Dia 5 (14
de Setembro) – Noroeste da ilha
O quinto
dia da viagem à Madeira foi destinado à zona noroeste da ilha, começando com
uma visita ao interior da terra através das Grutas de São Vicente, passando por
um banho de mar nas Piscinas Naturais do Cachalote no Porto Moniz e regressando
à capital novamente pela Floresta Laurissilva e pelo planalto do Paúl da Serra,
desta vez pela sinuosa ER209, com interrupção a meio para uma nova passagem por
Serra de Água... e para uma segunda paragem estratégica! ;)
Funchal – São Vicente –
Cascata do Véu da Noiva (ER101) – Seixal – Porto Moniz – Ribeira da Janela –
Paúl da Serra – Serra de Água – Funchal.
Depois de
tomado o pequeno-almoço e ainda antes de arrancar para a estrada, foi necessário
ir ao centro do Funchal para fazer umas compras. Com cada vez mais coisas para
levar na bagagem (a viagem de regresso prometia...), cruzei-me com uma Bordadeira
numa das ruas da cidade e fiquei impressionado pela forma minuciosa e
perfeccionista como executava a sua arte artesanal, sentada à entrada da loja de um dos principais fabricantes e
exportadores do famoso Bordado
da Madeira. Que trabalho!
Os pouco
mais de 30 km que separam o Funchal das Grutas de São Vicente, a primeira
paragem do dia, decorreram sem grande história, a rolar tranquilamente ao longo
da Via Rápida 1 até à Ribeira Brava, apanhando depois a Via Expresso 4 que passa
pelo longo Túnel da Encumeada, um dos maiores do país, com 3,1 km de
comprimento.
Não há
dúvida que a construção destas infraestruturas rodoviárias veio trazer uma
maior valia para as deslocações dentro da ilha. A título de exemplo refira-se
que, antes da execução da via rápida e das vias expresso, para se fazer a
deslocação entre Funchal e Porto Moniz seriam necessárias 3 horas. Após a
construção destas vias, apenas são necessários cerca de 45 minutos.
O acesso
às Grutas e Centro do
Vulcanismo de São Vicente faz-se através de uma ponte pedonal sobre a
Ribeira de São Vicente, localizada
no lado oposto à zona de estacionamento (em relação à VE4) ao qual se chega pela
Estrada João Abel de Freitas. As visitas são realizadas de Segunda a Domingo,
das 10:00 às 18:00. Têm a duração de cerca de 30 minutos e são conduzidas por
guias especializadas. O seu preço é de 8,00 €.
Inauguradas
a 1 de Outubro de 1996, são as primeiras grutas de génese vulcânica abertas ao
público em Portugal. Formaram-se a partir de uma erupção vulcânica há 890 mil
anos atrás, ocorrida no Paúl da Serra, que depois foi descendo até ao mar. A
parte exterior ficou exposta a temperaturas mais baixas e solidificou
rapidamente, enquanto que por dentro a lava continuava a correr com muitos
gases, formando assim uma série de tubos de lava, que constituem as grutas de
São Vicente, onde é possível caminhar sobre eles. Este conjunto de oito “túneis
vulcânicos” apresenta um desenvolvimento total de mais de 1.000 m de
comprimento, cuja altura máxima varia ente 5 a 6 m, e é o maior que se conhece,
até agora, na Ilha da Madeira.
Continuando
a estrada e um pouco mais a baixo, na foz da Ribeira de São Vicente, situa-se a
curiosa Capelinha
de São Vicente. Foi construída num solitário bloco basáltico, no terceiro
quartel do séc. XVII (por volta de 1694), e posteriormente restaurada em 1885. Sendo
um dos principais ex-libris da vila, esta pequena capela foi construída graças
aos donativos dos devotos e por iniciativa de Inácio de Sousa. Segundo a lenda,
o santuário foi erigido no lugar onde apareceu o mártir São Vicente que é
também o padroeiro da igreja paroquial.
Ainda em São
Vicente, chegava aquela altura do dia em que era necessário fazer uma pausa
para “forrar o estômago”. Entrei numa pastelaria/padaria que me despertou a
atenção pelo bom aspecto dos seus produtos e pelo reconfortante aroma a pão,
bolos e café. Como também servia pequenas refeições tipo snack-bar, optei por
num Prego em Bolo do Caco acompanhado por uma Brisa Maracujá, servido numa esplanada
na marginal mesmo em frente ao mar e à praia de calhau. Valeu!
Seguindo
a ER101/VE2 em direcção a noroeste, sempre junto ao Atlântico, logo à saída do
Túnel de João Delgado surgem as indicações para o Miradouro
do Véu da Noiva. Situado no antigo traçado da ER101, este miradouro
mostra-nos uma das mais emblemáticas paisagens da Madeira. A partir deste ponto
podemos ver a Cascata do Véu da Noiva que, devido à sua altura e à carga de
água que jorra pela encosta abaixo, faz lembrar precisamente o véu de uma
noiva. Junto à cascata pode observar-se o que resta do antigo Túnel do Véu da
Noiva, que colapsou em 2008 devido ao recuo da arriba subjacente pela acção
erosiva do mar, envolvendo a parte da ER101 onde se situava o túnel e formando
uma pequena fajã na sua base.
Logo ali
ao lado fica o Seixal,
a maior freguesia do município do Porto Moniz em termos de área. Um dos muitos
encantos desta povoação é a sua pacatez, aliada à beleza de uma paisagem
pintada pelo verde da montanha e pelo azul cristalino do mar. Tal como a cidade
do Seixal no continente, a origem do seu nome surgiu devido à abundância de
seixos existentes nas praias. E falando de praias, é difícil resistir a um mergulho
nas piscinas naturais vulcânicas junto ao Cais (Poças das Lesmas e Piscina
Natural do Clube Naval), de onde se pode apreciar as belas vistas do mar e da
montanha, típico da costa norte da Madeira.
Mas não
foram estas piscinas naturais que me levaram a “provar” a água da Madeira. Isso
seria feito 10 km mais à frente, na vila do Porto Moniz (na ponta noroeste da ilha),
depois de uma subida ao Miradouro
da Santa pelas apertadas curvas em zig-zag
que a ER101 apresenta neste local. Deste miradouro temos uma vista privilegiada
sobre a vila, sendo possível observar as piscinas naturais vistas de cima e o
Ilhéu Mole.
O Porto Moniz é um destino
turístico bastante popular da Madeira. As principais atracções desta vila são
sem dúvida as piscinas naturais, as mais belas de toda a ilha, formadas pela
lava vulcânica e que são enchidas pela maré com águas cristalinas. Não só pelas
excelentes condições de banho que oferecem, mas também pela sua extrema beleza,
estas piscinas são ideais para relaxar, nadar, apanhar sol ou apenas para uma
visita.
À entrada
da vila, junto ao Aquário do Forte São João Baptista, ficam as Piscinas
Naturais do Cachalote. Ao contrário das Piscinas Naturais do Porto Moniz,
estas belas piscinas de origem vulcânica são de acesso gratuito mas não têm
vigilância salva-vidas, infraestruturas de apoio nem instalações sanitárias,
dispondo no entanto de duche exterior. Considerações à parte, foi neste local
bem mais tranquilo que acabei por “ir a banhos” e dei por muito bem empregue o
tempo aqui passado.
A Madeira
nunca foi grandemente influenciada pela actividade baleeira desenvolvida por
outros países, contrariamente aos Açores que nos séculos XVIII e XIX foram
visitados regularmente por navios baleeiros norte-americanos à procura de
cachalotes e aí recrutavam tripulantes para as suas caçadas em alto mar. Foi
essencialmente a partir da década de 1930 que começaram a ser criados os
alicerces para a caça
à baleia na Ilha da Madeira.
As
primeiras vigias seriam estabelecidas em 1940, uma no Porto Moniz e outra em
Machico, em pontos altos na costa com boa cobertura do mar para maximizar a
localização das baleias. Confirmada a presença de cachalotes (a espécie de
baleia de interesse para a actividade) ao largo do Porto Moniz, as baleeiras e
respectivas tripulações, que entretanto tinham sido enviadas dos Açores para
operar na Madeira, partiam em perseguição destes grandes cetáceos com arpões e
lanças, utilizando pequenos botes em madeira, propulsionados à vela e a remos.
A
operação baleeira na Madeira terminou no início da década de 1980, mas ainda
hoje podem ser observadas algumas das vigias que foram utilizadas na detecção
das baleias. E é precisamente das Piscinas Naturais do Cachalote que, através
de um tubo estrategicamente colocado, podemos descobrir antigas vigias da caça
à baleia.
Mas
estava na altura de iniciar a viagem de regresso ao Funchal. A via escolhida
foi a sinuosa ER209, a estrada regional complementar que vai desde a Ribeira da Janela até
ao Paúl da Serra pela costa norte, atravessando uma enorme mancha verde de
Floresta Laurissilva, e daqui até Canhas
pela costa sul. O piso nem sempre se encontra em perfeitas condições, é
verdade, mas vale bem a pena pelos bons momentos de condução e pelas belas
paisagens que proporciona.
Chegado
ao Paúl da Serra, no cruzamento com a ER110, debati-me com um dilema. Porquê
seguir já para o Funchal (via Canhas) quando posso fazer um desvio para, agora
sim, degustar condignamente a Poncha? Rapidamente a decisão foi tomada. Para a
esquerda é que é o caminho. Seguiria então em direcção à Serra de Água para um final
de tarde mais animado.
Na Taberna
da Poncha, são várias as opções à escolha para se tomar esta típica bebida madeirense.
As variantes são a Regional (com laranja ou limão), a Maracujá, a Pescador (com
limão) e a Tangerina. A minha preferida é a Regional com laranja, devidamente acompanhada
por um copo de amendoins que vão sendo descascados conforme o curioso ritual do
estabelecimento... para o chão!
A Taberna da Poncha com as
paredes interiores forradas a cartões-de-visita, fotos e outros adereços, Serra
de Água.
Algum
tempo depois (!?...) e já no Funchal, a noite escura acabou por servir de mote
para a escolha do local para jantar. Um saboroso Bife de Atum (acompanhado com
batata cozida e legumes) foi servido na pequena esplanada de uma estreita
travessa da zona velha, em ambiente tranquilo com atendimento simpático e
atencioso. Daqui seguiria para um pequeno passeio a pé pela zona da Marina,
aproveitando da melhor maneira as boas condições climatéricas que a Madeira
oferece a quem a visita.
Continua...
Sem comentários:
Enviar um comentário