Mas que ambiente fantástico aquele que se vive nas ruas de La bañeza durante este fim-de-semana!
“Afición” espanhola.
Sob um sol abrasador e seguramente com mais de 35 mil (!) entusiastas das duas rodas nas ruas desta pacata localidade espanhola, decorreu mais uma edição, a 51ª, do Grande Prémio de Velocidade de motas clássicas em circuito urbano, a maior prova do género em toda a Península Ibérica.
A viagem
Ainda num ambiente de férias e para aproveitar bem a viagem, resolvi atravessar Trás-os-Montes e entrar em Espanha sempre por estradas secundárias, neste caso seguindo por Vimioso até Avelanoso (EM546), continuando depois da fronteira por Alcañices, San Vitero, Mahide, Villardeciervos, Rionegro del Puente, Molezuelas de la Carballeda, Cubo de Benavente, Nogarejas, Herreros de Jamuz e finalmente La Bañeza.
Por terras de espanholas a caminho de La Bañeza, na companhia de outros motociclistas.
Este é sem dúvida um trajecto muito agradável, com pouco trânsito, bom piso e uma paisagem interessante, especialmente a passagem pela zona a Sueste de Sanabria, entre as localidades de Villardeciervos e Rionegro del Puente, com a passagem pelo Rio Tera (um afluente do Rio Esla, que por sua vez é um afluente do Rio Douro) a jusante da Barragem de Valparaíso.
Uma das pontes sobre o Rio Tera.
O local
Ao entrar em La Bañeza (depois de passar a linha férrea) deparei-me desde logo com um bom local para deixar a mota, em frente à pizzaria “El Argentino”, especialmente porque ainda existia bastante espaço para estacionar e também porque para chegar às ruas onde se encontrava implantado o traçado do circuito bastava percorrer os cerca de 160 m da Calle de Lope de Vega.
Local de estacionamento.
Para quem quisesse pernoitar na povoação, a organização tinha à disposição uma zona de acampamento no Polidesportivo Municipal (sem necessitar de inscrição), com wc, duches e vigilância privada. Como animação paralela e para além dos stands de venda de T-shirts, comida e afins, havia ainda uma pequena feira de motas relacionada com as clássicas, pois claro, onde se podia adquirir modelos completos ou simplesmente algumas peças para completar um qualquer restauro em curso.
Um dos belos ciclomotores Moto Guzzi Hispania presentes na feira de motas.
As ruas do circuito encontravam-se delimitadas pelos característicos fardos de palha para absorver os possíveis impactos das quedas dos pilotos e das motas, com todas as zonas perigosas bem assinaladas e sem público nestes locais, que, mesmo com toda a euforia própria destes acontecimentos, teve um comportamento exemplar ao longo de todo o evento.
Onde estão as motas?
As corridas
Este ano a organização convidou o veterano piloto espanhol Joan Garriga, vice campeão mundial de 250cc em 1988, para ser o “Padrino de Honor” do evento. A sua participação na corrida da nova categoria das clássicas 2T bicilíndricas com uma Honda 250cc (nº 11) acabou por trazer bastante emoção à prova face ao fraquíssimo número de motas em pista, tendo obtido a 2ª posição após uma intensa disputa pela vitória com o piloto Juan González (nº 17), terminando separados por menos de 1 décimo de segundo!
Juan Gonzalez (17) vs Joan Garriga (11) nas clássicas 2T bicilíndricas.
Apesar de não ter conseguido a vitória, Garriga mostrou-se contente com a sua segunda posição, declarando após terminar a corrida: “É um traçado incrível mas visto de dentro ainda é mais impressionante”.
“Burn out” de Joan Garriga no final da corrida.
Mais tarde presenteou a assistência com algumas voltas de exibição aos comandos de uma Yamaha 500cc, nem mais nem menos que a mesma mota com que disputou o Mundial de Velocidade nos primeiros anos da década de 90 do século passado e com a qual obteve um 3º lugar no GP Britânico de 1992 em Donington Park (melhor resultado). Segundo o próprio: “Não pude meter a 2ª, é um circuito muito complicado”...
Joan Garriga na sua Yamaha 500cc.
A corrida das clássicas 2T foi a mais participativa das quatro com cerca de 40 inscritos (o que obrigou a organização a efectuar dois grupos nas rondas de classificação de Sábado), numa enorme legião de motas espanholas que incluía as Bultaco Metralla, as Montesa Impala e as chamativas Ossa com as suas cores branco e verde.
Partida das clássicas 2T.
O desfecho desta corrida ficou definido pouco depois da partida, com o piloto da Bultaco nº 19 José Espinosa a efectuar uma boa largada e a assumir a 1ª posição na qual se manteve até ao final, terminando inclusive com mais de 10 segundos de vantagem sobre o segundo classificado, o piloto Manuel Pons da Ossa nº 49.
Consagração de José Espinosa nas clássicas 2T.
A passagem das motas da categoria das clássicas 4T (a minha favorita) impõe desde logo respeito graças ao espectacular ronco dos seus motores a quatro tempos até 500cc, fazendo estremecer o espectador mais desatento devido à proximidade com que as motas passam das pessoas.
Partida das clássicas 4T.
Com um enorme batalhão de modelos da Ducati a lutar pela vitória na corrida, acabou por ser a Jawa nº 69 de Alberto Alonso a levar a melhor e a conquistar o lugar mais alto do pódio, igualmente numa chegada bastante apertada com o piloto Ricardo Oliveros (nº 64), que tinha a “pole position” mas que se debatia com alguns problemas no selector da caixa de velocidades da sua Ducati.
Os três primeiros classificados nas 4T.
Nas pequenas e manobráveis 125 GP, o piloto Daniel Tomás (nº 41), pela segunda vez em três anos, foi o piloto mais rápido do fim-de-semana, fixando o cronómetro de Sábado em 1:11.853, um segundo mais rápido que o principal rival, Alejandro Martinez, e quase dois segundos mais veloz que o terceiro, Aitor Cremades.
Saída da zona das boxes para a pista das 125 GP.
À corrida de Domingo das 1/8 de litro não faltou animação, com muita luta pela conquista de cada posição (apesar de Daniel Tomás ter dominado a prova), o que por vezes provocou algumas quedas que felizmente não tiveram consequências para os pilotos, como testemunham estas e ainda estas imagens.
Um dos despistes nas 125 GP.
Classificação final
Clássicas 2T:
1º - José Montañés Espinosa (nº 19) - 13:48.068 (melhor volta: 1:20.963)
2º - Manuel Hernández Pons (nº 49) - 13:58.426 (melhor volta: 1:22.394)
3º - Jorge S Cabanes Catala (nº 22) - 14:04.763 (melhor volta: 1:22.877)
Clássicas 2T bicilíndricas:
1º - Juan Miguel Calvo González (nº 77) - 14:17.041 (melhor volta: 1:21.105)
2º - Juan Garriga Vilaresaus (nº 11) - 14:17.130 (melhor volta: 1:21.822)
3º - Faustino Hernández Salgado (nº 79) - 14:59.668 (melhor volta: 1:27.804)
Clássicas 4T:
1º - Alberto Martínez Alonso (nº 69) - 14:19.976 (melhor volta: 1:24.140)
2º - Ricardo Escobar Oliveros (nº 64) - 14:20.197 (melhor volta: 1:24.131)
3º - Hugo Carlos Lacunza (nº 67) - 14:32.087 (melhor volta: 1:24.485)
GP 125cc:
1º - Daniel Sáez Tomás (nº 41) - 20:40.424 (melhor volta: 1:11.409)
2º - Jorge Belloso Castillo (nº 35) - 21:14.599 (melhor volta: 1:12.727)
3º - Antonio Jesús Castillejo Lorente (nº 46) - 21:16.476 (melhor volta: 1:13.274)
Na linha de meta, onde se encontra bem marcada a reivindicação do Motoclub Bañezano pela construção de um circuito permanente de velocidade.
Em resumo
Foi sem dúvida um grande fim-de-semana de corridas de estrada (“road races”) de motas clássicas, com toda aquela animação bem característica de “nuestros hermanos” e nem o estado em que ficou o pneu de trás da minha mota no final dos quase 1.400 km percorridos me tira a vontade de repetir a presença na edição do próximo ano.
Oops, foi mesmo até “ao osso”!
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