“«Assi
fomos abrindo aqueles mares,
Que geração algũa não abriu,
As novas Ilhas vendo e os novos ares
Que o generoso Henrique descobriu;(...)
Que do muito arvoredo assi se chama;
Das que nós povoámos a primeira,
Mais célebre por nome que por fama.(...)”
Os Lusíadas (canto V, estrofes
4 e 5 - excertos), Luís Vaz de Camões in Alvarenga,
http://www.alvarenga.net/canto5.htm [consultado em 03-06-2020]
Bandeira da Região Autónoma
da Madeira. Via
Em 2019 comemoraram-se
os 600 anos do descobrimento da Ilha da
Madeira (foi descoberta por João Gonçalves – Zarco de alcunha – e Tristão Vaz em 1419, começando a ser povoada
pelos mesmos a partir de 1425). Esta efeméride serviu de pretexto para uma
viagem de moto à “Pérola do Atlântico”, nome pela qual também é conhecida, à
descoberta de paisagens, lugares e sabores neste verdadeiro jardim à beira mar
plantado. E sem querer ser má-língua, ‘jardim’ é uma palavra que tem duplo
significado nesta região insular de Portugal...
Mapa da Ilha da Madeira. Via
A Madeira
é a maior ilha do arquipélago com o mesmo nome (oficialmente Região Autónoma da Madeira), composto
também pela Ilha de Porto
Santo e duas outras ilhas menores desabitadas, as Ilhas Desertas e as Ilhas Selvagens. O arquipélago
situa-se na placa africana, em pleno Oceano Atlântico entre 30° e 33° de latitude
norte, 978 km a sudoeste de Lisboa, cerca de 700 km a oeste da costa de
África (quase à mesma latitude de Casablanca) e 450 km a norte das Ilhas
Canárias.
Localização. Via
De origem
vulcânica, com uma área superior a 740 km2, a Ilha da Madeira possui
uma orografia bastante acidentada, sendo os pontos mais altos o Pico Ruivo
(1.862 m), o Pico das
Torres (1.851 m) e o Pico do Areeiro (1.818 m). A costa norte é dominada
por altas arribas e na parte ocidental da ilha surge uma região planáltica, o Paul
da Serra (1.300~1.500 m).
O relevo,
bem como a exposição aos ventos predominantes, fazem com que na ilha existam
diversos microclimas o que, aliado ao exotismo da vegetação, constitui um
importante factor de atracção para o turismo, principal actividade da região. A
precipitação é mais elevada na costa norte do que na costa sul. Não existem
grandes variações térmicas durante todo o ano, mantendo-se o clima ameno.
Dia 1 (10 de Setembro) – Travessia Portimão-Funchal
Por
inerência da sua localização, o acesso à Ilha da Madeira apenas pode ser
efectuado de duas formas: por via marítima ou por via aérea. Ora como o
objectivo era percorrer as estradas da ilha com a minha Triumph Tiger 800, o
ferry foi logicamente o meio de transporte escolhido.
A ligação
marítima de passageiros e veículos ligeiros entre o continente e o Funchal, via
Portimão, foi efectuada pelo operador ENM
Ferries (Empresa de Navegação Madeirense), que realizou travessias semanais
durante os meses de Verão, de Julho a Setembro, através do ferry Volcán de Timanfaya
da frota da Naviera Armas.
Este
navio, com tripulação maioritariamente espanhola, é já bem conhecido dos
madeirenses. Esteve nesta mesma linha em 2006, numa altura em que tinha apenas
dois anos de operação (entrou ao serviço da companhia em Abril de 2004). Com 143
m de comprimento e 24,20 m de largura, tem capacidade para 1.000 passageiros e
300 viaturas ligeiras. A sua velocidade máxima é de 23 nós, para uma potência
de propulsão total de 22.500 HP (2x11.250 HP).
As
viagens têm a duração de um dia, com partidas de Portimão às 14:00 de
terça-feira e chegadas ao Funchal às 14:30 de quarta-feira. No sentido inverso,
as partidas do Funchal são às 10:30 de segunda-feira e as chegadas a Portimão
às 11:00 de terça-feira.
ENM Ferries – Percursos. Via
Apesar da
partida de Portimão estar marcada para as 14:00, o bilhete indicava que a
apresentação para o embarque tinha que ser efectuada até 60 minutos antes da
hora prevista para a saída do navio. Mas antes de chegar ao cais do Terminal
de Cruzeiros de Portimão, local de onde iria zarpar o ferry, ainda houve
tempo para uma despedida do continente a preceito na forma de um saboroso almoço
de peixe fresco (cantaril) assado na brasa.
Terminada
a refeição, chegava então a altura de embarcar para o início da viagem rumo ao
Funchal, uma logística algo demorada e com algum grau de complexidade para
arrumar todas as viaturas nos diferentes decks.
Felizmente que as motos são as primeiras a entrar e ficam logo à entrada do
navio, o que torna mais fácil e rápida toda a operação de estacionamento, a
cargo dos funcionários da empresa.
Aguardando (bem acompanhado)
pelo embarque no ferry.
“É para a porta 3 e a
subida é pelas laterais da rampa”.
Estacionamento na ‘Cubierta
4A’ (as cintas de amarração foram depois colocadas pela tripulação).
Sendo
esta a minha primeira experiência a bordo de um ferry de alto mar, foi com
natural curiosidade que comecei por explorar os diversos espaços do navio, do
alojamento à restauração, passando pelas zonas sociais e sem esquecer os sempre
importantes e indispensáveis sanitários. Entretanto e como não há reserva de
lugares, as cadeiras iam sendo ocupadas pelos passageiros, conforme a disponibilidade.
Felizmente que ainda fui a tempo de assegurar um lugar junto à janela, com
espaço para colocar os capacetes e os blusões, numa zona não muito movimentada,
já a pensar na noite que aqui teria que passar.
Depois de
garantido o lugar, foi do deck
superior do navio que assisti à saída do Porto de Portimão, deixando para trás
o Rio Arade a caminho do Oceano Atlântico, com uma vista privilegiada sobre a
Marina, o Farol e a Praia da Rocha.
Saída do Porto de Portimão.
A vida a
bordo do ‘Volcán de Timanfaya’ é tranquila e agradável, sem se sentir em
demasia a oscilação do navio com a ondulação do mar. Mas com o passar das horas
e sem grande coisa para fazer, a monotonia começa a instalar-se. Para distrair,
felizmente que existem televisões em todas salas de passageiros com sessões de
filmes ao longo do dia.
Os
adeptos das novas tecnologias que preferem utilizar os seus próprios
equipamentos de entretenimento devem ter em atenção que não existem muitas
tomadas eléctricas disponíveis, pelo que é recomendável a utilização de uma
ficha tripla para o carregamento de mais que um equipamento electrónico em
simultâneo.
Apesar de
ter verificado algumas situações de materiais e equipamentos a precisarem de
cuidados, os espaços interiores estão, de um modo geral, bem conservados e
limpos. E foi notório o esforço da tripulação para com a limpeza dos sanitários,
com intervenções regulares durante toda a viagem, apesar de por vezes se depararem
com situações menos agradáveis resultantes da falta de civismo por parte de alguns
passageiros.
Devidamente instalado nas
cadeiras do ferry.
Entretanto
a fome começou a apertar e estava na altura de ir conhecer melhor o restaurante
self-service. Abre às 20:00 e tem diversas
opções disponíveis, desde simples saladas a pratos completos (de carne e
peixe), bebidas e sobremesas. As quantidades são generosas mas a comida, apesar
de saborosa, é pouco apurada. Os preços estão ao nível do que é habitual para
este tipo de serviços, sem serem exorbitantemente elevados.
Depois de
um café solo tomado no bar (com
oferta de um pequeno doce para acompanhar), não deixa de ser curioso verificar
como a disposição melhora bastante quando estamos de estômago cheio! :)
Frango assado com batatas e
legumes cozidos para o jantar.
Com o
cair da noite sente-se a temperatura ambiente a descer, convidando a vestir uma
roupa um pouco mais quente. Esta sensação é ajudada por uma ventilação que,
teimosamente, se mantém fresca, começando a incomodar a grande maioria dos
passageiros à medida que se iam aconchegando para passar a noite.
Mais uns
filmes para entreter até que, por volta das 23:00, o navio entrava em “modo noite”.
A iluminação é reduzida ao mínimo e gradualmente o silêncio instala-se a bordo.
Chegava então a altura de tentar encontrar uma posição mais ou menos
confortável na cadeira para dormir.
Continua...
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