terça-feira, 18 de novembro de 2025

Best Pirinéus Tour 2025 #4/8

Dia 4 (29/07/2025): Andorra – Biescas

Para este quarto dia do Best Pirinéus Tour 2025 estavam igualmente reservadas paisagens arrebatadoras, quer pelo sobe e desce de montanha, com passagens em diversas zonas de grande beleza (incluindo a entrada na comunidade autónoma de Aragão), quer pela visita a Ainsa, local património da Unesco. A chegada no final do dia seria em Biescas, um interessante e típico município de montanha.

Dia 4 – 330 km.

Depois da rotina matinal da tomada do pequeno-almoço no hotel e da arrumação da bagagem na mota, a caravana deixou a cidade de Andorra-a-Velha por volta das 08h30. Poucos quilómetros após a passagem na fronteira e já em solo espanhol, foi efectuada uma breve paragem para voltar a ligar os dados móveis dos telemóveis, já que estes tinham sido desligados no dia anterior para evitar surpresas desagradáveis, devido a não haver roaming com Portugal em Andorra.

O track do Best Pirinéus Tour 2025 encaminhou-nos pelo magnífico Parque Natural dos Altos Pirenéus (Parc Natural de l'Alt Pirineu), a maior área natural protegida da Catalunha, com uma área de quase 80.000 ha. Sob o pico mais alto dos Pirenéus Catalães, o Pica d'Estats (3.143 m), este território único é uma reserva do património natural e cultural dos Pirenéus.

A passagem por La Seu d'Urgell foi breve, mas esta que é a cidade mais importante do norte da província de Lérida, merece que lhe dediquemos um pouco mais de tempo. Situada na confluência dos rios Valira e Segre e dominada ao sudeste pela espetacular Serra de Cadí, o seu monumento mais interessante é a Catedral, belo exemplar do românico italianizante na Catalunha, dos Séc. XI e XII. Também se destacam a igreja românica de Sant Miquel, do Séc. XI e a da Sagrada Família, a Casa da Cidade, do Séc. XV e um Museu Diocesano, que exibe notáveis peças da pintura e da escultura medievais. No centro histórico, formado por belas ruas com pórticos e velhos casarões, encontra-se o convento de Sant Domingo, que foi transformado em Parador de Turismo.

Meia centena de quilómetros depois e ao atravessarmos o Rio Noguera Pallaresa, no município de Sort, a presença massiva de caiaques e de lojas relacionadas com desportos aquáticos denunciava a principal actividade desportiva desta região da província de Lérida. Tínhamos chegado ao paraíso do rafting, da canoagem e do canyoning. Com as “águas bravas” do rio por perto, a pausa a meio da manhã teve lugar em Llavorsí, para tomar um café e apreciar as belezas naturais deste local.

Llavorsí, Parque Natural dos Altos Pirenéus (Lérida, Catalunha).

Rio Noguera Pallaresa, Parque Natural dos Altos Pirenéus (Lérida, Catalunha).

Continuávamos a rolar tranquilamente em pleno Parque Natural dos Altos Pirenéus, por estradas de boa qualidade e rodeados de paisagens verdadeiramente arrebatadoras. As sempre bem-vindas curvas eram as companheiras ideais da viagem que rumava ao ponto mais elevado do dia, a 2.072 m (Port de La Bonaigua), num agradável encadear de curva e contracurva que requereu atenção e, por vezes, alguns cuidados adicionais, para evitar quedas que pudessem levar a males maiores do que uns simples riscos na pintura da mota.

Paisagens magníficas do Parque Natural dos Altos Pirenéus (Lérida, Catalunha).

Curvas e contracurvas no Parque Natural dos Altos Pirenéus (Lérida, Catalunha).

O atravessamento dos pitorescos povoados de montanha traz um colorido diferente à paisagem, com a pedra e a madeira em grande destaque nas características casas de telhado negro e de inclinação acentuada. Foi o caso de Arties, uma localidade do município de Alto Arán (província de Artiés y Garós, na comarca do Vale de Arán), localizada na confluência entre o rio Garonne e seu afluente Valarties, a uma altitude de 1.144 m.

Atravessamento da povoação de Arties (província de Artiés y Garós, comarca do Vale de Arán).

Na passagem pela cidade de Vielha (Lérida, Catalunha), é notória a sua dimensão e importância relevante como destino turístico popular em Espanha, conhecida pelas suas atividades ao ar livre, património histórico e beleza natural.

Vielha, a capital do Vale de Arán, está rodeada de cumes montanhosas que superam 2.000 m de altitude. A sua origem é da época romana, quando a vila era conhecida pelo nome de Vétula e conforme diz a lenda, era a pátria do gigante Mandronius, que lutou contra a invasão romana. No Séc. X, a cidade foi vinculada aos condados catalães por meio de acordos feudais.

Percorrendo os Pirenéus Aragoneses (província de Huesca).

Foi já em plena comunidade autónoma de Aragão, mais propriamente na província de Huesca, que acabámos por nos sentar à mesa do bar restaurante La Morena, em Castejón de Sos, para almoçar. Retomámos depois a estrada com o estômago mais aconchegado, serpenteando pelos Pirenéus Aragoneses até um dos locais mais espectaculares da região.

O troço da estrada N-260 (também conhecida por Eje Pirenaico, Eixo dos Pirenéus) entre as localidades de Castejón de Sos e Campo, irrompe pelo Congosto de Ventamillo (desfiladeiro de Ventamillo) e o vale do Rio Ésera. Este desfiladeiro é uma característica geográfica que dá acesso ao vale de Benasque, na região de Ribagorza (Huesca, Aragão). É um canyon estreito, com paredes verticais de mais de 300 m, com cerca de 2.200 m de comprimento no seu troço mais estreito, que tem até 10 km no total, por onde passa a estrada N-260, construída em 1916. A fisionomia da área é basicamente formada por rochas calcárias e é o local por onde os glaciares que desceram do maciço da Maladeta vieram em direcção às montanhas.

Congosto de Ventamillo (desfiladeiro de Ventamillo) e vale do Rio Ésera (Huesca, Aragão).

Congosto de Ventamillo (desfiladeiro de Ventamillo) e vale do Rio Ésera (Huesca, Aragão).

Entretanto e com o calor a fazer-se sentir de forma mais intensa, chegávamos a Aínsa-Sobrarbe, localidade inserida no Geoparque Global Sobrarbe-Pirineus da Unesco, e uma das Povoações Mais Bonitas de Espanha.

Capital do antigo reino de Sobrarbe, que foi incorporado ao de Aragão no Séc. XI, a vila constitui um magnífico expoente do urbanismo medieval. Declarada Conjunto-histórico-artístico, apresenta em seu centro histórico um conjunto uniforme e amontoado de casas incrivelmente harmónico, onde se destacam a esbelta torre de La Colegiata e o enorme recinto do castelo, quase tão grande como o resto do povoado. Conserva quase totalmente as muralhas que o rodeavam e está repleto de monumentos que o transportarão de volta à Idade Média.

Junto à praça, com alpendres aos dois lados, destaca-se a igreja românica de Santa Maria, de finais do Séc. XI. Nela pode-se admirar o seu portal, uma interessante cripta e a sua torre que domina a paisagem urbana. Um pouco posterior é o claustro, realizado no Séc. XIII. No noroeste da zona urbana é conservada a cidadela. A sua origem é uma torre pentagonal, construída em meados do Séc. XI e integrada ao sistema de defesa contra a ameaça muçulmana. Posteriormente esta fortaleza foi revitalizada no final do Séc. XVI, construindo-se a atual cidadela dentro do sistema defensivo da fronteira com a França. Em comemoração da reconquista da vila é realizada em setembro uma representação de mouros e cristãos chamada La Morisma.

Plaza Mayor de Aínsa-Sobrarbe (Huesca, Aragão).

Aínsa-Sobrarbe (Huesca, Aragão).

Aínsa-Sobrarbe (Huesca, Aragão).

De novo na estrada e já com Aínsa-Sobrarbe e o Eje Pirenaico para trás, a caravana seguiu pelo Parque Natural de Posets-Maladeta (conjunto montanhoso localizado no setor mais norte-oriental do Pirineu Aragonês, que abriga alguns dos picos mais altos da Península Ibérica) a caminho da segunda travessia espectacular do dia.

Situado na região do Parque Nacional de Ordesa e Monte Perdido (o segundo parque nacional mais antigo da Espanha, declarado em 16 de agosto de 1918 pelo Real Decreto 16-08-1918 com o nome de “Vale de Ordesa”), o Canyon de Añisclo (Vale de Vió) é uma das paisagens mais extraordinárias de Aragão. Um desfiladeiro profundo esculpido ao longo dos séculos pela intensa erosão do Rio Bellós. As inúmeras e altas quedas de água, a floresta densa e a sensação de estar num lugar único foram motivos suficientes para a sua inclusão no Parque Nacional em 1982.

Um local verdadeiramente encantador, mas onde foi necessário ter especial atenção durante a travessia, devido à pouca largura da estrada, às curvas cegas do trajecto e principalmente devido à acumulação de pedras em diversos locais, oriundas de pequenos desprendimentos que vão ocorrendo nas encostas rochosas adjacentes.

Canyon de Añisclo (Huesca, Aragão).

Canyon de Añisclo (Huesca, Aragão).

O trajeto deste 4.º dia do Best Pirinéus Tour 2025 aproximava-se do seu final. A caravana motociclística percorria os últimos quilómetros rumo a Biescas, não sem antes atravessar a localidade de Gavín, uma povoação que foi praticamente destruída durante a Guerra Civil Espanhola, mas que mantém o sabor tradicional das típicas aldeias de montanha.

Entrada na localidade de Gavín (Huesca, Aragão).

No final da tarde chegávamos então a Biescas, um município localizado a 875 m acima do nível do mar, constituindo a porta de entrada para o Vale do Tena. Esta vila pirenaica está situada num antigo vale glaciar e estende-se por ambas as margens do Rio Gállego, dando origem a dois bairros distintos: El Salvador e San Pedro, presididos pelas igrejas com o mesmo nome. Na área circundante, pode visitar-se a Ermida de Santa Elena e dois dólmens neolíticos, que podem ser acedidos a pé por um caminho fácil.

A uma curta distância de Biescas encontra-se a Rota das Igrejas de Serrablo, que inclui preciosidades como San Bartolomé de Gavín e San Pedro de Lárrede. Biescas é também um destino importante para os amantes de desportos de neve, uma vez que a famosa estância de esqui Aramón Formigal-Panticosa está localizada no vale.

Bem no coração de Biescas fica o Hotel Casa Ruba (La Posada de Ruba), local de pernoita de todos os elementos do tour. Com poucas possibilidades para estacionar as motas nas ruas apertadas junto ao hotel, felizmente que a existência de um espaço amplo nas traseiras acabou por permitir o seu estacionamento, a apenas 100 m (2 min. a pé) de distância.

Devido à grande dimensão do grupo e à oferta relativamente limitada ao nível da restauração local, a organização já tinha assegurado a reserva do jantar para a totalidade dos 26 participantes. Este acabou por ter lugar por volta das 20h30, não no Hotel Casa Ruba, mas sim no elegante Restaurante La Lifara (Hotel Tierra de Biescas), a cerca de 250 m do alojamento.

Jantar de grupo no Restaurante La Lifara (Hotel Tierra de Biescas).

Já com quatro dias de tour passados e muitos quilómetros percorridos em comum, a boa disposição foi uma constante durante o jantar de grupo, num espírito de são convívio entre todos. A animação à mesa foi grande, acabando inclusive por contagiar outros clientes do restaurante que se encontravam nas proximidades.

Muitas histórias e peripécias depois, pouco mais restou que percorrer as ruas de regresso ao alojamento e recolher aos aposentos. No dia seguinte teríamos uma nova grande aventura pirenaica pela frente.

Continua...

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