Sinclair C5 design. Via
O nome do inventor e empreendedor inglês Clive Marles Sinclair ficará
para sempre ligado a uma das maiores e mais populares criações dos anos 80 do
Séc. XX, o famoso microcomputador ZX Spectrum, lançado em
Inglaterra pela empresa Sinclair
Research Ltd em 1982.
Graças ao enorme sucesso obtido com a gama de produtos electrónicos comercializados
pela Sinclair Research, Clive Sinclair torna-se num dos mais conhecidos
milionários britânicos, tendo sido agraciado com o título de Cavaleiro
(Knight Bachelor) em Junho de 1983.
Mas para além da electrónica e da informática, os veículos eléctricos são
outra das suas áreas de interesse. Assim e dando seguimento do seu anterior trabalho
efectuado neste campo (nomeadamente com o projecto do C1 iniciado em 1979), Sir
Clive cria a Sinclair
Vehicles Ltd em 1984, com a qual espera obter novo sucesso, num mercado que
considera estar suficientemente maduro para uma nova abordagem. É através desta
empresa que em Janeiro de 1985 é apresentado no Alexandra
Palace, em Londres, um curioso veículo eléctrico (press
release original): o Sinclair
C5!
Sir Clive aos comandos do Sinclair
C5. Via
De linhas aerodinâmicas e com um design
futurista, o Sinclair C5 é um pequeno veículo de três rodas destinado ao transporte
individual. Inserido na categoria dos veículos a pedais electricamente
assistidos (limitados a 250 W de potência, 60 kg
de peso e 15 mph de velocidade máxima – 24 km/h), foi
concebido para ser conduzido nas estradas britânicas por qualquer pessoa com
mais de 14 anos, sem necessidade de licença, capacete, seguro ou pagamento de impostos.
O seu preço base era de £399 (mais £29 para envio) e Sir Clive previa vender
cerca de 100.000 unidades durante o primeiro ano.
Em termos ergonómicos, tudo é um pouco estranho
neste singular triciclo eléctrico. Com uma
posição de condução fora do comum, embora aparentemente
confortável, a direcção é accionada por um guiador posicionado por baixo das pernas
do condutor e junto ao assento, com comando do acelerador através de um botão
no punho esquerdo, resultando numa forma muito particular de conduzir e para a
qual é necessário alguma habituação por parte dos seus proprietários.
No que diz respeito à segurança e apesar dos
condutores do C5 ficarem posicionados sensivelmente à mesma
altura dos condutores de um Mini, a grande exposição a que estão sujeitos,
especialmente face aos restantes veículos motorizados que circulam nas
estradas, causou alguma apreenção junto de diversos especialistas e entidades, levando
à criação de um manual
de condução segura, especificamente preparado pela RoSPA (Royal Society for
the Prevention of Accidents).
O Sinclair C5 na estrada. Via
Exteriormente, o Sinclair C5 apresenta uma carroçaria em polipropileno assente
num chassis de aço prensado em ‘Y’, desenvolvido
pela conhecida marca britânica de automóveis Lotus.
Após o cumprimento de um completo programa de testes, a construção do C5 foi subcontratada
à empresa de electrodomésticos Hoover,
que também ficou responsável pela assistência técnica dos
veículos junto dos proprietários.
O pequeno motor eléctrico de 12 V/29 A/250 W/3300 rpm,
curiosamente derivado de uma máquina de lavar, é alimentado por uma bateria de chumbo Oldham de 12 V/36 Ah, com garantia de 300 recargas (mínimo) e
uma vida útil esperada superior a 1 ano. Com esta configuração, o C5 tem
uma autonomia de cerca de 20 milhas (32 km). Uma segunda bateria pode ser
instalada como opcional, aumentando a autonomia para perto das 40 milhas (64
km).
As rodas são fabricadas em nylon reforçado com fibra de
vidro. Na roda da frente foi montado um simples travão de pinças/maxilas
semelhante ao utilizado nas bicicletas. Na traseira, a travagem é assegurada
por um pequeno tambor instalado numa das rodas.
As “entranhas” do Sinclair
C5. Via
Para a Sinclair Vehicles, o C5 representava
uma nova e prática forma de transporte para toda a família, um veículo 100% livre
de poluição, muito fácil de utilizar e bastante económico (consegue percorrer
1.000 milhas pelo preço de médio de 1 galão de combustível, ou seja, um custo
equivalente a um consumo de cerca de 0,28 l/100km).
Na sua versão base, o C5 vinha equipado de série com uma luz na frente e
outra na traseira, bem como um prático compartimento para bagagem, com chave,
situado por trás do banco. Mas para uma utilização ainda mais abrangente, a Sinclair Vehicles disponibilizava toda uma gama de acessórios focados
na segurança e no conforto. Para além da já referida bateria extra, faziam ainda
parte os espelhos retrovisores, os piscas, a buzina, os paineis laterais e a cobertura
impermeáveis, as palas para as rodas traseiras, a capa impermeável para o condutor,
o assento mais confortável para viagens longas ou a almofada de assento para
condutores mais pequenos.
Infelizmente para os seus responsáveis, as vendas
do Sinclair C5 nunca conseguiram atingir números significativos, ficando
bastante abaixo das espectativas iniciais de 100.000 unidades para o
primeiro ano. Questões como a segurança, o clima britânico pouco favorável e a fraca
performance do C5 levaram a que fosse ridicularizado pela imprensa e pela
opinião pública, acabando por constituir um verdadeiro desastre comercial. Em
Outubro de 1985, a Sinclair Vehicles entra em liquidação. O total de vendas
aproximado foi de apenas de 12.000 unidades.
Continuando a apostar nos veículos eléctricos como um prático e
económico meio de transporte pessoal, em Março de 1992 e através da Sinclair
Research, Sir Clive apresenta a bicicleta eléctrica portátil Sinclair Zike. Com um
preço de £499, vendeu apenas cerca de 2.000 unidades, quando a previsão era de
10.000 por mês. A sua produção cessou passados 6 meses.
O último fôlego de Sir Clive relativamente a este
tipo de veículos foi dado já em pleno Séc. XXI, com o anúncio em Novembro de 2010 do Sinclair
X-1, um veículo eléctrico de duas rodas que deveria estar disponível no ano
seguinte, em Julho de 2011, por um preço de £595. Acabou por nunca ser
comercializado.
O Sinclair C5 e os seus
fans. Via
Alguns dirão que o Sinclair C5 estava à frente de seu tempo. Uma coisa é
certa, graças às suas particularidades e apesar de algumas falhas, com o passar
dos anos o C5 transformou-se num objecto de culto, um autêntico ícone dos anos
80, com uma grande comunidade de entusiastas deste original veículo, ligados
através de plataformas como a c5owners.com.
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