Dia 8: Marrocos
(Marrakech – Casablanca)
Mais um dia repleto de aventuras e descoberta deste extraordinário país.
E tal como a organização tinha proposto na véspera, quem ficou interessado em
experienciar uma aventura de moto pelas estreitas ruas da Medina teve que sair
mais cedo do hotel, às 08:00, para chegar à Praça Jemaa El-Fnaa antes da
agitação habitual neste local. Os (poucos) elementos do grupo que não se
sentiram confortáveis em embarcar nesta aventura saíram 30 minutos depois,
juntando-se à caravana um pouco mais tarde.
Chegados então à Praça Jemaa El-Fnaa, esperava-nos uma emocionante
travessia de moto pelas labirínticas artérias da Medina de Marrakech. Foi
necessário alguma perícia para navegar por um autêntico entrelaçamento de becos
e vielas, percorridos por inúmeros transeuntes e veículos carregados com as
mais variadas mercadorias. No final, a saída da cidade velha fez-se aos
ziguezagues pela Bab Debbagh
(porta dos curtidores)! Um experiência surpreendente, sem dúvida.
Com as emoções em alta, deixávamos Marrakech com uma longa etapa pela
frente até ao final do dia. Seria um trajecto com mais de quatro centenas de
quilómetros novamente em direcção à costa atlântica, com a passagem do Alto
Atlas (junto ao Parque Natural do Alto Atlas) para o Médio Atlas, até à cidade
de Casablanca, conhecida como a capital económica de Marrocos.
Pessoalmente não acredito na teoria do destino, mas por vezes acontecem situações
que são, no mínimo, estranhas. No 1.º
dia do tour e ainda antes de a
caravana ir para a estrada, um furo no pneu traseiro de uma das motos parecia ser um
aviso sobre o que poderia estar para vir.
Vem isto
a propósito do infortúnio que atingiu a viatura de apoio
logístico, poucos quilómetros depois de ter saído de Marrakech. Uma pequena distração teve como consequência um
aparatoso despiste, com capotamento, que acabou por levar à perda total do
veículo. No meio da desgraça, felizmente que o condutor saiu praticamente ileso
do acidente, apresentando apenas algumas escoriações, graças a ter o cinto de
segurança devidamente colocado.
Foi um grande balde de água fria para todo o grupo. Uma verdadeira wake-up call (chamada de alerta) para os
potenciais perigos a que estamos sempre sujeitos, mesmo quando tudo parece correr
de feição. Nunca é demais lembrar que estar sempre atento é sem dúvida a melhor
das prevenções.
Enquanto as formalidades para a resolução da situação eram tratadas junto
das autoridades, o equipamento que se encontrava na carrinha foi distribuído
pelas motos, dentro do possível. O sempre útil apoio ao condutor foi prestado
por um dos elementos do grupo, que se voluntariou para ficar junto dele até as
coisas estarem minimamente organizadas. Ainda com muitos quilómetros para
percorrer, acabaríamos depois por prosseguir a viagem, com o tour leader a encabeçar uma caravana
apreensiva e preocupada.
Na zona montanhosa de transição do Alto Atlas para o Médio Atlas
situam-se as Cascades
D’Ouzoud, conhecidas pelas suas enormes quedas de água com cerca de
110 m de altura, a poucos quilómetros a sudoeste dos limites do Parque
Nacional do Alto Atlas Ocidental. O local é a maior atração turística da região
e as cascatas são as mais altas e frequentemente são referidas como as mais
espetaculares de Marrocos.
O vale abaixo das cascatas, onde existe uma espécie de piscina natural,
é luxuriante e o seu encanto é amplificado pelo facto de estar escondido, só
sendo visível no fim do caminho rodeado de oliveiras que lhe dá acesso. São as
oliveiras que dão o nome às cascatas, pois ‘ouzoud’ significa ‘azeitona’ na
língua berbere.
Ao redor das cascatas vive um grupo de macacos selvagens (macaco-de-gibraltar,
também conhecido por macaco-berbere), uma espécie ameaçada que apenas se
encontra em alguns lugares do Atlas (como na floresta dos cedros em Azrou que
visitámos no 3.º
dia, por exemplo) e no rochedo de Gibraltar. O seu atrevimento e interação
com os visitantes é outra das atracções do local.
Prosseguimos depois pela sinuosa estrada a caminho de Aït Attab,
atravessando o Alto Atlas Central num fantástico serpentear de curva e
contra-curva. Os ganchos apertados na descida da montanha obrigaram a uma
atenção redobrada para evitar surpresas. Já no sopé da cordilheira, percorremos
as ruas da vila em busca de um local para almoçar, acabando por “assentar
arraiais” no restaurante junto do posto
de combustível à saída da localidade. As tagines foram a iguaria escolhida para a refeição, acompanhadas
pelo saboroso pão tradicional marroquino.
Com mais de três horas ainda para percorrer até ao destino final do dia,
a caravana fez-se de novo à estrada. Entretanto, uma das BMW GS do grupo debatia-se
com problemas de aquecimento, com o radiador a perder água por uma pequena
fissura provocada por um embate de uma pedra. A solução encontrada foi a
substituição do radiador numa oficina local.
Ao aproximarmo-nos cada vez mais do litoral, atravessando a região de
Casablanca-Settat (planície de Chaouia, antiga região histórica e geográfica de
Marrocos), é notório o progressivo aumento na dimensão dos aglomerados
populacionais, acompanhado por um maior volume do tráfego rodoviário. Esta
sensação é fortemente ampliada quando se chega a Casablanca, a maior cidade
de Marrocos e uma das maiores do Norte de África.
Sendo o maior porto e o maior centro industrial e comercial de Marrocos,
é vulgarmente designada por capital económica do país. Tem como uma das cidades
irmãs a capital algarvia de Faro.
A cidade e a Medina de Casablanca como hoje existe foram fundadas em
1770 pelo sultão Maomé ibne Abedalá (1756-1790), neto de Mulei Ismail, no
seguimento da reconstrução do seu núcleo urbano que ficou destruído pelo terramoto de 1755.
A cidade tinha o nome de Dar el Beida (que significa ‘Casa Branca’ em árabe) e
Casa Blanca em castelhano. Foi depois ocupada em 1907 pelos franceses que
promoveram o seu desenvolvimento.
O conhecido filme Casablanca
(1942), mostra o estatuto colonial da cidade naquela época, como centro de
luta de poder entre as potências inimigas europeias, sem qualquer referência à
população local, e com um vasto naipe de personagens cosmopolitas (americanos,
franceses, alemães, checos e outros). Curiosamente, o famoso Rick’s Café
do filme nunca existiu na realidade. Mas devido à sua grande popularidade, em
2004 foi recriado o bar que ficou famoso por Humphrey Bogart e Ingrid Bergman neste
clássico do cinema.
Casablanca é a terceira maior cidade turística de Marrocos. Dos muitos
locais de interesse a visitar, destacam-se o Parque da Liga Árabe e Parque
Yasmina, a Praça Mohammed V, a antiga Catedral do Sagrado Coração de
Casablanca, a antiga Medina (Bab Marrakech), a estrada marginal e as praias
(Aïn Diab), o Museu Judaico de Casablanca (o único museu judaico no mundo
árabe) e a grande Mesquita Hassan II (construída entre 1986 e 1993, célebre
pelo grande minarete de 200 m e a terceira maior do mundo, depois das mesquitas
de Meca e de Medina), entre outros.
Perto da Praça das Nações Unidas e da antiga Medina (Bab Marrakech)
situa-se o Kenzi
Basma Hotel, local onde a caravana do Marroco Xperience Tour 2022 ficou
alojada. Após o jantar nesta unidade hoteleira, o briefing da organização sobre aquele que seria o derradeiro dia do tour em Marrocos revestiu-se de especial
importância, uma vez que o local e a hora para o embarque do ferry tinham sido alterados
de Tanger Ville para Tanger Med.
De seguida e para desentorpecer as pernas, seguiu-se um pequeno passeio
nocturno pela Place
des Nations-Unies e pelo Bab
Marrakech Flea Market, apesar de este último já se encontrar de portas
fechadas (encerra às 21:00). Fica para a próxima.
Continua...
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