terça-feira, 14 de outubro de 2025

Best Pirinéus Tour 2025 #3/8

Dia 3 (28/07/2025): Roses – Cabo de Creus – Andorra

Um extraordinário dia em perspectiva para o início das montanhas mágicas no Best Pirinéus Tour 2025.

Com partida simbólica da nossa Transpirenaica no Cabo de Creus, o percurso previsto para o 3.º dia levar-nos-ia a fazer passagens em vários pontos de grande interesse, bem como em col’s 1 emblemáticos da cordilheira, o Port Puymorens e o Port d’Envalira (Pas de la Casa), com entrada em França e saída para Andorra, local de pernoita com visita pela tarde.

Dia 3 – 295 km.

Devido às restrições existentes no acesso ao Cabo de Creus nesta altura do ano (fechado a veículos motorizados das 09h30 às 21h30, de 1 de Junho a 14 de Setembro), o Dia 3 do tour começou bem cedo, com o pequeno-almoço no hotel e as tarefas habituais (arrumação da bagagem na mota e lubrificação da corrente) realizadas a tempo da saída da caravana para a estrada, pelas 07h30.

Após uma curta ligação de cerca de 25 km, o inóspito Cabo de Creus (Cap de Creus, em catalão) recebeu-nos de forma bastante agreste, com um vento fortíssimo que por pouco não fez tombar as motas de alguns companheiros de tour menos atentos.

Neste promontório abrupto e rochoso de 672 m de altitude, que se ergue sobre o Mar Mediterrâneo e que constitui o ponto mais oriental da Península Ibérica (o ponto mais ocidental é o Cabo da Roca, que é simultaneamente o ponto mais ocidental de Portugal e Europa continental), ergue-se o Farol do Cabo de Creus (Far de Cap de Creus, no idioma catalão). Foi aqui que teve início a nossa Transpirenaica.

Farol do Cabo de Creus, o início da nossa Transpirenaica (Catalunha, Espanha).

Cabo de Creus, o ponto mais oriental da Península Ibérica (Catalunha, Espanha).

Tiradas as fotos da praxe, regressámos à estrada em direcção à Cordilheira dos Pirenéus, seguindo com atenção o track preparado pela organização. Na passagem por Figueres, cidade natal do conhecido pintor Salvador Dalí, junto à Casa Natal do artista e ao Teatro-Museu Dalí foi lembrada a figura e a obra de um dos maiores representantes do surrealismo.

Sensivelmente a um terço do percurso, chegávamos a Besalú. Localizada na região da Garrotxa, a cidade fica a poucos passos do cenário espetacular da Zona Vulcânica do Parque Natural de La Garrotxa, nos últimos contrafortes da parte oriental dos Pirenéus de Girona. O rico legado medieval aproxima o visitante tanto de construções religiosas quanto civis, bem como dos vestígios de um bairro sefardita que existiu nesta cidade durante a Idade Média.

Besalú foi designado como um conjunto histórico nacional em 1966. A sua característica mais importante é a ponte românica do Séc. XII sobre o Rio Fluvià, com o seu portão de entrada no ponto médio da ponte. Outro importante monumento é a igreja do Mosteiro de São Pedro, consagrada em 1003. A cidade possui ruas e praças arcadas, e também um mikvá restaurado, um banho ritual judaico datado a partir do Séc. XI, assim como o que resta de uma sinagoga medieval, localizados na parte inferior da cidade perto do rio.

Ponte românica sobre o Rio Fluvià (Besalú, Catalunha, Espanha).

Igreja do Mosteiro de São Pedro (Besalú, Catalunha, Espanha).

Cerca de 15 km depois, passávamos pela localidade de Castellfollit de la Roca, um dos municípios mais pequenos e pitorescos da Espanha, limitado pela confluência dos rios Fluvià e Toronell. Suspenso numa espetacular parede basáltica, pode ver-se a igreja e as casas de Castellfollit, que se transformaram numa das imagens mais populares da região, e o seu centro histórico, de origem medieval, composto por praças e ruas estreitas e umbrosas. Na extremidade do precipício encontra-se a praça-mirante Josep Pla, com uma impressionante vista panorâmica. A igreja de São Salvador, do Séc. XIII, o campanário de Sant Roc e especialmente o ambiente natural do povo, são as suas belezas mais destacadas.

Castellfollit de la Roca (Catalunha, Espanha).

Enquadrada por uma magnífica paisagem verdejante, a caravana ia percorrendo as estradas montanhosas da província de Girona em ritmo de turismo. A temperatura ambiente mantinha-se amena, distante dos valores elevados registados no 1.º e 2.º dias. Foi então com este agradável cenário que atravessámos a localidade de Ripoll.

Localizada na confluência dos rios Ter e Freser, a cidade agrupou-se ao redor do mosteiro beneditino de Santa Maria de Ripoll, fundado no Séc. IX. Este cenóbio românico é considerado um dos centros monásticos mais importantes da Catalunha medieval, devido fundamentalmente à sua atividade repovoadora. Nele se destaca o magnífico claustro e a igreja com um extraordinário pórtico do Séc. XII, que conserva interessantes relevos escultóricos com cenas bíblicas.

Além do mosteiro de Santa Maria de Ripoll, merece destaque a igreja de Sant Pere, do Séc. XII, com elementos pré-românicos e atualmente sede do Museu Etnográfico. A manufactura de pregos e armas foi a principal atividade económica da cidade e entre os Séc. XVI e XVIII foi um dos centros armeiros mais importantes da Europa. Com a chegada do comboio e da indústria têxtil, Ripoll conseguiu um novo impulso económico que se manteve até os dias atuais.

Entrada em Ripoll (Catalunha, Espanha).

Continuámos o trajecto pela comarca de Ripollès (Girona), rumando agora em direcção a Norte, com o Rio Freser a correr por perto, até uma oportuna paragem no Bar Restaurant El 9Llac para almoçar. Finda a refeição e com as motas atestadas na estação de serviço mesmo ali ao lado, nada melhor que umas boas curvas para ajudar na digestão.

E se o desejo era pelo aparecimento das curvas, elas acabariam por chegar em grande quantidade e para todos os gostos. Um verdadeiro regalo para quem gosta de andar de mota por estradas de montanha.

Pela comarca de Ripollès (Girona).

O track levou-nos depois em direcção à fronteira com França junto à vila de Puigcerdá, capital da comarca da Baixa Cerdanha, localizada num amplo planalto com vista para o Rio Segre. Puigcerdà conserva diversos monumentos interessantes, como a igreja gótica de Santo Domingo, do Séc. XV, com bonitas pinturas murais, o campanário gótico da desaparecida igreja de Santa Maria, a Plaza Mayor, com seus pórticos, além de diversas casas senhoriais, a Prefeitura e o hospital. Também tem muito apelo turístico o seu lago artificial, rodeado de choupos e construído na segunda metade do Séc. XIII.

Ao atravessar o Rio Raür, um afluente do Rio Segre, entrávamos então em território francês e no Parque Natural Regional dos Pirenéus Catalães. A apenas 4 km de distância fica uma das maiores curiosidades da região, a localidade de Llívia.

Llívia é um exclave de Espanha em França, rodeado na sua totalidade por território francês como resultado do Tratado dos Pirenéus de 1659, no qual a Espanha cedeu à França os 33 vilarejos das comarcas de Vallespir, Capcir, Conflent e a Alta Cerdanya, que hoje formam, juntamente com o Rossilhão, o Departamento Francês dos Pirenéus Orientais. Como ficou fora deste tratado por se tratar de uma vila e não de uma aldeia, privilégio concedido pelo imperador Carlos V, continuou sob a soberania do rei espanhol.

Entrada em França e no Parque Natural Regional dos Pirenéus Catalães.

Há medida que nos aproximávamos da alta montanha, sentia-se a claramente temperatura ambiente a começar a baixar. Em pleno Departamento Francês dos Pirenéus Orientais, numa região onde nos meses de Inverno o esqui é rei, passámos por Port Puymorens e pelo conhecido Col de Puymorens (1.915 m de altitude), um dos mais emblemáticos da cordilheira. Por aqui passou também a 15.ª etapa do Tour de France 2021.

Andorra, a terra dos Pirenéus, já não estava longe. Este microestado soberano europeu, oficialmente Principado de Andorra, seria o terceiro país percorrido pelo Best Pirinéus Tour 2025 num só dia. É importante ter em atenção que antes da entrada em Andorra convém desligar os dados móveis dos telemóveis para evitar surpresas desagradáveis, pois trata-se de um país que não é membro da União Europeia (embora tenha adotado o euro como a sua moeda oficial) e não tem roaming com Portugal.

Chegados a Pas de la Casa, um resort e uma estação de esqui que se encontra praticamente sobre a fronteira Andorra-França, o trajecto apresentava duas opções: seguir pela sinuosa estrada de montanha com passagem no Port d’Envalira, ou pelo mais cómodo Túnel d'Envalira com portagem (o mais alto da Europa). Felizmente que a opção tomada foi a primeira, acabando por ser o ponto mais elevado atravessado durante o tour, a 2.408 m de altitude. Aqui a temperatura desceu até aos 8 ºC...

O destino final do dia seria a cidade de Andorra-a-Velha (Andorra la Vella, em catalão), a capital mais alta da Europa, a uma altitude de 1.023 m acima do nível do mar. O nome “Vella” não significa “velha”, mas sim uma forma arcaica da palavra “Vila” (o nome pretendia distinguir entre a localidade e o país homónimo ou demonstrar a sua condição de capital do principado).

A população da cidade é muito diversa: Espanhóis (43%), Andorranos (33%), Portugueses (11%), Franceses (7%) e outras comunidades minoritárias (6%). A língua oficial em todo o principado é o catalão, embora o espanhol e francês também sejam habitualmente falados. O turismo (estima-se que cerca 10,2 milhões de turistas visitem o país anualmente) e o comércio (as marcas internacionais têm em Andorra isenção de impostos) são as suas principais actividades económicas.

Foi no Sercotel Delfos Andorra, localizado mais propriamente em Escaldes-Engordany (a paróquia andorrana mais populosa a seguir a Andorra-a-Velha, com a qual forma uma área urbana contínua), que ficou alojado todo o grupo do Best Pirinéus Tour 2025. Novamente sem a possibilidade de estacionar as motas nas imediações, a questão foi resolvida com a colocação das motas no estacionamento coberto do hotel (a custo, igualmente suportado pela organização).

Depois de uma pequena confusão com o pagamento da taxa turística, prontamente resolvida pela organização, e com os cartões de cidadão temporariamente “retidos” na recepção para preenchimento dos dados associados à reserva dos quartos (!?), deixámos o hotel para um pequeno passeio para conhecer a cidade.

No centro histórico destaca-se a Casa de la Vall (antigo parlamento) que contrasta com o moderno Parlamento vanguardista. Os apreciadores da arte românica não devem deixar de visitar a Igreja de Santa Coloma e a Ponte Medieval de Margineda sobre o Rio Valira. Um pouco mais acima, em Escaldes-Engordany, situa-se uma fonte de água termal, a Fonte de Roc del Metge, que brota entre 68 °C e 71 °C. Mas é o comércio concentrado na Av. Meritxell/ Av. Carlemany que faz verdadeiramente vibrar a cidade, com lojas para todos os gostos.

Andorra-a-Velha (Andorra).

Fonte de Roc del Metge (Escaldes-Engordany, Andorra).

Uma vez mais devido à oferta local ao nível da restauração, a organização optou por não juntar o jantar ao alojamento no hotel. Assim, cada um pôde escolher o que mais lhe apetecia comer. Foi então no Restaurant 120 que acabámos por nos sentar à mesa, de onde, no final, acabei por sair sem ter ficado particularmente entusiasmado, nem com a comida nem com o serviço.

Com o cair da noite e antes de regressar ao hotel, esperávamos ver ainda bastantes lojas abertas na zona, tal como acontece em muitas cidades turísticas espanholas. Constatámos, no entanto, que por volta das 20h00 as lojas já se encontravam encerradas, não deixando oportunidade para umas compras de última hora no final do dia.

Continua...

____________________

1 Um passo (pass), colo (col), porto ou portela (port) é um local de transposição de uma montanha ou de uma cadeia de montanhas, geralmente o ponto mais baixo entre dois picos do respectivo sistema montanhoso.

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Best Pirinéus Tour 2025 #2/8

Dia 2 (27/07/2025): Horche – Roses

Este segundo dia do Best Pirinéus Tour 2025 marcou a aproximação à Cordilheira dos Pirenéus. O destino seria a cidade costeira de Roses, na província de Girona (comunidade autónoma da Catalunha), com chegada pela tarde para descansar e aproveitar para um passeio de final de dia.

Com mais de sete centenas quilómetros para percorrer, o trajeto foi, tal como no dia anterior, maioritariamente efetuado em autoestrada. Apesar de ser uma viagem mais monótona e relativamente pouco interessante, é a forma mais eficaz de “despachar” quilómetros quando se quer chegar a um destino longínquo em tempo útil.

Dia 2 – 710 km.

Impunha-se então um despertar madrugador para não comprometer o horário de saída, numa viagem que se previa ser longa e desgastante. Com o pequeno-almoço tomado, as bagagens arrumadas na mota e a corrente devidamente lubrificada (há que não descurar a manutenção), a longa caravana de 26 participantes em 22 motas iniciou a marcha por volta as 08h00.

Os quilómetros foram paulatinamente ficando para trás, com as motas como que ligadas umas às outras por um cordão umbilical invisível, que ia esticando e encolhendo de acordo com o trânsito ao longo do trajecto. Sempre que necessário, foram efectuadas paragens nas áreas de serviço das autovias/autopistas para abastecer as motas, satisfazer as necessidades fisiológicas e comer qualquer coisa.

As necessárias paragens em áreas de serviço das autovias/autopistas.

Numa jornada sem grande história, a verdade é que não existiram muitos motivos dignos de registo para quebrar a monotonia da viagem. Algumas das situações que mais chamaram a atenção prenderam-se com a passagem pelos característicos Touros de Osborne, figuras habituais nas paisagens espanholas que, distribuídas um pouco por todo o território e com o passar do tempo, se tornaram num símbolo cultural do país vizinho. De realçar ainda a passagem pelo Meridiano Greenwich 1, em plena AP-2 entre Saragoça e Lérida (41°30'41.3"N 0°00'04.3"W), assinalado pela presença de uma estrutura em forma de arco sobre a autopista.

A tarde ia chegando ao fim e com ela terminava também a viagem do Dia 2 do Best Pirinéus Tour 2025. Encontrávamo-nos no extremo leste da Península Ibérica, na cidade balnear de Roses. Tão formosa como seu próprio nome, esta antiga colónia grega está situada na costa Norte do Golfo de Roses, inserida num cenário natural espectacular. Além de praias de areias brancas, Roses abriga fortificações do século XVI, túmulos megalíticos e muitas comodidades modernas.

Cidade balnear de Roses (Catalunha, Espanha).

O Hotel Risech, com uma localização privilegiada no centro de Roses e mesmo em frente à praia, acolheu os participantes do tour. Sem a possibilidade de estacionar convenientemente as motas nas imediações, esta contingência foi ultrapassada com a colocação das motas num estacionamento coberto que o hotel detém nas proximidades (a custo, oportunamente suportado pela organização).

Para rentabilizar o tempo até à hora de jantar e aproveitar da melhor maneira um final de tarde que se mantinha com temperatura elevada, seguiu-se um tranquilo passeio para conhecer um pouco mais sobre este importante centro turístico. E se na movimentada marginal o destaque vai para os hotéis, os restaurantes, as praias e os portos (pesqueiro e desportivo), é nas menos vistosas ruas interiores da zona urbana que podemos sentir o pulso ao modo de vida dos habitantes locais.

Costa norte do Golfo de Roses.

Zona urbana de Roses.

Igreja paroquial de Santa Maria de Roses (1792-1995).

Dada a grande proximidade de Roses com o território francês (a apenas 40 km da fronteira), não é de estranhar o elevado número de turistas oriundos deste país que aqui vêm passar as suas férias, em plena Costa Brava, desfrutando de um clima mediterrâneo com temperaturas médias acima dos 30 ºC durante o Verão.

Marginal de Roses.

Devido à vasta oferta local ao nível da restauração, com restaurantes e casas de tapas para todos os gostos, a organização achou por bem não juntar o jantar ao alojamento no hotel. Assim, cada um ficou livre para escolher o que mais lhe apetecia comer. E acabou por ser na esplanada do Restaurant Trinitat, numa das ruas interiores, que acabámos por nos deliciar com uma saborosa paella valenciana, pois claro.

Sabendo que a saída no dia seguinte teria de ser efectuada bastante cedo, devido aos constrangimentos no acesso ao Cabo de Creus que são impostos nesta altura do ano, ainda ouve tempo para um novo passeio para ajudar na digestão do jantar e apreciar as vistas de Roses by night.

Roses by night.

Continua...

____________________

1 Geograficamente, Espanha estaria no fuso horário GMT (Greenwich Mean Time, ou a Hora de Greenwich, em português), assim como Portugal, Reino Unido e França. Durante a Segunda Guerra Mundial, todos esses países adotaram o horário de Berlim (GMT+1), por diferentes motivos. Quando a guerra acabou, em 1945, o Reino Unido e Portugal voltaram à Hora de Greenwich, enquanto França e Espanha mantiveram-se uma hora adiantados.

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Best Pirinéus Tour 2025 #1/8

As montanhas da Cordilheira dos Pirenéus formam uma fronteira natural entre Espanha e França. Separam assim a Península Ibérica do território francês, com o Principado de Andorra incrustado entre estes dois grandes vizinhos. Estende-se por aproximadamente 430 km, desde o Golfo da Biscaia, no Oceano Atlântico, até ao Cabo de Creus (extremo oriental de Espanha continental), no Mar Mediterrâneo.

Mapa topográfico dos Pirenéus. Via

Ora, quando a empresa G2 Aventuras Ilimitadas (Jorge Gameiro) decidiu organizar um tour de moto pelos Pirenéus, fiquei naturalmente entusiasmado e não pude deixar passar a oportunidade de riscar esta viagem da minha bucket list (lista de tarefas a cumprir antes de “bater a bota”, ou em inglês kick the bucket).


O Best Pirinéus Tour 2025 teve início no final do mês de Julho, cumprindo um programa de 8 dias/7 noites (3.500 km aprox.), de 26/07/2025 a 02/08/2025, com a premissa de ligação de cabo a cabo através da conhecida Transpirenaica (do Cabo de Creus ao Cabo Higuer).

O plano passava por percorrer zonas de grande beleza, em ambiente de alta montanha e de deslumbrantes vales, através dos parques naturais dos Pirenéus Espanhóis e Franceses (Parc Naturel des Pyrénées Catalanes, Parc Naturel de l`Alt Pirineu, Parc Nacional D`Aiguestortes, Parc Nacional de Ordesa e Monte Perdido, cidades históricas e património da Unesco, entre outros).

Tal como na maioria dos tours em moto, o grupo de participantes seguiu em formato caravana, com um tour leader na frente (aqui sem viatura de apoio logístico, pelo que as bagagens tiveram de ser transportadas, obrigatoriamente, pelos participantes). Para além de ter sido fornecido o track de GPS com os percursos diários, indicação dos pontos de encontro e dos pontos de paragem para abastecimento, etc., um mapa em papel é sempre uma mais-valia para a eventualidade dos gadgets tecnológicos nos pregarem uma partida e deixarem de funcionar... logo no pior momento possível (a sempre irritante Lei de Murphy).

Apesar do tour ter decorrido em plena época de Verão, para além do equipamento necessário e imprescindível para garantir a segurança de condutor e passageiro (capacete, blusão, luvas, calças e botas), incluir o fato de chuva na bagagem é um must. É que face às características particulares da zona onde se desenrola, nunca se sabe quando é que os deuses da montanha acordam maldispostos...

Dia 1 (26/07/2025): Ligação a Horche

O primeiro dia do Best Pirinéus Tour 2025 foi de ligação, cumprida maioritariamente em autoestrada, para garantir uma melhor rentabilização do tempo da viagem e a optimização do evento. O destino seria a localidade de Horche, um município espanhol na província de Guadalajara, comunidade autónoma de Castilla-La Mancha.

A partida teve lugar na madrugada de Sábado, dia 26, com os participantes a fazerem-se à estrada de diferentes locais do território nacional, a solo ou em pequenos grupos, em direcção ao primeiro ponto de encontro em território espanhol, que a organização definiu com sendo na Área de Serviço de Badajoz (Autovía del Suroeste). Um local de acesso mais central, e já de caminho, para facilitar a junção da maioria do grupo (outros, no entanto, optaram por ir directo para Horche).

Dia 1 – 480 km.

Depois de cumprida a principal função da paragem com o abastecimento das motas, não foi necessário perder muito tempo com as apresentações dos participantes, nem com as recomendações para o dia. A grande maioria já se tinha encontrado num almoço convívio promovido pela organização cerca de um mês antes do início do tour, onde foram esclarecidas algumas dúvidas e recapitulados os tópicos da viagem.

Então, com a lição bem estudada e num fuso horário diferente (GMT+1), apenas restava retomar a estrada (autovia) para continuar o percurso rumo a Horche, até porque a temperatura ambiente estava gradualmente a aumentar e a previsão apontava para valores acima dos 30 ºC.

Ponto de encontro e abastecimento na Área de Serviço de Badajoz (Autovía del Suroeste).

A caravana seguiu a bom ritmo em direcção à região de Madrid (sempre dentro dos limites legais, claro), seguindo a preceito o track fornecido pela organização. Nos locais previamente estabelecidos, foram efetuadas as necessárias paragens estratégicas para o abastecimento das motas, satisfazer as necessidades fisiológicas e comer qualquer coisa.

No final da tarde chegávamos então ao município de Horche, uma vila localizada no planalto de La Alcarria (a 895 m acima do nível do mar), junto ao vale do rio Ungría, um afluente do rio Tajuña. A cerca de 4 km do centro da vila situa-se o Hostal Rural La Fuensanta, o destino final do dia. Num cenário rural idílico, esta unidade hoteleira revelou ser um local perfeito para relaxar da viagem e recarregar energias.

Hostal Rural La Fuensanta (Horche, Castilla-La Mancha, Espanha).

Com todo o grupo já todo reunido e com as primeiras peripécias do tour a servirem de mote para o convívio entre os presentes, pouco depois das 20h00 foi servido o jantar no hotel, evitando assim uma deslocação propositada à vila para este efeito.

De forma descontraída e bastante informal, foram dadas as boas-vindas por parte da organização a todos os participantes do Best Pirinéus Tour 2025. Foram também transmitidas algumas recomendações para o dia seguinte, nomeadamente sobre a necessidade de disciplina nos horários de saída para não comprometer o programa estipulado.

Jantar de boas-vindas no Hostal Rural La Fuensanta.

Após um pequeno passeio noturno pelas imediações do hotel para esticar um pouco as pernas e facilitar a digestão do jantar, não demorou muito tempo até recolher aos aposentos, sabendo que no dia seguinte teríamos novamente uma longa etapa pela frente, com largas centenas de quilómetros para percorrer, até perto do local de início da nossa Transpirenaica.

Continua...

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Mário Kalssas RIP

Nome icónico do desporto motorizado nacional, Mário Jorge da Rocha, conhecido no meio como Mário Kalssas, faleceu na manhã do dia 13 de Agosto de 2025 com 68 anos de idade, vítima de doença prolongada. A alcunha vem da parte do bisavô e foi durante a carreira desportiva que optou pela mudança para o seu nome de marca, com o K e os dois SS.


Multi-campeão nacional de motocross, o antigo piloto, natural e residente em Vagos, tornou-se um dos grandes nomes da modalidade nos anos 70 e 80. No seu palmarés contam cinco títulos nacionais – campeão de motocross em 250 cc (1987 e 1988) e em 500 cc (1987, 1988 e 1989). Foi ainda vice-campeão nacional por oito vezes.

Representou Portugal em todas as competições internacionais por seleções organizadas sob a égide da Federação Internacional de Motociclismo – Motocross das Nações (França, 1988), o Troféu das Nações (Suécia, 1984) e a Taça das Nações (Itália, 1981 e 1982 e Suíça, 1983). Esta presença constante em provas internacionais faz de Kalssas um dos dois únicos pilotos portugueses a competir em todas as edições realizadas.

Mário Kalssas começou a praticar a modalidade em 1973, em Vagos, na classe de 50 cc e com apenas 16 anos. Em 1974 surgiu a primeira prova (integrada nas festas locais), onde levou uma Casal 50 cc preparada pelo próprio ao segundo lugar. No ano seguinte, em 1975, surge o convite da E.F.S. para participar no campeonato nacional de juniores com uma 50 cc, ficando em 2.º lugar. Em 1976 e ainda com a E.F.S., integra o campeonato nacional de seniores numa 50 cc. Nesse mesmo ano começa também a correr em 125 cc, com uma Montesa. Acabaria por ser um ano menos conseguido, terminando em 4.º lugar.

Nas épocas de 1977/78/79, obteve bons resultados com uma Casal-Villa (rebranding da italiana Moto Villa 250 cc, uma das melhores motos de cross competição da época), conseguido conquistar por duas vezes o vice-campeonato. Em 1980 correu pela Forvel, classificando-se em 3.º lugar. Em 1981 e 1982 foi 2.º (Honda) e 3.º (Yamaha) em 125 cc, respetivamente. No ano de 1983 foi vice-campeão em 125 cc (Yamaha) e 3.º em 250 cc (Suzuki e Honda). Em 1984 foi 3.º em 125 cc (suzuki) e vice-campeão em 250 cc (suzuki).

Em 1985 deixa as 125 cc (por limite de idade) e, para além das 250 cc, começa também a correr com as 500 cc. Nesse ano é vice-campeão nas 250 cc (Yamaha) e 4.º nas 500 cc (Kawasaki). Em 1986 foi 3.º em 250 cc (Yamaha) e os anos de glória surgiriam em 1987/88/89 (Honda). Após 17 anos de competição, Mário Kalssas retirou-se das pistas no final da temporada de 1990 com um 3.º lugar em 250 cc e o vice-campeonato em 500 cc. Organizou depois uma escola de pilotagem, enquanto promovia diversas corridas de MX e SX.

R.I.P.

segunda-feira, 16 de junho de 2025

IX Lisbon Motorcycle Film Fest

A 9.ª edição do Lisbon Motorcycle Film Fest (LxMFF) aconteceu nos passados dias 16, 17 e 18 de Maio no emblemático Cinema São Jorge. Foram 3 dias de celebração da cultura motociclista, com filmes, exposições, conversas com ilustres convidados, um passeio noturno e a transmissão em directo de corridas do Campeonato do Mundo de Superbike.

Ao fechar da cortina, o sentimento da organização não podia ser outro senão o de dever cumprido, salientando que “num fim de semana em que tudo aconteceu em Lisboa e em Portugal – desde vias cortadas por causa dos festejos no Marquês do Pombal no Sábado, às eleições legislativas no Domingo – conseguimos convencer quase 1.500 pessoas a entrar nas várias sessões, ao longo dos 3 dias. Este é sem dúvida um número que superou as nossas melhores expectativas.”

Cartaz oficial do LxMFF 2025, criado pelo ilustrador Pedro Lourenço (Tigre Bastardo). Via

Para não ser surpreendido como aconteceu na edição de 2024, ainda para mais com a presença de um convidado internacional mediático na programação deste ano, resolvi adquirir antecipadamente os bilhetes para as sessões dos dias que tinha escolhido assistir ao LxMFF, na Sexta-feira (dia 16) e no Sábado (dia 17). Acabei por ter de fazê-lo online, uma vez que encontrei a bilheteira fechada quando me desloquei ao Cinema São Jorge, e sem qualquer indicação no local sobre o seu horário de funcionamento (?!).

Com a questão dos bilhetes arrumada, no final da tarde de Sexta-feira rumei então ao Cinema São Jorge para a abertura do festival, agendada para as 21h00. Juntei-me assim às muitas centenas de motociclistas que quiseram participar na festa, neste (já grande) evento de renome internacional que celebra a paixão pelas duas rodas e pelo cinema.

Grande afluência de motas no IX LxMFF.

Como já vem sendo hábito, os motociclistas tiveram um espaço à disposição para deixarem os seus capacetes e blusões (desta vez não no bengaleiro, mas na Sala 2), circulando assim mais à vontade para disfrutar do cenário alusivo à temática do evento montado nos foyers (piso 0 e piso 1) do Cinema São Jorge. Nestes espaços encontravam-se cinco motas em exposição:

Ducati XDiavel V4.

BMW R12 G/S.

Moto Guzzi V7 Sport.

BMW R12 S.

Honda CB1000 Hornet SP.

À hora programada, a equipa organizadora do LxMFF deu as boas-vindas de forma calorosa a todos os espectadores, motociclistas e não só, que marcaram presença na Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge, para assistirem à programação do primeiro dia do evento.

As boas-vindas dadas pela equipa organizadora do LxMFF.

Na sessão nocturna inaugural (bilhete: 5,00 €) foi exibida a longa-metragem Angels of Dirt (86’), realizada por Wendy Schneider (E.U.A.). Com um misto de inspiração e desgosto, a realizadora traça a vida e a carreira da espantosa Charlotte Kainz, uma “small-town girl” que cresce entre os pilotos e mecânicos das boxes de uma pista de motociclismo do Wisconsin rural. Desenvolvendo um gosto pela velocidade e um talento para as corridas de Flat Track desde os quatro anos deidade, a jovem Charlotte nunca olha para trás. Filmado ao longo de 17 anos, este documentário íntimo e envolvente é um retrato abrangente de uma jovem destemida com um desejo inato e uma aptidão para vencer num desporto que muito poucas mulheres, muito menos jovens raparigas, alguma vez pensaram em competir. “Angels of Dirt” segue a busca improvável e imparável de Charlotte para ser a melhor num desporto dominado por homens. Com base em filmes “caseiros” pessoais, emocionantes filmagens de corridas e entrevistas reveladoras com amigos, familiares e lendas do mundo das corridas, este é um documentário que emociona e inspira o público a perseguir os seus sonhos, o mais rápido que puderem.

Fazendo parte do grupo de convidados internacionais ligados à realização dos filmes que estiveram no LxMFF, a americana Wendy Schneider subiu ao palco no final da exibição do documentário para uma curta conversa sobre a sua produção.

Curta conversa com Wendy Schneider, realizadora do filme ‘Angels of Dirt’.

Depois da sessão de abertura e uma vez mais à Sexta-feira (e não no Sábado como era habitual), por volta das 22h30 chegava um dos momentos mais aguardados do LxMFF: andar de moto, por algumas das mais belas ruas e avenidas da cidade de Lisboa. Trata-se da Lisbon Night Ride, um passeio nocturno com início e fim no n.º 175 da Avenida da Liberdade, onde todas as motos são bem-vindas. A participação é gratuita e não é necessária inscrição.

Sob a coordenação da Esquadra Moto do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, que previamente transmitiu as recomendações a ter em conta durante o passeio, nomeadamente a necessidade de “refrear os ânimos” e efectuar uma condução responsável, a Lisbon Night Ride juntou cerca de 1.000 motas, num percurso com um pouco menos de uma dezena de quilómetros. Para os mais resistentes, a animação prosseguiria noite dentro com uma festa de música com Dj.

A Lisbon Night Ride 2025 passou pelas ruas da baixa lisboeta.

No dia 17, Sábado, as actividades tiveram início um pouco depois das 15h00 na Sala 2, com a Talk TLMoto X Tron (bilhete: 1,00 €). Uma conversa de cerca de 60’ com dois membros da equipa do Instituto Superior Técnico de Lisboa responsável pela concepção e construção da primeira moto eléctrica de competição de Portugal, a TLMoto. O grupo de estudantes do IST que desenvolve a TLMoto tem participado em diversas competições, nomeadamente a MotoStudent, o Campeonato Nacional de Velocidade (CNV) e a Moto Engineering Italy.

Talk TLMoto X Tron, sobre a moto elétrica de competição criada por estudantes do IST.

Logo de seguida, perto das 16h30, tinha início a sessão de curtas-metragens internacionais na Sala Manoel de Oliveira (bilhete: 5,00 €), com a exibição de 9 pequenos filmes:

The Finder (6') de Mark Hileman (E.U.A.). Durante quatro meses, Mark deixa o conforto do seu lar e percorre com a sua moto algumas das mais belas paisagens dos parques naturais dos Estados Unidos.

Solace: A Motorcycle Film (3') de Zain Javaid (Emiratos Árabes Unidos). Tendo como pano de fundo o Dia Mundial do Motociclista, “Solace” segue um piloto solitário numa viagem inesquecível por estradas infinitas no dia mais longo do ano, 21 de junho. Mais do que um simples passeio, este filme explora a busca pela liberdade, a autodescoberta e o conforto encontrado no ritmo da estrada. Uma aventura íntima e cinematográfica, onde o verdadeiro destino é a paz interior.

Hell Riders: The Wall of Death (6') de Ali White (Reino Unido). Sejam bem-vindos ao mundo dos Hell Riders, que no Poço da Morte dão vida a um dos espetáculos mais incríveis e antigos em duas rodas do Reino Unido.

Sugar (12') de Danny Marmaduke (E.U.A.). “Sugar” examina o vínculo inquebrável entre dois homens e assuas motos, unidos pelo peso da diabetes tipo 1, que encontraram uma fuga na estrada. Para Neil, diagnosticado aos dezasseis anos ao mesmo tempo em que conheceu Kayla, sua parceira de vida, a jornada sempre foi de dualidade – amor e doença, independência e dependência. Steven, criado pela mãe, que mais tarde compartilhou do mesmo diagnóstico, cresceu vendo a resiliência como um fardo e um presente. Agora, casado e pai de um menino, anda de moto para reinventar-se, mudando de perspectiva, reconectando-se consigo mesmo ao longo do caminho. Cada quilómetro é um ato de rebeldia contra as limitações da diabetes, um impulso em direção a algo maior. “Sugar” é um testemunho da superação dos fardos da doença, explorando as alegrias que avida tem a oferecer.

Finding Latitude (14') de Semjon Düren (Alemanha). É lá fora que se encontra o que está cá dentro. A história de um fotógrafo de motos que reencontra a sua paixão no Equador.

Why Would You Do It on That? (11') de Christian Taro (Suíça). Dar uma volta completa ao mundo sozinho já é uma grande aventura. Mas fazê-lo numa moto construída à mão, com 3 m de comprimento e totalmente rígida, requer uma pessoa fora do comum. Eis Charlie Weisel, um tipo de ser humano muito especial. Christian conheceu Charlie na estrada. Falaram sobre a sua viagem, a sua vida e, claro, sobre a pergunta que mais lhe fazem: “Porque é que fizeste isto, nisso?”

Green Legacy (6') de Jeremia Vega (Indonésia). Com um amor partilhado pelas duas rodas, a Shelter Field e a Manasi Ride quiseram dar um passo em conjunto para melhorara natureza, promovendo a plantação e preservação de árvores. A dificuldade de acesso é o que faz com que as duas rodas desempenhem um papel importante. Este “Legado Verde” é apenas o começo de uma aventura maior.

Wild at Heart (21') de Irene Kotnik (Alemanha). Empenhadas em aumentar a visibilidade das mulheres no mundo das motos, as Petrolettes são uma comunidade mundial feminina cuja missão é inspirar as mulheres a juntarem-se, celebrarem os desportos motorizados, abraçarem a aventura, defenderem causas sociais e apoiarem iniciativas significativas.

The Freeride Spirit (16') de Roland Blechschmied (Alemanha). “The Freeride Spirit” é uma viagem cinematográfica ao coração do “freestyle” das motos de todo-o-terreno – uma celebração crua e indomável da liberdade, da adrenalina e da ligação humana. Desde os trilhos poeirentos de vales remotos até às colinas verdejantes de continentes distantes, o filme segue pilotos de todo o mundo enquanto perseguem a simples emoção de um terreno aberto e de duas rodas e um motor por baixo deles. Esta curta é um tributo a uma comunidade global unida não pela língua ou pelas fronteiras, mas por um amor partilhado pela descoberta e pelo laço tácito forjado através da lama, do suor e do acelerador. Uma ode visual ao espírito de aventura, “The Freeride Spirit” mostra que, independentemente da nossa origem, estamos unidos pela terra.

Logo após a exibição das “curtas”, a organização chamou ao palco alguns dos realizadores presentes para partilharem as suas experiências na feitura dos respectivos filmes.

Pequena conversa com alguns dos realizadores das curtas-metragens.

Com o aproximar das 18h30, chegava um dos momentos mais aguardados do dia. Aos poucos, cerca de duas centenas de pessoas perfilavam-se à porta da Sala 3 (após uma alteração de última hora, da Sala 2 para a Sala 3, para acomodar o elevado número de interessados) para assistirem à Talk Charley Boorman (bilhete: 1,00 €). Charley Boorman, actor britânico, motociclista, aventureiro, apresentador de televisão e escritor de viagens, é uma personalidade sobejamente conhecida entre a comunidade motociclística. Apaixonado por motos desde criança, Charley é juntamente com o seu amigo Ewan McGregor, um dos protagonistas da bem-sucedida série documental Long Way (Long Way Round - 2004, Long Way Down - 2007, Long Way Up - 2020 e Long Way Home - 2025). Num ambiente de simpatia e boa disposição, os 60’ de duração rapidamente se esgotaram ao ouvir as histórias e peripécias da sua vida, bem como as aventuras que tem empreendido pelo mundo fora, onde demonstrou ter uma grande resiliência e positividade até nas piores situações.

Cerca de 200 pessoas assistiram à Talk Charley Boorman.

Talk Charley Boorman, com o conhecido motociclista e aventureiro britânico da série ‘Long Way’.

A sessão nocturna teve início só às 21h30, o que deixou algum tempo para “digerir” a interessante conversa, enquanto aconchegava o estômago num dos bares no Cinema São Jorge. Novamente na Sala Manoel de Oliveira (bilhete: 5,00 €), foram exibidos dois filmes, uma longa-metragem e uma curta-metragem:

The Drixton (56’) de Spenser Robert (E.U.A.). Até onde irias para salvar a moto favorita do teu Pai? Neste filme, Ari e Zack estão numa missão – desde um celeiro em New Hampshire até ao Barber Motorsports Museum – para tirar a famosa Drixton Honda de Todd Henning das caixas numa prateleira e colocá-la de novo numa pista de corridas.

Motorcycle Mary (22’) de Haley Watson (E.U.A.). Esta é a história não contada da lendária pioneira dos desportos motorizados Mary McGee. “Motorcycle Mary” traz à luz, com impressionantes imagens de arquivo e fotografias nunca vistas, uma carreira de automobilista que durou trinta anos e que viu Mary quebrar as normas de género enquanto dominava várias disciplinas do desporto motorizado. Confrontada com o sexismo e com a tragédia pessoal, Mary persevera, esforçando-se por atingir feitos cada vez mais incríveis – culminando no seu desafio mais arrepiante: a tentativa de se tornar a primeira pessoa a percorrer sozinha a extenuante Baja 500 numa moto.

Concluída a sessão, foi a vez da realizadora americana Haley Watson subir ao placo para uma breve conversa sobre o filme ‘Motorcycle Mary’, recentemente nomeado para Melhor Curta-Metragem Documental na 46.ª edição dos Emmy de Notícias e Documentários.

Breve conversa com Haley Watson, realizadora do filme ‘Motorcycle Mary’.

Terminava assim a minha visita ao IX Lisbon Motorcycle Film Fest. Para quem não esteve presente no evento, aqui fica um breve resumo do mesmo: