sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Best Pirinéus Tour 2025 #1/8

As montanhas da Cordilheira dos Pirenéus formam uma fronteira natural entre Espanha e França. Separam assim a Península Ibérica do território francês, com o Principado de Andorra incrustado entre estes dois grandes vizinhos. Estende-se por aproximadamente 430 km, desde o Golfo da Biscaia, no Oceano Atlântico, até ao Cabo de Creus (extremo oriental de Espanha continental), no Mar Mediterrâneo.

Mapa topográfico dos Pirenéus. Via

Ora, quando a empresa G2 Aventuras Ilimitadas (Jorge Gameiro) decidiu organizar um tour de moto pelos Pirenéus, fiquei naturalmente entusiasmado e não pude deixar passar a oportunidade de riscar esta viagem da minha bucket list (lista de tarefas a cumprir antes de “bater a bota”, ou em inglês kick the bucket).


O Best Pirinéus Tour 2025 teve início no final do mês de Julho, cumprindo um programa de 8 dias/7 noites (3.500 km aprox.), de 26/07/2025 a 02/08/2025, com a premissa de ligação de cabo a cabo através da conhecida Transpirenaica (do Cabo de Creus ao Cabo Higuer).

O plano passava por percorrer zonas de grande beleza, em ambiente de alta montanha e de deslumbrantes vales, através dos parques naturais dos Pirenéus Espanhóis e Franceses (Parc Naturel des Pyrénées Catalanes, Parc Naturel de l`Alt Pirineu, Parc Nacional D`Aiguestortes, Parc Nacional de Ordesa e Monte Perdido, cidades históricas e património da Unesco, entre outros).

Tal como na maioria dos tours em moto, o grupo de participantes seguiu em formato caravana, com um tour leader na frente (aqui sem viatura de apoio logístico, pelo que as bagagens tiveram de ser transportadas, obrigatoriamente, pelos participantes). Para além de ter sido fornecido o track de GPS com os percursos diários, indicação dos pontos de encontro e dos pontos de paragem para abastecimento, etc., um mapa em papel é sempre uma mais-valia para a eventualidade dos gadgets tecnológicos nos pregarem uma partida e deixarem de funcionar... logo no pior momento possível (a sempre irritante Lei de Murphy).

Apesar do tour ter decorrido em plena época de Verão, para além do equipamento necessário e imprescindível para garantir a segurança de condutor e passageiro (capacete, blusão, luvas, calças e botas), incluir o fato de chuva na bagagem é um must. É que face às características particulares da zona onde se desenrola, nunca se sabe quando é que os deuses da montanha acordam maldispostos...

Dia 1 (26/07/2025): Ligação a Horche

O primeiro dia do Best Pirinéus Tour 2025 foi de ligação, cumprida maioritariamente em autoestrada, para garantir uma melhor rentabilização do tempo da viagem e a optimização do evento. O destino seria a localidade de Horche, um município espanhol na província de Guadalajara, comunidade autónoma de Castilla-La Mancha.

A partida teve lugar na madrugada de Sábado, dia 26, com os participantes a fazerem-se à estrada de diferentes locais do território nacional, a solo ou em pequenos grupos, em direcção ao primeiro ponto de encontro em território espanhol, que a organização definiu com sendo na Área de Serviço de Badajoz (Autovía del Suroeste). Um local de acesso mais central, e já de caminho, para facilitar a junção da maioria do grupo (outros, no entanto, optaram por ir directo para Horche).

Dia 1 – 480 km.

Depois de cumprida a principal função da paragem com o abastecimento das motas, não foi necessário perder muito tempo com as apresentações dos participantes, nem com as recomendações para o dia. A grande maioria já se tinha encontrado num almoço convívio promovido pela organização cerca de um mês antes do início do tour, onde foram esclarecidas algumas dúvidas e recapitulados os tópicos da viagem.

Então, com a lição bem estudada e num fuso horário diferente (GMT+1), apenas restava retomar a estrada (autovia) para continuar o percurso rumo a Horche, até porque a temperatura ambiente estava gradualmente a aumentar e a previsão apontava para valores acima dos 30 ºC.

Ponto de encontro e abastecimento na Área de Serviço de Badajoz (Autovía del Suroeste).

A caravana seguiu a bom ritmo em direcção à região de Madrid (sempre dentro dos limites legais, claro), seguindo a preceito o track fornecido pela organização. Nos locais previamente estabelecidos, foram efetuadas as necessárias paragens estratégicas para o abastecimento das motas, satisfazer as necessidades fisiológicas e comer qualquer coisa.

No final da tarde chegávamos então ao município de Horche, uma vila localizada no planalto de La Alcarria (a 895 m acima do nível do mar), junto ao vale do rio Ungría, um afluente do rio Tajuña. A cerca de 4 km do centro da vila situa-se o Hostal Rural La Fuensanta, o destino final do dia. Num cenário rural idílico, esta unidade hoteleira revelou ser um local perfeito para relaxar da viagem e recarregar energias.

Hostal Rural La Fuensanta (Horche, Castilla-La Mancha, Espanha).

Com todo o grupo já todo reunido e com as primeiras peripécias do tour a servirem de mote para o convívio entre os presentes, pouco depois das 20h00 foi servido o jantar no hotel, evitando assim uma deslocação propositada à vila para este efeito.

De forma descontraída e bastante informal, foram dadas as boas-vindas por parte da organização a todos os participantes do Best Pirinéus Tour 2025. Foram também transmitidas algumas recomendações para o dia seguinte, nomeadamente sobre a necessidade de disciplina nos horários de saída para não comprometer o programa estipulado.

Jantar de boas-vindas no Hostal Rural La Fuensanta.

Após um pequeno passeio noturno pelas imediações do hotel para esticar um pouco as pernas e facilitar a digestão do jantar, não demorou muito tempo até recolher aos aposentos, sabendo que no dia seguinte teríamos novamente uma longa etapa pela frente, com largas centenas de quilómetros para percorrer, até perto do local de início da nossa Transpirenaica.

Continua...

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Mário Kalssas RIP

Nome icónico do desporto motorizado nacional, Mário Jorge da Rocha, conhecido no meio como Mário Kalssas, faleceu na manhã do dia 13 de Agosto de 2025 com 68 anos de idade, vítima de doença prolongada. A alcunha vem da parte do bisavô e foi durante a carreira desportiva que optou pela mudança para o seu nome de marca, com o K e os dois SS.


Multi-campeão nacional de motocross, o antigo piloto, natural e residente em Vagos, tornou-se um dos grandes nomes da modalidade nos anos 70 e 80. No seu palmarés contam cinco títulos nacionais – campeão de motocross em 250 cc (1987 e 1988) e em 500 cc (1987, 1988 e 1989). Foi ainda vice-campeão nacional por oito vezes.

Representou Portugal em todas as competições internacionais por seleções organizadas sob a égide da Federação Internacional de Motociclismo – Motocross das Nações (França, 1988), o Troféu das Nações (Suécia, 1984) e a Taça das Nações (Itália, 1981 e 1982 e Suíça, 1983). Esta presença constante em provas internacionais faz de Kalssas um dos dois únicos pilotos portugueses a competir em todas as edições realizadas.

Mário Kalssas começou a praticar a modalidade em 1973, em Vagos, na classe de 50 cc e com apenas 16 anos. Em 1974 surgiu a primeira prova (integrada nas festas locais), onde levou uma Casal 50 cc preparada pelo próprio ao segundo lugar. No ano seguinte, em 1975, surge o convite da E.F.S. para participar no campeonato nacional de juniores com uma 50 cc, ficando em 2.º lugar. Em 1976 e ainda com a E.F.S., integra o campeonato nacional de seniores numa 50 cc. Nesse mesmo ano começa também a correr em 125 cc, com uma Montesa. Acabaria por ser um ano menos conseguido, terminando em 4.º lugar.

Nas épocas de 1977/78/79, obteve bons resultados com uma Casal-Villa (rebranding da italiana Moto Villa 250 cc, uma das melhores motos de cross competição da época), conseguido conquistar por duas vezes o vice-campeonato. Em 1980 correu pela Forvel, classificando-se em 3.º lugar. Em 1981 e 1982 foi 2.º (Honda) e 3.º (Yamaha) em 125 cc, respetivamente. No ano de 1983 foi vice-campeão em 125 cc (Yamaha) e 3.º em 250 cc (Suzuki e Honda). Em 1984 foi 3.º em 125 cc (suzuki) e vice-campeão em 250 cc (suzuki).

Em 1985 deixa as 125 cc (por limite de idade) e, para além das 250 cc, começa também a correr com as 500 cc. Nesse ano é vice-campeão nas 250 cc (Yamaha) e 4.º nas 500 cc (Kawasaki). Em 1986 foi 3.º em 250 cc (Yamaha) e os anos de glória surgiriam em 1987/88/89 (Honda). Após 17 anos de competição, Mário Kalssas retirou-se das pistas no final da temporada de 1990 com um 3.º lugar em 250 cc e o vice-campeonato em 500 cc. Organizou depois uma escola de pilotagem, enquanto promovia diversas corridas de MX e SX.

R.I.P.