segunda-feira, 16 de junho de 2025

IX Lisbon Motorcycle Film Fest

A 9.ª edição do Lisbon Motorcycle Film Fest (LxMFF) aconteceu nos passados dias 16, 17 e 18 de Maio no emblemático Cinema São Jorge. Foram 3 dias de celebração da cultura motociclista, com filmes, exposições, conversas com ilustres convidados, um passeio noturno e a transmissão em directo de corridas do Campeonato do Mundo de Superbike.

Ao fechar da cortina, o sentimento da organização não podia ser outro senão o de dever cumprido, salientando que “num fim de semana em que tudo aconteceu em Lisboa e em Portugal – desde vias cortadas por causa dos festejos no Marquês do Pombal no Sábado, às eleições legislativas no Domingo – conseguimos convencer quase 1.500 pessoas a entrar nas várias sessões, ao longo dos 3 dias. Este é sem dúvida um número que superou as nossas melhores expectativas.”

Cartaz oficial do LxMFF 2025, criado pelo ilustrador Pedro Lourenço (Tigre Bastardo). Via

Para não ser surpreendido como aconteceu na edição de 2024, ainda para mais com a presença de um convidado internacional mediático na programação deste ano, resolvi adquirir antecipadamente os bilhetes para as sessões dos dias que tinha escolhido assistir ao LxMFF, na Sexta-feira (dia 16) e no Sábado (dia 17). Acabei por ter de fazê-lo online, uma vez que encontrei a bilheteira fechada quando me desloquei ao Cinema São Jorge, e sem qualquer indicação no local sobre o seu horário de funcionamento (?!).

Com a questão dos bilhetes arrumada, no final da tarde de Sexta-feira rumei então ao Cinema São Jorge para a abertura do festival, agendada para as 21h00. Juntei-me assim às muitas centenas de motociclistas que quiseram participar na festa, neste (já grande) evento de renome internacional que celebra a paixão pelas duas rodas e pelo cinema.

Grande afluência de motas no IX LxMFF.

Como já vem sendo hábito, os motociclistas tiveram um espaço à disposição para deixarem os seus capacetes e blusões (desta vez não no bengaleiro, mas na Sala 2), circulando assim mais à vontade para disfrutar do cenário alusivo à temática do evento montado nos foyers (piso 0 e piso 1) do Cinema São Jorge. Nestes espaços encontravam-se cinco motas em exposição:

Ducati XDiavel V4.

BMW R12 G/S.

Moto Guzzi V7 Sport.

BMW R12 S.

Honda CB1000 Hornet SP.

À hora programada, a equipa organizadora do LxMFF deu as boas-vindas de forma calorosa a todos os espectadores, motociclistas e não só, que marcaram presença na Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge, para assistirem à programação do primeiro dia do evento.

As boas-vindas dadas pela equipa organizadora do LxMFF.

Na sessão nocturna inaugural (bilhete: 5,00 €) foi exibida a longa-metragem Angels of Dirt (86’), realizada por Wendy Schneider (E.U.A.). Com um misto de inspiração e desgosto, a realizadora traça a vida e a carreira da espantosa Charlotte Kainz, uma “small-town girl” que cresce entre os pilotos e mecânicos das boxes de uma pista de motociclismo do Wisconsin rural. Desenvolvendo um gosto pela velocidade e um talento para as corridas de Flat Track desde os quatro anos deidade, a jovem Charlotte nunca olha para trás. Filmado ao longo de 17 anos, este documentário íntimo e envolvente é um retrato abrangente de uma jovem destemida com um desejo inato e uma aptidão para vencer num desporto que muito poucas mulheres, muito menos jovens raparigas, alguma vez pensaram em competir. “Angels of Dirt” segue a busca improvável e imparável de Charlotte para ser a melhor num desporto dominado por homens. Com base em filmes “caseiros” pessoais, emocionantes filmagens de corridas e entrevistas reveladoras com amigos, familiares e lendas do mundo das corridas, este é um documentário que emociona e inspira o público a perseguir os seus sonhos, o mais rápido que puderem.

Fazendo parte do grupo de convidados internacionais ligados à realização dos filmes que estiveram no LxMFF, a americana Wendy Schneider subiu ao palco no final da exibição do documentário para uma curta conversa sobre a sua produção.

Curta conversa com Wendy Schneider, realizadora do filme ‘Angels of Dirt’.

Depois da sessão de abertura e uma vez mais à Sexta-feira (e não no Sábado como era habitual), por volta das 22h30 chegava um dos momentos mais aguardados do LxMFF: andar de moto, por algumas das mais belas ruas e avenidas da cidade de Lisboa. Trata-se da Lisbon Night Ride, um passeio nocturno com início e fim no n.º 175 da Avenida da Liberdade, onde todas as motos são bem-vindas. A participação é gratuita e não é necessária inscrição.

Sob a coordenação da Esquadra Moto do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, que previamente transmitiu as recomendações a ter em conta durante o passeio, nomeadamente a necessidade de “refrear os ânimos” e efectuar uma condução responsável, a Lisbon Night Ride juntou cerca de 1.000 motas, num percurso com um pouco menos de uma dezena de quilómetros. Para os mais resistentes, a animação prosseguiria noite dentro com uma festa de música com Dj.

A Lisbon Night Ride 2025 passou pelas ruas da baixa lisboeta.

No dia 17, Sábado, as actividades tiveram início um pouco depois das 15h00 na Sala 2, com a Talk TLMoto X Tron (bilhete: 1,00 €). Uma conversa de cerca de 60’ com dois membros da equipa do Instituto Superior Técnico de Lisboa responsável pela concepção e construção da primeira moto eléctrica de competição de Portugal, a TLMoto. O grupo de estudantes do IST que desenvolve a TLMoto tem participado em diversas competições, nomeadamente a MotoStudent, o Campeonato Nacional de Velocidade (CNV) e a Moto Engineering Italy.

Talk TLMoto X Tron, sobre a moto elétrica de competição criada por estudantes do IST.

Logo de seguida, perto das 16h30, tinha início a sessão de curtas-metragens internacionais na Sala Manoel de Oliveira (bilhete: 5,00 €), com a exibição de 9 pequenos filmes:

The Finder (6') de Mark Hileman (E.U.A.). Durante quatro meses, Mark deixa o conforto do seu lar e percorre com a sua moto algumas das mais belas paisagens dos parques naturais dos Estados Unidos.

Solace: A Motorcycle Film (3') de Zain Javaid (Emiratos Árabes Unidos). Tendo como pano de fundo o Dia Mundial do Motociclista, “Solace” segue um piloto solitário numa viagem inesquecível por estradas infinitas no dia mais longo do ano, 21 de junho. Mais do que um simples passeio, este filme explora a busca pela liberdade, a autodescoberta e o conforto encontrado no ritmo da estrada. Uma aventura íntima e cinematográfica, onde o verdadeiro destino é a paz interior.

Hell Riders: The Wall of Death (6') de Ali White (Reino Unido). Sejam bem-vindos ao mundo dos Hell Riders, que no Poço da Morte dão vida a um dos espetáculos mais incríveis e antigos em duas rodas do Reino Unido.

Sugar (12') de Danny Marmaduke (E.U.A.). “Sugar” examina o vínculo inquebrável entre dois homens e assuas motos, unidos pelo peso da diabetes tipo 1, que encontraram uma fuga na estrada. Para Neil, diagnosticado aos dezasseis anos ao mesmo tempo em que conheceu Kayla, sua parceira de vida, a jornada sempre foi de dualidade – amor e doença, independência e dependência. Steven, criado pela mãe, que mais tarde compartilhou do mesmo diagnóstico, cresceu vendo a resiliência como um fardo e um presente. Agora, casado e pai de um menino, anda de moto para reinventar-se, mudando de perspectiva, reconectando-se consigo mesmo ao longo do caminho. Cada quilómetro é um ato de rebeldia contra as limitações da diabetes, um impulso em direção a algo maior. “Sugar” é um testemunho da superação dos fardos da doença, explorando as alegrias que avida tem a oferecer.

Finding Latitude (14') de Semjon Düren (Alemanha). É lá fora que se encontra o que está cá dentro. A história de um fotógrafo de motos que reencontra a sua paixão no Equador.

Why Would You Do It on That? (11') de Christian Taro (Suíça). Dar uma volta completa ao mundo sozinho já é uma grande aventura. Mas fazê-lo numa moto construída à mão, com 3 m de comprimento e totalmente rígida, requer uma pessoa fora do comum. Eis Charlie Weisel, um tipo de ser humano muito especial. Christian conheceu Charlie na estrada. Falaram sobre a sua viagem, a sua vida e, claro, sobre a pergunta que mais lhe fazem: “Porque é que fizeste isto, nisso?”

Green Legacy (6') de Jeremia Vega (Indonésia). Com um amor partilhado pelas duas rodas, a Shelter Field e a Manasi Ride quiseram dar um passo em conjunto para melhorara natureza, promovendo a plantação e preservação de árvores. A dificuldade de acesso é o que faz com que as duas rodas desempenhem um papel importante. Este “Legado Verde” é apenas o começo de uma aventura maior.

Wild at Heart (21') de Irene Kotnik (Alemanha). Empenhadas em aumentar a visibilidade das mulheres no mundo das motos, as Petrolettes são uma comunidade mundial feminina cuja missão é inspirar as mulheres a juntarem-se, celebrarem os desportos motorizados, abraçarem a aventura, defenderem causas sociais e apoiarem iniciativas significativas.

The Freeride Spirit (16') de Roland Blechschmied (Alemanha). “The Freeride Spirit” é uma viagem cinematográfica ao coração do “freestyle” das motos de todo-o-terreno – uma celebração crua e indomável da liberdade, da adrenalina e da ligação humana. Desde os trilhos poeirentos de vales remotos até às colinas verdejantes de continentes distantes, o filme segue pilotos de todo o mundo enquanto perseguem a simples emoção de um terreno aberto e de duas rodas e um motor por baixo deles. Esta curta é um tributo a uma comunidade global unida não pela língua ou pelas fronteiras, mas por um amor partilhado pela descoberta e pelo laço tácito forjado através da lama, do suor e do acelerador. Uma ode visual ao espírito de aventura, “The Freeride Spirit” mostra que, independentemente da nossa origem, estamos unidos pela terra.

Logo após a exibição das “curtas”, a organização chamou ao palco alguns dos realizadores presentes para partilharem as suas experiências na feitura dos respectivos filmes.

Pequena conversa com alguns dos realizadores das curtas-metragens.

Com o aproximar das 18h30, chegava um dos momentos mais aguardados do dia. Aos poucos, cerca de duas centenas de pessoas perfilavam-se à porta da Sala 3 (após uma alteração de última hora, da Sala 2 para a Sala 3, para acomodar o elevado número de interessados) para assistirem à Talk Charley Boorman (bilhete: 1,00 €). Charley Boorman, actor britânico, motociclista, aventureiro, apresentador de televisão e escritor de viagens, é uma personalidade sobejamente conhecida entre a comunidade motociclística. Apaixonado por motos desde criança, Charley é juntamente com o seu amigo Ewan McGregor, um dos protagonistas da bem-sucedida série documental Long Way (Long Way Round - 2004, Long Way Down - 2007, Long Way Up - 2020 e Long Way Home - 2025). Num ambiente de simpatia e boa disposição, os 60’ de duração rapidamente se esgotaram ao ouvir as histórias e peripécias da sua vida, bem como as aventuras que tem empreendido pelo mundo fora, onde demonstrou ter uma grande resiliência e positividade até nas piores situações.

Cerca de 200 pessoas assistiram à Talk Charley Boorman.

Talk Charley Boorman, com o conhecido motociclista e aventureiro britânico da série ‘Long Way’.

A sessão nocturna teve início só às 21h30, o que deixou algum tempo para “digerir” a interessante conversa, enquanto aconchegava o estômago num dos bares no Cinema São Jorge. Novamente na Sala Manoel de Oliveira (bilhete: 5,00 €), foram exibidos dois filmes, uma longa-metragem e uma curta-metragem:

The Drixton (56’) de Spenser Robert (E.U.A.). Até onde irias para salvar a moto favorita do teu Pai? Neste filme, Ari e Zack estão numa missão – desde um celeiro em New Hampshire até ao Barber Motorsports Museum – para tirar a famosa Drixton Honda de Todd Henning das caixas numa prateleira e colocá-la de novo numa pista de corridas.

Motorcycle Mary (22’) de Haley Watson (E.U.A.). Esta é a história não contada da lendária pioneira dos desportos motorizados Mary McGee. “Motorcycle Mary” traz à luz, com impressionantes imagens de arquivo e fotografias nunca vistas, uma carreira de automobilista que durou trinta anos e que viu Mary quebrar as normas de género enquanto dominava várias disciplinas do desporto motorizado. Confrontada com o sexismo e com a tragédia pessoal, Mary persevera, esforçando-se por atingir feitos cada vez mais incríveis – culminando no seu desafio mais arrepiante: a tentativa de se tornar a primeira pessoa a percorrer sozinha a extenuante Baja 500 numa moto.

Concluída a sessão, foi a vez da realizadora americana Haley Watson subir ao placo para uma breve conversa sobre o filme ‘Motorcycle Mary’, recentemente nomeado para Melhor Curta-Metragem Documental na 46.ª edição dos Emmy de Notícias e Documentários.

Breve conversa com Haley Watson, realizadora do filme ‘Motorcycle Mary’.

Terminava assim a minha visita ao IX Lisbon Motorcycle Film Fest. Para quem não esteve presente no evento, aqui fica um breve resumo do mesmo:


quinta-feira, 22 de maio de 2025

XVIII Salão Motorclássico

O Salão Motorclássico, um dos principais eventos dedicados aos automóveis e motos clássicas e desportivas em Portugal, com organização a cargo do Museu do Caramulo, teve a sua 18.ª edição nos dias 21, 22 e 23 de Fevereiro, na Cordoaria Nacional, em Lisboa.

Salão Motorclássico 2025. Via

Assim, à semelhança dos anos anteriores e ao longo de três dias, o Salão juntou dezenas de expositores nacionais e estrangeiros relacionados com a temática dos clássicos, distribuídos ao longo dos cinco pavilhões da Cordoaria Nacional, bem como das zonas exteriores.

Os visitantes puderam ver e comprar automóveis, motos, livros, peças ou artigos de coleção, a entidades institucionais, como clubes, associações ou museus, que fazem deste certame um evento não só para aficionados do mundo dos clássicos, mas também para o público em geral.

Nesta edição de 2025 visitei o Salão Motorclássico no dia de abertura, na Sexta-Feira à noite. Em contraste com o dia de Sábado, tradicionalmente bem mais movimentado, encontrei um ambiente bastante calmo e tranquilo, propício para apreciar sem pressas e com maior detalhe cada um dos stands e os clássicos neles expostos.

Visita nocturna ao Salão Motorclássico, com o autocarro Daimler Victory (1967) n.º 76 da Carris a dar as boas-vindas.

Logo após a validação dos bilhetes na entrada no Salão, todos os meus sentidos despertaram de imediato com as motas expostas no espaço reservado à Moto W. Numa grande variedade de modelos icónicos, maioritariamente desportivos dos anos ’90, mas não só, o destaque ia naturalmente para a Honda NR750 (RC40) de pistões ovais, modelo bastante raro e muito cobiçado por coleccionadores da marca da asa dourada. Um autêntico objecto de culto, que podia ser adquirido pela módica quantia de 199.000,00 €.

Yamaha FZR750R OW-01 (1989) – 45.000,00 €.

Honda NR750 (1993) – 199.000,00 €.

Suzuki RGV250 (1991) – 15.000,00 €.

Em exposição no stand Relíquias da Bairrada encontrava-se uma Favor Model Type A1 de 1926, modelo este que participou na Corrida dos Fundadores de 2024 (um passeio destinado a automóveis e motos pré-guerra, produzidos até 1939, que celebra a era dourada do automobilismo).

Favor Model Type A1 (1926).

A exposição temática de celebração do 80.º aniversário sobre o final da Segunda Guerra Mundial, o maior conflito bélico da humanidade e que moldou a história do Século XX, contou com a presença de duas motas da época, em representação dos países Aliados e dos países do lado do Eixo: uma BSA WM20 de 1941 e uma DKW NZ350 de 1939.

BSA WM20 (1941) e DKW NZ350 (1939).

O look clássico, vintage e retro associado às duas rodas esteve presente no espaço da Cool Garage, com os mais variados tipos de acessórios para um lifestyle a condizer.

O estilo clássico, vintage e retro presente no stand Cool Garage.

As motas customizadas, ou personalizadas, refletem as opções e os gostos dos seus criadores. São normalmente modelos únicos, que se diferenciam dos demais em termos estéticos e mecânicos, com maior ou menor grau de alterações, razão pela qual não é muito comum aparecerem à venda. Mas no stand 4 Rodas havia uma Harley-Davidson FLSTF Fat Boy de 1998 customizada por 17.900,00 €.

Harley-Davidson FLSTF Fat Boy (1998) customizada – 17.900,00 €.

Ainda nas customizações, uma clássica BSA (1967) modificada servia de chamariz para o espaço ocupado pela Malle London, uma empresa britânica criadora de refinados acessórios de design no universo das motas personalizadas. O proprietário desta BSA é Jonny Cazzola, um dos fundadores da Malle.

BSA (1967) customizada de Jonny Cazzola (Malle London).

Na Automobilia do Salão Motorclássico (uma junção das palavras automóvel e memorabilia) encontravam-se diversos artefactos históricos e itens colecionáveis relacionados com os automóveis, as motas e áreas afins. De natureza muito variada, desde aqueles ligados ao desporto num sentido geral (por exemplo, um kit de ferramentas), até aqueles intrinsecamente ligados a um veículo ou evento específico. Arte, modelos, livros, brinquedos, bandeiras e roupas, embora não estejam diretamente ligados a um veículo, também fazem habitualmente parte da Automobilia, sempre que associados a um tema automobilístico.

Automobilia no Salão Motorclássico.

Artigos coleccionáveis sobre veículos de duas e de quatro rodas.

No espaço da lisboeta OndaClássica podiam ser vistos diversos modelos clássicos da Honda, essencialmente ciclomotores, prontos para seguirem para uma qualquer garagem ou colecção particular.

Conjunto de clássicas Honda, no stand OndaClássica.

Anunciada como uma mota de Sport Touring em 1988, a BMW K1 sempre dividiu opiniões relativamente à sua estética ousada, permanecendo polarizadora até aos dias de hoje. O seu design futurista, com baixo coeficiente de resistência aerodinâmica, nunca foi consensual, chegando mesmo a ser considerada por muitos como uma das motas mais feias de sempre. Para os seus admiradores, este modelo de 1993 podia ser adquirido por 9.250,00 €:

BMW K1 (1993) – 9.250,00 €.

Chegado ao stand Estoril Motor deparei-me com um extraordinário conjunto de motas clássicas italianas dos anos ’50 e ’60 bastante raras, que se revelou, pelo menos para mim, como o ponto alto da visita. Duas Moto Maserati 125cc de 1956, uma MV Agusta Liberty S 50cc dos anos ’60 e duas Moto Ferrari (Fratelli Ferrari), uma 150cc de 1955 e uma 50cc de 1959, todas em estado impecável, fizeram-me sonhar em querer tê-las na minha garagem. Fiquei-me pelo sonho...

Moto Maserati 125cc (1956).

MV Agusta Liberty S 50cc (anos ‘60).

Moto Maserati 125cc (1956).

Moto Ferrari 150cc (1955).

Moto Ferrari 50cc (1959).

No mesmo espaço e um pouco mais ao lado, encontravam-se um conjunto de magníficas motas desportivas a 2T do final dos anos ’80, autênticas race replicas para oferecer aos fãs das corridas a oportunidade de adquirirem modelos semelhantes às máquinas de fábrica que assistiam nas pistas (que não gostava de ser o Freddie Spencer, o Barry Sheene ou o Kenny Roberts). Destaco uma Honda NS400R (1986), autografada pelo próprio “Fast” Freddie Spencer.

Yamaha TZR250 (1987).

Honda NS400R (1986), autografada por “Fast” Freddie Spencer.

Yamaha RD500 (1986).

A BMW R80G/S lançada em 1980 é considerada a primeira mota desportiva de aventura do mundo, capaz de ser igualmente eficiente dentro e fora de estrada. A designação G/S (Gelände/Straße, que significa terreno/estrada) evidencia as características dual-sport deste modelo. No Motorclássico encontrava-se uma BMW R80G/S Paris-Dakar de 1983 (edição especial evocativa das vitórias de Hubert Auriol e Gaston Rahier no Rali Paris-Dakar) à venda por 21.900,00 €.

BMW R80G/S Paris-Dakar (1983) – 21.900,00 €.

Para além das duas rodas, muito mais havia para ver no que respeita às quatro rodas, com magníficos exemplares de grandes clássicos, restaurados e por restaurar, de “fazer crescer água na boca”.

Contrastando com os clássicos presentes no salão, o futuro deu-se a conhecer através do Adamastor Furia, o primeiro supercarro português da história, presente sob a forma de development prototype. O Furia representa o início de uma nova era para a Adamastor, o ponto de partida para a empresa portuguesa concretizar a sua visão e estratégia, assumindo-se como um dos principais nomes no exclusivo e crescente segmento mundial dos supercarros.

Em resumo, quem se deslocou às instalações da Cordoaria Nacional para visitar o XVIII Salão Motorclássico não deu por mal empregue o seu tempo. Para o ano haverá mais, certamente.

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Páscoa Feliz


A ‘Fita de Asfalto’ deseja a todos os motociclistas uma Páscoa Feliz.

sábado, 15 de março de 2025

17º Traveler's Event 2024

A simpática vila alentejana de Avis foi uma vez mais palco de nova edição do Traveler’s Event, a 17.ª, que decorreu durante o primeiro fim-de-semana do mês de Setembro de 2024.

Tendo as águas calmas da Albufeira da Barragem do Maranhão como cenário privilegiado, a equipa liderada pelo incansável Rui Baltazar (Balgarpir) preparou criteriosamente um programa de quatro dias, recheado de actividades, para que todos os aventureiros pudessem disfrutar ao máximo, em ambiente de grande camaradagem.

Cartaz do 17.º Traveler’s Event. Via

Nunca é demais realçar a gratuitidade deste encontro de âmbito nacional, do qual fazem parte os passeios (on road e off road), os test drives, as exposições de acessórios, os workshops e as palestras. É verdade que as motos tipo trail são as rainhas do evento, mas o Traveler's é dedicado a todos os amantes das viagens, independentemente da sua moto.

O dia forte do encontro é sem dúvida o Sábado, mas também é o que apresenta mais confusão, em virtude do elevado número de motociclistas presentes, que tem aumentado de ano para ano, “encaixados” num espaço que começa a ser exíguo para tanta gente. A organização estima que terão sido mais de 4.000 pessoas que visitaram o Traveler’s Event ao longo dos 4 dias!

E foi neste dia que, à semelhança de edições anteriores (2022 e 2021), me juntei à festa logo ao início da manhã, junto à sede do clube Motards D’Aviz, para efetuar o registo de presença junto da organização.

Entrada e recepção do evento, junto à sede dos Motards D’Aviz.

Sendo este um evento sobre viagens em moto, nada melhor que começar o dia com o tradicional passeio turístico pelas estradas da região do Alto Alentejo, com ponto de encontro junto à Câmara Municipal (dentro das Muralhas de Avis) e início às 10:00.

Concentração dentro das Muralhas de Avis para início do passeio turístico.

Para a edição de 2024, o clube de “fanáticos” da BMW (BMW Motorrad Fans Club) organizou um percurso para Sul, com aproximadamente uma centena de quilómetros, que desta vez teve a habitual paragem a meio do trajeto na Vila de Arraiolos.

Percurso do passeio turístico.

Cada vez com mais participantes, o passeio turístico acabou por ser vítima do seu próprio sucesso. Uma longa fila de motos foi a constante durante todo o trajeto, ao ponto de originar um mega-engarrafamento para entrar em Arraiolos, que deixou as ruas da vila literalmente entupidas de motociclos. Uma invasão pacífica que deixou os arraiolenses algo estupefactos.

A longa caravana do passeio turístico.

Mega-engarrafamento para entrar em Arraiolos (passeio turístico).

Encontrar um local para estacionar não foi naturalmente fácil, mas com jeito e paciência lá consegui encontrar um pequeno espaço para deixar a Tiger. Uma vez estacionada a moto, foi tempo de aproveitar a pausa para descontrair e tomar um café junto à Câmara Municipal, antes de retomar o passeio para o regresso a Avis.

Pausa para um café em Arraiolos (passeio turístico).

De volta ao recinto do evento (Complexo do Clube Náutico de Avis), era tempo de procurar um local para almoçar. Com as opções algo limitadas, acabei por sair e escolher um restaurante na vila (dos poucos que estavam abertos e com mesas vagas), para escapar aos aglomerados que habitualmente se verificam junto das zonas de restauração.

A tarde e a noite de Sábado do Traveler’s Event são longas e recheadas de actividades. Um pouco depois das 15:00 começavam os workshops e as sempre animadas tertúlias. Mas antes do seu início, impunha-se uma ronda pelos stands dos vários concessionários e empresas ligadas às duas rodas, presentes nesta 17.ª edição.

O grande destaque vai naturalmente para a diversidade de marcas e modelos de motos, maioritariamente do chamado segmento de aventura (trails, scramblers e afins), para júbilo dos presentes. Os test rides são naturalmente muito concorridos, originando listas de espera bastante longas.

Confesso que fiquei um pouco desiludido com a ausência de algumas marcas importantes e conhecidas, como por exemplo a Triumph, a Aprilia e a Moto Guzzi, que têm nos seus catálogos vários modelos de aventura, alguns até bastante populares. Ainda para mais quando estava com curiosidade em experimentar a recente Moto Guzzi Stelvio, depois do contacto próximo que tive na 26.ª Expomoto no Porto. Paciência, terá de ficar para uma outra oportunidade.

18 marcas de motos marcaram presença no 17.º Treveler's Event.

Um interessante workshop sobre navegação com GPS, da responsabilidade de Rui Elias (Espaços Sonoros), preencheu uma boa parte da tarde. Foram transmitidas explicações e dicas sempre úteis para ajudar a tirar melhor partido do funcionamento deste tipo de equipamento, que é utilizado pela grande maioria dos motociclistas, seja na preparação como na orientação das suas viagens.

Workshop “Navegação” com Rui Elias (Espaços Sonoros). Via

Seguiu-se um workshop sobre osteopatia em viagem, ministrado por Edgar Valente, Inês Feio e Miguel Roseta (Osteomotus), que decorreu de forma informal junto à esplanada do café do Clube Náutico de Avis, onde foram demonstradas algumas técnicas para “recuperar o esqueleto” dos condutores, após os esforços despendidos durante as viagens.

Workshop “Osteopatia em Viagem” com Edgar Valente, Inês Feio e Miguel Roseta (Osteomotus). Via

Quase em simultâneo tinha início uma tertúlia sobre motociclismo no feminino, um tema que está cada vez mais na ordem do dia. Moderada por Liliana de Almeida, contou com a participação de quatro mulheres motociclistas de diferentes gerações, que deram o seu testemunho sobre as experiências que têm vivido e a sua paixão pelas motos.

Tertúlia “Motociclismo no Feminino”. Via

Para os mais destemidos, as águas da Albufeira da Barragem do Maranhão convidavam a uns mergulhos na tranquila Praia Fluvial do Clube Náutico. Outros, porém, preferiam o convívio com os amigos e companheiros de aventura, junto das motos, dos stands ou nas esplanadas. De uma forma ou de outra, a boa disposição continuava em alta neste Traveler’s Event.

Expositores e convívio no 17.º Treveler's Event.

Com o final do dia chegava também a altura de ir “abastecer” o estômago. Até porque a noite, como é habitual, iria ser comprida. Uma vez mais sem muitas opções, o jantar acabou por acontecer numa das roulottes de comida rápida presentes no recinto.

Por volta das 21:00 começava verdadeiramente um dos pontos altos e mais aguardados do Traveler’s Event: as apresentações dos viajantes. Ano após ano, são cada vez mais os motociclistas que fazem questão de partilhar novas e inspiradoras histórias de aventuras em duas rodas.

E começou logo em grande com a apresentação da viagem “América do Sul Total” que Wagner Lima, Manuel Batista e Rui Carneiro efetuaram em 2024 pelo continente sul-americano. O grupo saiu de Brasília no dia 1 de Janeiro e regressou no dia 2 de Abril, com cerca de 30.000 km percorridos nas suas motos. Uma aventura de 92 dias que passou em 9 países (apenas ficou de fora a Guiana, o Suriname, a Guiana Francesa e o Paraguai), por diferentes culturas, paisagens e climas, onde apanharam temperaturas que oscilaram entre os -2 ºC e os 42 ºC.

Apresentação “América do Sul Total” por Wagner Lima, Manuel Batista e Rui Carneiro.

Seguiu-se uma ligação online por videochamada com João Cid (Water Wonderful Ride), para um ponto de situação sobre a viagem que estava a efectuar intitulada “The 50/50 Ride”, i.e., 50 anos sobre o paralelo 50. Uma viagem de celebração do seu 50.º aniversário, que teve início em Abril de 2024, com uma duração estimada de 6 meses e 50.000 km. O objetivo foi deslocar-se em direcção ao Mar do Japão, numa linha próxima do paralelo 50 Norte, e ir descobrindo algumas das principais bacias hidrográficas da Europa e da Ásia Central. O regresso a Portugal aconteceu no dia 5 de Outubro.

Apresentação “The 50/50 Ride” por João Cid.

As apresentações sucediam-se a bom ritmo e a que se seguiu foi o relato da viagem “49 Graus à Sombra – Do Sahara Argelino ao ponto mais norte de África”, que Luís Tomaz Moleirinho realizou desde a Argélia até à costa tunisina, concretizada na pior altura do ano, quando as temperaturas extremas desafiam qualquer um a ir até ao limite.

Apresentação “49 Graus à Sombra – Do Sahara Argelino ao ponto mais norte de África” por Luís Tomaz Moleirinho.

Por último, foi a vez do viajante João Sousa (João Around the World) partilhar a sua aventura e as muitas histórias da viagem ao “Pilar Vasco da Gama”. Situado na localidade de Malindi (Quénia), foi erigido pelo explorador português Vasco da Gama em 1498 ou 1499, durante a sua pioneira expedição marítima de Lisboa à Índia através do Cabo da Boa Esperança (1497-1499). Foi declarado Monumento Nacional em 1935 e está atualmente sob a tutela dos Museus Nacionais do Quénia, sendo o património mais visitado de Malindi.

Apresentação “Pilar Vasco da Gama” por João Sousa.

Já estávamos bem para lá da meia-noite quando todas as apresentações ficaram concluídas. Com a mente a fervilhar e a vontade de partir de moto à descoberta do mundo, uma vez mais a organização presenteou todos os que ficaram até ao fim com uma sessão de fogo-de-artifício, fechando assim da melhor maneira o terceiro dia da 17.ª edição do Traveler’s Event.

Fogo de artifício no final da noite de Sábado.

Com o final da festa nada mais restava do que iniciar o regresso a casa, numa viagem solitária, por estradas (quase) desertas, tendo a noite como única companheira. Ficaram as recordações e a vontade de regressar na próxima edição.