sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Boas Festas 2025

A ‘Fita de Asfalto’ deseja a todos os motociclistas e entusiastas das motos um Feliz Natal e umas boas entradas no ano de 2026.


Regressando ao infindável tema das IPO (Inspeções Periódicas Obrigatórias), é sabido que os motociclistas cuidam das suas motos, porque sabem que as suas vidas dependem disso. E os vários estudos e diferentes estatísticas comprovam que as IPO não são sinónimo de maior segurança rodoviária ou redução da sinistralidade. Ainda assim, esta polémica continua a dar que falar, e o que parecia definitivo, afinal poderá não ser. Ou será que é?

Resumindo, a Comissão Europeia decidiu procurar sobrepor-se à vontade dos Estados-Membro e recolocou na agenda as Inspeções às motos, passando desta vez a querer forçar os países que ainda não têm inspeções, a aplicarem uma nova legislação europeia que as tornará absolutamente obrigatórias. Mas no que parece ser uma reviravolta, o Conselho da UE decidiu que não haverá IPO para motociclos. Esperemos que seja desta.

Votos de Boas Festas e Boas Curvas... em segurança!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

MotoGP 2025 - Miguel Oliveira em 20º

Ao longo dos últimos 15 anos tivemos um piloto português a representar o nosso País ao mais alto nível. Primeiro com o número 44 (125cc, Moto3 e Moto2) e, mais tarde, com o número 88 (MotoGP) nas carenagens das suas motos, Miguel Oliveira tornou-se o expoente máximo dos pilotos portugueses nas duas rodas. O único que esteve a tempo inteiro na categoria rainha do motociclismo de velocidade a nível mundial (Felisberto Teixeira chegou a competir no GP de Espanha de 1998 com uma Honda NSR V2 de 500cc).

Miguel Oliveira – Prima Pramac Yamaha Factory Team Yamaha YZR-M1 #88. Via

A temporada de 2025 fica então marcada pela despedida do piloto português do paddock do mundial de motociclismo de velocidade. Uma carreira que não terminou, é verdade, mas que, fruto de uma época pouco conseguida no que a resultados diz respeito, levou a que fosse preterido pela Prima Pramac Yamaha em favor do seu colega de equipa Jack Miller.

Miguel Oliveira explica um pouco o que aconteceu ao longo do processo negocial:

“Foi um pouco surpreendente, pois em 2024 eu assinei por 1+1 ano de projeto, onde sabíamos que o primeiro ano seria uma espécie de ano de aprendizagem que precisávamos sofrer e provavelmente terminar algumas corridas a lutar por posições de menor destaque. Mas foi para isso que assinei. Infelizmente sofri a lesão no início da temporada, quando perdi muitas corridas, e depois, assim que voltei disso, todos soubemos da contratação de outro piloto. Isso também surgiu de forma surpreendente, adicionando mais pressão, por isso sim, é algo que será interrompido numa fase em que eu penso que tínhamos mais potencial. Mas a vida é assim e andamos para a frente.

A minha situação era bastante clara porque eu tenho uma cláusula de performance no meu contrato que em parte não foi cumprida por causa da lesão, mas também em algumas corridas porque a moto não estava a ter uma performance boa o suficiente e não me foi possível mostrar o meu potencial. De qualquer forma, terminar em último é algo que não está nos meus planos como piloto, não mostra o meu verdadeiro valor e também as minhas capacidades. Por isso, de qualquer forma seria duro continuar desta forma”.

“É triste porque sei que ainda tenho muito potencial neste paddock e sair assim não é fácil”, desabafa o piloto luso, referindo ainda em jeito de balanço que “Tive uma carreira com que muitos pilotos só podem sonhar. Tive o privilégio de vencer em diferentes categorias e fiz parte de grandes equipas que me ajudaram a alcançar meu melhor potencial, especialmente nas Moto3 e Moto2. Sou grato a muitos fabricantes, muitas equipas e muitas pessoas que conheci ao longo destes anos e que me ajudaram a dar o melhor de mim. Tudo o que eu conquistar no futuro também será resultado de todas essas experiências”.

Miguel Oliveira participou em 247 corridas em todas as categorias, venceu por 17 vezes, sendo que 5 vitórias foram em MotoGP, obteve 5 “pole position” e subiu ao pódio por 41 vezes. Para além das vitórias em MotoGP, categoria em que a sua melhor classificação final foi um 9.º lugar (2020), destacou-se por ter sido vice-campeão em Moto2 (2018) e também em Moto3 (2015). Fecha assim a sua carreira em MotoGP com a época de 2025 marcada pela lesão sofrida no GP da Argentina, totalizando 43 pontos que lhe dão o 20.º lugar na classificação de pilotos.

Aqui fica o resumo da prestação de Miguel Oliveira nos 22 Grandes Prémios de MotoGP da temporada de 2025:

01, 02 Março - GP Tailândia (Circuito Chang International)
Sprint – 16.º lugar (0 pts.).
Corrida – 14.º lugar (2 pts.).

15, 16 Março - GP Argentina (Circuito Termas de Rio Hondo)
Sprint – Abandono [queda involuntária] (0 pts.).
Corrida – Não participou [lesionado].

29, 30 Março - GP Américas (Circuito das Américas)
Sprint e Corrida – Não participou [lesionado].

12, 13 Abril - GP Qatar (Circuito Losail)
Sprint e Corrida – Não participou [lesionado].

26, 27 Abril - GP Espanha (Circuito Jerez de La Frontera)
Sprint – Não participou [lesionado].
Corrida – Não participou [lesionado].

10, 11 Maio - GP França (Circuito Bugatti-Le Mans)
Sprint – 20.º lugar (0 pts.).
Corrida – Abandono [queda] (0 pts.).

24, 25 Maio - GP Grã-Bretanha (Circuito Silverstone)
Sprint – 16.º lugar (0 pts.).
Corrida – 16.º lugar (0 pts.).

07, 08 Junho - GP Aragão (Circuito Motorland Aragón)
Sprint – 15.º lugar (0 pts.).
Corrida – 15.º lugar (1 pt.).

21, 22 Junho - GP Itália (Circuito Mugello)
Sprint – 13.º lugar (0 pts.).
Corrida – 13.º lugar (3 pts.).

28, 29 Junho - GP Países Baixos (Circuito Assen)
Sprint – 12.º lugar (0 pts.).
Corrida – Abandono [colisão] (0 pts.).

12, 13 Julho - GP Alemanha (Circuito Sachsenring)
Sprint – 11.º lugar (0 pts.).
Corrida – Abandono [queda] (0 pts.).

19, 20 Julho - GP Chéquia (Circuito Brno)
Sprint – 13.º lugar (0 pts.).
Corrida – 17.º lugar (0 pts.).

– Pausa de Verão –

16, 17 Agosto - GP Áustria (Circuito Red Bull Ring)
Sprint – 18.º lugar (0 pts.).
Corrida – 17.º lugar (0 pts.).

23, 24 Agosto - GP Hungria (Circuito Balaton Park)
Sprint – 14.º lugar (0 pts.).
Corrida – 12.º lugar (4 pt.).

06, 07 Agosto - GP Catalunha (Circuito Barcelona-Catalunha)
Sprint – 10.º lugar (0 pts.).
Corrida – 9.º lugar (7 pts.).

13, 14 Setembro - GP San Marino e Riviera Rimini (Circuito Misano)
Sprint – 16.º lugar (0 pts.).
Corrida – 9.º lugar (7 pts.).

27, 28 Setembro - GP Japão (Circuito Mobility Resort Motegi)
Sprint – 15.º lugar (0 pts.).
Corrida – 14.º lugar (2 pts.).

04, 05 Outubro - GP Indonésia (Circuito Pertamina Mandalika)
Sprint – 9.º lugar (1 pt.).
Corrida – 11.º lugar (5 pts.).

18, 19 Outubro - GP Austrália (Circuito Phillip Island)
Sprint – 14.º lugar (0 pts.).
Corrida – 12.º lugar (4 pts.).

25, 26 Outubro - GP Malásia (Circuito Internacional Sepang)
Sprint – Abandono [queda] (0 pts.).
Corrida – 19.º lugar (0 pts.).

08, 09 Novembro - GP Portugal (Autódromo Internacional do Algarve)
Sprint – 16.º lugar (0 pts.).
Corrida – 14.º lugar (1 pt.).

15, 16 Novembro – GP Comunidade Valenciana (Circuito Ricardo Tormo)
Sprint – 17.º lugar (0 pts.).
Corrida – 11.º lugar (5 pts.).

Classificação final: 1.º Marc Márquez (Ducati Lenovo Team – #93), 545 pts.; 2.º Alex Márquez (BK8 Gresini Racing MotoGP – #73), 467 pts.; 3.º Marco Bezzecchi (Aprilia Racing – #72), 353 pts.; 4.º Pedro Acosta (Red Bull KTM Factory Racing – #37), 307 pts.; 5.º Francesco Bagnaia (Ducati Lenovo Team – #63), 288 pts.; ... ; 20.º Miguel Oliveira (Prima Pramac Yamaha MotoGP – #88), 43 pts.; etc.

No que à luta pelo campeonato diz respeito, Marc Márquez (Ducati Lenovo Team – #93) foi verdadeiramente imperial ao longo de toda a época, numa demonstração de talento e determinação pouco vistas neste desporto, especialmente depois de anos difíceis a debelar lesões preocupantes que poderiam ter colocado um fim à sua carreira.

E nem a ausência nos últimos quatro grandes prémios, devido a lesão sofrida numa queda durante o GP da Indonésia, impediu o piloto espanhol de conquistar o 7.º título de Campeão do Mundo de MotoGP, seis anos após a conquista daquele que tinha sido o seu último título (2019), igualando os 9 títulos mundiais de Valentino Rossi.

Quanto a Miguel Oliveira, 15 anos depois despede-se então do campeonato mundial de velocidade, aquela que foi a sua casa fora de casa, um paddock onde conquistou a admiração de todos. Pilotos, mecânicos, diretores de equipas, chefes de equipa, fabricantes, jornalistas e também, claro, os fãs do campeonato.

Depois de alguns meses de especulação, foi confirmada a contratação do piloto português pela equipa ROKiT BMW Motorrad WorldSBK para 2026. Na prática, a questão resume-se à troca entre Miguel Oliveira e Toprak Razgatlioglu (o campeão de 2025), bem como entre a equipa satélite Prima Pramac Yamaha MotoGP e a equipa oficial BMW Motorrad WorldSBK.

Oliveira vai assim juntar-se a Danilo Petrucci, antigo colega de marca no MotoGP (KTM em 2020), sendo que para Miguel Oliveira será uma mudança completa de campeonato e de tipo de moto, passando o #88 a estar em destaque nas carenagens da BMW M 1000 RR da ROKiT BMW Motorrad WorldSBK.

Miguel Oliveira com a sua nova BMW M 1000 RR da ROKiT BMW Motorrad WorldSBK (teste em Jerez). Via

E sem fechar definitivamente a porta ao MotoGP, o piloto de Almada ainda mantém uma ténue esperança sobre a possibilidade de vir a ser piloto de testes da Aprilia Racing, enquanto compete pela BMW Motorrad no Mundial SBK. Estamos a falar de um piloto oficial de um fabricante num campeonato de motociclismo poder estar a trabalhar em simultâneo por outro fabricante, noutro campeonato. Não é habitual, mas...

Força Miguel!

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Best Pirinéus Tour 2025 #4/8

Dia 4 (29/07/2025): Andorra – Biescas

Para este quarto dia do Best Pirinéus Tour 2025 estavam igualmente reservadas paisagens arrebatadoras, quer pelo sobe e desce de montanha, com passagens em diversas zonas de grande beleza (incluindo a entrada na comunidade autónoma de Aragão), quer pela visita a Ainsa, local património da Unesco. A chegada no final do dia seria em Biescas, um interessante e típico município de montanha.

Dia 4 – 330 km.

Depois da rotina matinal da tomada do pequeno-almoço no hotel e da arrumação da bagagem na mota, a caravana deixou a cidade de Andorra-a-Velha por volta das 08h30. Poucos quilómetros após a passagem na fronteira e já em solo espanhol, foi efectuada uma breve paragem para voltar a ligar os dados móveis dos telemóveis, já que estes tinham sido desligados no dia anterior para evitar surpresas desagradáveis, devido a não haver roaming com Portugal em Andorra.

O track do Best Pirinéus Tour 2025 encaminhou-nos pelo magnífico Parque Natural dos Altos Pirenéus (Parc Natural de l'Alt Pirineu), a maior área natural protegida da Catalunha, com uma área de quase 80.000 ha. Sob o pico mais alto dos Pirenéus Catalães, o Pica d'Estats (3.143 m), este território único é uma reserva do património natural e cultural dos Pirenéus.

A passagem por La Seu d'Urgell foi breve, mas esta que é a cidade mais importante do norte da província de Lérida, merece que lhe dediquemos um pouco mais de tempo. Situada na confluência dos rios Valira e Segre e dominada ao sudeste pela espetacular Serra de Cadí, o seu monumento mais interessante é a Catedral, belo exemplar do românico italianizante na Catalunha, dos Séc. XI e XII. Também se destacam a igreja românica de Sant Miquel, do Séc. XI e a da Sagrada Família, a Casa da Cidade, do Séc. XV e um Museu Diocesano, que exibe notáveis peças da pintura e da escultura medievais. No centro histórico, formado por belas ruas com pórticos e velhos casarões, encontra-se o convento de Sant Domingo, que foi transformado em Parador de Turismo.

Meia centena de quilómetros depois e ao atravessarmos o Rio Noguera Pallaresa, no município de Sort, a presença massiva de caiaques e de lojas relacionadas com desportos aquáticos denunciava a principal actividade desportiva desta região da província de Lérida. Tínhamos chegado ao paraíso do rafting, da canoagem e do canyoning. Com as “águas bravas” do rio por perto, a pausa a meio da manhã teve lugar em Llavorsí, para tomar um café e apreciar as belezas naturais deste local.

Llavorsí, Parque Natural dos Altos Pirenéus (Lérida, Catalunha).

Rio Noguera Pallaresa, Parque Natural dos Altos Pirenéus (Lérida, Catalunha).

Continuávamos a rolar tranquilamente em pleno Parque Natural dos Altos Pirenéus, por estradas de boa qualidade e rodeados de paisagens verdadeiramente arrebatadoras. As sempre bem-vindas curvas eram as companheiras ideais da viagem que rumava ao ponto mais elevado do dia, a 2.072 m (Port de La Bonaigua), num agradável encadear de curva e contracurva que requereu atenção e, por vezes, alguns cuidados adicionais, para evitar quedas que pudessem levar a males maiores do que uns simples riscos na pintura da mota.

Paisagens magníficas do Parque Natural dos Altos Pirenéus (Lérida, Catalunha).

Curvas e contracurvas no Parque Natural dos Altos Pirenéus (Lérida, Catalunha).

O atravessamento dos pitorescos povoados de montanha traz um colorido diferente à paisagem, com a pedra e a madeira em grande destaque nas características casas de telhado negro e de inclinação acentuada. Foi o caso de Arties, uma localidade do município de Alto Arán (província de Artiés y Garós, na comarca do Vale de Arán), localizada na confluência entre o rio Garonne e seu afluente Valarties, a uma altitude de 1.144 m.

Atravessamento da povoação de Arties (província de Artiés y Garós, comarca do Vale de Arán).

Na passagem pela cidade de Vielha (Lérida, Catalunha), é notória a sua dimensão e importância relevante como destino turístico popular em Espanha, conhecida pelas suas atividades ao ar livre, património histórico e beleza natural.

Vielha, a capital do Vale de Arán, está rodeada de cumes montanhosas que superam 2.000 m de altitude. A sua origem é da época romana, quando a vila era conhecida pelo nome de Vétula e conforme diz a lenda, era a pátria do gigante Mandronius, que lutou contra a invasão romana. No Séc. X, a cidade foi vinculada aos condados catalães por meio de acordos feudais.

Percorrendo os Pirenéus Aragoneses (província de Huesca).

Foi já em plena comunidade autónoma de Aragão, mais propriamente na província de Huesca, que acabámos por nos sentar à mesa do bar restaurante La Morena, em Castejón de Sos, para almoçar. Retomámos depois a estrada com o estômago mais aconchegado, serpenteando pelos Pirenéus Aragoneses até um dos locais mais espectaculares da região.

O troço da estrada N-260 (também conhecida por Eje Pirenaico, Eixo dos Pirenéus) entre as localidades de Castejón de Sos e Campo, irrompe pelo Congosto de Ventamillo (desfiladeiro de Ventamillo) e o vale do Rio Ésera. Este desfiladeiro é uma característica geográfica que dá acesso ao vale de Benasque, na região de Ribagorza (Huesca, Aragão). É um canyon estreito, com paredes verticais de mais de 300 m, com cerca de 2.200 m de comprimento no seu troço mais estreito, que tem até 10 km no total, por onde passa a estrada N-260, construída em 1916. A fisionomia da área é basicamente formada por rochas calcárias e é o local por onde os glaciares que desceram do maciço da Maladeta vieram em direcção às montanhas.

Congosto de Ventamillo (desfiladeiro de Ventamillo) e vale do Rio Ésera (Huesca, Aragão).

Congosto de Ventamillo (desfiladeiro de Ventamillo) e vale do Rio Ésera (Huesca, Aragão).

Entretanto e com o calor a fazer-se sentir de forma mais intensa, chegávamos a Aínsa-Sobrarbe, localidade inserida no Geoparque Global Sobrarbe-Pirineus da Unesco, e uma das Povoações Mais Bonitas de Espanha.

Capital do antigo reino de Sobrarbe, que foi incorporado ao de Aragão no Séc. XI, a vila constitui um magnífico expoente do urbanismo medieval. Declarada Conjunto-histórico-artístico, apresenta em seu centro histórico um conjunto uniforme e amontoado de casas incrivelmente harmónico, onde se destacam a esbelta torre de La Colegiata e o enorme recinto do castelo, quase tão grande como o resto do povoado. Conserva quase totalmente as muralhas que o rodeavam e está repleto de monumentos que o transportarão de volta à Idade Média.

Junto à praça, com alpendres aos dois lados, destaca-se a igreja românica de Santa Maria, de finais do Séc. XI. Nela pode-se admirar o seu portal, uma interessante cripta e a sua torre que domina a paisagem urbana. Um pouco posterior é o claustro, realizado no Séc. XIII. No noroeste da zona urbana é conservada a cidadela. A sua origem é uma torre pentagonal, construída em meados do Séc. XI e integrada ao sistema de defesa contra a ameaça muçulmana. Posteriormente esta fortaleza foi revitalizada no final do Séc. XVI, construindo-se a atual cidadela dentro do sistema defensivo da fronteira com a França. Em comemoração da reconquista da vila é realizada em setembro uma representação de mouros e cristãos chamada La Morisma.

Plaza Mayor de Aínsa-Sobrarbe (Huesca, Aragão).

Aínsa-Sobrarbe (Huesca, Aragão).

Aínsa-Sobrarbe (Huesca, Aragão).

De novo na estrada e já com Aínsa-Sobrarbe e o Eje Pirenaico para trás, a caravana seguiu pelo Parque Natural de Posets-Maladeta (conjunto montanhoso localizado no setor mais norte-oriental do Pirineu Aragonês, que abriga alguns dos picos mais altos da Península Ibérica) a caminho da segunda travessia espectacular do dia.

Situado na região do Parque Nacional de Ordesa e Monte Perdido (o segundo parque nacional mais antigo da Espanha, declarado em 16 de agosto de 1918 pelo Real Decreto 16-08-1918 com o nome de “Vale de Ordesa”), o Canyon de Añisclo (Vale de Vió) é uma das paisagens mais extraordinárias de Aragão. Um desfiladeiro profundo esculpido ao longo dos séculos pela intensa erosão do Rio Bellós. As inúmeras e altas quedas de água, a floresta densa e a sensação de estar num lugar único foram motivos suficientes para a sua inclusão no Parque Nacional em 1982.

Um local verdadeiramente encantador, mas onde foi necessário ter especial atenção durante a travessia, devido à pouca largura da estrada, às curvas cegas do trajecto e principalmente devido à acumulação de pedras em diversos locais, oriundas de pequenos desprendimentos que vão ocorrendo nas encostas rochosas adjacentes.

Canyon de Añisclo (Huesca, Aragão).

Canyon de Añisclo (Huesca, Aragão).

O trajeto deste 4.º dia do Best Pirinéus Tour 2025 aproximava-se do seu final. A caravana motociclística percorria os últimos quilómetros rumo a Biescas, não sem antes atravessar a localidade de Gavín, uma povoação que foi praticamente destruída durante a Guerra Civil Espanhola, mas que mantém o sabor tradicional das típicas aldeias de montanha.

Entrada na localidade de Gavín (Huesca, Aragão).

No final da tarde chegávamos então a Biescas, um município localizado a 875 m acima do nível do mar, constituindo a porta de entrada para o Vale do Tena. Esta vila pirenaica está situada num antigo vale glaciar e estende-se por ambas as margens do Rio Gállego, dando origem a dois bairros distintos: El Salvador e San Pedro, presididos pelas igrejas com o mesmo nome. Na área circundante, pode visitar-se a Ermida de Santa Elena e dois dólmens neolíticos, que podem ser acedidos a pé por um caminho fácil.

A uma curta distância de Biescas encontra-se a Rota das Igrejas de Serrablo, que inclui preciosidades como San Bartolomé de Gavín e San Pedro de Lárrede. Biescas é também um destino importante para os amantes de desportos de neve, uma vez que a famosa estância de esqui Aramón Formigal-Panticosa está localizada no vale.

Bem no coração de Biescas fica o Hotel Casa Ruba (La Posada de Ruba), local de pernoita de todos os elementos do tour. Com poucas possibilidades para estacionar as motas nas ruas apertadas junto ao hotel, felizmente que a existência de um espaço amplo nas traseiras acabou por permitir o seu estacionamento, a apenas 100 m (2 min. a pé) de distância.

Devido à grande dimensão do grupo e à oferta relativamente limitada ao nível da restauração local, a organização já tinha assegurado a reserva do jantar para a totalidade dos 26 participantes. Este acabou por ter lugar por volta das 20h30, não no Hotel Casa Ruba, mas sim no elegante Restaurante La Lifara (Hotel Tierra de Biescas), a cerca de 250 m do alojamento.

Jantar de grupo no Restaurante La Lifara (Hotel Tierra de Biescas).

Já com quatro dias de tour passados e muitos quilómetros percorridos em comum, a boa disposição foi uma constante durante o jantar de grupo, num espírito de são convívio entre todos. A animação à mesa foi grande, acabando inclusive por contagiar outros clientes do restaurante que se encontravam nas proximidades.

Muitas histórias e peripécias depois, pouco mais restou que percorrer as ruas de regresso ao alojamento e recolher aos aposentos. No dia seguinte teríamos uma nova grande aventura pirenaica pela frente.

Continua...

terça-feira, 14 de outubro de 2025

Best Pirinéus Tour 2025 #3/8

Dia 3 (28/07/2025): Roses – Cabo de Creus – Andorra

Um extraordinário dia em perspectiva para o início das montanhas mágicas no Best Pirinéus Tour 2025.

Com partida simbólica da nossa Transpirenaica no Cabo de Creus, o percurso previsto para o 3.º dia levar-nos-ia a fazer passagens em vários pontos de grande interesse, bem como em col’s 1 emblemáticos da cordilheira, o Port Puymorens e o Port d’Envalira (Pas de la Casa), com entrada em França e saída para Andorra, local de pernoita com visita pela tarde.

Dia 3 – 295 km.

Devido às restrições existentes no acesso ao Cabo de Creus nesta altura do ano (fechado a veículos motorizados das 09h30 às 21h30, de 1 de Junho a 14 de Setembro), o Dia 3 do tour começou bem cedo, com o pequeno-almoço no hotel e as tarefas habituais (arrumação da bagagem na mota e lubrificação da corrente) realizadas a tempo da saída da caravana para a estrada, pelas 07h30.

Após uma curta ligação de cerca de 25 km, o inóspito Cabo de Creus (Cap de Creus, em catalão) recebeu-nos de forma bastante agreste, com um vento fortíssimo que por pouco não fez tombar as motas de alguns companheiros de tour menos atentos.

Neste promontório abrupto e rochoso de 672 m de altitude, que se ergue sobre o Mar Mediterrâneo e que constitui o ponto mais oriental da Península Ibérica (o ponto mais ocidental é o Cabo da Roca, que é simultaneamente o ponto mais ocidental de Portugal e Europa continental), ergue-se o Farol do Cabo de Creus (Far de Cap de Creus, no idioma catalão). Foi aqui que teve início a nossa Transpirenaica.

Farol do Cabo de Creus, o início da nossa Transpirenaica (Catalunha, Espanha).

Cabo de Creus, o ponto mais oriental da Península Ibérica (Catalunha, Espanha).

Tiradas as fotos da praxe, regressámos à estrada em direcção à Cordilheira dos Pirenéus, seguindo com atenção o track preparado pela organização. Na passagem por Figueres, cidade natal do conhecido pintor Salvador Dalí, junto à Casa Natal do artista e ao Teatro-Museu Dalí foi lembrada a figura e a obra de um dos maiores representantes do surrealismo.

Sensivelmente a um terço do percurso, chegávamos a Besalú. Localizada na região da Garrotxa, a cidade fica a poucos passos do cenário espetacular da Zona Vulcânica do Parque Natural de La Garrotxa, nos últimos contrafortes da parte oriental dos Pirenéus de Girona. O rico legado medieval aproxima o visitante tanto de construções religiosas quanto civis, bem como dos vestígios de um bairro sefardita que existiu nesta cidade durante a Idade Média.

Besalú foi designado como um conjunto histórico nacional em 1966. A sua característica mais importante é a ponte românica do Séc. XII sobre o Rio Fluvià, com o seu portão de entrada no ponto médio da ponte. Outro importante monumento é a igreja do Mosteiro de São Pedro, consagrada em 1003. A cidade possui ruas e praças arcadas, e também um mikvá restaurado, um banho ritual judaico datado a partir do Séc. XI, assim como o que resta de uma sinagoga medieval, localizados na parte inferior da cidade perto do rio.

Ponte românica sobre o Rio Fluvià (Besalú, Catalunha, Espanha).

Igreja do Mosteiro de São Pedro (Besalú, Catalunha, Espanha).

Cerca de 15 km depois, passávamos pela localidade de Castellfollit de la Roca, um dos municípios mais pequenos e pitorescos da Espanha, limitado pela confluência dos rios Fluvià e Toronell. Suspenso numa espetacular parede basáltica, pode ver-se a igreja e as casas de Castellfollit, que se transformaram numa das imagens mais populares da região, e o seu centro histórico, de origem medieval, composto por praças e ruas estreitas e umbrosas. Na extremidade do precipício encontra-se a praça-mirante Josep Pla, com uma impressionante vista panorâmica. A igreja de São Salvador, do Séc. XIII, o campanário de Sant Roc e especialmente o ambiente natural do povo, são as suas belezas mais destacadas.

Castellfollit de la Roca (Catalunha, Espanha).

Enquadrada por uma magnífica paisagem verdejante, a caravana ia percorrendo as estradas montanhosas da província de Girona em ritmo de turismo. A temperatura ambiente mantinha-se amena, distante dos valores elevados registados no 1.º e 2.º dias. Foi então com este agradável cenário que atravessámos a localidade de Ripoll.

Localizada na confluência dos rios Ter e Freser, a cidade agrupou-se ao redor do mosteiro beneditino de Santa Maria de Ripoll, fundado no Séc. IX. Este cenóbio românico é considerado um dos centros monásticos mais importantes da Catalunha medieval, devido fundamentalmente à sua atividade repovoadora. Nele se destaca o magnífico claustro e a igreja com um extraordinário pórtico do Séc. XII, que conserva interessantes relevos escultóricos com cenas bíblicas.

Além do mosteiro de Santa Maria de Ripoll, merece destaque a igreja de Sant Pere, do Séc. XII, com elementos pré-românicos e atualmente sede do Museu Etnográfico. A manufactura de pregos e armas foi a principal atividade económica da cidade e entre os Séc. XVI e XVIII foi um dos centros armeiros mais importantes da Europa. Com a chegada do comboio e da indústria têxtil, Ripoll conseguiu um novo impulso económico que se manteve até os dias atuais.

Entrada em Ripoll (Catalunha, Espanha).

Continuámos o trajecto pela comarca de Ripollès (Girona), rumando agora em direcção a Norte, com o Rio Freser a correr por perto, até uma oportuna paragem no Bar Restaurant El 9Llac para almoçar. Finda a refeição e com as motas atestadas na estação de serviço mesmo ali ao lado, nada melhor que umas boas curvas para ajudar na digestão.

E se o desejo era pelo aparecimento das curvas, elas acabariam por chegar em grande quantidade e para todos os gostos. Um verdadeiro regalo para quem gosta de andar de mota por estradas de montanha.

Pela comarca de Ripollès (Girona).

O track levou-nos depois em direcção à fronteira com França junto à vila de Puigcerdá, capital da comarca da Baixa Cerdanha, localizada num amplo planalto com vista para o Rio Segre. Puigcerdà conserva diversos monumentos interessantes, como a igreja gótica de Santo Domingo, do Séc. XV, com bonitas pinturas murais, o campanário gótico da desaparecida igreja de Santa Maria, a Plaza Mayor, com seus pórticos, além de diversas casas senhoriais, a Prefeitura e o hospital. Também tem muito apelo turístico o seu lago artificial, rodeado de choupos e construído na segunda metade do Séc. XIII.

Ao atravessar o Rio Raür, um afluente do Rio Segre, entrávamos então em território francês e no Parque Natural Regional dos Pirenéus Catalães. A apenas 4 km de distância fica uma das maiores curiosidades da região, a localidade de Llívia.

Llívia é um exclave de Espanha em França, rodeado na sua totalidade por território francês como resultado do Tratado dos Pirenéus de 1659, no qual a Espanha cedeu à França os 33 vilarejos das comarcas de Vallespir, Capcir, Conflent e a Alta Cerdanya, que hoje formam, juntamente com o Rossilhão, o Departamento Francês dos Pirenéus Orientais. Como ficou fora deste tratado por se tratar de uma vila e não de uma aldeia, privilégio concedido pelo imperador Carlos V, continuou sob a soberania do rei espanhol.

Entrada em França e no Parque Natural Regional dos Pirenéus Catalães.

Há medida que nos aproximávamos da alta montanha, sentia-se a claramente temperatura ambiente a começar a baixar. Em pleno Departamento Francês dos Pirenéus Orientais, numa região onde nos meses de Inverno o esqui é rei, passámos por Port Puymorens e pelo conhecido Col de Puymorens (1.915 m de altitude), um dos mais emblemáticos da cordilheira. Por aqui passou também a 15.ª etapa do Tour de France 2021.

Andorra, a terra dos Pirenéus, já não estava longe. Este microestado soberano europeu, oficialmente Principado de Andorra, seria o terceiro país percorrido pelo Best Pirinéus Tour 2025 num só dia. É importante ter em atenção que antes da entrada em Andorra convém desligar os dados móveis dos telemóveis para evitar surpresas desagradáveis, pois trata-se de um país que não é membro da União Europeia (embora tenha adotado o euro como a sua moeda oficial) e não tem roaming com Portugal.

Chegados a Pas de la Casa, um resort e uma estação de esqui que se encontra praticamente sobre a fronteira Andorra-França, o trajecto apresentava duas opções: seguir pela sinuosa estrada de montanha com passagem no Port d’Envalira, ou pelo mais cómodo Túnel d'Envalira com portagem (o mais alto da Europa). Felizmente que a opção tomada foi a primeira, acabando por ser o ponto mais elevado atravessado durante o tour, a 2.408 m de altitude. Aqui a temperatura desceu até aos 8 ºC...

O destino final do dia seria a cidade de Andorra-a-Velha (Andorra la Vella, em catalão), a capital mais alta da Europa, a uma altitude de 1.023 m acima do nível do mar. O nome “Vella” não significa “velha”, mas sim uma forma arcaica da palavra “Vila” (o nome pretendia distinguir entre a localidade e o país homónimo ou demonstrar a sua condição de capital do principado).

A população da cidade é muito diversa: Espanhóis (43%), Andorranos (33%), Portugueses (11%), Franceses (7%) e outras comunidades minoritárias (6%). A língua oficial em todo o principado é o catalão, embora o espanhol e francês também sejam habitualmente falados. O turismo (estima-se que cerca 10,2 milhões de turistas visitem o país anualmente) e o comércio (as marcas internacionais têm em Andorra isenção de impostos) são as suas principais actividades económicas.

Foi no Sercotel Delfos Andorra, localizado mais propriamente em Escaldes-Engordany (a paróquia andorrana mais populosa a seguir a Andorra-a-Velha, com a qual forma uma área urbana contínua), que ficou alojado todo o grupo do Best Pirinéus Tour 2025. Novamente sem a possibilidade de estacionar as motas nas imediações, a questão foi resolvida com a colocação das motas no estacionamento coberto do hotel (a custo, igualmente suportado pela organização).

Depois de uma pequena confusão com o pagamento da taxa turística, prontamente resolvida pela organização, e com os cartões de cidadão temporariamente “retidos” na recepção para preenchimento dos dados associados à reserva dos quartos (!?), deixámos o hotel para um pequeno passeio para conhecer a cidade.

No centro histórico destaca-se a Casa de la Vall (antigo parlamento) que contrasta com o moderno Parlamento vanguardista. Os apreciadores da arte românica não devem deixar de visitar a Igreja de Santa Coloma e a Ponte Medieval de Margineda sobre o Rio Valira. Um pouco mais acima, em Escaldes-Engordany, situa-se uma fonte de água termal, a Fonte de Roc del Metge, que brota entre 68 °C e 71 °C. Mas é o comércio concentrado na Av. Meritxell/ Av. Carlemany que faz verdadeiramente vibrar a cidade, com lojas para todos os gostos.

Andorra-a-Velha (Andorra).

Fonte de Roc del Metge (Escaldes-Engordany, Andorra).

Uma vez mais devido à oferta local ao nível da restauração, a organização optou por não juntar o jantar ao alojamento no hotel. Assim, cada um pôde escolher o que mais lhe apetecia comer. Foi então no Restaurant 120 que acabámos por nos sentar à mesa, de onde, no final, acabei por sair sem ter ficado particularmente entusiasmado, nem com a comida nem com o serviço.

Com o cair da noite e antes de regressar ao hotel, esperávamos ver ainda bastantes lojas abertas na zona, tal como acontece em muitas cidades turísticas espanholas. Constatámos, no entanto, que por volta das 20h00 as lojas já se encontravam encerradas, não deixando oportunidade para umas compras de última hora no final do dia.

Continua...

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1 Um passo (pass), colo (col), porto ou portela (port) é um local de transposição de uma montanha ou de uma cadeia de montanhas, geralmente o ponto mais baixo entre dois picos do respectivo sistema montanhoso.