Dia 4 (29/07/2025): Andorra – Biescas
Para este quarto dia do Best Pirinéus Tour 2025 estavam igualmente
reservadas paisagens arrebatadoras, quer pelo sobe e desce de montanha, com passagens
em diversas zonas de grande beleza (incluindo a entrada na comunidade autónoma
de Aragão), quer pela visita a Ainsa, local património da Unesco. A chegada no
final do dia seria em Biescas, um interessante e típico município de montanha.
Depois da rotina matinal da tomada do pequeno-almoço no hotel e da
arrumação da bagagem na mota, a caravana deixou a cidade de Andorra-a-Velha por
volta das 08h30. Poucos quilómetros após a passagem na fronteira e já em solo
espanhol, foi efectuada uma breve paragem para voltar a ligar os dados móveis
dos telemóveis, já que estes tinham sido desligados no dia
anterior para evitar surpresas desagradáveis, devido a não haver roaming
com Portugal em Andorra.
O track do Best Pirinéus Tour 2025 encaminhou-nos pelo magnífico Parque
Natural dos Altos Pirenéus (Parc Natural de l'Alt Pirineu), a maior área
natural protegida da Catalunha, com uma área de quase 80.000 ha. Sob o pico
mais alto dos Pirenéus Catalães, o Pica d'Estats (3.143 m), este território
único é uma reserva do património natural e cultural dos Pirenéus.
A passagem por La
Seu d'Urgell foi breve, mas esta que é a cidade mais importante do norte da
província de Lérida, merece que lhe dediquemos um pouco mais de tempo. Situada
na confluência dos rios Valira e Segre e dominada ao sudeste pela espetacular Serra
de Cadí, o seu monumento mais interessante é a Catedral, belo exemplar do
românico italianizante na Catalunha, dos Séc. XI e XII. Também se destacam a
igreja românica de Sant Miquel, do Séc. XI e a da Sagrada Família, a Casa da
Cidade, do Séc. XV e um Museu Diocesano, que exibe notáveis peças da pintura e
da escultura medievais. No centro histórico, formado por belas ruas com
pórticos e velhos casarões, encontra-se o convento de Sant Domingo, que foi
transformado em Parador de Turismo.
Meia centena de quilómetros depois e ao atravessarmos o Rio Noguera
Pallaresa, no município de Sort,
a presença massiva de caiaques e de lojas relacionadas com desportos aquáticos
denunciava a principal actividade desportiva desta região da província de
Lérida. Tínhamos chegado ao paraíso do rafting, da canoagem e do canyoning. Com as “águas bravas”
do rio por perto, a pausa a meio da manhã teve lugar em Llavorsí,
para tomar um café e apreciar as belezas naturais deste local.
Continuávamos a rolar tranquilamente em pleno Parque Natural dos Altos
Pirenéus, por estradas de boa qualidade e rodeados de paisagens verdadeiramente
arrebatadoras. As sempre bem-vindas curvas eram as companheiras ideais da
viagem que rumava ao ponto mais elevado do dia, a 2.072 m (Port
de La Bonaigua), num agradável encadear de curva e contracurva que requereu
atenção e, por vezes, alguns cuidados adicionais, para evitar quedas que pudessem
levar a males maiores do que uns simples riscos na pintura da mota.
O atravessamento dos pitorescos povoados de montanha traz um colorido
diferente à paisagem, com a pedra e a madeira em grande destaque nas
características casas de telhado negro e de inclinação acentuada. Foi o caso de
Arties, uma localidade do
município de Alto Arán (província de Artiés y Garós, na comarca do Vale de Arán),
localizada na confluência entre o rio Garonne e seu afluente Valarties, a uma
altitude de 1.144 m.
Na passagem pela cidade de Vielha
(Lérida, Catalunha), é notória a sua dimensão e importância relevante como destino
turístico popular em Espanha, conhecida pelas suas atividades ao ar livre,
património histórico e beleza natural.
Vielha, a capital do Vale de Arán, está rodeada de cumes montanhosas que
superam 2.000 m de altitude. A sua origem é da época romana, quando a vila era
conhecida pelo nome de Vétula e conforme diz a lenda, era a pátria do gigante
Mandronius, que lutou contra a invasão romana. No Séc. X, a cidade foi
vinculada aos condados catalães por meio de acordos feudais.
Foi já em plena comunidade autónoma de Aragão, mais propriamente na
província de Huesca, que acabámos por nos sentar à mesa do bar restaurante La
Morena, em Castejón de Sos, para almoçar. Retomámos depois a estrada com o
estômago mais aconchegado, serpenteando pelos Pirenéus Aragoneses até um dos
locais mais espectaculares da região.
O troço da estrada N-260 (também conhecida por Eje Pirenaico, Eixo
dos Pirenéus) entre as localidades de Castejón de Sos e Campo, irrompe pelo Congosto de
Ventamillo (desfiladeiro de Ventamillo) e o vale do Rio Ésera. Este
desfiladeiro é uma característica geográfica que dá acesso ao vale de Benasque,
na região de Ribagorza (Huesca, Aragão). É um canyon estreito, com
paredes verticais de mais de 300 m, com cerca de 2.200 m de comprimento no seu troço
mais estreito, que tem até 10 km no total, por onde passa a estrada N-260, construída
em 1916. A fisionomia da área é basicamente formada por rochas calcárias e é o
local por onde os glaciares que desceram do maciço da Maladeta vieram em
direcção às montanhas.
Entretanto e com o calor a fazer-se sentir de forma mais intensa, chegávamos
a Aínsa-Sobrarbe,
localidade inserida no Geoparque Global Sobrarbe-Pirineus da Unesco, e uma das Povoações
Mais Bonitas de Espanha.
Capital do antigo reino de Sobrarbe, que foi incorporado ao de Aragão no
Séc. XI, a vila constitui um magnífico expoente do urbanismo medieval. Declarada
Conjunto-histórico-artístico, apresenta em seu centro histórico um conjunto
uniforme e amontoado de casas incrivelmente harmónico, onde se destacam a
esbelta torre de La Colegiata e o enorme recinto do castelo, quase
tão grande como o resto do povoado. Conserva quase totalmente as muralhas que o
rodeavam e está repleto de monumentos que o transportarão de volta à Idade
Média.
Junto à praça, com alpendres aos dois lados, destaca-se a igreja
românica de Santa Maria, de finais do Séc. XI. Nela pode-se admirar o seu
portal, uma interessante cripta e a sua torre que domina a paisagem urbana. Um
pouco posterior é o claustro, realizado no Séc. XIII. No noroeste da zona
urbana é conservada a cidadela. A sua origem é uma torre
pentagonal, construída em meados do Séc. XI e integrada ao sistema de
defesa contra a ameaça muçulmana. Posteriormente esta fortaleza foi
revitalizada no final do Séc. XVI, construindo-se a atual cidadela dentro do
sistema defensivo da fronteira com a França. Em comemoração da reconquista da
vila é realizada em setembro uma representação de mouros e cristãos chamada La Morisma.
De novo na estrada e já com Aínsa-Sobrarbe e o Eje Pirenaico para trás, a
caravana seguiu pelo Parque
Natural de Posets-Maladeta (conjunto montanhoso localizado no setor mais
norte-oriental do Pirineu Aragonês, que abriga alguns dos picos mais altos da
Península Ibérica) a caminho da segunda travessia espectacular do dia.
Situado na região do Parque
Nacional de Ordesa e Monte Perdido (o segundo parque
nacional mais antigo da Espanha, declarado em 16 de agosto de 1918 pelo
Real Decreto 16-08-1918 com o nome de “Vale de Ordesa”), o Canyon de
Añisclo (Vale de Vió) é uma das paisagens mais extraordinárias de Aragão. Um
desfiladeiro profundo esculpido ao longo dos séculos pela intensa erosão do Rio
Bellós. As inúmeras e altas quedas de água, a floresta densa e a sensação de
estar num lugar único foram motivos suficientes para a sua inclusão no Parque
Nacional em 1982.
Um local verdadeiramente encantador, mas onde foi necessário ter especial
atenção durante a travessia, devido à pouca largura da estrada, às curvas cegas
do trajecto e principalmente devido à acumulação de pedras em diversos locais,
oriundas de pequenos desprendimentos que vão ocorrendo nas encostas rochosas adjacentes.
O trajeto deste 4.º dia do Best Pirinéus Tour 2025 aproximava-se do seu
final. A caravana motociclística percorria os últimos quilómetros rumo a Biescas,
não sem antes atravessar a localidade de Gavín, uma povoação que foi
praticamente destruída durante a Guerra Civil Espanhola, mas que mantém o sabor
tradicional das típicas aldeias de montanha.
No final da tarde chegávamos então a Biescas, um município localizado
a 875 m acima do nível do mar, constituindo a porta de entrada para o Vale do
Tena. Esta vila pirenaica está situada num antigo vale glaciar e estende-se por
ambas as margens do Rio Gállego, dando origem a dois bairros distintos: El
Salvador e San Pedro, presididos pelas igrejas com o mesmo nome. Na área
circundante, pode visitar-se a Ermida de
Santa Elena e dois dólmens
neolíticos, que podem ser acedidos a pé por um caminho fácil.
A uma curta distância de Biescas encontra-se a Rota das
Igrejas de Serrablo, que inclui preciosidades como San Bartolomé de Gavín e
San Pedro de Lárrede. Biescas é também um destino importante para os amantes de
desportos de neve, uma vez que a famosa estância de esqui Aramón
Formigal-Panticosa está localizada no vale.
Bem no coração de Biescas fica o Hotel
Casa Ruba (La Posada de Ruba), local de pernoita de todos os elementos do tour.
Com poucas possibilidades para estacionar as motas nas ruas apertadas junto ao
hotel, felizmente que a existência de um espaço amplo nas traseiras acabou por permitir
o seu estacionamento, a apenas 100 m (2 min. a pé) de distância.
Devido à grande dimensão do grupo e à oferta relativamente limitada ao
nível da restauração local, a organização já tinha assegurado a reserva do jantar
para a totalidade dos 26 participantes. Este acabou por ter lugar por volta das
20h30, não no Hotel Casa Ruba, mas sim no elegante Restaurante
La Lifara (Hotel Tierra de Biescas), a cerca de 250 m do alojamento.
Já com quatro dias de tour passados e muitos quilómetros
percorridos em comum, a boa disposição foi uma constante durante o jantar de
grupo, num espírito de são convívio entre todos. A animação à mesa foi grande, acabando
inclusive por contagiar outros clientes do restaurante que se encontravam nas
proximidades.
Muitas histórias e peripécias depois, pouco mais restou que percorrer as
ruas de regresso ao alojamento e recolher aos aposentos. No dia seguinte
teríamos uma nova grande aventura pirenaica pela frente.
Continua...
















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