Dia 5: Marrocos
(Ouarzazate – Agadir)
Além das paisagens, outro dos grandes atrativos de Ouarzazate é a
qualidade da luz, com um sol brilhante pelo menos durante 300 dias por ano. Ora
foi com este autêntico boost de energia
que deixámos a cidade do cinema, uma vez mais à hora habitual (08:30).
O 5.º dia do Marroco Xperience Tour 2022 levar-nos-ia um pouco para fora
dos roteiros turísticos, prevalecendo o contacto com as gentes e disfrutando
das magníficas paisagens do Anti-Atlas, terminando já no litoral junto à costa
em Agadir.
A lista de produções cinematográficas filmadas na zona de Ouarzazate é realmente
bastante vasta, destacando-se alguns filmes e séries icónicas como Lawrence of Arabia (1962), The Jewel of the Nile (1985), The Living Daylights (1987), The Last Temptation of Christ (1988),
Kundun (1997), The Mummy (1999), Gladiator (2000), Kingdom of Heaven (2005), Prince of Persia: The Sands of Time
(2010), Game of Thrones
(2011-2019), Prometheus (2012),
entre muitas outras.
Mas a visita aos estúdios de
cinema ‘Atlas Corporation’ e ‘CLA’ não estava prevista neste tour. No entanto e
a cerca de 40 km de Ouarzazate, parámos no posto de combustível Gaz
Haven para conhecer de perto este cenário criado para o thriller de terror The Hills Have Eyes (2006).
Depois de saber que a narrativa do filme é sobre uma família viajante que é
vítima de um grupo de canibais mutantes num deserto longe da civilização, ao
percorrer o set quase fiquei com a
sensação de que talvez não estejamos sozinhos e que as colinas realmente têm
olhos. :)
A habitual pausa da manhã para beber o típico chá de menta foi efectuada
na cidade de Taznakhte, um importante
centro de tecelagem de tapetes berberes. O local escolhido foi um café ao lado
da loja de tapetes Espace
Zoukouni (cooperativa), loja esta que acabei por visitar e onde um dos
elementos do grupo fechou negócio para a aquisição de um tapete.
Em conversa com o vendedor sobre a agressividade de alguns marroquinos
na abordagem aos turistas, especialmente nos mercados das localidades mais
conhecidas e visitadas, como é o caso de Marrakech, achei muito curioso o seu
comentário: “à Marrakech ils ne sont pas
berbères, ils sont barbares” (em Marrakech não são berberes, são bárbaros).
Elucidativo.
Quase uma centena de quilómetros depois deu-se a passagem em Taliouine, localidade habitada
principalmente por berberes Chleuhs e conhecida como a cidade do açafrão
vermelho (a mais cara especiaria do mundo, utilizada na culinária, medicina,
cosmética e como corante e pigmento).
A zona do cultivo de Crocus
sativus (flor de cor lilás de onde é retirado o açafrão) distribui-se por duas
áreas principais do sopé Sudeste e Oeste do Maciço de Siroua, um maciço
vulcânico localizado na junção do Anti-Atlas e do Alto-Atlas. O célebre “ouro
vermelho” de Taliouine é cultivado em zonas um pouco afastadas da cidade,
principalmente entre as povoações de Tagouyamte e Aït Assine, tipicamente entre
os 1.200 e os 2.400 metros acima do nível do mar.
Esta região do árido Planalto de Souktana é também bastante abundante em
argânias, cujo fruto é uma
valiosa fonte de óleo de argão (para uso medicinal, cosmético e culinário). Tradicionalmente,
as cabras eram uma parte importante no negócio da produção de óleo, já que era
necessário que comessem o fruto, porque a dura noz passa ilesa pelo sistema
digestivo do animal. A excreção da cabra era então recolhida, e as sementes
moídas para extrair o óleo. Essa prática é eficaz, mas demorada e não pode
ser usada em grande escala, por isso atualmente são utilizados outros métodos.
As cabras trepam então às argânias, onde passam uma média de seis horas
por dia a alimentar-se dos seus frutos (os frutos encontrados nas árvores não
são comestíveis para os seres humanos, mas as cabras aparentemente adoram-nos).
Depois de consumirem os frutos junto ao chão, as cabras começam a subir para
alcançar os galhos mais altos das árvores.
Entretanto e durante a pequena paragem à beira da estrada para
fotografar as cabras empoleiradas nas argânias, reparei que uma das motos apresentava
uma valente amolgadela na jante da frente. Fiquei depois a saber que esta infeliz
situação foi a consequência de ter passado por cima de uma poça que afinal era
buraco cheio de água, durante a chuvada que apanhámos a caminho de Agoudal no 3.º
dia. É caso para dizer que uma desgraça nunca vem só!
Umas dezenas de quilómetros mais à frente, o Rio Asif Tifnout fez-nos depois
companhia até à cidade de Taroudante,
capital da província homónima e também conhecida como little Marrakech (pequena Marrakech), por fazer lembrar aquela
cidade em ponto pequeno, sobretudo devido às suas muralhas e à animada Praça
Assarag, uma espécie de Praça Jemaa El Fna em miniatura.
E foi precisamente para a Praça Assarag que toda a caravana se deslocou.
Era então o momento de ir almoçar. A escolha recaiu no Café
Restaurant Les Arcades, onde um couscous
de frango e umas brochettes de
bovino, com salada, pão tradicional e água, resultaram numa saborosa refeição
para duas pessoas por cerca de 160 Dh (16,00 € aprox.).
À saída do restaurante e apercebendo-se da nossa presença na praça, um encantador
de serpentes logo tratou de nos proporcionar um contacto (bem) próximo com
estes répteis rastejantes, a troco de algum dinheiro, claro.
A costa atlântica do sul de Marrocos já não estava longe. Por estas
paragens o grande destaque vai naturalmente para a cidade de Agadir (antigamente designada
Santa Cruz do Cabo de Gué – Cap Ghir), capital da região de Souss-Massa-Drâa e um
dos destinos turísticos mais procurados de Marrocos.
Uma das principais atracções de Agadir é o Parque Nacional
de Souss-Massa que abriga uma população de íbis-eremitas, espécie de ave em
extinção. Agadir, também conhecida pelas suas praias, com areais que se
estendem por dez quilómetros, tem um clima ameno, com sol durante quase todo o
ano, fazendo lembrar o nosso Algarve (tem inclusive geminação com a cidade
algarvia de Olhão).
Ficámos alojados no Anezi
Tower Hotel, a cerca de 400 m da praia, com uma grandiosa vista para o mar
e para o porto comercial da cidade.
Depois de um agradável passeio junto à água, ao longo de uma extensa zona
pedonal (Corniche Tawada) com inúmeras esplanadas e restaurantes, o final da
tarde proporcionou ainda um magnífico pôr-do-sol sobre as águas calmas do
Atlântico.
O jantar foi servido no hotel, ao que se seguiu o habitual briefing por parte da organização com as
indicações sempre úteis para o trajeto do dia seguinte. E para terminar o dia,
ainda houve tempo para assistir a um pequeno espectáculo de música e dança
berbere no bar do hotel que, para ser sincero, acabou por não me entusiasmar
particularmente (típico espectáculo para turista).
Continua...
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