terça-feira, 14 de outubro de 2025

Dia 3 (28/07/2025): Roses – Cabo de Creus – Andorra

Um extraordinário dia em perspectiva para o início das montanhas mágicas no Best Pirinéus Tour 2025.

Com partida simbólica da nossa Transpirenaica no Cabo de Creus, o percurso previsto para o 3.º dia levar-nos-ia a fazer passagens em vários pontos de grande interesse, bem como em col’s 1 emblemáticos da cordilheira, o Port Puymorens e o Port d’Envalira (Pas de la Casa), com entrada em França e saída para Andorra, local de pernoita com visita pela tarde.

Dia 3 – 295 km.

Devido às restrições existentes no acesso ao Cabo de Creus nesta altura do ano (fechado a veículos motorizados das 09h30 às 21h30, de 1 de Junho a 14 de Setembro), o Dia 3 do tour começou bem cedo, com o pequeno-almoço no hotel e as tarefas habituais (arrumação da bagagem na mota e lubrificação da corrente) realizadas a tempo da saída da caravana para a estrada, pelas 07h30.

Após uma curta ligação de cerca de 25 km, o inóspito Cabo de Creus (Cap de Creus, em catalão) recebeu-nos de forma bastante agreste, com um vento fortíssimo que por pouco não fez tombar as motas de alguns companheiros de tour menos atentos.

Neste promontório abrupto e rochoso de 672 m de altitude, que se ergue sobre o Mar Mediterrâneo e que constitui o ponto mais oriental da Península Ibérica (o ponto mais ocidental é o Cabo da Roca, que é simultaneamente o ponto mais ocidental de Portugal e Europa continental), ergue-se o Farol do Cabo de Creus (Far de Cap de Creus, no idioma catalão). Foi aqui que teve início a nossa Transpirenaica.

Farol do Cabo de Creus, o início da nossa Transpirenaica (Catalunha, Espanha).

Cabo de Creus, o ponto mais oriental da Península Ibérica (Catalunha, Espanha).

Tiradas as fotos da praxe, regressámos à estrada em direcção à Cordilheira dos Pirenéus, seguindo com atenção o track preparado pela organização. Na passagem por Figueres, cidade natal do conhecido pintor Salvador Dalí, junto à Casa Natal do artista e ao Teatro-Museu Dalí foi lembrada a figura e a obra de um dos maiores representantes do surrealismo.

Sensivelmente a um terço do percurso, chegávamos a Besalú. Localizada na região da Garrotxa, a cidade fica a poucos passos do cenário espetacular da Zona Vulcânica do Parque Natural de La Garrotxa, nos últimos contrafortes da parte oriental dos Pirenéus de Girona. O rico legado medieval aproxima o visitante tanto de construções religiosas quanto civis, bem como dos vestígios de um bairro sefardita que existiu nesta cidade durante a Idade Média.

Besalú foi designado como um conjunto histórico nacional em 1966. A sua característica mais importante é a ponte românica do Séc. XII sobre o Rio Fluvià, com o seu portão de entrada no ponto médio da ponte. Outro importante monumento é a igreja do Mosteiro de São Pedro, consagrada em 1003. A cidade possui ruas e praças arcadas, e também um mikvá restaurado, um banho ritual judaico datado a partir do Séc. XI, assim como o que resta de uma sinagoga medieval, localizados na parte inferior da cidade perto do rio.

Ponte românica sobre o Rio Fluvià (Besalú, Catalunha, Espanha).

Igreja do Mosteiro de São Pedro (Besalú, Catalunha, Espanha).

Cerca de 15 km depois, passávamos pela localidade de Castellfollit de la Roca, um dos municípios mais pequenos e pitorescos da Espanha, limitado pela confluência dos rios Fluvià e Toronell. Suspenso numa espetacular parede basáltica, pode ver-se a igreja e as casas de Castellfollit, que se transformaram numa das imagens mais populares da região, e o seu centro histórico, de origem medieval, composto por praças e ruas estreitas e umbrosas. Na extremidade do precipício encontra-se a praça-mirante Josep Pla, com uma impressionante vista panorâmica. A igreja de São Salvador, do Séc. XIII, o campanário de Sant Roc e especialmente o ambiente natural do povo, são as suas belezas mais destacadas.

Castellfollit de la Roca (Catalunha, Espanha).

Enquadrada por uma magnífica paisagem verdejante, a caravana ia percorrendo as estradas montanhosas da província de Girona em ritmo de turismo. A temperatura ambiente mantinha-se amena, distante dos valores elevados registados no 1.º e 2.º dias. Foi então com este agradável cenário que atravessámos a localidade de Ripoll.

Localizada na confluência dos rios Ter e Freser, a cidade agrupou-se ao redor do mosteiro beneditino de Santa Maria de Ripoll, fundado no Séc. IX. Este cenóbio românico é considerado um dos centros monásticos mais importantes da Catalunha medieval, devido fundamentalmente à sua atividade repovoadora. Nele se destaca o magnífico claustro e a igreja com um extraordinário pórtico do Séc. XII, que conserva interessantes relevos escultóricos com cenas bíblicas.

Além do mosteiro de Santa Maria de Ripoll, merece destaque a igreja de Sant Pere, do Séc. XII, com elementos pré-românicos e atualmente sede do Museu Etnográfico. A manufactura de pregos e armas foi a principal atividade económica da cidade e entre os Séc. XVI e XVIII foi um dos centros armeiros mais importantes da Europa. Com a chegada do comboio e da indústria têxtil, Ripoll conseguiu um novo impulso económico que se manteve até os dias atuais.

Entrada em Ripoll (Catalunha, Espanha).

Continuámos o trajecto pela comarca de Ripollès (Girona), rumando agora em direcção a Norte, com o Rio Freser a correr por perto, até uma oportuna paragem no Bar Restaurant El 9Llac para almoçar. Finda a refeição e com as motas atestadas na estação de serviço mesmo ali ao lado, nada melhor que umas boas curvas para ajudar na digestão.

E se o desejo era pelo aparecimento das curvas, elas acabariam por chegar em grande quantidade e para todos os gostos. Um verdadeiro regalo para quem gosta de andar de mota por estradas de montanha.

Pela comarca de Ripollès (Girona).

O track levou-nos depois em direcção à fronteira com França junto à vila de Puigcerdá, capital da comarca da Baixa Cerdanha, localizada num amplo planalto com vista para o Rio Segre. Puigcerdà conserva diversos monumentos interessantes, como a igreja gótica de Santo Domingo, do Séc. XV, com bonitas pinturas murais, o campanário gótico da desaparecida igreja de Santa Maria, a Plaza Mayor, com seus pórticos, além de diversas casas senhoriais, a Prefeitura e o hospital. Também tem muito apelo turístico o seu lago artificial, rodeado de choupos e construído na segunda metade do Séc. XIII.

Ao atravessar o Rio Raür, um afluente do Rio Segre, entrávamos então em território francês e no Parque Natural Regional dos Pirenéus Catalães. A apenas 4 km de distância fica uma das maiores curiosidades da região, a localidade de Llívia.

Llívia é um exclave de Espanha em França, rodeado na sua totalidade por território francês como resultado do Tratado dos Pirenéus de 1659, no qual a Espanha cedeu à França os 33 vilarejos das comarcas de Vallespir, Capcir, Conflent e a Alta Cerdanya, que hoje formam, juntamente com o Rossilhão, o Departamento Francês dos Pirenéus Orientais. Como ficou fora deste tratado por se tratar de uma vila e não de uma aldeia, privilégio concedido pelo imperador Carlos V, continuou sob a soberania do rei espanhol.

Entrada em França e no Parque Natural Regional dos Pirenéus Catalães.

Há medida que nos aproximávamos da alta montanha, sentia-se a claramente temperatura ambiente a começar a baixar. Em pleno Departamento Francês dos Pirenéus Orientais, numa região onde nos meses de Inverno o esqui é rei, passámos por Port Puymorens e pelo conhecido Col de Puymorens (1.915 m de altitude), um dos mais emblemáticos da cordilheira. Por aqui passou também a 15.ª etapa do Tour de France 2021.

Andorra, a terra dos Pirenéus, já não estava longe. Este microestado soberano europeu, oficialmente Principado de Andorra, seria o terceiro país percorrido pelo Best Pirinéus Tour 2025 num só dia. É importante ter em atenção que antes da entrada em Andorra convém desligar os dados móveis dos telemóveis para evitar surpresas desagradáveis, pois trata-se de um país que não é membro da União Europeia (embora tenha adotado o euro como a sua moeda oficial) e não tem roaming com Portugal.

Chegados a Pas de la Casa, um resort e uma estação de esqui que se encontra praticamente sobre a fronteira Andorra-França, o trajecto apresentava duas opções: seguir pela sinuosa estrada de montanha com passagem no Port d’Envalira, ou pelo mais cómodo Túnel d'Envalira com portagem (o mais alto da Europa). Felizmente que a opção tomada foi a primeira, acabando por ser o ponto mais elevado atravessado durante o tour, a 2.408 m de altitude. Aqui a temperatura desceu até aos 8 ºC...

O destino final do dia seria a cidade de Andorra-a-Velha (Andorra la Vella, em catalão), a capital mais alta da Europa, a uma altitude de 1.023 m acima do nível do mar. O nome “Vella” não significa “velha”, mas sim uma forma arcaica da palavra “Vila” (o nome pretendia distinguir entre a localidade e o país homónimo ou demonstrar a sua condição de capital do principado).

A população da cidade é muito diversa: Espanhóis (43%), Andorranos (33%), Portugueses (11%), Franceses (7%) e outras comunidades minoritárias (6%). A língua oficial em todo o principado é o catalão, embora o espanhol e francês também sejam habitualmente falados. O turismo (estima-se que cerca 10,2 milhões de turistas visitem o país anualmente) e o comércio (as marcas internacionais têm em Andorra isenção de impostos) são as suas principais actividades económicas.

Foi no Sercotel Delfos Andorra, localizado mais propriamente em Escaldes-Engordany (a paróquia andorrana mais populosa a seguir a Andorra-a-Velha, com a qual forma uma área urbana contínua), que ficou alojado todo o grupo do Best Pirinéus Tour 2025. Novamente sem a possibilidade de estacionar as motas nas imediações, a questão foi resolvida com a colocação das motas no estacionamento coberto do hotel (a custo, igualmente suportado pela organização).

Depois de uma pequena confusão com o pagamento da taxa turística, prontamente resolvida pela organização, e com os cartões de cidadão temporariamente “retidos” na recepção para preenchimento dos dados associados à reserva dos quartos (!?), deixámos o hotel para um pequeno passeio para conhecer a cidade.

No centro histórico destaca-se a Casa de la Vall (antigo parlamento) que contrasta com o moderno Parlamento vanguardista. Os apreciadores da arte românica não devem deixar de visitar a Igreja de Santa Coloma e a Ponte Medieval de Margineda sobre o Rio Valira. Um pouco mais acima, em Escaldes-Engordany, situa-se uma fonte de água termal, a Fonte de Roc del Metge, que brota entre 68 °C e 71 °C. Mas é o comércio concentrado na Av. Meritxell/ Av. Carlemany que faz verdadeiramente vibrar a cidade, com lojas para todos os gostos.

Andorra-a-Velha (Andorra).

Fonte de Roc del Metge (Escaldes-Engordany, Andorra).

Uma vez mais devido à oferta local ao nível da restauração, a organização optou por não juntar o jantar ao alojamento no hotel. Assim, cada um pôde escolher o que mais lhe apetecia comer. Foi então no Restaurant 120 que acabámos por nos sentar à mesa, de onde, no final, acabei por sair sem ter ficado particularmente entusiasmado, nem com a comida nem com o serviço.

Com o cair da noite e antes de regressar ao hotel, esperávamos ver ainda bastantes lojas abertas na zona, tal como acontece em muitas cidades turísticas espanholas. Constatámos, no entanto, que por volta das 20h00 as lojas já se encontravam encerradas, não deixando oportunidade para umas compras de última hora no final do dia.

Continua...

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1 Um passo (pass), colo (col), porto ou portela (port) é um local de transposição de uma montanha ou de uma cadeia de montanhas, geralmente o ponto mais baixo entre dois picos do respectivo sistema montanhoso.

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