Dia 2 (11
de Setembro) – Chegada ao Funchal e subida ao Curral das Freiras
Com o
amanhecer do novo dia chegava finalmente ao fim a longa, fria e desconfortável
noite passada, mais sentado do que deitado, numa cadeira do ‘Volcán de
Timanfaya’. Agora entendo o porquê de muitas pessoas levarem cobertores e até
colchões insufláveis para dentro do ferry...
Depois de
um reconfortante desayuno tomado no
bar (no restaurante self-service
também servem pequenos-almoços), composto por um café con leche en vaso largo e um bocadilho de jamon y queso, as energias ficaram repostas e foi
tempo de ir esticar as pernas e apanhar um pouco de ar (e vento) no deck superior do navio.
Entretanto
apercebi-me que a duração da viagem iria ser um pouco maior que o esperado, talvez
resultado das correntes marítimas e do vento forte que se fazia sentir. Assim e
depois de mais uma sessão de filmes para entreter, chegava a hora do almoço. De
novo no restaurante self-service,
desta vez optei por uma refeição mais ligeira para não ir de barriga cheia para
cima da moto.
As milhas
foram passando a um ritmo muito próprio das viagens marítimas. Lentamente, a linha
do horizonte começou a ficar interrompida por uma forma irregular e volumosa.
Era a Ilha de Porto Santo, famosa pela sua praia de areia
amarela com 9 km de extensão (uma das 7 Maravilhas de Portugal na categoria de
Praia de Dunas). Foi o primeiro avistamento de terra desde que tinha saído de
Portimão, no dia anterior.
Estávamos
então na derradeira fase da viagem, agora melhor acompanhados com a presença das
ilhas por perto. O avistamento seguinte foi o das Desertas, as quais constituem
a Reserva
Natural das Ilhas Desertas, classificada também como reserva biogenética
pelo Conselho da Europa.
Até que,
finalmente, aproximava-se a tão esperada Ilha da Madeira, com a Ponta de São
Lourenço em destaque como que a fazer de cicerone para os turistas que estavam
a chegar à “Pérola do Atlântico”.
Mas as
boas vindas não foram só dadas pela Ponta de São Lourenço, já que um grupo de
golfinhos simpaticamente apareceu para acompanhar o navio durante alguns
minutos, para grande entusiasmo de todos os que se encontravam no varandim superior
a observar a paisagem.
A entrada
no Porto do Funchal foi efectuada sob um céu cinzento mas com uma temperatura
amena. O ferry foi sendo manobrado com mestria pela tripulação, segundo as
orientações do piloto local, até à sua atracação no respectivo cais.
Já
passava das 16:00 quando a Tiger 800 começou finalmente a rolar em solo
funchalense, percorrendo a Avenida Sá Carneiro (junto ao CR7 Museu) e a florida
e movimentada Avenida do Mar, uma das principais artérias da cidade, até ao
início da zona histórica. Daqui, por ruas apertadas e piso irregular, segui até
à Igreja e ao Miradouro do Socorro, nas traseiras da Fortaleza de São Tiago.
Mesmo ao
lado situa-se a Vitorina
Corte Guesthouse, uma casa familiar do século XIX
actualmente transformada num elegante alojamento local. Apesar de uma pequena
confusão com as datas da reserva (mea-culpa), o check-in acabou por decorrer sem problemas. A moto ficou
estacionada num espaço delimitado (e de alguma forma protegido) por um conjunto
de pilaretes metálicos, mesmo junto à fachada do edifício.
A zona
histórica, mais conhecida por zona velha, é um ponto de interesse cultural e arquitectónico
do Funchal. As suas ruas estreitas e as casas pitorescas transpiram história,
destacando-se a Rua de Santa Maria, uma das mais antigas da ilha, que foi o
centro do movimento artístico artE
de pORtas abErtas, um projecto inovador de arte criado com o objectivo de revitalizar
esta zona da cidade, dando nova vida a portas de casas, lojas abandonadas e
espaços deteriorados, que se tornaram telas para os artistas.
Mas este não
era o dia planeado para conhecer os cantos à cidade. Então, para aproveitar o
resto da tarde e começar a “tomar o pulso” às desafiantes estradas da Madeira, nada
melhor que uma subida ao Curral
das Freiras e ao Miradouro
Eira do Serrado, no interior montanhoso do concelho de Câmara de Lobos, bem
no coração da ilha. E que subida! O trajecto foi feito inicialmente pela rápida
VR1 e depois pela íngreme e sinuosa ER107.
O Miradouro
Eira do Serrado ergue-se a uma altitude de 1.095 m e oferece uma fantástica
panorâmica sobre o vale onde assenta a freguesia do Curral das Freiras e as
grandiosas montanhas do maciço central que a rodeiam. Conta a história que em
1566, as freiras do Convento de Santa Clara, ao fugirem de piratas que atacavam
o Funchal, encontraram aqui refúgio, levando consigo o tesouro do convento. A
freguesia é bastante isolada, e muitos dos seus habitantes vivem do que a terra
produz. Um dos acontecimentos locais é a Festa da Castanha, em Novembro.
Cerca de
2 km depois de sair do Miradouro Eira do Serrado e ainda na estrada de ligação
à ER107, o plano inicial passava por seguir montanha adentro em direcção aos Miradouros
do Paredão e ao Miradouro
do Pico do Areeiro, situado no terceiro pico mais alto da ilha da Madeira (1.818
metros de altitude), depois do Pico Ruivo e do Pico das Torres. Confesso que
desisti da ideia após ter analisado o acesso existente, uma estreita e
extremamente íngreme subida que não me inspirou muita confiança. Talvez numa
próxima oportunidade...
“Chega de emoções fortes
para este primeiro dia em solo madeirense”, pensei eu. O certo é que tudo o que sobe tem que
descer, e daqui até ao Funchal tive que manter os sentidos bem alerta para
evitar qualquer surpresa menos agradável. Até porque os condutores locais
são... digamos... bastante afoitos ao volante, especialmente na passagem pelos
cruzamentos e rotundas.
O final da
tarde apresentava-se magnífico, com sol e uma temperatura bastante amena,
convidando a um descontraído passeio pelas pitorescas ruas da zona velha. Este
é um local de grande animação nocturna e excelente gastronomia, da qual é especialmente
difícil resistir aos aperitivos (as Lapas e o Bolo do Caco, por exemplo) e ao
peixe (o Atum, o Peixe-Espada Preto, etc.) que tem um lugar especial na
culinária da Madeira devido à ancestral tradição pesqueira.
Foi então
por aqui que começámos a provar algumas
destas iguarias madeirenses, escolhendo o Bolo do Caco (uma espécie de pão de
trigo servido quente com manteiga de alho e salsa) para entrada, seguido do Filete
de Espada e do Bife de Atum com batata salteada, acompanhados por salada. Tudo
excelente e com um toque de originalidade. E para quem não tem no vinho a sua
bebida de eleição à mesa, é difícil não escolher uma das especialidades locais Brisa Maracujá ou
Cerveja Coral.
O dia
terminou com uma tranquila caminhada pela promenade
(Avenida do Mar) ao longo da orla costeira, a contemplar o Atlântico, as
embarcações atracadas na Marina, os jardins bem cuidados e as esplanadas ao luar,
tudo devidamente enquadrado por uma iluminação cuidada e apelativa.
Continua...
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