Dia 7: Marrocos
(Essaouira – Marrakech)
Com o pequeno-almoço tomado e a bagagem arrumada nas motos, deixámos Essaouira
uma vez mais por volta das 08:30, ou à “hora que ninguém desconfia”. E tal como
no dia anterior, a organização planeou um trajecto não muito longo até à exuberante
cidade vermelha de Marrakech, com o objectivo de deixar a tarde livre para
visitas e descoberta desta fantástica cidade imperial, a segunda visitada neste
tour. Para o final do dia
esperava-nos um jantar especial com noite temática.
Tirando algumas situações curiosas vistas na estrada, como o transporte
de gado bovino estranhamente acondicionado em cima de uma pick-up, a rota escolhida acabou por não ter grande história. A maior
parte da viagem foi cumprida maioritariamente por zonas pouco acidentadas, como
foi o caso da planície de Chiadma, de condução monótona e não muito entusiasmante.
Ainda assim, acabei por apanhar um valente susto quando se acendeu a luz
da reserva do combustível da moto, agravado com o passar dos quilómetros sem a
caravana mostrar sinais de querer parar para abastecer. A gasolina ia-se rapidamente
esgotando no depósito e foi já em ritmo bastante lento e muito afastado do
grupo que acabou por surgir um milagroso posto
de abastecimento, quando a moto indicava apenas (uns teóricos) 18 km
disponíveis... de um total de 380 km que o depósito cheio permite percorrer!
Ainda mal refeito das emoções do final da viagem, a entrada em Marrakech
despertou-me novamente os sentidos pela dimensão da cidade, pelo tamanho das
avenidas, e pelo volume de trânsito que nelas circula. É uma das cidades mais populares
e visitadas de Marrocos (se não mesmo a mais visitada).
Efetuámos primeiro o check-in
no muito agradável Zalagh
Kasbah Hotel & Spa e almoçámos no restaurante do hotel antes de partir
à descoberta das atrações turísticas de Marrakech, com a certeza de que a
Medina e os souks iriam fazer valer a
pena. Estávamos localizados sensivelmente a 5 km da famosa Place Jemaa El-Fnaa. Foi então para este
emblemático local da cidade que depois nos deslocámos, “arrumados” em vários petit-taxi (tipicamente para 3 ou 4
pessoas) tomados à porta do hotel, depois de negociado o preço da viagem.
A cidade de Marrakech
está localizada no centro de Marrocos, junto ao sopé Norte da cordilheira do
Alto Atlas. Foi fundada em 1062 por Abu Becre ibne Omar e é a quarta maior do
país, a seguir a Casablanca, Fez e Tânger. É apelidada de “cidade vermelha” ou “cidade
ocre” pela cor dos seus edifícios na Medina (classificada como Património
Mundial desde 1985), onde está concentrada toda a história local.
Com vários locais emblemáticos para visitar com o Jardin Majorelle, a Madrassa
Ben Youssef, os jardins da Mesquita Koutoubia ou o Jardin Secret, é no entanto
na Place
Jemaa El-Fnaa que tudo acontece (a praça mais movimentada e animada de África,
inscrita nas listas do Património Cultural Imaterial da Humanidade em 2001).
Aqui reúnem-se os locais e os visitantes: de dia com vendedores de sumos e
fruta (os sumos naturais de romã e de laranja são uma especialidade), à noite
com restaurantes e contadores de histórias, ao lado de encantadores de
serpentes.
Na zona Norte da praça situam-se os souks,
fontes intermináveis de estimulação sensorial. A variedade de cheiros, sons,
texturas, cores e sabores é impressionante e não deixa ninguém indiferente.
Estão abertos das 09:00 às 21:00 e a melhor altura para visitar é logo de manhã
ou ao final do dia, quando a temperatura é mais baixa e se torna mais fácil
percorrer as ruas da Medina.
Para os mais destemidos, uma sessão de compras é algo que não devem perder
em Marrakech. Há que ter então a arte da negociação bem oleada e estar
preparado para enfrentar o constante “assédio” que os vendedores exercem sobre
os turistas (lembrei-me logo da conversa com o vendedor de tapetes berberes em Taznakhte
no 5.º
dia: “à Marrakech ils ne sont pas
berbères, ils sont barbares” – em Marrakech não são berberes, são bárbaros).
Talvez um pouco exagerado, mais ainda assim...
Este foi, sem dúvida, um dos locais que até hoje me despertou maiores
sensações. Começa verdadeiramente a ganhar vida um pouco antes do pôr-do-sol
quando os comerciantes, artistas e variadas personagens se começam ali a
instalar. Esta é a altura ideal para encontrar um bom local para sentar no
terraço do Café
Glacier e tomar tranquilamente um chá de menta, embalado pelo som do
chamamento para a oração vindo do alto do minarete da Mesquita Koutoubia e a assistir
a um dos pores-do-sol mais fascinantes que já presenciei.
Com o cair da noite aproximava-se a hora do jantar. A organização tinha
definido o ponto de encontro para todos os elementos do grupo precisamente na
esplanada do ‘Café Glacier’, pelas 20:00, seguindo depois em comitiva até ao
restaurante. Ainda houve tempo para um breve briefing sobre o dia seguinte, onde nos esperaria uma surpreendente
aventura pelas ruas da Medina.
Com a promessa de um jantar especial com noite temática, as espectativas
foram largamente superadas quando entrámos no luxuoso restaurante Dar
Essalam. Um local magnífico, com vários salões ricamente decorados, cada um
com a sua particularidade arquitectónica e a sua história (numa das salas foram
filmadas cenas do filme The Man Who
Knew Too Much realizado por Alfred Hitchcock em 1956).
Fomos encaminhados para o Royal Salon, um espaço caracterizado por uma
imensa cúpula e uma fonte central, que apresenta todos os grandes padrões da
arte árabe-andaluza. A refeição recaiu num menu com diversos pratos da cozinha
marroquina, servidos com requinte, que incluiu variadas tagines, brochettes e couscous,
entre outros. Os sons ao vivo da música tradicional de Marrocos criaram um
ambiente a condizer, com animação garantida pela boa disposição do staff e pela performance dos artistas
com os seus espectáculos de dança.
A concluir a visita à vibrante cidade de Marrakech, seguiu-se um pequeno
passeio nocturno para ajudar na digestão, regressando depois ao hotel, uma vez
mais transportados em pequenos grupos pelos petit-taxi.
Continua...
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