O Salão Motorclássico, um
dos principais eventos dedicados aos automóveis e motos clássicas e desportivas
em Portugal, com organização a cargo do Museu do Caramulo, teve a sua 18.ª
edição nos dias 21, 22 e 23 de Fevereiro, na Cordoaria
Nacional, em Lisboa.
Salão Motorclássico 2025. Via
Assim, à semelhança dos anos anteriores e ao longo de três dias, o Salão
juntou dezenas de expositores nacionais e estrangeiros relacionados com a
temática dos clássicos, distribuídos ao longo dos cinco pavilhões da Cordoaria
Nacional, bem como das zonas exteriores.
Os visitantes puderam ver e comprar automóveis, motos, livros, peças ou
artigos de coleção, a entidades institucionais, como clubes, associações ou
museus, que fazem deste certame um evento não só para aficionados do mundo dos
clássicos, mas também para o público em geral.
Nesta edição de 2025 visitei o Salão Motorclássico no dia de abertura,
na Sexta-Feira à noite. Em contraste com o dia de Sábado, tradicionalmente bem
mais movimentado, encontrei um ambiente bastante calmo e tranquilo, propício
para apreciar sem pressas e com maior detalhe cada um dos stands e os clássicos
neles expostos.
Visita nocturna ao Salão
Motorclássico, com o autocarro Daimler Victory (1967) n.º 76 da Carris a dar as
boas-vindas.
Logo após a validação dos bilhetes na entrada no Salão, todos os meus sentidos
despertaram de imediato com as motas expostas no espaço reservado à Moto W. Numa
grande variedade de modelos icónicos, maioritariamente desportivos dos anos ’90,
mas não só, o destaque ia naturalmente para a Honda NR750 (RC40) de pistões
ovais, modelo bastante raro e muito cobiçado por coleccionadores da marca da
asa dourada. Um autêntico objecto de culto, que podia ser adquirido pela módica
quantia de 199.000,00 €.
Em exposição no stand Relíquias da Bairrada
encontrava-se uma Favor Model Type A1 de 1926, modelo este que participou na Corrida dos Fundadores de 2024 (um passeio
destinado a automóveis e motos pré-guerra, produzidos até 1939, que celebra a
era dourada do automobilismo).
A exposição temática de celebração do 80.º aniversário sobre o final da
Segunda Guerra Mundial, o maior conflito bélico da humanidade e que moldou a
história do Século XX, contou com a presença de duas motas da época, em
representação dos países Aliados e dos países do lado do Eixo: uma BSA WM20 de 1941
e uma DKW NZ350 de 1939.
O look clássico, vintage e retro associado às duas rodas esteve
presente no espaço da Cool Garage,
com os mais variados tipos de acessórios para um lifestyle a condizer.
As motas customizadas, ou personalizadas, refletem as opções e os gostos
dos seus criadores. São normalmente modelos únicos, que se diferenciam dos
demais em termos estéticos e mecânicos, com maior ou menor grau de alterações, razão
pela qual não é muito comum aparecerem à venda. Mas no stand 4 Rodas havia uma Harley-Davidson FLSTF Fat
Boy de 1998 customizada por 17.900,00 €.
Ainda nas customizações, uma clássica BSA (1967) modificada servia de
chamariz para o espaço ocupado pela Malle
London, uma empresa britânica criadora de refinados acessórios de design
no universo das motas personalizadas. O proprietário desta BSA é Jonny Cazzola,
um dos fundadores da Malle.
Na Automobilia do Salão Motorclássico (uma junção das palavras automóvel
e memorabilia) encontravam-se diversos artefactos históricos e itens
colecionáveis relacionados com os automóveis, as motas e áreas afins. De
natureza muito variada, desde aqueles ligados ao desporto num sentido geral
(por exemplo, um kit de ferramentas), até aqueles intrinsecamente ligados a um
veículo ou evento específico. Arte, modelos, livros, brinquedos, bandeiras e
roupas, embora não estejam diretamente ligados a um veículo, também fazem
habitualmente parte da Automobilia, sempre que associados a um tema
automobilístico.
No espaço da lisboeta OndaClássica podiam ser vistos diversos modelos
clássicos da Honda, essencialmente ciclomotores, prontos para seguirem para uma
qualquer garagem ou colecção particular.
Anunciada como uma mota de Sport Touring em 1988, a BMW K1 sempre dividiu opiniões relativamente
à sua estética ousada, permanecendo polarizadora até aos dias de hoje. O seu design
futurista, com baixo coeficiente de resistência aerodinâmica, nunca foi
consensual, chegando mesmo a ser considerada por muitos como uma das motas mais
feias de sempre. Para os seus admiradores, este modelo de 1993 podia ser
adquirido por 9.250,00 €:
Chegado ao stand Estoril
Motor deparei-me com um extraordinário conjunto de motas clássicas
italianas dos anos ’50 e ’60 bastante raras, que se revelou, pelo menos para
mim, como o ponto alto da visita. Duas Moto
Maserati 125cc de 1956, uma MV Agusta Liberty S
50cc dos anos ’60 e duas Moto
Ferrari (Fratelli Ferrari), uma 150cc de 1955 e uma 50cc de 1959, todas em
estado impecável, fizeram-me sonhar em querer tê-las na minha garagem. Fiquei-me
pelo sonho...
No mesmo espaço e um pouco mais ao lado, encontravam-se um conjunto de
magníficas motas desportivas a 2T do final dos anos ’80, autênticas race replicas
para oferecer aos fãs das corridas a oportunidade de adquirirem modelos
semelhantes às máquinas de fábrica que assistiam nas pistas (que não gostava de
ser o Freddie Spencer,
o Barry Sheene ou o Kenny Roberts). Destaco
uma Honda NS400R (1986), autografada pelo próprio “Fast” Freddie Spencer.
A BMW R80G/S lançada
em 1980 é considerada a primeira mota desportiva de aventura do mundo, capaz de
ser igualmente eficiente dentro e fora de estrada. A designação G/S (Gelände/Straße,
que significa terreno/estrada) evidencia as características dual-sport
deste modelo. No Motorclássico encontrava-se uma BMW R80G/S Paris-Dakar de 1983
(edição especial evocativa das vitórias de Hubert
Auriol e Gaston Rahier
no Rali Paris-Dakar) à venda por 21.900,00 €.
Para além das duas rodas, muito mais havia para ver no que respeita às
quatro rodas, com magníficos exemplares de grandes clássicos, restaurados e por
restaurar, de “fazer crescer água na boca”.
Contrastando com os clássicos presentes no salão, o futuro deu-se a
conhecer através do Adamastor
Furia, o primeiro supercarro português da história, presente sob a forma de
development prototype. O Furia representa o início de uma nova era para
a Adamastor, o ponto de partida para
a empresa portuguesa concretizar a sua visão e estratégia, assumindo-se como um
dos principais nomes no exclusivo e crescente segmento mundial dos supercarros.
Em resumo, quem se deslocou às instalações da Cordoaria Nacional para
visitar o XVIII Salão Motorclássico não deu por mal empregue o seu tempo. Para
o ano haverá mais, certamente.