Dia 6: Marrocos
(Agadir – Essaouira)
O 6.º dia do Marroco Xperience Tour 2022 começou de uma forma menos
agradável para o grupo. Infelizmente, a caravana deixava Agadir com menos um
elemento na comitiva, o qual teve que regressar antecipadamente a Portugal
devido ao agravamento do estado de saúde de um familiar. Por vezes, por mais
que consigamos planear as coisas, o inesperado acaba mesmo por acontecer,
originando situações que dificilmente conseguimos prever ou controlar.
Para todos os restantes, a viagem prosseguiu junto ao litoral, subindo
em direcção a Essaouira (Mogador), uma importante cidade costeira onde o
Património Português é bem vincado. Um curto trajecto com passagem no Tamri
National Park, conhecido pelas árvores de Argana, antes de chegar a Essaouira
para uma visita ao Forte Português que é património da Unesco.
A região Sul da costa atlântica marroquina desfruta de um clima que
banha o litoral com um sol ameno quase o ano todo. Esta é uma zona de veraneio
por excelência, onde se encontra inserida a localidade de Taghazout, a meio caminho
entre Agadir e o Cabo de Gué (Cap Ghir), uma estância balnear com belas e
amplas praias que oferece uma grande diversidade natural e famosos spots de surf.
A estrada panorâmica levou-nos depois pelo Tamri National Park, uma reserva
natural que se estende desde o Cap Ghir até junto à vila de Tamri. Durante o
trajeto, de repente deparámo-nos com uma pequena cáfila de dromedários a pastar
à beira da estrada. Foi naturalmente uma ocasião aproveitada para umas fotos,
com direito a um contacto muito próximo com o pastor e estes seus animais,
também conhecidos como camelos-árabe. Apesar de não termos visitado o deserto,
ainda assim conseguíamos estar perto de alguns camelos.
Na pequena localidade de Ourtoufellah fizemos a habitual pausa a meio da
manhã para tomar um chá de menta e aproveitámos para visitar a Coopérative
Argan Timgharine. Esta cooperativa de mulheres produz e comercializa óleo
de argão orgânico e seus derivados. O método tradicional é respeitado e os
visitantes podem assistir ao vivo à produção do óleo. Na loja é possível comprar
desde o puro óleo de argão a diversos produtos cosméticos produzidos a partir
dele, tais como sabonetes, cremes e o famoso Amlou, um doce creme de amêndoa
com mel e óleo argão puro, que faz parte da cozinha tradicional marroquina.
Extracção do fruto pelo
método tradicional para depois ser moído e extraído o óleo de argão (‘Coopérative
Argan Timgharine’ – Ourtoufellah).
Menos de uma centena de quilómetros depois, por volta do meio-dia, chegávamos
então ao destino final, a cidade de Essaouira (Mogador). E chegar
assim tão cedo ao fim do trajeto não foi por acaso, já que a organização
planeou uma experiência diferente para o almoço, aproveitando a disponibilidade
de peixe fresco e marisco nos restaurantes locais, para variar um pouco
relativamente aos sabores mais exóticos da comida marroquina.
Efetuámos primeiro o check-in
no carismático Hôtel
des Îles (local onde ficou alojado o famoso ator, realizador, escritor e
produtor norte-americano Orson
Welles durante a produção do filme Othello), ao que se seguiu um
almoço à beira-mar de peixe e camarão assados no carvão no Chez
Khalid (Calvados N.º 14), junto ao Porto de Pesca (o preço da refeição
completa para duas pessoas, com bebidas incluídas, foi acordado em 200 Dh – 20,00
€ aprox.).
Com a tarde livre e tendo apenas a hora de jantar como baliza temporal,
partimos à descoberta da zona histórica de Essaouira, classificada como Património
Mundial pela UNESCO. Esta cidade irmã de Cascais (acordo de geminação que visa
incentivar intercâmbios culturais, sociais e económicos) é considerada por
muitos como a estância de praia mais agradável de Marrocos. É conhecida pelos
amantes do windsurf pelos seus
ventos, o que está na origem do epíteto turístico “Wind City, Afrika”.
Os portugueses sob o comando de Diogo de Azambuja construíram aqui um Forte,
designado por Castelo Real de Mogador, em 1506. Em 12 de maio de 1510, o
soberano nomeou Nicolau de Sousa comandante vitalício, mas logo a seguir a
posição seria atacada pelos berberes. Em dezembro do mesmo ano, a praça teve de
ser abandonada, sendo a guarnição transferida para Safim. Em 1525 este castelo
foi ocupado pelos marroquinos. Até ao século XVIII era apenas em um pequeno
porto. Nessa época o sultão de Marrocos escolheu a localidade para ser o porto
exportador do país, passando a designar-se Essaouira.
É uma daquelas cidades costeiras onde as coisas boas da vida e as
actividades aquáticas se complementam. Caminha-se calmamente, à sombra das suas
muralhas e baluartes, onde ainda podem ser apreciadas as antigas peças de
artilharia portuguesas, assim como a primitiva igreja e as fortificações na
pequena Ilha de Mogador, fronteira com o porto.
Na sombra das paredes que rodeiam a cidade, talhadas com portões
monumentais, obras de arte e de defesa, e ladeadas por duas cidadelas (Squala
do Kasbah e Squala
do Porto), a caminhada levou-nos até ao centro para descobrirmos a Medina.
Aqui a cidade desenrola o entrelaçamento dos seus becos e vielas. Tal como o
velho Mogador que se tornou Essaouira, ela mistura influências, tomando
emprestado do Ocidente e do Oriente. Os riads
turísticos e os quartos de hóspedes, os souks,
as lojas tradicionais e o artesanato (móveis, objectos, arte) encontram-se espalhados
pelas suas ruas estreitas.
Ao virar numa esquina ou na curva de uma viela, podemos facilmente descobrir
uma curiosidade ou um elemento da herança histórica e cultural da cidade. Foi o
que acabou por suceder quando passámos por uma interessante fachada, cheia de
símbolos e curiosos pormenores arquitectónicos. Estávamos no ‘Hammam Pabst’, um
balneário público (banhos turcos) centenário (1336) utilizado por Orson Welles
durante a produção da sua adaptação para o cinema da tragédia de Shakespeare “Othello:
The Moor of Venice”, no início da década de 1950 (cenário para uma das cenas do
filme).
Esta obra, que ganhou o Grande Prémio do Festival de Cinema de Cannes em
1952, foi fruto de três anos de muito trabalho, durante os quais o realizador e
actor enfrentou a falência da sua produtora e uma filmagem atribulada. Contra
todas as probabilidades, sem nunca desistir do seu trabalho, acabou por
completar as filmagens. Uma grande aventura artística entre Orson Welles,
Mogador e os seus habitantes, a quem o filme muito deve.
Orson Welles amava Mogador e sua aura misteriosa. “O tempo que passei em Mogador foi um dos períodos mais felizes da
minha vida, apesar das lutas...”, referiu. Para os propósitos do filme e
para além do ‘Hammam Pabst’, a ‘Squala do Kasbah’ e suas salas abobadadas tornaram-se
antigas prisões. O Mercado
do Peixe, situado no centro da Medina, foi transformado em banho turco,
cujos vapores não são mais que fumos de incenso trazido da Igreja de Essaouira.
A magia do cinema...
As inúmeras ruas de comércio, cheias de lojas tradicionais, são os
locais ideais para adquirir algumas peças do rico artesanato local. Longe da
pressão quase avassaladora exercida pelos vendedores de outros locais
turísticos de Marrocos, aproveitei então para comprar uns souvenirs, sem no entanto esquecer que estava de moto e com espaço
de bagagem limitado.
Confesso que fiquei agradavelmente surpreendido com o ambiente de calma
e tranquilidade que senti ao percorrer as ruas da Medina de Essaouira. Mas entretanto,
o sol ia caminhando rapidamente para a linha do horizonte. O dia começava a dar
lugar à noite e era necessário regressar ao hotel para juntar todo o grupo e ir
jantar.
Terminada a refeição e depois do habitual briefing da organização, ainda houve tempo para regressar às ruas
estreitas da Medina para tomar um café e sentir o pulsar da vida nocturna da
cidade. Valeu.
Continua...
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