Ao longo dos últimos 15 anos tivemos um piloto português a representar o
nosso País ao mais alto nível. Primeiro com o número 44 (125cc, Moto3 e Moto2)
e, mais tarde, com o número 88 (MotoGP) nas carenagens das suas motos, Miguel Oliveira tornou-se o
expoente máximo dos pilotos portugueses nas duas rodas. O único que esteve a tempo
inteiro na categoria rainha do motociclismo de velocidade a nível mundial
(Felisberto Teixeira chegou a competir no GP
de Espanha de 1998 com uma Honda NSR V2 de 500cc).
A temporada de 2025 fica então marcada pela despedida do piloto
português do paddock do mundial de motociclismo de velocidade. Uma
carreira que não terminou, é verdade, mas que, fruto de uma época pouco
conseguida no que a resultados diz respeito, levou a que fosse preterido pela Prima
Pramac Yamaha em favor do seu colega de equipa Jack Miller.
Miguel Oliveira explica um pouco o que aconteceu ao longo do processo
negocial:
“Foi um pouco surpreendente, pois em 2024 eu assinei por 1+1 ano de
projeto, onde sabíamos que o primeiro ano seria uma espécie de ano de
aprendizagem que precisávamos sofrer e provavelmente terminar algumas corridas
a lutar por posições de menor destaque. Mas foi para isso que assinei.
Infelizmente sofri a lesão no início da temporada, quando perdi muitas
corridas, e depois, assim que voltei disso, todos soubemos da contratação de
outro piloto. Isso também surgiu de forma surpreendente, adicionando mais pressão,
por isso sim, é algo que será interrompido numa fase em que eu penso que
tínhamos mais potencial. Mas a vida é assim e andamos para a frente.
A minha situação era bastante clara porque eu tenho uma cláusula de
performance no meu contrato que em parte não foi cumprida por causa da lesão,
mas também em algumas corridas porque a moto não estava a ter uma performance
boa o suficiente e não me foi possível mostrar o meu potencial. De qualquer
forma, terminar em último é algo que não está nos meus planos como piloto, não
mostra o meu verdadeiro valor e também as minhas capacidades. Por isso, de
qualquer forma seria duro continuar desta forma”.
“É triste porque sei que ainda tenho muito potencial neste paddock e
sair assim não é fácil”, desabafa o piloto luso, referindo ainda em jeito de
balanço que “Tive uma carreira com que muitos pilotos só podem sonhar. Tive
o privilégio de vencer em diferentes categorias e fiz parte de grandes equipas
que me ajudaram a alcançar meu melhor potencial, especialmente nas Moto3 e
Moto2. Sou grato a muitos fabricantes, muitas equipas e muitas pessoas que
conheci ao longo destes anos e que me ajudaram a dar o melhor de mim. Tudo o
que eu conquistar no futuro também será resultado de todas essas experiências”.
Miguel Oliveira participou em 247 corridas em todas as categorias,
venceu por 17 vezes, sendo que 5 vitórias foram em MotoGP, obteve 5 “pole
position” e subiu ao pódio por 41 vezes. Para além das vitórias em MotoGP,
categoria em que a sua melhor classificação final foi um 9.º lugar (2020),
destacou-se por ter sido vice-campeão em Moto2 (2018)
e também em Moto3 (2015).
Fecha assim a sua carreira em MotoGP com a época de 2025 marcada pela lesão
sofrida no GP da Argentina, totalizando 43 pontos que lhe dão o 20.º lugar na
classificação de pilotos.
Aqui fica o resumo da prestação de Miguel Oliveira nos 22 Grandes
Prémios de MotoGP da temporada de 2025:
01, 02 Março - GP Tailândia (Circuito Chang International)
Sprint
– 16.º lugar (0 pts.).
Corrida
– 14.º lugar (2 pts.).
15, 16 Março - GP Argentina (Circuito Termas de Rio Hondo)
Sprint
– Abandono [queda involuntária] (0 pts.).
Corrida
– Não participou [lesionado].
29, 30 Março - GP Américas (Circuito das Américas)
Sprint
e Corrida – Não participou [lesionado].
12, 13 Abril - GP Qatar (Circuito Losail)
Sprint
e Corrida – Não participou [lesionado].
26, 27 Abril - GP Espanha (Circuito Jerez de La Frontera)
Sprint
– Não participou [lesionado].
Corrida
– Não participou [lesionado].
10, 11 Maio - GP França (Circuito Bugatti-Le Mans)
Sprint
– 20.º lugar (0 pts.).
Corrida
– Abandono [queda] (0 pts.).
24, 25 Maio - GP Grã-Bretanha (Circuito Silverstone)
Sprint
– 16.º lugar (0 pts.).
Corrida
– 16.º lugar (0 pts.).
07, 08 Junho - GP Aragão (Circuito Motorland Aragón)
Sprint
– 15.º lugar (0 pts.).
Corrida
– 15.º lugar (1 pt.).
21, 22 Junho - GP Itália (Circuito Mugello)
Sprint
– 13.º lugar (0 pts.).
Corrida
– 13.º lugar (3 pts.).
28, 29 Junho - GP Países Baixos (Circuito Assen)
Sprint
– 12.º lugar (0 pts.).
Corrida
– Abandono [colisão] (0 pts.).
12, 13 Julho - GP Alemanha (Circuito Sachsenring)
Sprint
– 11.º lugar (0 pts.).
Corrida
– Abandono [queda] (0 pts.).
19, 20 Julho - GP Chéquia (Circuito Brno)
Sprint
– 13.º lugar (0 pts.).
Corrida
– 17.º lugar (0 pts.).
– Pausa de Verão –
16, 17 Agosto - GP Áustria (Circuito Red Bull Ring)
Sprint
– 18.º lugar (0 pts.).
Corrida
– 17.º lugar (0 pts.).
23, 24 Agosto - GP Hungria (Circuito Balaton Park)
Sprint
– 14.º lugar (0 pts.).
Corrida
– 12.º lugar (4 pt.).
06, 07 Agosto - GP Catalunha (Circuito Barcelona-Catalunha)
Sprint
– 10.º lugar (0 pts.).
Corrida
– 9.º lugar (7 pts.).
13, 14 Setembro - GP San Marino e Riviera Rimini (Circuito Misano)
Sprint
– 16.º lugar (0 pts.).
Corrida
– 9.º lugar (7 pts.).
27, 28 Setembro - GP Japão (Circuito Mobility Resort Motegi)
Sprint
– 15.º lugar (0 pts.).
Corrida
– 14.º lugar (2 pts.).
04, 05 Outubro - GP Indonésia (Circuito Pertamina Mandalika)
Sprint
– 9.º lugar (1 pt.).
Corrida
– 11.º lugar (5 pts.).
18, 19 Outubro - GP Austrália (Circuito Phillip Island)
Sprint
– 14.º lugar (0 pts.).
Corrida
– 12.º lugar (4 pts.).
25, 26 Outubro - GP Malásia (Circuito Internacional Sepang)
Sprint
– Abandono [queda] (0 pts.).
Corrida
– 19.º lugar (0 pts.).
08, 09 Novembro - GP Portugal (Autódromo Internacional do Algarve)
Sprint
– 16.º lugar (0 pts.).
Corrida
– 14.º lugar (1 pt.).
15, 16 Novembro – GP Comunidade Valenciana (Circuito Ricardo Tormo)
Sprint
– 17.º lugar (0 pts.).
Corrida
– 11.º lugar (5 pts.).
Classificação final: 1.º Marc Márquez (Ducati Lenovo Team – #93), 545
pts.; 2.º Alex Márquez (BK8 Gresini Racing MotoGP – #73), 467 pts.; 3.º Marco
Bezzecchi (Aprilia Racing – #72), 353 pts.; 4.º Pedro Acosta (Red Bull KTM
Factory Racing – #37), 307 pts.; 5.º Francesco Bagnaia (Ducati Lenovo Team – #63),
288 pts.; ... ; 20.º Miguel Oliveira (Prima Pramac Yamaha MotoGP
– #88), 43 pts.; etc.
No que à luta pelo campeonato diz respeito, Marc Márquez (Ducati Lenovo
Team – #93) foi verdadeiramente imperial ao longo de toda a época, numa demonstração
de talento e determinação pouco vistas neste desporto, especialmente depois de
anos difíceis a debelar lesões preocupantes que poderiam ter colocado um fim à
sua carreira.
E nem a ausência nos últimos quatro grandes prémios, devido a lesão
sofrida numa queda durante o GP da Indonésia, impediu o piloto espanhol de
conquistar o 7.º título de Campeão do Mundo de MotoGP, seis anos após a
conquista daquele que tinha sido o seu último título (2019), igualando os 9
títulos mundiais de Valentino Rossi.
Quanto a Miguel Oliveira, 15 anos depois despede-se então do campeonato
mundial de velocidade, aquela que foi a sua casa fora de casa, um paddock
onde conquistou a admiração de todos. Pilotos, mecânicos, diretores de equipas,
chefes de equipa, fabricantes, jornalistas e também, claro, os fãs do
campeonato.
Depois de alguns meses de especulação, foi confirmada a contratação do
piloto português pela equipa ROKiT BMW Motorrad WorldSBK para 2026. Na prática,
a questão resume-se à troca entre Miguel Oliveira e Toprak Razgatlioglu (o
campeão de 2025), bem como entre a equipa satélite Prima Pramac Yamaha MotoGP e
a equipa oficial BMW Motorrad WorldSBK.
Oliveira vai assim juntar-se a Danilo Petrucci, antigo colega de marca
no MotoGP (KTM em 2020), sendo que para Miguel Oliveira será uma mudança
completa de campeonato e de tipo de moto, passando o #88 a estar em destaque
nas carenagens da BMW M 1000 RR da ROKiT BMW Motorrad WorldSBK.
E sem fechar definitivamente a porta ao MotoGP, o piloto de Almada ainda
mantém uma ténue esperança sobre a possibilidade de vir a ser piloto de testes
da Aprilia Racing, enquanto compete pela BMW Motorrad no Mundial SBK. Estamos a
falar de um piloto oficial de um fabricante num campeonato de motociclismo
poder estar a trabalhar em simultâneo por outro fabricante, noutro campeonato. Não
é habitual, mas...
Força Miguel!

