Após dois longos anos de espera devido às contingências impostas pela pandemia de COVID-19,
em Setembro do ano passado foi finalmente para a estrada o Marroco Xperience Tour
2022, um evento mototurístico de aventura por terras marroquinas organizado
pela empresa ADV Adventure
Tours (Jorge Gameiro e Rui Baltazar), no qual tive o prazer de participar.
Considerando que uma viagem ao Reino de Marrocos sempre fez parte da
minha bucket list (lista de tarefas a
cumprir antes de “bater a bota”, ou em inglês kick the bucket),
a espectativa era grande para este tour
de 10 dias / 9 noites (3.400 km aprox.), que decorreu de 23 de Setembro a 2 de
Outubro, pelo Marrocos profundo à descoberta das aldeias perdidas e dos oásis
esquecidos, das suas gentes e costumes, da gastronomia e tradições.
Preparação
e cuidados a ter
Para
qualquer viagem por um país fora da Europa e do espaço Schengen, é
importante ter em atenção que, para além dos documentos pessoais habituais, muito
provavelmente haverá outra documentação que necessite de uma preparação atempada.
Assim e para
Marrocos, o passaporte tem que ter, no mínimo, 3 meses de validade (não é necessário
visto para portugueses em estadias de turismo até 90 dias). O registo da moto tem
que estar em nome do condutor (caso seja de outra pessoa é preciso uma
autorização / licença / registo escrita e carimbada pela embaixada / consulado marroquino).
O seguro de danos contra terceiros tem que englobar o território marroquino (se
a apólice não englobar, há que pedir a sua extensão, certificando que inclui o
repatriamento do veículo e seus ocupantes para o país de origem).
Relativamente
às condições sanitárias de entrada em Marrocos, à data foi necessário ter o Certificado
de Vacinação (Covid-19) completo, ou seja, com todas as doses da vacina
administradas de acordo com o esquema vacinal (em alternativa podia ser
apresentado um teste PCR de deteção da infeção por Covid-19, efetuado menos de 72
horas antes da entrada, com resultado negativo). Foi também necessário levar a Fiche
Sanitaire du Passager devidamente preenchida, para entregar às
autoridades aduaneiras dentro do ferry.
Apesar de
esta viagem decorrer no continente africano, para além das vacinas normais que
se deve ter sempre em dia (tétano, hepatites, etc.), não são necessários
cuidados de saúde especiais para viajar em Marrocos. Ainda assim é aconselhável
levar alguma medicação adicional (anti-inflamatório, analgésico, anti-pirético,
anti-histamínico, desinfectante para feridas, descongestionante para os olhos,
etc.), juntamente com o imprescindível anti-diarreico para problemas gastro-intestinais,
não vá o Diabo tecê-las... Regra de ouro: nunca beber água sem ser engarrafada
(excepto se for fervida, com por exemplo no chá ou café).
No
Marroco Xperience Tour, tal como a maioria dos tours organizados pela ADV Adventure Tours, o grupo de
participantes segue em formato caravana, com um tour leader na frente, seguido, neste caso, de uma viatura de apoio
logístico. Apesar de ser fornecido aos participantes o track de GPS com os percursos diários, indicação dos pontos de
encontro e dos pontos de paragem para fotos, almoço, etc., é aconselhável levar
também um mapa em papel, pois nunca se sabe quando é que os gadgets tecnológicos nos pregam uma
partida e deixam de funcionar... logo no pior momento possível (a famosa Lei de Murphy).
Embora
seja um povo conservador, os marroquinos são por norma bastante afáveis e
tolerantes para com os turistas e os seus hábitos. Mas para o dia-a-dia em
Marrocos, é importante conhecer algumas das particularidades deste país,
especialmente no que diz respeito à língua, à moeda e alguns costumes. Resumidamente:
– Para além do Árabe e dos
dialectos Berberes, o francês é bastante falado (genericamente usado) assim
como o espanhol (maioritariamente no norte). Já o inglês é pouco utilizado.
– A moeda oficial é o Dirham
(Dh ou MAD), que vale aproximadamente 0,10 € (1 € é +- 10 Dh). Existem várias casas
de câmbio para trocar dinheiro nas principais localidades e os bancos são
sempre uma boa opção. Os cartões Electron funcionam perfeitamente para levantar
dinheiro nas caixas automáticas (sujeito a taxa), mas são poucos os locais onde
se podem utilizar para efectuar pagamentos. É sempre preferível pagar em
dinheiro.
– À semelhança da Europa, a
distribuição de energia elétrica em baixa tensão em Marrocos é de 220 V / 50 Hz.
As tomadas de energia são do tipo C e E (pinos redondos). Relativamente às
telecomunicações, o indicativo internacional de Marrocos é o +212. As redes de
telemóvel portuguesas têm roaming
automático, mas pode ser mais vantajoso adquirir um cartão com um serviço de
uma operadora local para usar no telemóvel pessoal (que naturalmente terá que
estar desbloqueado). Nos hotéis e restaurantes é usual oferecerem Wi-Fi gratuito
aos clientes.
– Há ainda algumas regras que
convém respeitar, nomeadamente evitar falar de assuntos relacionados com o Rei
ou comentar a situação da região do Sahara Ocidental, vestir de forma mais “conservadora”
quando visitar locais de culto (especialmente as mulheres) e não consumir
álcool em público. Em caso de dúvida, a máxima ‘em
Roma, sê romano’ é sempre um bom conselho.
Dia 1: Espanha (Badajoz –
Sevilha – Tarifa) / Marrocos (Tânger – Arzila)
Com o staff da organização aquartelado no Hotel
Mercure Rio Badajoz, foi aqui definido o Ponto de Encontro 1 do Marroco
Xperience Tour 2022. A partida ficou agendada para as 08:30 da manhã (hora
local). Como não fiquei alojado nesta unidade hoteleira, a primeira parte da minha
viagem foi uma madrugadora ligação de casa até Badajoz, numa tirada por
autoestrada sem grande história. Já em Espanha e antes de chegar ao ponto de
encontro, aproveitei para abastecer e assim ficar com a moto pronta para prosseguir
a viagem.
No
estacionamento junto ao hotel foram dadas as boas vindas por parte dos
organizadores e fizeram-se as apresentações entre os presentes (outros
juntar-se-iam mais tarde ao grupo nos Pontos de Encontro 2 e 3). Enquanto
decorria a logística associada à arrumação das bagagens, foi necessário
assistir uma das motos que apresentava um furo no pneu traseiro, o qual foi
devidamente reparado com a colocação de um taco. Seria um mau augúrio para o tour?
Ouvidas
as indicações sobre o percurso e as recomendações para o dia, nomeadamente
sobre a necessidade de disciplina nos horários e tempos de paragem para
conseguir chegar ao Porto de Tarifa a tempo de apanhar o ferry das 16:00 (hora
local), a caravana fez-se então à estrada rumo a sul e ao Ponto de Encontro 2,
já depois de Sevilha.
No Ponto de Encontro 1 (Hotel
Mercure Rio Badajoz), onde foi necessário reparar um furo antes do início da
viagem.
Com o trajecto a ser efectuado maioritariamente por autoestrada, o grupo seguiu a bom ritmo pelo sul da Estremadura espanhola. Ainda antes de entrar na região da Andaluzia, foi efectuada uma pequena pausa na Área de Serviço junto a Monesterio para tomar um café. Retomada a estrada, cerca de uma hora depois veio então a paragem programada no Ponto de Encontro 2 (Área de Serviço Los Palácios) prevista para as 12:00 (hora local), onde aproveitei para abastecer a moto e comer qualquer coisa. Aqui juntaram-se ao grupo outros companheiros de viagem que optaram por este local para iniciar o tour.
Aos
poucos a caravana ia assumindo a sua configuração definitiva, mas ainda
faltavam alguns elementos que se juntariam aos demais no derradeiro Ponto de Encontro
3 (Tarifa), com chegada prevista para as 14:30 (hora
local). Sem perder o foco na necessidade de estar no porto de embarque 90
minutos antes da hora de partida do ferry, o resto do percurso decorreu igualmente
sem sobressaltos, com as motos a rolarem em “velocidade de cruzeiro”.
Chegados
ao Porto
de Tarifa e finalmente
com o grupo completo (total de 27 participantes em 20 motos, mais organização),
os responsáveis da ADV Adventure Tours trataram dos necessários formalismos
para a emissão dos bilhetes para o ferry, bem como da restante burocracia exigida
para a entrada em Marrocos, neste caso feita através da travessia marítima pelo
Estreito de Gibraltar.
Já dentro
do ferry e com as motos estacionadas, enquanto nos acomodávamos nas cadeiras foi
distribuída uma Fiche d’Entrée a cada
passageiro para, depois de preenchida, entregar às respectivas autoridades
presentes no navio, juntamente com a restante documentação (Fiche Sanitaire du Passager e passaporte).
Depois de cumpridas todas as formalidades e já com o respetivo carimbo de
entrada no passaporte, ainda houve tempo para uma ida ao bar para enganar o
estômago.
Após a
travessia, para sair do Porto de Tanger Ville é necessário ter nova dose de
paciência junto das autoridades locais para ultrapassar a burocracia e a
apertada segurança sem atritos (não é permitido fotografar nem filmar neste
local). Apesar de um pequeno problema com a documentação de uma das motos, no
final tudo acabou por correr bem e lá entrámos em Tânger... para pararmos logo
de seguida, numa prolongada visita a uma casa de câmbio para trocar dinheiro e comprar
um cartão de uma operadora local de telecomunicações para usar no telemóvel (cartão
+ 5 Gb de dados por 100 Dh, 10 € aprox.).
O grupo
tinha agora todas as condições para iniciar o desejado tour em solo marroquino. Estávamos em África! E o primeiro contacto
com o quase caótico trânsito dos centros urbanos deu-se logo com a travessia da
cidade de Tânger ao final da tarde. Com uma interpretação muito própria e
descontraída das regras de trânsito, o melhor a fazer é seguir os demais (go with the flow), sem esquecer que os
traços contínuos e as passadeiras são meras linhas brancas pintadas no asfalto,
onde parar e dar prioridade não são propriamente obrigações a cumprir.
Cerca de
uma hora depois chegávamos a Arzila,
cidade costeira situada a cerca de 45 quilómetros a sul de Tânger. Esta estância
balnear é muito popular principalmente para marroquinos, mas também atrai
muitos turistas devido ao seu urbanismo tradicional, aos eventos culturais de
verão e às suas fortificações originalmente construídas pelos portugueses, que
a ocuparam entre 1471-1550 e entre 1577-1589.
Ficámos alojados
no Hotel
Al Khaima, logo à entrada da cidade, curiosamente perto de um posto de
controlo de tráfego instalado pelas autoridades de trânsito. Esta é uma prática
comum à entrada das vilas e cidades, com apertados controlos de velocidade por
radares nas principais vias de acesso aos centros urbanos, como viríamos a
constatar nos dias seguintes em muitos outros locais do país.
O jantar
de boas vindas decorreu no restaurante Casa
Garcia, onde variados pratos de peixe serviram como transição culinária
entre os sabores da cozinha ibérica e da condimentada gastronomia marroquina. No
final, a organização efetuou o primeiro briefing
deste Marroco Xperience Tour, ao qual se seguiu um pequeno passeio nocturno pelo
emaranhado de ruas da zona antiga de Arzila, antes de regressar ao hotel.
Continua...
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