Dia 3 (28/07/2025): Roses – Cabo de Creus – Andorra
Um extraordinário dia em perspectiva para o início das montanhas mágicas
no Best Pirinéus Tour 2025.
Com partida simbólica da nossa Transpirenaica no Cabo de Creus, o percurso
previsto para o 3.º dia levar-nos-ia a fazer passagens em vários pontos de
grande interesse, bem como em col’s 1 emblemáticos da
cordilheira, o Port Puymorens e o Port d’Envalira (Pas de la Casa), com entrada
em França e saída para Andorra, local de pernoita com visita pela tarde.
Dia
3 – 295 km.
Devido às restrições
existentes no acesso ao Cabo de Creus nesta altura do ano (fechado a veículos
motorizados das 09h30 às 21h30, de 1 de Junho a 14 de Setembro), o Dia 3 do tour
começou bem cedo, com o pequeno-almoço no hotel e as tarefas habituais
(arrumação da bagagem na mota e lubrificação da corrente) realizadas a tempo da
saída da caravana para a estrada, pelas 07h30.
Após uma curta ligação de cerca de 25 km, o inóspito Cabo de Creus (Cap de
Creus, em catalão) recebeu-nos de forma bastante agreste, com um vento
fortíssimo que por pouco não fez tombar as motas de alguns companheiros de tour
menos atentos.
Neste promontório abrupto e rochoso de 672 m de altitude, que se ergue
sobre o Mar Mediterrâneo e que constitui o ponto mais oriental da Península
Ibérica (o ponto mais ocidental é o Cabo da Roca, que é
simultaneamente o ponto mais ocidental de Portugal e Europa continental),
ergue-se o Farol
do Cabo de Creus (Far de Cap de Creus, no idioma catalão). Foi aqui que
teve início a nossa Transpirenaica.
Tiradas as fotos da praxe, regressámos à estrada em direcção à Cordilheira
dos Pirenéus, seguindo com atenção o track preparado pela organização.
Na passagem por Figueres, cidade
natal do conhecido pintor Salvador Dalí, junto
à Casa Natal do artista e ao Teatro-Museu Dalí foi lembrada a figura e a obra
de um dos maiores representantes do surrealismo.
Sensivelmente a um terço do percurso, chegávamos a Besalú. Localizada na
região da Garrotxa, a cidade fica a poucos passos do cenário espetacular da
Zona Vulcânica do Parque Natural de La Garrotxa, nos últimos contrafortes da
parte oriental dos Pirenéus de Girona. O rico legado medieval aproxima o
visitante tanto de construções religiosas quanto civis, bem como dos vestígios
de um bairro sefardita que existiu nesta cidade durante a Idade Média.
Besalú foi designado como um conjunto histórico nacional em 1966. A sua característica
mais importante é a ponte
românica do Séc. XII sobre o Rio Fluvià, com o seu portão de entrada no
ponto médio da ponte. Outro importante monumento é a igreja do Mosteiro
de São Pedro, consagrada em 1003. A cidade possui ruas e praças arcadas, e
também um mikvá restaurado, um banho ritual judaico datado a partir do Séc.
XI, assim como o que resta de uma sinagoga medieval, localizados na parte
inferior da cidade perto do rio.
Cerca de 15 km depois, passávamos pela localidade de Castellfollit de
la Roca, um dos municípios mais pequenos e pitorescos da Espanha, limitado
pela confluência dos rios Fluvià e Toronell. Suspenso numa espetacular parede
basáltica, pode ver-se a igreja e as casas de Castellfollit, que se
transformaram numa das imagens mais populares da região, e o seu centro
histórico, de origem medieval, composto por praças e ruas estreitas e umbrosas.
Na extremidade do precipício encontra-se a praça-mirante Josep Pla, com uma
impressionante vista panorâmica. A igreja de São Salvador, do Séc. XIII, o
campanário de Sant Roc e especialmente o ambiente natural do povo, são as suas
belezas mais destacadas.
Enquadrada por uma magnífica paisagem verdejante, a caravana ia
percorrendo as estradas montanhosas da província de Girona em ritmo de turismo.
A temperatura ambiente mantinha-se amena, distante dos valores elevados
registados no 1.º
e 2.º
dias. Foi então com este agradável cenário que atravessámos a localidade de Ripoll.
Localizada na confluência dos rios Ter e Freser, a cidade agrupou-se ao
redor do mosteiro beneditino de Santa Maria de Ripoll, fundado no Séc. IX. Este
cenóbio românico é considerado um dos centros monásticos mais importantes da
Catalunha medieval, devido fundamentalmente à sua atividade repovoadora. Nele
se destaca o magnífico claustro e a igreja com um extraordinário pórtico do Séc.
XII, que conserva interessantes relevos escultóricos com cenas bíblicas.
Além do mosteiro de Santa Maria de Ripoll, merece destaque a igreja de
Sant Pere, do Séc. XII, com elementos pré-românicos e atualmente sede do Museu
Etnográfico. A manufactura de pregos e armas foi a principal atividade
económica da cidade e entre os Séc. XVI e XVIII foi um dos centros armeiros
mais importantes da Europa. Com a chegada do comboio e da indústria têxtil,
Ripoll conseguiu um novo impulso económico que se manteve até os dias atuais.
Continuámos o trajecto pela comarca de Ripollès (Girona), rumando agora em
direcção a Norte, com o Rio Freser a correr por perto, até uma oportuna paragem
no Bar
Restaurant El 9Llac para almoçar. Finda a refeição e com as motas atestadas
na estação de serviço mesmo ali ao lado, nada melhor que umas boas curvas para
ajudar na digestão.
E se o desejo era pelo aparecimento das curvas, elas acabariam por
chegar em grande quantidade e para todos os gostos. Um verdadeiro regalo para
quem gosta de andar de mota por estradas de montanha.
O track levou-nos depois em direcção à fronteira com França junto
à vila de Puigcerdá, capital
da comarca da Baixa Cerdanha, localizada num amplo planalto com vista para o Rio
Segre. Puigcerdà conserva diversos monumentos interessantes, como a igreja
gótica de Santo Domingo, do Séc. XV, com bonitas pinturas murais, o campanário
gótico da desaparecida igreja de Santa Maria, a Plaza Mayor, com seus pórticos,
além de diversas casas senhoriais, a Prefeitura e o hospital. Também tem muito
apelo turístico o seu lago artificial, rodeado de choupos e construído na
segunda metade do Séc. XIII.
Ao atravessar o Rio Raür, um afluente do Rio Segre, entrávamos então em
território francês e no Parque Natural Regional dos Pirenéus Catalães. A apenas
4 km de distância fica uma das maiores curiosidades da região, a localidade de Llívia.
Llívia é um exclave de Espanha em França, rodeado na sua totalidade por
território francês como resultado do Tratado dos Pirenéus de 1659, no qual a
Espanha cedeu à França os 33 vilarejos das comarcas de Vallespir, Capcir,
Conflent e a Alta Cerdanya, que hoje formam, juntamente com o Rossilhão, o Departamento
Francês dos Pirenéus Orientais. Como ficou fora deste tratado por se tratar de
uma vila e não de uma aldeia, privilégio concedido pelo imperador Carlos V, continuou
sob a soberania do rei espanhol.
Há medida que nos aproximávamos da alta montanha, sentia-se a claramente
temperatura ambiente a começar a baixar. Em pleno Departamento Francês dos Pirenéus
Orientais, numa região onde nos meses de Inverno o esqui é rei, passámos por Port Puymorens e pelo
conhecido Col
de Puymorens (1.915 m de altitude), um dos mais emblemáticos da cordilheira.
Por aqui passou também a 15.ª
etapa do Tour de France 2021.
Andorra, a terra dos
Pirenéus, já não estava longe. Este microestado soberano europeu, oficialmente
Principado de Andorra, seria o terceiro país percorrido pelo Best Pirinéus Tour
2025 num só dia. É importante ter em atenção que antes da entrada em Andorra
convém desligar os dados móveis dos telemóveis para evitar surpresas
desagradáveis, pois trata-se de um país que não é membro da União Europeia (embora
tenha adotado o euro como a sua moeda oficial) e não tem roaming com
Portugal.
Chegados a Pas
de la Casa, um resort e uma estação de esqui que se encontra
praticamente sobre a fronteira Andorra-França, o trajecto apresentava duas
opções: seguir pela sinuosa estrada de montanha com passagem no Port
d’Envalira, ou pelo mais cómodo Túnel d'Envalira com portagem (o mais alto
da Europa). Felizmente que a opção tomada foi a primeira, acabando por ser o
ponto mais elevado atravessado durante o tour, a 2.408 m de altitude.
Aqui a temperatura desceu até aos 8 ºC...
O destino final do dia seria a cidade de Andorra-a-Velha (Andorra
la Vella, em catalão), a capital mais alta da Europa, a uma altitude de 1.023 m
acima do nível do mar. O nome “Vella” não significa “velha”, mas sim uma forma
arcaica da palavra “Vila” (o nome pretendia distinguir entre a localidade e o
país homónimo ou demonstrar a sua condição de capital do principado).
A população da cidade é muito diversa: Espanhóis (43%), Andorranos
(33%), Portugueses (11%), Franceses (7%) e outras comunidades minoritárias (6%).
A língua oficial em todo o principado é o catalão, embora o espanhol e francês
também sejam habitualmente falados. O turismo (estima-se que cerca 10,2 milhões
de turistas visitem o país anualmente) e o comércio (as marcas internacionais
têm em Andorra isenção de impostos) são as suas principais actividades
económicas.
Foi no Sercotel
Delfos Andorra, localizado mais propriamente em Escaldes-Engordany
(a paróquia andorrana mais populosa a seguir a Andorra-a-Velha, com a qual
forma uma área urbana contínua), que ficou alojado todo o grupo do Best Pirinéus
Tour 2025. Novamente sem a possibilidade de estacionar as motas nas imediações,
a questão foi resolvida com a colocação das motas no estacionamento coberto do
hotel (a custo, igualmente suportado pela organização).
Depois de uma pequena confusão com o pagamento da taxa turística,
prontamente resolvida pela organização, e com os cartões de cidadão temporariamente
“retidos” na recepção para preenchimento dos dados associados à reserva dos
quartos (!?), deixámos o hotel para um pequeno passeio para conhecer a cidade.
No centro histórico destaca-se a Casa de la Vall (antigo
parlamento) que contrasta com o moderno Parlamento
vanguardista. Os apreciadores da arte românica não devem deixar de visitar a Igreja
de Santa Coloma e a Ponte Medieval de
Margineda sobre o Rio Valira. Um pouco mais acima, em Escaldes-Engordany,
situa-se uma fonte de água termal, a Fonte
de Roc del Metge, que brota entre 68 °C e 71 °C. Mas é o comércio
concentrado na Av. Meritxell/ Av. Carlemany que faz verdadeiramente vibrar a
cidade, com lojas para todos os gostos.
Uma vez mais devido à oferta local ao nível da restauração, a
organização optou por não juntar o jantar ao alojamento no hotel. Assim, cada
um pôde escolher o que mais lhe apetecia comer. Foi então no Restaurant
120 que acabámos por nos sentar à mesa, de onde, no final, acabei por sair
sem ter ficado particularmente entusiasmado, nem com a comida nem com o serviço.
Com o cair da noite e antes de regressar ao hotel, esperávamos ver ainda
bastantes lojas abertas na zona, tal como acontece em muitas cidades turísticas
espanholas. Constatámos, no entanto, que por volta das 20h00 as lojas já se
encontravam encerradas, não deixando oportunidade para umas compras de última
hora no final do dia.
Continua...
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1 Um passo (pass), colo
(col), porto ou portela (port) é um local de transposição de uma
montanha ou de uma cadeia de montanhas, geralmente o ponto mais baixo entre
dois picos do respectivo sistema montanhoso.
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