A 9.ª edição do Lisbon Motorcycle Film
Fest (LxMFF) aconteceu nos passados dias 16, 17 e 18 de Maio no emblemático
Cinema São Jorge. Foram 3 dias de celebração da cultura motociclista, com
filmes, exposições, conversas com ilustres convidados, um passeio noturno e a
transmissão em directo de corridas do Campeonato do Mundo de Superbike.
Ao fechar da cortina, o sentimento da organização não podia ser outro
senão o de dever cumprido, salientando que “num fim de semana em que tudo
aconteceu em Lisboa e em Portugal – desde vias cortadas por causa dos festejos
no Marquês do Pombal no Sábado, às eleições legislativas no Domingo –
conseguimos convencer quase 1.500 pessoas a entrar nas várias sessões, ao longo
dos 3 dias. Este é sem dúvida um número que superou as nossas melhores
expectativas.”
Cartaz oficial do LxMFF 2025,
criado pelo ilustrador Pedro Lourenço (Tigre Bastardo). Via
Para não ser surpreendido como aconteceu na edição
de 2024, ainda para mais com a presença de um convidado internacional mediático
na programação deste ano, resolvi adquirir antecipadamente os bilhetes para as
sessões dos dias que tinha escolhido assistir ao LxMFF, na Sexta-feira (dia 16)
e no Sábado (dia 17). Acabei por ter de fazê-lo online, uma vez que
encontrei a bilheteira fechada quando me desloquei ao Cinema São Jorge, e sem
qualquer indicação no local sobre o seu horário de funcionamento (?!).
Com a questão dos bilhetes arrumada, no final da tarde de Sexta-feira
rumei então ao Cinema São Jorge para a abertura do festival, agendada para as
21h00. Juntei-me assim às muitas centenas de motociclistas que quiseram participar
na festa, neste (já grande) evento de renome internacional que celebra a paixão
pelas duas rodas e pelo cinema.
Grande afluência de motas no
IX LxMFF.
Como já vem sendo hábito, os motociclistas tiveram um espaço à
disposição para deixarem os seus capacetes e blusões (desta vez não no
bengaleiro, mas na Sala 2), circulando assim mais à vontade para disfrutar do
cenário alusivo à temática do evento montado nos foyers (piso 0 e
piso 1) do Cinema São Jorge. Nestes espaços encontravam-se cinco motas em
exposição:
À hora programada, a equipa organizadora do LxMFF deu as boas-vindas de
forma calorosa a todos os espectadores, motociclistas e não só, que marcaram
presença na Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge, para assistirem à
programação do primeiro dia do evento.
As boas-vindas dadas pela
equipa organizadora do LxMFF.
Na sessão nocturna inaugural (bilhete: 5,00 €) foi exibida a
longa-metragem Angels of Dirt (86’),
realizada por Wendy Schneider (E.U.A.). Com um misto de inspiração e desgosto,
a realizadora traça a vida e a carreira da espantosa Charlotte Kainz, uma “small-town
girl” que cresce entre os pilotos e mecânicos das boxes de uma pista de
motociclismo do Wisconsin rural. Desenvolvendo um gosto pela velocidade e um
talento para as corridas de Flat Track desde os quatro anos deidade, a jovem
Charlotte nunca olha para trás. Filmado ao longo de 17 anos, este documentário
íntimo e envolvente é um retrato abrangente de uma jovem destemida com um
desejo inato e uma aptidão para vencer num desporto que muito poucas mulheres,
muito menos jovens raparigas, alguma vez pensaram em competir. “Angels of Dirt”
segue a busca improvável e imparável de Charlotte para ser a melhor num
desporto dominado por homens. Com base em filmes “caseiros” pessoais,
emocionantes filmagens de corridas e entrevistas reveladoras com amigos, familiares
e lendas do mundo das corridas, este é um documentário que emociona e inspira o
público a perseguir os seus sonhos, o mais rápido que puderem.
Fazendo parte do grupo de convidados internacionais ligados à realização
dos filmes que estiveram no LxMFF, a americana Wendy Schneider subiu ao palco
no final da exibição do documentário para uma curta conversa sobre a sua
produção.
Curta conversa com Wendy
Schneider, realizadora do filme ‘Angels of Dirt’.
Depois da sessão de abertura e uma vez mais à Sexta-feira (e não no
Sábado como era habitual), por volta das 22h30 chegava um dos momentos mais
aguardados do LxMFF: andar de moto, por algumas das mais belas ruas e avenidas
da cidade de Lisboa. Trata-se da Lisbon Night Ride, um
passeio nocturno com início e fim no n.º 175 da Avenida da Liberdade, onde todas
as motos são bem-vindas. A participação é gratuita e não é necessária
inscrição.
Sob a coordenação da Esquadra Moto do Comando Metropolitano de Lisboa da
PSP, que previamente transmitiu as recomendações a ter em conta durante o
passeio, nomeadamente a necessidade de “refrear os ânimos” e efectuar uma
condução responsável, a Lisbon Night Ride juntou cerca de 1.000 motas, num
percurso com um pouco menos de uma dezena de quilómetros. Para os mais
resistentes, a animação prosseguiria noite dentro com uma festa de música com
Dj.
A Lisbon Night Ride 2025
passou pelas ruas da baixa lisboeta.
No dia 17, Sábado, as actividades tiveram início um pouco depois das
15h00 na Sala 2, com a Talk
TLMoto X Tron (bilhete: 1,00 €). Uma conversa de cerca de 60’ com dois
membros da equipa do Instituto Superior Técnico de Lisboa responsável pela
concepção e construção da primeira moto eléctrica de competição de Portugal, a TLMoto. O grupo de estudantes do
IST que desenvolve a TLMoto tem participado em diversas competições,
nomeadamente a MotoStudent, o Campeonato Nacional de Velocidade (CNV)
e a Moto Engineering
Italy.
Talk
TLMoto X Tron, sobre a moto elétrica de competição criada por estudantes do IST.
Logo de seguida, perto das 16h30, tinha início a sessão de
curtas-metragens internacionais na Sala Manoel de Oliveira (bilhete: 5,00 €),
com a exibição de 9 pequenos filmes:
The
Finder (6') de Mark Hileman (E.U.A.). Durante quatro meses, Mark deixa o
conforto do seu lar e percorre com a sua moto algumas das mais belas paisagens
dos parques naturais dos Estados Unidos.
Solace:
A Motorcycle Film (3') de Zain Javaid (Emiratos Árabes Unidos). Tendo como
pano de fundo o Dia Mundial do Motociclista, “Solace” segue um piloto solitário
numa viagem inesquecível por estradas infinitas no dia mais longo do ano, 21 de
junho. Mais do que um simples passeio, este filme explora a busca pela
liberdade, a autodescoberta e o conforto encontrado no ritmo da estrada. Uma
aventura íntima e cinematográfica, onde o verdadeiro destino é a paz interior.
Hell
Riders: The Wall of Death (6') de Ali White (Reino Unido). Sejam bem-vindos
ao mundo dos Hell Riders, que no Poço da Morte dão vida a um dos espetáculos
mais incríveis e antigos em duas rodas do Reino Unido.
Sugar
(12') de Danny Marmaduke (E.U.A.). “Sugar” examina o vínculo inquebrável entre
dois homens e assuas motos, unidos pelo peso da diabetes tipo 1, que
encontraram uma fuga na estrada. Para Neil, diagnosticado aos dezasseis anos ao
mesmo tempo em que conheceu Kayla, sua parceira de vida, a jornada sempre foi
de dualidade – amor e doença, independência e dependência. Steven, criado pela
mãe, que mais tarde compartilhou do mesmo diagnóstico, cresceu vendo a
resiliência como um fardo e um presente. Agora, casado e pai de um menino, anda
de moto para reinventar-se, mudando de perspectiva, reconectando-se consigo
mesmo ao longo do caminho. Cada quilómetro é um ato de rebeldia contra as
limitações da diabetes, um impulso em direção a algo maior. “Sugar” é um testemunho
da superação dos fardos da doença, explorando as alegrias que avida tem a
oferecer.
Finding
Latitude (14') de Semjon Düren (Alemanha). É lá fora que se encontra o que
está cá dentro. A história de um fotógrafo de motos que reencontra a sua paixão
no Equador.
Why
Would You Do It on That? (11') de Christian Taro (Suíça). Dar uma volta
completa ao mundo sozinho já é uma grande aventura. Mas fazê-lo numa moto
construída à mão, com 3 m de comprimento e totalmente rígida, requer uma pessoa
fora do comum. Eis Charlie Weisel, um tipo de ser humano muito especial.
Christian conheceu Charlie na estrada. Falaram sobre a sua viagem, a sua vida
e, claro, sobre a pergunta que mais lhe fazem: “Porque é que fizeste isto,
nisso?”
Green
Legacy (6') de Jeremia Vega (Indonésia). Com um amor partilhado pelas duas
rodas, a Shelter Field e a Manasi Ride quiseram dar um passo em conjunto para
melhorara natureza, promovendo a plantação e preservação de árvores. A
dificuldade de acesso é o que faz com que as duas rodas desempenhem um papel
importante. Este “Legado Verde” é apenas o começo de uma aventura maior.
Wild
at Heart (21') de Irene Kotnik (Alemanha). Empenhadas em aumentar a
visibilidade das mulheres no mundo das motos, as Petrolettes são uma comunidade
mundial feminina cuja missão é inspirar as mulheres a juntarem-se, celebrarem
os desportos motorizados, abraçarem a aventura, defenderem causas sociais e
apoiarem iniciativas significativas.
The
Freeride Spirit (16') de Roland Blechschmied (Alemanha). “The Freeride
Spirit” é uma viagem cinematográfica ao coração do “freestyle” das motos de
todo-o-terreno – uma celebração crua e indomável da liberdade, da adrenalina e
da ligação humana. Desde os trilhos poeirentos de vales remotos até às colinas
verdejantes de continentes distantes, o filme segue pilotos de todo o mundo
enquanto perseguem a simples emoção de um terreno aberto e de duas rodas e um
motor por baixo deles. Esta curta é um tributo a uma comunidade global unida
não pela língua ou pelas fronteiras, mas por um amor partilhado pela descoberta
e pelo laço tácito forjado através da lama, do suor e do acelerador. Uma ode
visual ao espírito de aventura, “The Freeride Spirit” mostra que, independentemente
da nossa origem, estamos unidos pela terra.
Logo após a exibição das “curtas”, a organização chamou ao palco alguns
dos realizadores presentes para partilharem as suas experiências na feitura dos
respectivos filmes.
Pequena conversa com alguns
dos realizadores das curtas-metragens.
Com o aproximar das 18h30, chegava um dos momentos mais aguardados do
dia. Aos poucos, cerca de duas centenas de pessoas perfilavam-se à porta da
Sala 3 (após uma alteração de última hora, da Sala 2 para a Sala 3, para
acomodar o elevado número de interessados) para assistirem à Talk
Charley Boorman (bilhete: 1,00 €). Charley Boorman, actor
britânico, motociclista, aventureiro, apresentador de televisão e escritor de
viagens, é uma personalidade sobejamente conhecida entre a comunidade
motociclística. Apaixonado por motos desde criança, Charley é juntamente com o
seu amigo Ewan McGregor,
um dos protagonistas da bem-sucedida série documental Long Way (Long Way Round - 2004, Long Way
Down - 2007, Long Way Up - 2020 e Long Way Home - 2025). Num ambiente de
simpatia e boa disposição, os 60’ de duração rapidamente se esgotaram ao ouvir
as histórias e peripécias da sua vida, bem como as aventuras que tem empreendido
pelo mundo fora, onde demonstrou ter uma grande resiliência e positividade até
nas piores situações.
Cerca de 200 pessoas
assistiram à Talk Charley Boorman.
Talk Charley Boorman, com o
conhecido motociclista e aventureiro britânico da série ‘Long Way’.
A sessão nocturna teve início só às 21h30, o que deixou algum
tempo para “digerir” a interessante conversa, enquanto aconchegava o estômago
num dos bares no Cinema São Jorge. Novamente na Sala Manoel de Oliveira (bilhete:
5,00 €), foram exibidos dois filmes, uma longa-metragem e uma curta-metragem:
The
Drixton (56’) de Spenser Robert (E.U.A.). Até onde irias para salvar a moto
favorita do teu Pai? Neste filme, Ari e Zack estão numa missão – desde um
celeiro em New Hampshire até ao Barber Motorsports Museum – para tirar a famosa
Drixton Honda de Todd Henning das caixas numa prateleira e colocá-la de novo
numa pista de corridas.
Motorcycle Mary (22’) de Haley
Watson (E.U.A.). Esta é a história não contada da lendária pioneira dos
desportos motorizados Mary McGee. “Motorcycle Mary” traz à luz, com
impressionantes imagens de arquivo e fotografias nunca vistas, uma carreira de
automobilista que durou trinta anos e que viu Mary quebrar as normas de género
enquanto dominava várias disciplinas do desporto motorizado. Confrontada com o
sexismo e com a tragédia pessoal, Mary persevera, esforçando-se por atingir
feitos cada vez mais incríveis – culminando no seu desafio mais arrepiante: a
tentativa de se tornar a primeira pessoa a percorrer sozinha a extenuante Baja
500 numa moto.
Concluída a sessão, foi a vez da realizadora americana Haley Watson
subir ao placo para uma breve conversa sobre o filme ‘Motorcycle Mary’, recentemente
nomeado para Melhor Curta-Metragem Documental na 46.ª edição dos Emmy de
Notícias e Documentários.
Breve conversa com Haley
Watson, realizadora do filme ‘Motorcycle Mary’.
Terminava assim a minha visita ao IX Lisbon Motorcycle Film Fest. Para
quem não esteve presente no evento, aqui fica um breve resumo do mesmo: