck” Boudeman, encontrando-se a grande maioria deles em museus.
“Steam Powered Bicyle”, Sylvester Roper (1896)
Uma das grandes curiosidades deste modelo (infelizmente pelo pior motivo) reside no facto do seu criador, Sylvester Roper (construtor da primeira máquina de duas rodas auto-propulsionada da América, cuja apresentação pública da bicicleta a vapor ocorreu na sua terra natal de Roxbury, Massachusetts em 1869), ter falecido já depois dos 70 anos aos comandos da Steam Powered Bicyle de 1896 durante uma prova de velocidade na pista de 1/3 de milha de Charles River Park no dia 1 de Junho de 1896, conforme relatado pela imprensa da época.
“Steam Powered Bicyle”, Sylvester Roper (1896) – Emprensa
Mais recentemente (no verão de 2005) e a pedido de Pete Gagan, Paul Brodie lançou mãos-à-obra e construiu uma réplica bastante fiel desta Steam Powered Bicyle de 1896.
“Steam Powered Bicyle”, Paul Brodie – Réplica Sylvester Roper (1896)
Felizmente que nos dias de hoje ainda existem alguns entusiastas do vapor que decidem aplicar os seus conhecimentos e dedicação na concepção de veículos de locomoção, como é o caso de Geoff Hudspith que concebeu a Hudspith Steam Bicycle, apresentada ao público na Great Dorset Steam Fair que se realizou de 29 de Agosto a 2 de Setembro de 2001.
"Hudspith Steam Bicycle", Geoff Hudspith
Outro belo exemplo é a Field Steam Bike de 1908 completamente restaurada e propriedade de Henk van der Wal.
“Field Steam Bike” (1908)
O projecto Hubbard Steamcycle envolveu a recuperação de um exemplar de uma raça bastante rara de máquinas.
“Hubbard Steamcycle”, Arthur "Bud" Hubbard
Tem havido muito pouca exploração comercial da aplicação do vapor nos veículos de duas rodas, pelo que a maioria destas motas que têm visto a luz do dia são realmente protótipos únicos, construídos por amadores e entusiastas do vapor.
Esta Steamcycle não é excepção. Foi inicialmente construída por Arthur "Bud" Hubbard, durante o início da década de 1970, sobre um quadro de uma Maico de 1956 fabricada na antiga Alemanha de Leste.
“Hubbard Steamcycle”, Arthur "Bud" Hubbard (motor)
O seu motor foi fabricado à mão durante mais de 4 anos (com início em 1969), seguindo as indicações do artigo intitulado “A Design of a Steam Motor Cycle” da autoria de Thomas Hindle, publicado em Abril de 1918 na The Model Engineer and Electrician (dedicada a projectos práticos de mecânica e electricidade).
“Steampunk German Motorcycle”, Brösel (Rötger Feldmann) – BD
Esta interessante Steampunk German Motorcycle começou apenas como um desenho em BD relacionada com a personagem de ficção Werner, criada por Brösel (Rötger Feldmann) e que aparece em diversos livros e filmes de animação Alemães, tendo posteriormente passado a realidade através do irmão do artista que decidiu "dar-lhe vida".
“Steampunk German Motorcycle”, Brösel (Rötger Feldmann) – BD
“Steampunk German Motorcycle”
Este modelo na verdade não funciona a vapor, mas pelo seu aspecto exterior poderia parecer que sim.
O único cilindro do motor é proveniente de um velho tractor Deutz e apresenta uma cilindrada de 1440cc (imaginem como deverá soar em funcionamento!), os pneus e as rodas são de um Ford Modelo A, a forquilha é feita de madeira com cintas em ferro forjado e uma pá funciona como assento.
Engrenar a todo o vapor
Estes são apenas alguns exemplos de muitos outros que com certeza existirão por aí, reforçando a ideia que qualquer projecto que se centra sobre a mecânica com algumas engrenagens e rodas, acrescentado mais alguns materiais como o latão e o cobre, fica sempre um espectáculo.
O conceito steampunk incide muito mais sobre o design dos produtos sem se preocupar muito com o ganho (ou perda) de funcionalidade, mas quando se consegue conciliar estas duas componentes num único objecto, o resultado final poderá bem ser uma autêntica obra de arte.
É caso para dizer, VIVA A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL!
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