segunda-feira, 16 de junho de 2025

IX Lisbon Motorcycle Film Fest

A 9.ª edição do Lisbon Motorcycle Film Fest (LxMFF) aconteceu nos passados dias 16, 17 e 18 de Maio no emblemático Cinema São Jorge. Foram 3 dias de celebração da cultura motociclista, com filmes, exposições, conversas com ilustres convidados, um passeio noturno e a transmissão em directo de corridas do Campeonato do Mundo de Superbike.

Ao fechar da cortina, o sentimento da organização não podia ser outro senão o de dever cumprido, salientando que “num fim de semana em que tudo aconteceu em Lisboa e em Portugal – desde vias cortadas por causa dos festejos no Marquês do Pombal no Sábado, às eleições legislativas no Domingo – conseguimos convencer quase 1.500 pessoas a entrar nas várias sessões, ao longo dos 3 dias. Este é sem dúvida um número que superou as nossas melhores expectativas.”

Cartaz oficial do LxMFF 2025, criado pelo ilustrador Pedro Lourenço (Tigre Bastardo). Via

Para não ser surpreendido como aconteceu na edição de 2024, ainda para mais com a presença de um convidado internacional mediático na programação deste ano, resolvi adquirir antecipadamente os bilhetes para as sessões dos dias que tinha escolhido assistir ao LxMFF, na Sexta-feira (dia 16) e no Sábado (dia 17). Acabei por ter de fazê-lo online, uma vez que encontrei a bilheteira fechada quando me desloquei ao Cinema São Jorge, e sem qualquer indicação no local sobre o seu horário de funcionamento (?!).

Com a questão dos bilhetes arrumada, no final da tarde de Sexta-feira rumei então ao Cinema São Jorge para a abertura do festival, agendada para as 21h00. Juntei-me assim às muitas centenas de motociclistas que quiseram participar na festa, neste (já grande) evento de renome internacional que celebra a paixão pelas duas rodas e pelo cinema.

Grande afluência de motas no IX LxMFF.

Como já vem sendo hábito, os motociclistas tiveram um espaço à disposição para deixarem os seus capacetes e blusões (desta vez não no bengaleiro, mas na Sala 2), circulando assim mais à vontade para disfrutar do cenário alusivo à temática do evento montado nos foyers (piso 0 e piso 1) do Cinema São Jorge. Nestes espaços encontravam-se cinco motas em exposição:

Ducati XDiavel V4.

BMW R12 G/S.

Moto Guzzi V7 Sport.

BMW R12 S.

Honda CB1000 Hornet SP.

À hora programada, a equipa organizadora do LxMFF deu as boas-vindas de forma calorosa a todos os espectadores, motociclistas e não só, que marcaram presença na Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge, para assistirem à programação do primeiro dia do evento.

As boas-vindas dadas pela equipa organizadora do LxMFF.

Na sessão nocturna inaugural (bilhete: 5,00 €) foi exibida a longa-metragem Angels of Dirt (86’), realizada por Wendy Schneider (E.U.A.). Com um misto de inspiração e desgosto, a realizadora traça a vida e a carreira da espantosa Charlotte Kainz, uma “small-town girl” que cresce entre os pilotos e mecânicos das boxes de uma pista de motociclismo do Wisconsin rural. Desenvolvendo um gosto pela velocidade e um talento para as corridas de Flat Track desde os quatro anos deidade, a jovem Charlotte nunca olha para trás. Filmado ao longo de 17 anos, este documentário íntimo e envolvente é um retrato abrangente de uma jovem destemida com um desejo inato e uma aptidão para vencer num desporto que muito poucas mulheres, muito menos jovens raparigas, alguma vez pensaram em competir. “Angels of Dirt” segue a busca improvável e imparável de Charlotte para ser a melhor num desporto dominado por homens. Com base em filmes “caseiros” pessoais, emocionantes filmagens de corridas e entrevistas reveladoras com amigos, familiares e lendas do mundo das corridas, este é um documentário que emociona e inspira o público a perseguir os seus sonhos, o mais rápido que puderem.

Fazendo parte do grupo de convidados internacionais ligados à realização dos filmes que estiveram no LxMFF, a americana Wendy Schneider subiu ao palco no final da exibição do documentário para uma curta conversa sobre a sua produção.

Curta conversa com Wendy Schneider, realizadora do filme ‘Angels of Dirt’.

Depois da sessão de abertura e uma vez mais à Sexta-feira (e não no Sábado como era habitual), por volta das 22h30 chegava um dos momentos mais aguardados do LxMFF: andar de moto, por algumas das mais belas ruas e avenidas da cidade de Lisboa. Trata-se da Lisbon Night Ride, um passeio nocturno com início e fim no n.º 175 da Avenida da Liberdade, onde todas as motos são bem-vindas. A participação é gratuita e não é necessária inscrição.

Sob a coordenação da Esquadra Moto do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, que previamente transmitiu as recomendações a ter em conta durante o passeio, nomeadamente a necessidade de “refrear os ânimos” e efectuar uma condução responsável, a Lisbon Night Ride juntou cerca de 1.000 motas, num percurso com um pouco menos de uma dezena de quilómetros. Para os mais resistentes, a animação prosseguiria noite dentro com uma festa de música com Dj.

A Lisbon Night Ride 2025 passou pelas ruas da baixa lisboeta.

No dia 17, Sábado, as actividades tiveram início um pouco depois das 15h00 na Sala 2, com a Talk TLMoto X Tron (bilhete: 1,00 €). Uma conversa de cerca de 60’ com dois membros da equipa do Instituto Superior Técnico de Lisboa responsável pela concepção e construção da primeira moto eléctrica de competição de Portugal, a TLMoto. O grupo de estudantes do IST que desenvolve a TLMoto tem participado em diversas competições, nomeadamente a MotoStudent, o Campeonato Nacional de Velocidade (CNV) e a Moto Engineering Italy.

Talk TLMoto X Tron, sobre a moto elétrica de competição criada por estudantes do IST.

Logo de seguida, perto das 16h30, tinha início a sessão de curtas-metragens internacionais na Sala Manoel de Oliveira (bilhete: 5,00 €), com a exibição de 9 pequenos filmes:

The Finder (6') de Mark Hileman (E.U.A.). Durante quatro meses, Mark deixa o conforto do seu lar e percorre com a sua moto algumas das mais belas paisagens dos parques naturais dos Estados Unidos.

Solace: A Motorcycle Film (3') de Zain Javaid (Emiratos Árabes Unidos). Tendo como pano de fundo o Dia Mundial do Motociclista, “Solace” segue um piloto solitário numa viagem inesquecível por estradas infinitas no dia mais longo do ano, 21 de junho. Mais do que um simples passeio, este filme explora a busca pela liberdade, a autodescoberta e o conforto encontrado no ritmo da estrada. Uma aventura íntima e cinematográfica, onde o verdadeiro destino é a paz interior.

Hell Riders: The Wall of Death (6') de Ali White (Reino Unido). Sejam bem-vindos ao mundo dos Hell Riders, que no Poço da Morte dão vida a um dos espetáculos mais incríveis e antigos em duas rodas do Reino Unido.

Sugar (12') de Danny Marmaduke (E.U.A.). “Sugar” examina o vínculo inquebrável entre dois homens e assuas motos, unidos pelo peso da diabetes tipo 1, que encontraram uma fuga na estrada. Para Neil, diagnosticado aos dezasseis anos ao mesmo tempo em que conheceu Kayla, sua parceira de vida, a jornada sempre foi de dualidade – amor e doença, independência e dependência. Steven, criado pela mãe, que mais tarde compartilhou do mesmo diagnóstico, cresceu vendo a resiliência como um fardo e um presente. Agora, casado e pai de um menino, anda de moto para reinventar-se, mudando de perspectiva, reconectando-se consigo mesmo ao longo do caminho. Cada quilómetro é um ato de rebeldia contra as limitações da diabetes, um impulso em direção a algo maior. “Sugar” é um testemunho da superação dos fardos da doença, explorando as alegrias que avida tem a oferecer.

Finding Latitude (14') de Semjon Düren (Alemanha). É lá fora que se encontra o que está cá dentro. A história de um fotógrafo de motos que reencontra a sua paixão no Equador.

Why Would You Do It on That? (11') de Christian Taro (Suíça). Dar uma volta completa ao mundo sozinho já é uma grande aventura. Mas fazê-lo numa moto construída à mão, com 3 m de comprimento e totalmente rígida, requer uma pessoa fora do comum. Eis Charlie Weisel, um tipo de ser humano muito especial. Christian conheceu Charlie na estrada. Falaram sobre a sua viagem, a sua vida e, claro, sobre a pergunta que mais lhe fazem: “Porque é que fizeste isto, nisso?”

Green Legacy (6') de Jeremia Vega (Indonésia). Com um amor partilhado pelas duas rodas, a Shelter Field e a Manasi Ride quiseram dar um passo em conjunto para melhorara natureza, promovendo a plantação e preservação de árvores. A dificuldade de acesso é o que faz com que as duas rodas desempenhem um papel importante. Este “Legado Verde” é apenas o começo de uma aventura maior.

Wild at Heart (21') de Irene Kotnik (Alemanha). Empenhadas em aumentar a visibilidade das mulheres no mundo das motos, as Petrolettes são uma comunidade mundial feminina cuja missão é inspirar as mulheres a juntarem-se, celebrarem os desportos motorizados, abraçarem a aventura, defenderem causas sociais e apoiarem iniciativas significativas.

The Freeride Spirit (16') de Roland Blechschmied (Alemanha). “The Freeride Spirit” é uma viagem cinematográfica ao coração do “freestyle” das motos de todo-o-terreno – uma celebração crua e indomável da liberdade, da adrenalina e da ligação humana. Desde os trilhos poeirentos de vales remotos até às colinas verdejantes de continentes distantes, o filme segue pilotos de todo o mundo enquanto perseguem a simples emoção de um terreno aberto e de duas rodas e um motor por baixo deles. Esta curta é um tributo a uma comunidade global unida não pela língua ou pelas fronteiras, mas por um amor partilhado pela descoberta e pelo laço tácito forjado através da lama, do suor e do acelerador. Uma ode visual ao espírito de aventura, “The Freeride Spirit” mostra que, independentemente da nossa origem, estamos unidos pela terra.

Logo após a exibição das “curtas”, a organização chamou ao palco alguns dos realizadores presentes para partilharem as suas experiências na feitura dos respectivos filmes.

Pequena conversa com alguns dos realizadores das curtas-metragens.

Com o aproximar das 18h30, chegava um dos momentos mais aguardados do dia. Aos poucos, cerca de duas centenas de pessoas perfilavam-se à porta da Sala 3 (após uma alteração de última hora, da Sala 2 para a Sala 3, para acomodar o elevado número de interessados) para assistirem à Talk Charley Boorman (bilhete: 1,00 €). Charley Boorman, actor britânico, motociclista, aventureiro, apresentador de televisão e escritor de viagens, é uma personalidade sobejamente conhecida entre a comunidade motociclística. Apaixonado por motos desde criança, Charley é juntamente com o seu amigo Ewan McGregor, um dos protagonistas da bem-sucedida série documental Long Way (Long Way Round - 2004, Long Way Down - 2007, Long Way Up - 2020 e Long Way Home - 2025). Num ambiente de simpatia e boa disposição, os 60’ de duração rapidamente se esgotaram ao ouvir as histórias e peripécias da sua vida, bem como as aventuras que tem empreendido pelo mundo fora, onde demonstrou ter uma grande resiliência e positividade até nas piores situações.

Cerca de 200 pessoas assistiram à Talk Charley Boorman.

Talk Charley Boorman, com o conhecido motociclista e aventureiro britânico da série ‘Long Way’.

A sessão nocturna teve início só às 21h30, o que deixou algum tempo para “digerir” a interessante conversa, enquanto aconchegava o estômago num dos bares no Cinema São Jorge. Novamente na Sala Manoel de Oliveira (bilhete: 5,00 €), foram exibidos dois filmes, uma longa-metragem e uma curta-metragem:

The Drixton (56’) de Spenser Robert (E.U.A.). Até onde irias para salvar a moto favorita do teu Pai? Neste filme, Ari e Zack estão numa missão – desde um celeiro em New Hampshire até ao Barber Motorsports Museum – para tirar a famosa Drixton Honda de Todd Henning das caixas numa prateleira e colocá-la de novo numa pista de corridas.

Motorcycle Mary (22’) de Haley Watson (E.U.A.). Esta é a história não contada da lendária pioneira dos desportos motorizados Mary McGee. “Motorcycle Mary” traz à luz, com impressionantes imagens de arquivo e fotografias nunca vistas, uma carreira de automobilista que durou trinta anos e que viu Mary quebrar as normas de género enquanto dominava várias disciplinas do desporto motorizado. Confrontada com o sexismo e com a tragédia pessoal, Mary persevera, esforçando-se por atingir feitos cada vez mais incríveis – culminando no seu desafio mais arrepiante: a tentativa de se tornar a primeira pessoa a percorrer sozinha a extenuante Baja 500 numa moto.

Concluída a sessão, foi a vez da realizadora americana Haley Watson subir ao placo para uma breve conversa sobre o filme ‘Motorcycle Mary’, recentemente nomeado para Melhor Curta-Metragem Documental na 46.ª edição dos Emmy de Notícias e Documentários.

Breve conversa com Haley Watson, realizadora do filme ‘Motorcycle Mary’.

Terminava assim a minha visita ao IX Lisbon Motorcycle Film Fest. Para quem não esteve presente no evento, aqui fica um breve resumo do mesmo:


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