Sábado,
29 de Fevereiro
Dada a sua localização, poder-se-á dizer que a cidade da Covilhã é a “porta
da Serra da Estrela”, a mais alta cadeia montanhosa de Portugal continental. Situada
na vertente sudeste da Serra, o seu núcleo urbano dista cerca de 20 km da Torre,
o ponto mais elevado da Estrela com 1.993 m, sendo por isso a cidade portuguesa
mais próxima deste emblemático local.
E era precisamente pelas íngremes e retorcidas estradas de acesso à
Torre que passavam os nossos planos para um passeio matinal, com paragem junto
ao Centro de Limpeza de Neve (Piornos, Penhas da Saúde) para recriar a foto tirada
em 1999. Mas um amanhecer tempestuoso, com chuva e vento servidos em doses
generosas, fez com que tivéssemos cancelado a volta e permanecendo no hotel durante
a manhã.
Acesso à concentração pela Ponte
Pedrinha (sobre o Rio Zêzere).
Regressámos mais tarde à concentração e encontrámos um ambiente já mais
composto, com inúmeras motos estacionadas junto à entrada e diversos grupos de amigos
que iam chegando de vários pontos do país (e da Europa), todos em amena
cavaqueira. Este ponto de encontro acabou por se tornar numa espécie de “sala
de estar” para uma grande maioria dos motociclistas e visitantes. Por aqui
também nos cruzámos com os Padrinhos da concentração, a viajante solitária Gracinda Ramos e o advogado e ex-Deputado
do PSD Rodrigo Ribeiro, responsável pela chamada “Lei dos Rails”.
Em amena cavaqueira no
estacionamento à entrada da concentração. Via
Entretanto e dentro do recinto começava a formar-se uma fila junto à
tenda das refeições. Estava na hora do almoço. Sem grandes atrasos,
instalámo-nos numa das mesas corridas colocadas no interior da tenda para
saborear o prato do dia, uma feijoada com arroz, juntamente com pão, fruta e
bebida.
A feijoada foi o prato
escolhido para o almoço.
Enquanto fazíamos a digestão do almoço, fomos até à zona do Bike Show para
ver as motos que estavam em exposição. Aqui a criatividade é quem manda. Na
verdade, apesar de ter contado penas com cerca de uma dezena de exemplares a
concurso, pode dizer-se que foram poucos mas bons, com trabalhos de muita
qualidade. Gostei particularmente das motos da categoria Old School, uma das
mais concorridas, nomeadamente da Yamaha Virago 250 de Pitta Designs e em
especial da Suzuki GN 250 da Joe's Garage.
Bike Show (Suzuki GN 250 - Joe's Garage e Yamaha Virago 250 - Pitta
Designs).
Mesmo ao lado, estava exposta a Yamaha Diversion 900 que pertenceu ao Padre
José Fernando Lambelho, conhecido como ‘Padre Motard’ por conciliar o
sacerdócio com a paixão pelas motos, juntando milhares de motociclistas nas
suas missas para a bênção das motos e dos capacetes. O sacerdote natural do
concelho do Fundão faleceu em 2013, vítima de doença oncológica aos 55 anos. Uma
das frases que lhe era atribuída retracta o humor com que conciliava a religião
e a velocidade sobre duas rodas: “Até
100, Deus protege; a partir de 100? Pode acolher-nos”. A organização prestar-lhe-ia
uma homenagem no Domingo de manhã.
Estávamos sensivelmente a meio da tarde quando o público começou a
juntar-se na rua adjacente ao Parque de Campismo. O programa determinava que
estava prestes a começar mais um show
acrobático freestyle, desta vez com
Paulo Martinho, o pioneiro e um dos mais emblemáticos stunt riders nacionais. Um empolgante e aplaudido espectáculo,
executado com profissionalismo e muita simpatia.
O show acrobático freestyle
de Paulo Martinho.
Com as emoções em alta e a garganta seca, estava na altura de repor o
nível dos líquidos no corpo. Sim, porque como dizem os entendidos, a hidratação
é importante e há que não descurá-la... :). Com excepção das actividades
programadas, o local mais animado continuava a ser a zona de estacionamento das
motos à entrada do recinto. Era por aqui que passava a movida dos motociclistas que, curiosamente, preferiam estar neste
local em vez do recinto principal da concentração.
Por volta das 19:30 começou a servir-se o jantar, com nova fila junto à
tenda das refeições. Desta vez o petisco foi um gostoso arroz de carnes (uma
espécie de arroz à valenciana, mais simples e sem marisco) com salada de alface
e mais uma vez acompanhado com pão, fruta e bebida.
Arroz de carnes com salada
de alface para o jantar.
Um dos pontos altos da noite foi o emblemático Passeio das Estrelas (uma
versão moderna do passeio das tochas, em memoria dos motociclistas falecidos).
Este passeio nocturno pelas principais artérias da cidade da Covilhã e
arredores teve grande adesão por parte dos motociclistas, os da concentração e outros
que se juntaram pelo caminho, despertando curiosidade e admiração nos populares
e nos transeuntes por onde a caravana foi passando. No regresso à Ponte
Pedrinha, os participantes foram ainda brindados com uma sessão de
fogo-de-artifício. Um espectáculo dentro do espectáculo.
Passeio das Estrelas. Via
A indesejada chuva voltou a aparecer ainda no decorrer do passeio. Foram
apenas algumas gotas, é certo, mas não deixava de ser um mau augúrio para a
actividade que se iria seguir, o segundo show
acrobático freestyle de Paulo
Martinho. Felizmente que a ameaça não foi suficiente para estragar a festa, que
prosseguiu noite dentro já na tenda grande, primeiro com a entrega de prémios
do Bike Show e depois com os concertos das bandas Red e Iris, incluindo a
animação dos habituais shows
alternativos...
Concertos pela noite dentro.
Domingo,
1 de Março
A previsão meteorológica indicava tempo mais chuvoso para este primeiro
dia de Março. Assim, decidimos prescindir do pequeno-almoço a que tínhamos
direito na concentração, substituindo-o por um mais reconfortante tomado no
hotel. A viagem de regresso iniciou-se então a meio da manhã e decorreu na
companhia de outros dois elementos... a chuva e o vento! A intensidade dos
mesmos foi variando ao longo do trajecto, mas acabaram por nos acompanhar até à
chegada a casa. :(
A chuva e o vento foram
companheiros (indesejados) na viagem de regresso.
Em resumo, um fim-de-semana bem passado na companhia de amigos e
companheiros de estrada, num regresso dos ‘Lobos da Neve’ ao calendário anual
das concentrações nacionais que se saúda. E por aqui a tradição ainda é o que
era. Lá estava a sopa na noite de sexta-feira para aconchegar o estômago, o
frio que acabou até por não ser muito intenso, o vento desagradável e a chuva forte
especialmente durante as manhãs. Só faltou a neve para fazer jus ao nome.
Vinte e um anos depois da primeira aventura nesta Concentração Invernal,
três dos quatro protagonistas foram os mesmos, agora um pouco mais maduros e
com máquinas diferentes, mas a paixão pelas motos e o espírito de aventura
permanecem inalterados.
Segundo a organização, mais de 4.000 pessoas, entre inscritos e
visitantes, estiveram presentes nesta XXVI Concentração Invernal Lobos da Neve
2020, ultrapassando assim as melhores expectativas. Parabéns ao Moto Clube da
Covilhã e que os ‘Lobos da Neve’ continuem a uivar por muitos e bons anos!
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