Oficialmente, Portugal só começou a ter um campeonato nacional de
velocidade para motos de 50cc a partir do início da década de 1970, mas as
corridas nacionais com máquinas desta cilindrada começaram bem antes, em meados
dos anos 50, quando foi criado um troféu, na altura também chamado de
“campeonato”. Para além da Pachancho,
a categoria era disputada pelas outras grandes marcas de ciclomotores da época
como a Alpino
e a Motom (através dos seus
importadores), juntamente com alguns montadores com motorizações Cucciolo (Ducati) e Lutz.
Cinal-Pachancho KSC de
competição (1958). Via
A luta entre as equipas dos importadores da Alpino e da Motom, que
contavam com o apoio das respectivas fábricas, prometia ser o centro das
atenções mas apesar da Alpino ter conseguido obter algumas vitórias, a grande
dominadora acabou por ser a equipa da Pachancho com as suas velozes máquinas superiormente
pilotadas por José A. Maia de Castro (“Taxista”), José da Silva Ferreira (“Silvinha”),
José Martins Ferreira (“Titarola”) e Fernando Pinheiro da Silva.
O prestígio da vitória na competição foi tal que estes quatro homens,
todos funcionários da Pachancho, tornaram-se verdadeiras atracções públicas,
sobretudo na cidade de Braga, a capital minhota onde a marca tinha a sua sede e
onde era uma verdadeira instituição.
Nesta época, a Fábrica Nacional de Pistões PACHANCHO – António Peixoto,
L.da era considerada a maior organização portuguesa da indústria metalúrgica
especializada em peças para motores. Para além dos pistões, produzia também segmentos
de vários tipos, camisas de cilindros, cavilhas para bielas, mangas de eixo,
molas, amortecedores e bronzes, entre outros, que abasteciam o mercado interno
e ultramarino, bem como alguns países para onde eram exportados, como a
Holanda, Brasil, Congo Belga, Suécia e Estados Unidos da América.
O seu fundador, António
Gomes do Vale Peixoto (“Pachancho” de alcunha), nascido a 25 de Dezembro de
1890, em Braga, de origem modesta, começou por se estabelecer numa pequena
oficina de serralharia mecânica na Rua de Santo André n.º 46, inaugurada em 20
de Outubro de 1920. Com o crescimento do negócio, no início da década de 1940
compra vastos terrenos em Infias, nos subúrbios da cidade, onde veio a ser
instalada a nova fábrica,
inaugurada em 1947 (documentário histórico Sinfonia Metálica de
1954, sobre a Fábrica Nacional de Pistões PACHANCHO).
A Pachancho lança-se em 1948 como fabricante de motores 50cc a 2T, mas
só a 2 de Maio de 1951 será concedida a licença de fabricação dos micromotores
para adaptar em bicicletas e motorizadas. Começam então a ser comercializados
os primeiros ciclomotores com motor Pachancho. Para além do modelo da própria
marca (o Otoxiep, ‘Peixoto’ escrito ao contrário, mais tarde alterado para 550),
a empresa vende grandes quantidades de motores para a fábrica Vilar e para a Famel
(montagens Vilar-Pachancho
e Famel-Pachancho).
Em Portugal já proliferavam motores italianos quando este começou a ser
vendido, mas a maioria eram fracos e o verdadeiro rival acabou por ser o Cucciolo
(Ducati), embora este motor a 4T fosse mais caro. O motor Alma, português de
raiz, apesar de mais barato era menos potente que o Pachancho e vibrava mais.
Entretanto a fábrica começa também a produzir motores
a 4T, industriais, para acoplar a bombas de água (grupos moto-bombas).
Para acompanhar a rápida evolução do mercado dos ciclomotores e modernizar
as suas máquinas com motor Pachancho, por volta de 1953/54 António Peixoto, que
já contava com os seus filhos na fábrica, especialmente com Zacarias do Vale
Peixoto, seu braço direito, decide fazer uma parceria com António Carvalho Araújo
(ACA, proprietário à data da Fábrica de Motores Alma) e formam a CINAL –
Consórcio de Indústrias Metalomecânicas Nacionais, com sede na Rua de Santa
Catarina n.º 620-624, no Porto. Com a ACA a fornecer as montagens e a Pachancho
os motores (tipo
‘P’ e tipo ‘KS’), é criada uma nova gama de motorizadas comercializadas sob
o nome Cinal-Pachancho.
Logotipo da Cinal Pachancho.
Via
(Revista DaMotoClássica n.º 5, página 24 – Agosto de 2008)
Em 1955, foi criada uma equipa de competição para promover a marca, com
máquinas preparadas pela própria fábrica. O combustível utilizado em competição
era a gasolina de 120 octanas com uma mistura (secreta) de óleo de rícino e
grafite. O carburador utilizado era um Dellorto-19S. O Magneto e velas eram
especiais e fornecidos pela Bosch. Estes motores eram de uma minúcia e precisão
fantástica para a época. Faziam 12.000 rpm e foram cronometrados na pista do antigo
estádio das Antas a 124 km/h.
Elementos da equipa oficial
Pachancho junto à carrinha de apoio. Via
A criação dos modelos de competição da Pachancho e a preparação dos seus
motores de 50cc foi, muito provavelmente, inspirada pela motorizada que José
Machado Gomes (proprietário dos Armazéns AIRAF, em
Lisboa) tinha concebido uns tempos antes utilizando um motor Pachancho.
Segundo José Gomes, em 1953, por ocasião de uma reunião anual de agentes
da fábrica de Braga (para onde se deslocou com a motorizada), António Peixoto
terá ficado muito intrigado com sua máquina e com o poder de aceleração da
mesma, ao ponto de lhe ter perguntado como tinha conseguido inverter o
cilindro, colocando o carburador à frente e o escape para trás. De regresso a
Lisboa, José Machado recebeu uma carta da Pachancho a felicitá-lo pela sua
motorizada, na qual, entre outras questões, inquiria sobre o contacto onde
tinha conseguido o carburador Dellorto.
Em termos desportivos, a prova de Montes
Claros (Lisboa) do campeonato nacional de velocidade de 1957 ficou para a
história pela esmagadora vitória da equipa Pachancho na corrida de 50cc que na
altura era, a par das scooters, a
categoria de motos de maior crescimento.
A concorrência era feroz e esta corrida de Monsanto acabou por ser
especial, porque a Pachancho, graças a uma estratégia digna de uma equipa
profissional dos dias de hoje, conseguiu conquistar o primeiro, o segundo, o
terceiro e o quinto lugar no final da corrida. O vencedor absoluto foi o piloto
José Ferreira (Titarola) #44, que curiosamente viria a assinar o seu nome no
livro de honra mesmo por baixo do nome do famoso piloto Juan Manuel Fangio,
vencedor da corrida
de carros de Sport que se realizou
nesta mesma data.
Graças à grande qualidade e excelência técnica das suas máquinas,
juntamente com a mestria dos seus pilotos oficiais, a Pachancho ganhou uma
enorme reputação desportiva, sagrando-se “Campeã Nacional de Velocidade” em
50cc entre os anos 1956 e 1959, superiorizando-se assim a toda a concorrência
durante a segunda metade da década de 50 do século passado.
Fontes: Pachancho, Livro
de Ouro do Comércio e Indústria de Portugal (1956), Motociclos Portugueses: “Um olhar do
design sobre 50 anos de produção”, As
Motos da Nossa Vida, DaMotoClássica
n.º 5, MotoClássica
n.º 27, MotoClássica
n.º 30 e SóClássicas
n.º 76
O meu pai está nestes 5 nomes, com muito orgulho.
ResponderEliminarSou o neto mais velho do Pachancho . Convívi com todos aqueles que competiram naquelas máquinas . Posso saber o nome a que se referiu ? . Apesar de poder ter á volta dos 86 anos , poderá ainda estar vivo . Jorge Pachancho
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